Volume 13 - 2008
Editores: Giovanni Torello e Walmor J. Piccinini

 

Abril de 2008 - Vol.13 - Nº 4

História da Psiquiatria

ANIBAL SILVEIRA (1902- 1979)

MD. Walmor J. Piccinini
Psiquiatra.
Professor da Fundação Universitária Mário Martins.
Pesquisador da História da Psiquiatria Brasileira

A Biografia de Anibal Cipriano Silveira Santos poderia ser sintetizada com algumas palavras: Paulista, Positivista, Psiquiatra, Pesquisador, Professor e Pai intelectual de um grande número de jovens psiquiatras. Sua vida esteve na maior parte centrada no seu trabalho no Hospital de Juqueri, no Departamento de Psiquiatria da APM. na Sociedade Rorschach de São Paulo e no Instituto de Psicologia da USP.

Algumas observações são deduções de quem escreve, outras são dos seus pares, e muitas são do próprio Anibal Silveira, contidas no seu Memorial e nas suas publicações.

0s rumos da psiquiatria, de São Paulo, na primeira metade do Século XX, foi marcada por uma disputa pela cátedra de psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP no ano de 1934. De um lado o Dr. Durval B. Marcondes, pioneiro da psicanálise em São Paulo, e do outro lado, como adversário, o Professor Antonio Carlos Pacheco e Silva (http://www.polbr.med.br/arquivo/wal0704.htm). Essa disputa, vencida pelo Professor Pacheco e Silva afastou a nascente psicanálise dos meios universitários paulistas. Mais tarde, com o Professor Darcy de Mendonça Uchoa, como catedrático da Escola Paulista de Medicina, a rivalidade entre psicanálise e psiquiatria, continuou. Aníbal Silveira era ligado a Durval Marcondes e como conseqüência, mesmo sendo Livre Docente da USP, jamais teve espaço naquela instituição. Junto com Marcondes tornou-se professor do Curso de Psicologia da USP. Tendo pouco espaço na psiquiatria da USP, se viu empurrado a trilhar novos caminhos, a desenvolver uma carreira com luz própria, sem maior envolvimento com a psicanálise, e sem estar ligado à psiquiatria tradicional que era desenvolvida na USP. Graças ao seu trabalho, desenvolveu uma sólida carreira em nível nacional e intensa participação internacional, fato incomum para a época. Um outro ponto a considerar, é seu carisma pessoal, suas qualidades de professor polivalente e a grande capacidade de atrair jovens profissionais para seu mundo científico. Prova disso encontramos nas homenagens carregadas de afeto, expressadas por seus ex-alunos e admiradores. Quando mencionei a possibilidade de escrever sobre Aníbal Silveira, a Dra. Hilda Morana prontamente me bombardeou com vários e-mails com material abundante sobre a vida e o trabalho do ilustre psiquiatra e psicólogo e teórico do positivismo.

Homenagens a Anibal Silveira depois do seu falecimento.

Anibal Silveira morreu com 77 anos de idade, na cidade de São Paulo, vitimado por complicações cardiovasculares. Registramos as homenagens pelo centenário do seu nascimento, pelos dez anos e pelos 20 anos de sua morte.

1.     HOMENAGEM A ANÍBAL SILVEIRA NOS 10 ANOS DE SUA MORTE

Rubens de Campos Filho (http://www.usp.br/revistausp/04/rubensfilho.php). Extraímos alguns trechos do artigo que pode ser lido na íntegra seguindo o link. Teoria de personalidade
Para Aníbal Silveira a teoria da personalidade, sistêmica, é a base em torno da qual se estrutura toda a ciência e toda a prática em saúde mental. A personalidade é composta de um conjunto de funções psíquicas reunidas em três esferas, que mantêm entre si relações próprias e hierarquizadas. Ligações de duas ou mais funções simples formam sistemas. No plano cerebral, tais esferas e sistemas psíquicos são correspondentes a regiões e sistemas cerebrais, por sua vez constituídos de dois ou mais órgãos interligados. Toda função, sistema e esfera psíquica correspondem, de igual forma, a um órgão, um sistema e uma região cerebral determinada. As funções mais básicas são as mais energéticas e independentes, o que permite uma hierarquia entre as esferas e os sistemas. As funções mais diferenciadas são mais dependentes, menos energéticas, e regem as mais básicas. O conjunto em sua totalidade funciona harmônica e continuamente e é responsável pela adaptação do organismo aos ambientes físicos e social (Ver Epilepsia e personalidade, Lúcia Coelho). Os órgãos correlatos às funções são duplos e distribuem-se em ambos os hemisférios cerebrais, possibilitando tanto a alternância funcional, quanto à suplência, em caso de lesão. As esferas que compõem a personalidade são três: afetividade, conação e inteligência. A afetividade, a mais básica, engloba dois grupos de funções: a individualidade e a sociabilidade. A conação trabalha com o estímulo, inibição e manutenção da ação e do trabalho intelectual. Já a esfera intelectual, mais dependente e menos energética que as anteriores, dirigem a captação dos estímulos, pelos órgãos sensoriais, sua elaboração e comunicação através da linguagem. E também regula a esfera conativa, orientando a ação no ambiente exterior, além de estabelecer conexão com a esfera afetiva, da qual recebe estímulo. O processo emocional é configurado pela circularidade "estímulo afetivo - repercussão intelectual" ("Psicologia fisiológica", Aníbal Silveira).

2. Homenagem a Aníbal Silveira 20 anos depois do seu falecimento. Arquivos de Neuro-Psiquiatria vol.57 n.4 São Paulo Dec. 1999.   (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X1999000600027) Luiz Barreto de Souza

Sua formação enciclopédica o impeliu a construir, muitas vezes penosamente e solitário, como quando viveu com seus familiares quase vinte anos nas instalações do Hospital de Juqueri, ou então como quando ficou dois anos em Chicago, junto a McCulloch, Fulton, Von Bonin e Alexander. Aliás, foi o primeiro brasileiro a aí estagiar e trabalhar, produzindo notáveis trabalhos científicos na década de 40, publicados na mais conceituada literatura americana e européia científica da época.

Não há dúvida quanto ao caráter inovador de sua obra. Ela foi apresentada em mais de 450 comunicações a congressos científicos nacionais e internacionais. Escreveu: 60 trabalhos sobre higiene mental, eugenia e genética humana; 38 sobre patologia cerebral e sistemas cerebrais; 125 sobre psiquiatria clínica; 50 sobre psicologia e antropologia; 30 sobre fisiologia cerebral e eletroencefalografia; 115 sobre o psicodiagnóstico de Rorschach; 10 sobre leucotomia cerebral; 20 sobre organização hospitalar; mais de 200 textos de ensino da psiquiatria; suas duas Teses, defendidas na Escola Paulista de Medicina e na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, nos tempos de A. C. Pacheco e Silva.

Não é de estranhar que sua fundamentação na epistemologia positivista postulou a anterioridade dos componentes históricos e sociais da personalidade sobre aqueles estruturais e biológicos, além de fixar a íntima solidariedade entre as expressões simbólicas e emocionais do homem e as condições estruturais e dinâmicas do cérebro. A fecundidade científica a partir de tais premissas, levou-o a exaustivas pesquisas nos campos da psicopatologia e da patologia cerebral, indo muito além dos discípulos de Kleist, na sua concepção organológica da psiquiatria, não localizatória, no sentido organicista. Desde 1934 mostrou como era anacrônica tal concepção, encarando tais "localizações" quanto a órgãos cerebrais, não quanto a funções, e procurou sempre mostrá-los como integrando sistemas funcionais cujo dinamismo é paralelo ao das funções psíquicas. Foi muito mais reconhecido no Exterior do que no Brasil, como vários de nossos cientistas, tendo sido citado e apreciado pelo que de mais significativo e sério a ciência ocidental produziu.

Para seus fundamentos, o Dr. Anibal Silveira se apoiou na obra de Augusto Comte, quando fundou a Moral como Ciência da natureza humana.

NOTA EDITORIAL nos Arquivos de Neuro-Psiquiatria: Quando o Professor Anibal Silveira faleceu, este periódico publicou um apanhado sobre sua vida e suas contribuições científicas (Arq Neuropsiquiatr. 1979; 37: 454-457). Decorridos vinte anos de sua morte, suas contribuições permanecem atuais. Plenamente endossando a opinião de seus discípulos, expressa pelo colega Luiz Barreto de Souza, em homenagem republicamos neste número (pg. 1046) uma de suas contribuições mais preciosas, e por ele mesmo revista em dezembro de 1974 (Silveira A. Cerebral System in the pathogenesis of endogenous psychoses. Arq Neuropsiquiatr 1962; 20: 263-278).

3. Centenário de Nascimento de Aníbal Silveira. Artigo do Dr. Guido Palomba, publicado no suplemento cultural do Jornal da Associação Paulista de Medicina. http://www.psiquiatriageral.com.br/saudecultura/anibal.htm.

Há cem anos, mais precisamente, em 17 de março de 1902, nascia em São Roque o grande Anibal Cipriano da Silveira Santos, um dos maiores mestres da Psiquiatria brasileira.  Era de Juqueri, da velha guarda, contemporâneo de Antônio Carlos Pacheco e Silva, Átila Vaz, Osório Thaumaturgo César, Mario Yhan, Darcy Uchoa, Francisco Tancredi, Walter Edgard Maffei, Octavio Perez Vellasco. Foram seus admiradores e discípulos Ruy Piazza, João Godinho Leite, José Luiz Atilio Fiore, Stivanin, Walter Speltri, Ruy Benedicto, Paulo Fraletti, José Roberto Bellelli, Alex Landgraf de Carvalho, Terezinha Oliveira Silva, Dario, Luiz Barreto, Rui Camargo, Joaquim Lopes Alho Filho, Hilda Morana, Antônio José Eça, Rubens Zaclis, Alfredo Hansen Terra de Souza, Edu Machado Gomes, Garcia, Francisco Assis de Souza Lima, Odete Lanzarotti, Joacyr Salles Barros, Joy Arruda, Roberto Tomchinski, José Mandelli Júnior, Sérgio Harzov Coura, Biagio Squitino, Névio di Pietro, Collety, Sergio Traldi, Spartaco Vizoto, Isaias Melson, Vicente D'Andretta, Lucia Maria Salvia Coelho, Mario Robortella, Noemio Weniger e tantos outros que, como nós, admirávamos a sua vasta sabedoria.

“Magro, baixo, óculos de lentes grossas, muito simpático, tomava o trenzinho, na Estação da Luz, para Juqueri, todas as manhãs, sempre no terceiro vagão, a contar de trás para frente. Os recém formados procuravam sentar perto do grande mestre, para beber a sua sabedoria... e as discussões acadêmicas, de tão acirradas, quase faziam com que perdêssemos a Estação Franco da Rocha, rumo ao "santuário" da Psiquiatria nacional, com seus treze mil internados!”

Quem conviveu com Anibal Silveira pôde sentir a força de sua grandeza, da complexidade de sua sabedoria, da simplicidade estóica de sua maneira de ser e da sua afeição pelos familiares, amigos, alunos e pacientes. Morreu aos 16 de agosto de 1979, de ataque cardíaco, deixando vasta obra para nós e para gerações que hão de vir.

4. Homenagem da Sociedade Rorschach de São Paulo (Fundada por Aníbal Silveira em 24 de julho de 1952).

    (http://www.rorschach.com.br/anibal.htm).

“Em 1964 apresentou sua contribuição definitiva do Psicodiagnóstico, com sua magistral tese de livre docência, defendida na Faculdade Paulista de Medicina". A publicação de sua tese, em 1ª edição, foi rapidamente esgotada, uma nova edição ampliada foi publicada em 1985 As inovações teóricas relacionadas aos dados empíricos introduzidos neste trabalho e a sua extensa gama de aplicações abrangem aos diversos campos de estudo do comportamento humano normal e patológico.

Na década de 70, após organizar diversos serviços de psiquiatria no interior do Estado de São Paulo (Botucatu, Itapira, Campinas, Jundiaí), Anibal Silveira retoma o ensino no Hospital do Juqueri, vinculando-o à Faculdade de Medicina de Jundiaí. Poucos meses antes de sua morte Anibal Silveira dedica-se mais intensamente à revisão e ampliação do texto de sua livre docência, mas apenas seis anos após sua morte foi publicada. Faleceu em 16 de agosto de 1979.

 

5. Psiquiatria Geral: (http://www.psiquiatriageral.com.br/saudecultura/anibal.htm), site organizado pelo Dr, Paulo Fernando M. Nicolau, além de várias aulas do Professor Aníbal Silveira, publica o texto de Guido Palomba de 2002, quando era coordenador cultural da Associação Paulista de Medicina, onde Aníbal Silveira é homenageado pela data relativa ao seu centenário de nascimento.

6. Entrevista do Dr. Ryad Simon: (http://www.psicologianocotidiano.com.br/entrevista/entrevista2.php)

 Anibal Cipriano da Silveira Santos nasceu em São Roque, São Paulo, em 1902. Cursou a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, além de ter recebido posteriormente o título de psicólogo. Exerceu no Hospital do Juqueri as funções de anatomopatologista, psiquiatra, médico interno, residente e chefe de clínica. Desde 1935, começa a utilizar sistematicamente a prova de Rorschach em suas pesquisas e nos exames de pacientes. Publica a sua primeira sistematização pessoal do Psicodiagnóstico em 1943.

7. Subsídios para a História da Psicologia no Brasil.

   Arrigo Leonardo Angelini (http://www.bvs-psi.org.br/ArrigoAngelini.pdf)

Academia Paulista de Psicologia. Na USP, aquele curso de três anos de duração, que formava o chamado Bacharel – em Psicologia na então FFCL, adaptando-se à nova Lei, passou a formar o Psicólogo, em Cinco anos, com a inclusão de novas disciplinas de caráter profissional. Foram então contratados novos professores, principalmente nas áreas da psicologia clínica, da psicologia experimental, e novos ambientes de trabalho, inclusive biotérios e laboratórios, foram instalados. Para a área da clínica foram admitidos os psiquiatras Cícero Cristiano de Souza, na disciplina de Psicopatologia, Durval Bellegarde Marcondes para Psicanálise e Aníbal Cipriano Silveira, especialista no Teste de Rorschach. Cícero Cristiano de Souza viria a, ocupar nesta Academia a Cadeira nº. 3; Durval Marcondes ocupou a Cad. Nº.1 e Aníbal Silveira foi escolhido Patrono da Cad. Nº. 14.

8. Sobre Instinto - Análise de Teorias Contemporâneas Baseadas na Concepção de Aníbal Silveira

Data: 10/10/84

Autor: Ruy Benedicto Mendes Filho

Orientadora: Profa. Dra. Lúcia Maria Sálvia Coelho

9. (http://www.funjor.org.br/msg/anibal_silveira.htm) Nesse site encontramos um bilhete de Aníbal Silveira onde podemos observar uma letra bonita e uma maneira afetuosa de se expressar.

­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­Dados Biográficos

A vida de Anibal Cipriano da Silveira Santos foi uma permanente busca por conhecimento através de autodidatismo. Seu pai foi Sr. Joaquim da Silveira Santos e sua mãe, D. Amélia da Silveira Santos. Seu pai foi um dos fundadores do Centro Positivista de São Paulo em 1924 e era um ativo divulgador das idéias do filósofo Auguste Compte. Anibal nasceu na cidade de São Roque, São Paulo, no dia 17 de março de 1902.  Começou a estudar na cidade natal e depois se mudou para Piracicaba onde cursou a Escola Normal Oficial, de 1918 a 1921. Em 1924 recebeu o diploma de bacharel em Ciências e Letras no Ginásio do Estado de São Paulo, na capital. Em 1925 matriculou-se na Faculdade de Medicina, Hoje integrada na Universidade de São Paulo. Formou-se em 28 de janeiro de 1931. Nessa época era exigida Tese de doutoramento e ele apresentou a sua: “Da clínica psiquiátrica e do ambulatório de Higiene Mental” foi aprovado com a nota 9,5.

No final do Curso de Medicina, em 1930, ingressou com interno acadêmico do Hospital de Juqueri. Em março de 1931 foi nomeado médico anatomopatologista em tempo integral, em substituição ao titular do cargo. Essa melhora na situação econômica permitiu que se casasse em 17 de março de 1932. Sua esposa, Thais Pinto era de Piracicaba e naquela cidade aconteceu o casamento. Tiveram três filhos, Hume Anibal, Marina Amélia e Cid Vinio.

Trabalhou como anatomopatologista do Hospital de Juqueri até o retorno do titular da anatomia patológica, depois passou a exercer o cargo de alienista. A partir de 1932 trabalhou sempre como psiquiatra na Assistência aos Psicopatas os nomes é que variaram; médico alienista em 1933; médico interno-residente em tempo integral, em 1935; em 1938, médico psiquiatra em tempo parcial. Foi responsável por vários pavilhões do Hospital de Juqueri até dar um grande salto em sua vida, no período de outubro de 1941 até 4 de março de 1943 foi para os Estados Unidos com uma bolsa de estudo da Fundação Guggeheim. Antes da viagem aos EUA, ainda em 1941, obteve o título de Docente Livre da Cadeira de Clínica Psiquiátrica da Faculdade de Medicina de São Paulo. Defendeu a Tese “O Método de Meduna em Esquizofrênicos Crônicos”.

Durante o Curso de Medicina (1925-1931), Anibal Silveira publicou vários trabalhos sobre Higiene Mental, Eugenia e um livro sobre Educação Física. No período de 1934 a 1941 predominaram as publicações sobre anátomo-patologia cerebral, são 15 artigos. Publica três trabalhos sobre eletroencefalografia e alguns sobre a prática psiquiátrica. Estudava os automatismos de Clérambault sob vários enfoques. O próprio Anibal Silveira dividia suas publicações por assuntos:

1.     Psicologia e Provas Psicológicas (152 páginas)

2.     Higiene mental e Genética Humana (164 páginas)

3.     Esquizofrenia (168 páginas)

4.     Psiquiatria Clínica Geral (170 páginas)

5.     Fisiologia Cerebral (172 páginas)

6.     Psiquiatria e dinamismos psicopatológicos (180 páginas).

 

Durante sua vida deu muitos Cursos para Especialistas, 37 ao todo. Além desses dava aulas regulares no Instituto de Psicologia.

No seu memorial refere 435 publicações, mas na verdade foram bem menos, pois o Professor Anibal colocou como publicações, material de aula. Publicações chegam a 53 artigos. Seus trabalhos foram publicados em 23 revistas, sendo 15 nacionais, 8 estrangeiras. Isso o torna o autor brasileiro que mais publicou no exterior em sua época. Foi citado em 38 livros, 21 publicados no exterior (um em português, três em alemão, nove em espanhol, um em francês e sete em inglês).

Entre suas aulas encontramos palestras sobre positivismo. Na verdade, nada melhor que o próprio Compte para nos dizer o que é positivismo: “Em um dos seus mais famosos escritos, conhecido como Opúsculo Fundamental, August Compte definiu sua lei dos “três estados”. “Pela própria natureza do espírito humano, cada ramo de nossos conhecimentos está necessariamente sujeito, em sua marcha, a passar sucessivamente por três estados teóricos diferentes: o estado teológico ou fictício, o metafísico ou abstrato, e, em fim, o científico positivo (Compte, 1822, p.82) (citado por Almeida, F.Rev. Latino Amer. Psicopat. Fund. 2008)".

 

Anibal Silveira e o Positivismo

 

A palavra positivismo tem aparecido na literatura psiquiátrica e psicológica como se fosse um termo pejorativo.  Psiquiatria positivista aparece freqüentemente com teor acusatório às práticas da neurociência, do uso de métodos quantitativos, da Psiquiatria baseada em evidências e outras formas da Psiquiatria Médica e científica. Aparentemente, o termo positivismo, é utilizado como forma de desmerecer métodos mais científicos da prática psiquiátrica moderna. Fica sempre a acusação de que, quanto mais positivista, menos humanista se tornaria a psiquiatria. Sendo assim, julgo por bem esclarecer que o positivismo de Anibal Silveira se refere a sua condição de seguidor das idéias de Augusto Compte (1788 – 1857).

Não pretendemos examinar em profundidade a filosofia positivista, para quem estiver interessado sugiro a leitura da Enciclopédia Simpósio ( http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/novo/2216y840.htm) HISTÓRIA DA FILOSOFIA MODERNA (Versão em Português do original em Esperanto) © Copyright 1997 Evaldo Pauli).

“Auguste Comte (1798-1857). Filósofo francês, nascido em Montpellier. Desacreditou da fé católica aos 14 anos. Estudou de 1814 a 1816 na Escola Politécnica de Paris. Expulso por participar de um motim dos alunos, num tempo que estava sob a sensibilidade das mudanças políticas pós-napoleônicas. Retornou a Montpellier, onde por curto tempo estudou medicina. Em 1817 de novo em Paris, passou a se manter ministrando aulas e escrevendo para jornais. Por algum tempo foi secretário de um banqueiro. De 1818 a 1824 colaborou com o socialista utópico Conde de Saint-Simon, do qual enfim se tornou secretário. Casou em 1825 com Carolina Massin. Deu começo em 2 de abril de 1826 a um curso público de filosofia positiva. Logo abandonado pela mulher, sofreu perturbações mentais, suspendendo o curso, o qual todavia retomou em 1829, mantendo-o até 1842, ao mesmo tempo que o publicou. Em 1944 se ligou a Matilde de Vaux. Morrendo esta em 1846, seu amor platônico se transformou em misticismo, com a conseqüente fundação da humanidade em 1852, encontrando em Pierre Lafitte seu principal colaborador”.

Resumindo ainda mais, podemos observar que Compte teve uma vida pessoal atribulada, problemas familiares, casamento infeliz, internamento psiquiátrico com Esquirol, tentativa de suicídio e por fim a realização das suas principais obras.

O Positivismo iniciou-se na França, em 1830 quando Auguste Compte inaugurou seu Curso de Filosofia Positiva. Na segunda parte do século o estágio de crescimento do positivismo já se encontra apreciável, e até com duas alas, a ortodoxa, com Pierre Lafitte (1828-1881), a dissidente, com Emilio Littré (1801-1881), Hipólito Taine (1828-1893), Emílio Durkheim (1858-1917), sociólogo e filósofo da educação. Afim a este movimento se encontra o materialismo, geralmente monista; cita-se, na França, entre outros Le Dantec.  O Positivismo se espalhou pelo mundo, França, Alemanha e chegou ao Brasil através de professores do Colégio Militar.

No Brasil o positivismo teve ampla aceitação, quer nas escolas de direito, quer nos círculos militares em virtude da matemática, quer ainda no movimento republicano. Teve também seus materialistas e evolucionistas. Em Recife notaram-se primeiramente Tobias Barreto (1839-1889) e Silvio Romero (1859-1914), depois emigrados para outros centros. No Rio de Janeiro o republicano Benjamim Constant (1837-1891) fundava em 1876 a sociedade positivista. Mas a igreja positivista foi mais um esforço de Miguel Lemos (1854-1917) e R. Teixeira Mendes (1855-1927). Foi importante a atuação dos positivistas na Abolição da Escravatura, na Queda do Império e nascimento da República Brasileira, nas cores e símbolo da Bandeira Nacional, nas Datas Nacionais e tantas outras iniciativas. Pode-se argumentar que os positivistas trouxeram a modernidade para o Brasil daquela época.

A História destaca a grande influência dos positivistas na proclamação da República. Se para muitos foi surpresa, para os positivistas ela estava sendo articulada e quando foi estabelecida, as primeiras leis já estavam elaboradas como nos conta a Dra. Elisabete da Costa Leal no seu artigo O Calendário Republicano e a Festa Cívica do Descobrimento do Brasil em 1890: versões de história e militância positivista (HISTÓRIA, SÃO PAULO, v. 25, n. 69 2, p. 64-93, 2006).

A Religião da Humanidade criada por Comte era uma religião da História e um culto aos mortos, no sentido memorial. Era composta por um culto privado e um culto público. O primeiro ocorria no espaço doméstico e era voltado para a lembrança dos familiares mortos, estimulando diariamente a rememoração da história dos antepassados e sua transmissão. O culto público ou coletivo ocorria nos templos positivistas, era destinado a celebrar a Humanidade e seu passado e dirigido pelos sacerdotes (filósofos). Os positivistas também estimulavam as atividades cívicas, fora dos templos.

Os positivistas davam especial atenção a atividade física, a ginástica isso explica o livro sobre Educação Física escrito por Anibal Silveira em 1929.

O texto aborda como os membros da Igreja Positivista do Brasil – IPB –, e alguns políticos aliados, se envolveram na proposição do Decreto 155-B de 14 de janeiro de 1890, que estabeleceu o calendário republicano de feriados oficiais, e como se empenharam para consolidá-lo na cultura política da Primeira República.

O Positivismo continha no seu arcabouço de idéias, três diretrizes, a científica (Spencer, Darwin), a psicológica (Taine, Stuart Mill, W. Wundt) e a sociológica (Émile Durkheim).

Os três princípios básicos do positivismo de Comte

­Prioridade do todo sobre as partes: significa que para compreender e explicar um fenômeno social particular, devemos analisá-lo no contexto global a que pertence. Considerava que tanto a Sociologia Estática (estudo da ordem das sociedades em determinado momento histórico) quanto a Sociologia Dinâmica (estudo da evolução das sociedades no tempo) deveriam analisar a sociedade, de uma determinada época, correlacionando-a a sua História e à História da Humanidade (a Sociologia de Comte é, na realidade, Sociologia Comparada, tendo como quadro de referência a História Universal);

­O progresso dos conhecimentos é característico da sociedade humana: a sucessão das gerações, com seus conhecimentos, permite uma acumulação de experiências e de saber que constitui um patrimônio espiritual objetivo e liga as gerações entre si; existe uma coerência entre o estágio dos conhecimentos e a organização social;

­O homem é o mesmo por toda à parte e em todos os tempos: em virtude de possuir idêntica constituição biológica e sistema cerebral.

 

A “Lei dos Três Estados” de Augusto Comte

­Estado teológico ou fictício, em que se explicam os diversos fenômenos através de causas primeiras, em geral personificadas nos deuses. O Estado Teológico subdivide-se em:

         1. Fetichismo, em que o homem confere vida, ação e poder sobrenaturais a seres inanimados e a animais;

         2. Politeísmo, quando atribui a diversas potências sobrenaturais ou deuses certos traços da natureza humana (motivação, vício e virtudes etc.);

         3. Monoteísmo, quando se desenvolve a crença num deus único.

Estado metafísico ou abstrato: as causas primeiras são substituídas por causas mais gerais – as entidades metafísicas –, buscando nestas entidades abstratas (idéias) explicações sobre a natureza das coisas e a causa dos acontecimentos;

Estado positivo ou científico: o homem tenta compreender as relações entre as coisas e os acontecimentos através da observação científica e do raciocínio, formulando leis; portanto, não mais procura conhecer a natureza íntima das coisas e as causas absolutas.

A reforma da sociedade proposta por Comte deveria obedecer aos seguintes passos: 1) reorganização intelectual, depois 2) moral e, por fim, 3) política.

 A Doutora em Ciências Médicas pela Unicamp  Lucia Maria Silva Coelho, atual Presidente da Sociedade Rorschach de São Paulo, na sua tese Epilepsia e Personalidade (Ed. Ática, 1975), se credencia como uma fiel seguidora dos ensinamentos de Anibal Silveira e se mostra agradecida ao mestre e a Ruy Coelho, professor e positivista. É Ruy Coelho quem destaca Compte como precursor da Psicologia moderna: No tocante aos métodos, por ex. sugestões importantes sobre o valor diagnóstico dos sonhos, os estudos das biografias, as pesquisas sobre inteligência e os costumes dos animais. Acrescenta uma ressalva que as elaborações posteriores desses métodos se fizeram independentemente dele. Compte estudava o homem dentro de uma perspectiva histórica e não apenas o homem atual. Tinha a opinião que o homem só poderia ser compreendido através das suas relações interpessoais. Uma última afirmativa se refere ao nosso biografado. “Porém, dentro do campo específico da Psicologia e da Psiquiatria, quem realmente fornece contribuições decisivas – atualizando e sistematizando as interpretações dos fenômenos psíquicos à luz da filosofia positivista- é Silveira”.

Lúcia Coelho, destaca no trabalho Psicologia Fisiológica de Silveira, os seguintes pontos: 1. No domínio cerebral, como nos demais setores do organismo, existe íntima correlação entre o plano funcional e o plano estrutural: no caso, organização neuropsíquica e organização anatômica do cérebro. 2. A cada função psíquica simples corresponde necessariamente um órgão cerebral distinto. 3. A identificação prévia da função psíquica é indispensável à pesquisa do órgão correspondente. 3. Tanto no plano dinâmico quanto no plano estrutural, a pesquisa só se torna eficaz quando procede do complexo para o simples ou do todo para as partes. 5. A estrutura e as condições anatômicas dos órgãos cerebrais permitem compreender-lhes as funções psíquicas; porém, estas obedecem a leis próprias e não são redutíveis a fenômenos de outra categoria quaisquer, nem mesmo aos fisiológicos.

Quatro artigos de Silveira contém suas idéias de forma didática: Psicologia Fisiológica, Cerebral Systems in the Pathogenesis of Endogenous Psychoses, Genetics of Psychosis e Human Genetics as na approach to the Classification of Mental Disorders. Para situarmos o trabalho de Silveira, resolvemos fazer um resumo histórico do que se estuda em Psiquiatria Genética:

A idéia de que a doença mental pudesse ser herdada tornou-se a evidência física mais clara da natureza biológica da doença mental. Desde a enunciação das leis de Mendel, tratou-se de estabelecer uma linha direta entre o louco e sua descendência. Em 1857, Benedict Augustin Morel chega a conclusões drásticas e apresenta a Teoria da Degeneração na Psiquiatria. As doenças mentais eram atribuídas a corrupção do patrimônio genético, através de sucessivas gerações. A semente degenerada era transmitida de uma geração para outra. Essa teoria pode ser comparada a doutrina moderna da “antecipação genética” onde um transtorno cresce nas gerações sucessivas como por exemplo na doença do X-Frágil, na doença de Huntington e outras.

Morel escreveu em 1857: “O ser humano degenerado, se for abandonado ao seu bel prazer, cai numa degeneração progressiva. Eles se tornam um obstáculo na cadeia de transmissão do progresso na sociedade humana e se torna o maior obstáculo para esse progresso através do contato com a população sadia”. Esse tipo de idéia, somada as idéias eugênicas propostas por Dalton, levaram a políticas de esterilização de deficientes mentais e dos “feeble minded”. Sobre esse assunto escrevemos no Psiquiatria On line em 2001 o artigo Eugenia e Higiene Mental (http://www.polbr.med.br/ano01/wal0901.php).

Francis Galton (1822-1911), sobrinho de Darwin, publica em 1869 seu livro “Gênio Hereditário: Um inquérito entre suas leis e conseqüências”,

Onde desenvolve a idéia da importância da descendência ou da história familiar para estudar a herança genética. Introduz a idéia do controle genético em favor da raça humana. Criou o termo eugenia. Tornou-se Cavaleiro da Inglaterra em 1909. Sir Francis galton. Deixou parte da sua fortuna para a City University of London onde foi criada em 1911 a Cátedra Galton Professor of Eugenics. O famoso geneticista Lionel Primrose (1898-1972), mudou seu nome para Galton Professorship of Human Genetics. O mesmo destino foi dado ao “Annals of Eugenics” que passou a ser chamado de “Annals of Human Genetics”. O termo Eugenia passou a ser associado coma política nazista de esterilização e extermínio e por isso foi abandonado.

Galton é o responsável pela noção que certos traços tem um forte componente genético, mas não pode ser a ele atribuída a idéia da esterilização, que mais tarde, tornou-se uma marca da eugenia. Os eugênicos brasileiros, por mais que estivessem influenciados pelas idéias americanos e alemães, não conseguiram aprovar leis de esterilização. O próprio Renato Kehl que é apontado como líder do movimento eugênico brasileiro afirmava que jamais uma lei dessas passaria no Congresso Brasileiro.

Estudos genéticos em Psiquiatria

  1. Emil Kraepelin declara em 1896 que 70% dos pacientes esquizofrênicos tinha uma predisposição hereditária.
  2. Ernest Rüdin (1874-1952), psiquiatra suíço que se tornou famoso, negativamente, por ser apologista das práticas de esterilização nazistas, foi o primeiro a desenvolver a psiquiatria genética em termos demográficos. Seu estudo, publicado em 1918, apresentava dados de 701 famílias com 4823 crianças, a maioria provinda da Clínica de München e de um asilo da Baviera, 4.2% das crianças com pais sadios apresentavam quadro esquizofrênico, enquanto 6.2% que tinham pelo menos um pai esquizofrênico, apresentavam a doença. Esse trabalho de Rüdin  o tornou proeminente na comunidade científica.
  3. Pesquisa com gêmeos

           Hans Luxemburger (1894-1976) publica em 1928 o primeiro estudo com gêmeos. De 211 pares de gêmeos, internados por esquizofrenia, constatou que 64% dos gêmeos monozigóticos tinham esquizofrenia enquanto no grupo de gêmeos controles, nenhum apresentou a doença.

            Aaron Rosanof (1878-1943), em 1932 publicou um estudo com128 gêmeos em que um deles tinha sido hospitalizado. Nos monozigóticos (41 pares) chegou a 86% de concordância. Nos dizigóticos 34 % dos gêmeos apresentaram a doença.

           Franz Kahlmann (1857-1965), publicou no american Journal of Psychiatry em 1946, de 691 famílias com gêmeos, 86% dos pares monozigóticos tinham esquizofrenia e só 15% dos dizigóticos apresentavam a doença. Esse trabalho foi apresentado no Congresso Mundial de Psiquiatria de 1950, em Zurique na Suíça e causou grande impacto, para não dizer, consternação nos que defendia a origem psicogência da doença mental. Em relação a essa apresentação, Anibal Silveira, escreveu o artigo “Genetics of Psychoses” que foi publicado no Eugenic News e que comentaremos mais adiante.

            Eliot Slater publicou em 1953 seu livro “Psychotic and Neurotic Illnesses in Twins” aonde a concordância da doença esquizofrênica chegava a 75% nos gêmeos monozigóticos e a 11% nos dizigóticos. Slater concluiu: “Esses fatos sugerem que causas genéticas determinam uma potencialidade para a esquizofrenia, talvez de forma essencial, embora os fatores ambientais tenham um papel substancial”.

            Irving Gottesman, no seu livro Schizophrenia gênesis (1991) coloca os seguintes dados: monozigóticos (50%); dizigóticos (20%), sobrinho(a)s: 5%. População geral menos de 1%.

           Leonard Heston em 1966 publica no British Journal of Psychiatry artigo em que pesquisa gêmeos criados em ambientes diferentes, adotados por diferentes famílias, mas com mãe esquizofrênica. 5 de 47 crianças de mãe esquizofrênica criada em famílias normais, apresentaram esquizofrenia contra nenhuma no grupo controle. Conclui: Os resultados desse estudo reforçam a idéia de uma etiologia genética para a Esquizofrenia.

           Estudo do NIMH (Seymour Ketty, David Rosenthal e Paul Wender)  na Dinamarca (Fini Schulsinger). Publicaram um estudo de seguimento de 5.483 adoções durante a vida, de 1924 a 1970. Constataram que, independente do meio aonde foram criadas, as crianças com pai ou mãe esquizofrênicos tinham maior número de casos dos que não apresentavam a doença. Os autores concluíram que: a presença de 10% de esquizofrênicos em famílias que criaram filhos cujos pais eram esquizofrênicos é uma manifestação de fatores geneticamente herdados.

  1. Identificação de marcadores de DNA ligados ao aparecimento da esquizofrenia é a atual linha de pesquisa nessa área.

 

A pesquisa em genética das doenças mentais está no seu início. Alguns resultados são objetos de manchete na imprensa. Há uma fantasia de se localizar um fator determinante da doença e o respectivo tratamento, isso é pouco provável, pois se discute que a esquizofrenia, por exemplo, não seria uma doença e sim um caminho final de várias doenças. Assim, como afirma Edward Shorter (Historical Dictionary of Psychiatry) de onde extrai boa parte das informações, “o gene da esquizofrenia” provavelmente não existe e que a influência genética afeta fundamentalmente o processamento da informação no cérebro. (p.228-232).

Aníbal Silveira em seus artigos sobre Classificação com uma aproximação genética apresenta as seguintes conclusões: “Dispondo as diferentes formas de doença mental de acordo com os fatores heredológicos subjacentes, obtém-se uma verdadeira ”série natural”. A classificação que procuramos estabelecer combina os critérios eugênicos e dinâmico principalmente e consta de 24 quadros clínicos distintos, reunidos em cinco grupos fundamentais: 1 – Psicoses de origem infecciosa predominante (4 rubricas); 2 – Psicoses de origem tóxica predominante ( 2 rubricas); 3. Psicoses endógenas constitucionais (7 rubricas); 4. Lesões focais e abiotróficas do cérebro (4 rubricas); 5. Quadros deficitários por lesões focais ou abiotróficas do cérebro (4 rubricas). Entre as condições clínicas do grupo 4 encontram-se as psicoses marginais “degenerativas”de Kleist, cuja freqüência na psiquiatria cotidiana lhes assegura lugar individualizado na classificação.

No artigo sobre Human Genetics, Silveira faz reparos ao trabalho de Kahllmann apresentado no Congresso Internacional de Paris em 1950 propondo a colocação das Psicoses atípicas endógenas de Kleist como uma verdadeira psicose endógena.

No seu trabalho sobre Sistemas Cerebrais, Silveira afirma que o psiquiatra não conseguirá se desenvolver sem seguir uma teoria da personalidade. Ele refere que a teoria psicanalítica que é seguida pela maioria, no mundo ocidental pode explicar os mecanismos das neuroses ou similares, mas não se aplica às psicoses. Outras teorias recentes, também deixam de abarcar as psicoses. E ai apresenta sua teoria de base positivista: “Se nós desejarmos uma teoria que possa abranger todas as condições mentais e correlaciona-las com a fisiologia cerebral e patologia, nós temos que retroceder até 1850. Tal teoria foi fundada por um dos mais brilhantes pensadores de todos os tempos, o filósofo francês Auguste Compte, que a expôs em 1851. Mais tarde ela foi magistralmente elaborada pelo filósofo e médico Georges Audiffrent em dois grossos volumes, “Do Cérebro a Inervação”, 1869 e “Doenças do Cérebro, em 1874. Sem entrar em maiores detalhes, é suficiente dizer que foi baseada  na sociologia do homem, na anatomia comparada do sistema nervoso, nas leis da biologia, especialmente a fisiologia, e comprovada através da conduta animal e pela anatomia patológica do cérebro”.

Essa doutrina descreve minuciosamente, pela primeira vez em 1850, a importância do sono e do sonho, de uma maneira bastante semelhante à que Freud descreveu 40 anos depois. De acordo com aquela teoria, a mente humana consiste de três esferas independentes – Afetividade, Atividade e Inteligência -  que agora são comuns, mas não eram aceitas naquele tempo. A afetividade consiste num grupo de funções subjetivas que continuamente estimulam o ser humano a satisfazer as necessidades da própria existência individual e além disso permite a sua integração no ambiente físico e social. A atividade regeria o comportamento explícito e manteria o trabalho intelectual. A inteligência rege o comportamento explícito e o trabalho intelectual.

Como vemos por sua obra, Silveira sempre se manteve fiel as idéias do pai positivista, abraçou apaixonadamente as idéias de Compte e produziu uma obra singular no meio psiquiátrico e psicológico brasileiro. Lutou bravamente no terreno das idéias, pode ser questionado, mas foi um homem do seu tempo e deixou marcas positivas da sua atuação.

Bibliografia de Aníbal Silveira registradas no Índice Bibliográfico Brasileiro de Psiquiatria.

Bibliografia de Aníbal Silveira no IBBP

 

   1.   Silveira, Anibal. Acepção de Semiologia no domínio das doenças mentais. Arq. Neuro Psiquiatria. 1950; 15:5-21.

   2.   Silveira, Anibal. "Alterações não metaluéticas do líquido cefalorraquidiano em doentes mentais".  In Brasil Médico. 1939; 53 (15, 16, 17).

   3.   Silveira, Anibal. Aplicação da genética humana à higiene mental. Rev.Latino-Americana De Psiquiatria, Córdoba, Argentina. 1953; 2(7): 62-75.
Notes: Idem: In Arquivo de Neuro-Psiquiatria, 14: 117-135, 1956.

   4.   ---. As funções do lobo frontal. Rev. Neurol. Psiquiatr. São Paulo. 1935:196-228.

   5.   ---. Assistência Geral aos psicopatas. Bol. Higiene Mental, SP. 1931; 25: 2.

   6.   ---. Bases fisiológicas da Fisicultura. Rev. Med. SP. 1927; 12: 330-338.

   7.   Silveira, Anibal. Campos Arquitetônicos do lobo frontal e funções da inteligência. Rev.De Neurologia e Psiquiatria de São Paulo. 1937; 3: 131-180.

   8.   Silveira, Anibal. Caracterização da patologia cerebral, da psicopatologia e da heredologia psiquiátrica na doutrina de Kleist . R. Temas,SP. 1989; 19(36): 13-60.
Notes: Origina em Arq.  Neuro-Psiquiatria, 1959, 17, 98-142

   9.   Silveira, Anibal. Cerebral systems in the pathogenesis of endogenous psychoses. Arq. De Neuro Psiquiatria. 1962; 20(4): 263-278.
Notes: SILVEIRA, ANIBAL. Sistemas cerebrais na patogênese de psicoses endógenas. Arq. Neuro-Psiquiatria. Dec. 1999, vol.57, no. 4, p.1046-1056.
NOTA EDITORIAL ľ Quando o Professor Anibal Silveira faleceu, este periódico publicou um apanhado sobre sua vida e suas contribuições científicas (Arq Neuropsiquiatria 1979;37:454-457). Decorridos vinte anos de sua morte, suas contribuições permanecem atuais. Plenamente endossando a opinião de seus discípulos ľ expressa pelo colega Luiz Barreto de Souza ľ em homenagem republicamos neste número (pg 1046) uma de suas contribuições mais preciosas, e por ele mesmo revista em dezembro de 1974 (Silveira A. Cerebral Systems in the pathogenesis of endogenous psychoses. Arq Neuropsiquiatria 1962; 20:263-278).

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11.   Silveira, Anibal. Conceito de Alcoolismo Crônico. Rev. Paul. Med. 1965; 66:221-225.

12.   Silveira, Anibal. "Conceituação de esquizofrenia".   Psiquiatria Atual. 1970:48-51.

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14.   Silveira, Anibal. "Contribuição para a semiologia psiquiátrica - a pneumoencefalografia". . Arquivo da Assistência a Psicopatas De São Paulo. 1947; 12:1-101.

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39.   Silveira, Anibal. O problema heredológico na Classificação das Doenças Mentais. Arq. Assist.a Psicopatas Do Estado De São Paulo. 1949; 13:79-81.

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52.   Silveira, Anibal; Robortella, M., e Maffei, W. E. Quadro clínico do lobo orbitário com crises cerebelares: cisticercose racemosa do ângulo ponto-cerebelar. Arq. Neuropsiquiatria. 1960; 18: 146-148.

53.Silveira, Anibal e Toledo, Luiz Pinto de. Perversão de instintos e do caráter, conseqüentes a encefalite epidêmica na infância. Homicídio. Arq. Assist.A Psicopatas Do Estado De São Paulo. 1938; 3(1-2): 32-52.

Nota. Registramos no Índice Bibliográfico Brasileiro de Psiquiatria 53 artigos publicados. O Professor relaciona no se memorial 425 artigos. A grande diferença de número de artigos se deve ao fato dele registrar conferências, aulas de cursos, e participação em congressos, como material publicado. Infelizmente não se usa esse critério. Cumpre destacar que o professor Anibal Silveira era assíduo participante de Congressos psiquiátricos na América Latina, nos EUA e na Europa.

 


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