Volume 13 - 2008
Editores: Giovanni Torello e Walmor J. Piccinini

 

Abril de 2008 - Vol.13 - Nº 4

Coluna da Lista Brasileira de Psiquiatria

Fernando Portela Câmara

Esta coluna resume os principais fatos e novidades veiculadas na Lista Brasileira de Psiquiatria.



Assuntos:

ALGUÉM INFORMA?

 

Vamos ver se a lista pode me ajudar:Tenho observado ao longo dos anos que o uso do litio melhora a osteoporose feminina. Tentei realizar uma pesquisa sistemática e me
deparei com algumas dificuldades, do tipo tempo e dinheiro. O último caso que acompanhei e acompanho é de uma senhora de 56 anso que vem tomando lítio ha seis anos. Ela é bem organizada e tem densitometria óssea bianual nesse período. ela não ingeriu cálcio sob forma de drágeas, of course, não fez tratamento específico além do
tratamento psiquiátrico e sua densitometria apresentou melhora evidente. Sua clínica estranhou o resultado e comentou com ela queisso não era comum. Ai a paciente lembrou do que conversei com ela e veio me relatar o fato. Quando receitei o lítio, para convencê-la a utilizar o mesmo comentei que observava melhoras na ostreoporose. Minha pergunta para vocês. Alguém já pensou nisso. Acham que valeria a pena publicar, nem que fosse uma carta para o editor. Walmor Piccinini

 

Walmor, de minhas lembranças (que podem ser falsas), algumas coisas falam a favor de sua hipótese:
a)Univ. de Toronto - há um trabalho sobre aceleração de formação de calo ósseo em pacientes usando lítio;
b) existe uma certa National Osteoporosis Foundation que cita o lítio como favorecedor de tratamento nos casos de perda óssea;
c) há registros da Universidade ou Clínica de Aarhus - Noruega (onde trabalhou o Mogens Schou) estabelecendo que o lítio inibe a reabsorção óssea.
Espero que ajude. J Romildo Bueno

 

"NÃO MATEI; NÃO QUERO PAGAR COM A MINHA VIDA."

 

E aí? Não vamos ninguém comentar sobre as crudelíssimas e iniqüíssimas torturas inflingidas gratuitamente a uma menor de 12 anos, por uma sociopata, criminosa seriada, com a conivência silenciosa e fiel da família.

A reportagem abaixo enfoca essa perplexidade.

E aí? Como se entende essa família (+empregada) ?

São psicopatologicament e afetados pelo covívio com as apetites perturbadores de Sílvia? Se são, são como ela, psicopatas também, ou estão presos a uma psicológica teia de aranha, poderosíssima, que os psicopatas perversos confortavelmente fiam? Talvez a família esteja de certa forma satisfeita. Marcos Klar

 

Li que a agressora foi também vítima de torturas por parte dos pais quando criança, e com a morte destes perambulou por orfanatos. Ontem à noite, um conhecido psiquiatria forense paulista, com um bigode incrivelmente elegante, negou que este fato tenha importância na formação da personalidade da agressora, e afirmou que é maldade pura e simples, um caráter. Portela

 

OK. O que você dissera quanto à dengue e a poplítica e a população cariocas, o como vemos a ABP se posicionar quanto à realidade científica e legitimidade histórica da Psiquiatra, as necessidades dos psiquiatras hoje num contexto sócio-cultural desfavorável, o quanto os colegas e profissionais amigos se manifestam nesta Lista e fazem valer seu moral incluo num mesmo saco de como vive e por que sobrevive o brasileiro.

    Acredito que experiências terríveis na infância com certeza determinam muitas reações impulsivas numa pessoa. Mas entre reações imediatas e semiconscientes e premeditação maquiavélica que extende o vigor do impulso destrutivo no tempo requer, certamente, uma parcela de postura de espírito que integra essas experiências passadas e presentes numa continuação de uma vida anti-social.

     Vejamos alguns detalhes. Ser criminoso não é tão simples moralmente. Ser um falso médico, comprar diploma pela net e clinicar com CRM alheio é muito mais realizável que seguir uma vida de crimes, por puro capricho e desintegrado do mundo. Mundo do crime, digo, não mundo da sociedade. Quem estupra, tortura bebês ou mata os pais, deveriam saber que tais crimes tem como pena "pelo bem" prisão até 30 anos com taius e tais atenuantes, mas a pela "pelo mal" é pavor, crior e dor.. e morte no último acorde dessa sinfonia da moral às avessas. 

      Não sei se essa empresária tinha em mente que poderia ser alguma dia pego. Todo criminose que se preza, mesmo os crackeiros mais noiados, sabem do risco de vacilarem e dançarem. De um lado e de outro. mas pela droga e a nulidaede de sua existência social, arriscam suas peles por mais uma pedrinha. essa empresária parece que acreditava nunca haver de ser pega. A família mesmo pode ter ajudado, nesta sensação de confiança, que culminou em atos tenebrosos perpetrados ao lado de paredes que dão escuta a vizinhos ou transeuntes.  

       Ora, se um dia for ao Rio torturar meu amigo mestre de Artes Marciais, não vou querer que ninguém além de mim e o torturado gozem das volúpias deste espetáculo, pois seis que essa situação na sociedade poderá interferir com o sucesso de minhas sessões. A idéia que me passou é de uma mulher que não é deficiente, mas, aliás, bem eficiente em impor terrorismo psicológico que cala os parentes e emudece (com mordaça e tudo) as vítimas. O medo sendo mais dolorido que a dor física. A dor física como sendo um alívio para o medo. A tortura como sendo uma forma de redenção com o torturador, que termina a tortura não mais furioso com a vítima. 

     Na prisão, ela está jurada de morte e as presas vão mesmo empalá-la quanto puderem, as duas comparsas estão temendo serem mortas pelo que fizeram. Em verdade, serão mesmo, algum dia, por isso.

      Ela foi expulsa do orfanato aos 12 anos se não me engano por atos imorais. Bem, psicopata desde infância ou não, perversa psicodinamicamente reativa ou não, criminosa vacilona do c.... ou não, creio que a vida psicológica delas acabou. O número de meninas tendo-se dito vítimas de Sílvia cresce a cada semana. Marcos Klar

 

Marcos, não quero reduzir a questão a isso, mas só lembrar um outro aspecto. O Brasil é um país que a menos de 150 anos era escravagista e a tortura era empregada como incentivo dos escravos ao trabalho. A associação tortura-trabalho e a desvalorização do trabalho são partes de nossa história. Atualmente existem inúmeros casos de denúncia do famigerado assédio moral no trabalho. Inclusive contra médicos, incluindo psiquiatras. Falo isso pela situação da menina de doméstica-escrava, sem carteira assinada, que fora do horário que poderia produzir serviços domésticos ficava contida, amarrada em algum lugar da casa e sujeita a suplícios. Ao ver essa cena na TV e ver o debate aqui na lista me veio à mente a lembrança das cenas da escravidão e a desvalorização do trabalho braçal que isso trouxe para a nossa sociedade. Há um determinante histórico-social presente nesse tipo de acontecimento. E tal como a dessassistência aos portadores de transtornos mentais no serviço público, a maioria desses casos se passa longe dos holofotes da mídia. Geraldo Sette.

 

Caro Geraldo. Lembro que por aqui, o trabalho "não-físico", isto é o mental, como o de um escritor médico, ou mesmo nós na ribalta de um hospital ou consultório é tido como um trabalho menos nobre, pois não se vê o suor escorrendo, nem mãos calejadas, nem por isso mesmo menos merecedor de torturas para ter seu desempenho garantido. Menciono o stress que é o trabalho médico no SUS ou convênios, seja em hospitais ou ambulatórios. Ser psiquiatra e trabalhar tentando conter a desorganização mental para permitir alguma tentativa de recuperação social, psicológica e enfim laborativa e, ainda por cima, sendo tratados como vilões peoa mídia e pelo Governo (+ONGs ad hoc) e´um ônus cultural, uma tortura cruel. A classe se permitir tanto e ainda nem cobrar representatividade ou sequer respeito pelos demais especialistas -- isto não é um sinal de tortura auto-inflingida? Talvez. Rumores.... Marcos Klar.

 

Marcos, sei como é porque também passo por isso. Mas o que quero colocar é que a tradição escravagista deixou marcas na História. E o trabalho intelectual, embora tenha uma contradição necessária com o trabalho braçal também tem que ser valorizado, principalmente com a reformulação das estruturas produtivas com a incorporação de novas tecnologias. Especialmente na área médica. Mas acho que, no caso (publicado, divulgado, repercutido) da garota torturada não deixei de enxergar a imagem da escravidão, que está na origem de uma mentalidade de degradação do trabalho em qualquer de suas modalidades. Entre nós, médicos, existe assédio moral em abundância, no meio hospitalar e no serviço público.

Cito sempre o exemplo do PSF. Uma grande idéia quanto à organização do trabalho médico na atenção básica. Mas, os "gênios" que o criaram entenderam de fazê-lo com mão de obra precária, apesar dos doutores do PSF executarem uma atividade fim. Resultado: enxurradas de ações trabalhistas, contratos interrompidos por ilegalidade evidentes e incerteza e receios para os médicos que atuam nessa área. Reduzidos, por um vício de origem, à condição de servidores públicos de segunda ou terceira classe. Isso é o que fazem com nosso trabalho e não podemos aceitar. Rejeitar essas tramóias é até um grande ato de liberdade pessoal e dignidade profissional. Geraldo Sette.

 

Morre-se por aqui entre os 14 e 26 anos de acidentes, drogas e assassinatos. Ser jovem no  Brasil é um fator de risco muito alto. A menina se salvou de uma tortura. Teve sorte por que um cidadão resolveu cumprir seu papel. A torturadora e seu binário, a empregada, devem ser removidas da sociedade, até para não propagar o mal, mas este continuará endêmico na humanidade. Assim é e será. As crianças continuarão a ser desumanizadas para que a maldade, este fóssil da evolução humana que ainda persiste devido às nossas crenças religiosas e modelos inviáveis de soluções sociais, continue rendendo sacrifícios de sangue a Baal Zebub. Portela

 

Hilda, tu poderias me fornecer os estudos brasileiros e de outros paises que contradizem os estudos evidenciados por Steele e Kempe, os dois pediatras pioneiros na luta contra abusos perpetrados contra crianças aqui nos Estados Unidos? Trabalhei com Steele aqui em Denver no Kempe Center e uma das coisas que aprendemos foi de quem foi abusado na infância corre um risco maior de tornar-se um pai ou mãe perpetrador de abusos. Esse high risk não pode ser ignorado, obviamente, mas ao mesmo procuravamos estudar e refletir sobre o que havia feito a diferença na vida daqueles que apesar de terem sofrido
abusos violentos, não tratavam seus filhos dessa maneira. Estudos devem ser interpretados com cuidado. Culturas diferentes têm suas filosofias sobre educação da criança e, ao meu ver, não podemos ignorar de forma alguma o fato de que classes sociais
de qualquer país, diferem tremendamente sobre a importância e qualidade do cuidado à criança. A definição de "abuso" entra na complexidade da equação, outro tema pra uma conversa mais tarde. Irma Ponti

 

Hilda, Dizem que os psicopatas abusadores geralmente foram abusados na infância. Ana Hounie

 

Amigos. Essa empresária torturadora escancara um fato bastante comum em muitas famílias. Os maus tratos que os filhos sofrem sob a fumaça da educação. todo santo dia são registradas mortes de crianças pela violência dos pais, padrastos, companheiros da mãe, o que seja. De repente fica todo mundo de alma lavada, finalmente encontramos a bruxa malvada e dela retiraremos o couro. Sucedem-se os abandonos de crianças em latas de lixo, lagos, descampados etc. Vamos encarar a realidade, o infanticício é mais frequente e muito  mais presente na sociedade brasileira do que essa estúpida disciplinadora de empregadas. Qualquer serviço de emergência recebe diariamente crianças com fraturas suspeitas, lesões de órgãos internos, semi-mortas etc. que fazer nesses casos. Chamar conselho tutelar? Chamar a polícia. Acho que essa infeliz de Goiania se tornou uma bruxa midiática, mas a realidade é muito pior. Abusos sexuais, violência física e morte são mais comuns do que se pensa. Walmor Piccinini

 

Ana, Essa coisa de dizerem que "psicopatas abusadores geralmente foram abusados na infância", é conversa de americanos. Não se confirma nos estudos de outros países.Nem no nosso. Hilda Morana

 

DIÁLOGO ENTRE PSIQUIATRAS...

 

...tento através de nossa lista sair da posição de isolamento aqui na roça paradoxalmente tão próxima de SPaulo; em uma cidade vizinha há um tempinho o secretário de saúde também renunciou, por motivações políticas; esta cidade agora tem um chefe de saúde que é veterinário e criador de porcos, amigo pessoal do prefeito local, e lançou bombasticamente uma cruzada contra a dengue, quando a cidade não tem tido casos... ao contrário do Rio; nada contra os veterinários, nem criadores de suínos. Mas fico imaginando como o psiquiatra da cidade poderá falar com o vet-chefe sobre as mazelas que sofremos pela desassistência à saúde mental... Acho que o trabalho será de formiguinha, cada um em seu canteiro “deste país”. E, no front da psiquiatria do SUS ainda nos limitamos ao diazepam, haloperidol, imipramina, neozine e amitriptilina; além do gardenal, que nunca falta nas prescrições de médicos do PSF. Cadê a ABP aqui no front? Estou sozinho. Pelo menos um colega clínico, em um encaminhamento feito aos moldes que meu caseiro de sítio faria com letra melhor, me ajudou a ver que o paciente não era deficiente auditivo e já deu o diagnóstico... Marcelo Lourenço

 

Prezado Marcelo, os problemas que enfrentamos no dia a dia do nosso exercício profissional, especialmente no interior do Brasil, evidenciam a postura dos políticos em relação à saúde em geral e à assistência psiquiátrica em particular. Já recebi encaminhamentos que diziam simplesmente: paciente psiquiátrico. Ao investigar cada um desses casos descobria-se que esse rótulo era atribuído, na maioria dos casos, a pessoas que abusavam do álcool, com ou sem dependência e outros que simplesmente usavam algum tipo de psicofármaco. Geralmente diazepan prescritos por médicos de outras especialidades (gastroenterologist as, cardiologistas e ginecologistas, principalmente) .

Acredito que essa questão envolve mais que a organização social e a desorganização do sistema de saúde no Brasil. Envolve menos ABP. Envolve mais Ministério da Saúde. O prefeito do Rio de Janeiro, Sr. César Maia, disse que o atual Ministro da Saúde do Rio, Sr. Temporão, foi subsecretário de Saúde do Município tendo sido exonerado por ser arrogante e preguiçoso. Agora o Ministro é visto no Rio inaugurando tendas contra a dengue... Só falta baixar o cabôco mata-mosquito.  

O serviço público tornou-se um lugar pouco hospitaleiro para psiquiatras. Uma luta árdua. Não é com o desgaste de nossas entidades representativas, democraticamente eleitas, como a ABP e o CFM e os sindicatos e federações é que vamos avançar algum ponto na luta pelo aperfeiçoamento do sistema público de saúde e pela correção dessas distorções. Muitas delas, como restará demonstrado, originárias de medidas e providências urdidas em Brasília, em gabinetes e salas de reuniões do Ministério da Saúde. Felizmente vejo que muitos colegas têm consciência disso e agem politicamente, pedagogicamente, pacientemente. Isso é uma verdadeira guerra prolongada. Com objetivos definidos, com finalidades e estratégias, mas com uma perspectiva de obter a vitória a conta-gotas. Não vamos ter uma solução em poucos anos. Independente de qualquer resultado eleitoral favorável ou desfavorável. É o que posso dizer. Geraldo Sette.

 

ML, Complementando... Sim, Freud era médico, e um médico muito bom (como clínico e cientista experimental) . Ele insistia em dizer-se neurologista e não psiquiatra, e nunca viu motivo para associar a psicanálise à psiquiatria. Quem iniciou esta associação oficialmente foi Bleuler, que enviou l'enfant terrible Jung para as lides psicanalítica e deu no que deu. Psicanálise e Psiquiatria podem conviver sem problemas e é até necessário que a psiquiatria tenha um contraponto, mas é preciso que ambas sigam seus caminhos para benefício do conhecimento e da ciência. Portela

 

OLANZAPINA DEPOT NÃO FOI APROVADA PELO FDA

 

 

Ainda bem! imagine uma substância depot que, após administrada não pode ter sua eliminação acelerada com capacidade para desencadear tantos efeitos metabólicos, cárdio-vasculares e endócrinos...
Quanto à Educação Médica Continuada – é TOTALMENTE INFLUENCIADA pelo "complexo indústria-organizadores de Congressos"; afinal quem seleciona os "formadores de opinião" que irão organizar e ministrar os tópicos da Educ.Cont.?
Um outro fato, conforme já apontado pela Food and Drug Administration: só são aceitos para publicação e, conseueuntemente publicados nas REVISTAS DE MAIOR IMPACTO( ou sejá lá que isto significa!.. .)"os trabalhos científicos" com RESULTADOS POSITIVOS! Ora, como as metanálises são feitas a partir de "TRABALHOS CIENTÍFICOS PUBLICADOS DENTRO DE PARÂMETROS RIGOROSOS", todos os guide-lines, algorítmos e quejandos só estarão repetindo aquilo que os trabalhos com RESULTADOS POSITIVOS estão relatando e que isto influenciará os próximos simpósios da indústria que orientarão os cursos de educação médica
continuada que... epa! quem foi mesmo que inventou a roda??? J Romildo Bueno

 

 

Sobre esta questão do poderio do complexo industrial-farmacê utico na formação de opiniões de profissionais, penso que se tivessemos um mecanismo eficiente e suficientemente conhecido e repercutido de farmacovigilâ ncia, para todos os que prescrevem medicamentos desse tipo,poderíamos ter uma redução de danos decorrentes de efeitos tóxicos ou colaterais e de interações medicamentosas maior. Geraldo Sette. 

 

 

Geraldo,

http://www.unifesp. br/dpsicobio/ cebrid/bol_ psifavi/index. htm

Não sei se preenche seus critérios, ou ainda, critérios rigorosos, mas “se não tem tu vai tu mesmo”.... Acho que é de confiança. De mais a mais, quem o faz sério somos nós, com a colaboração constante... Jonas C Gonçalves

Geraldo. Essa idéia de um órgão que vai regularizar essa situação, é sonho de uma noite de verão. Temos que, modestamente, ensinar nossos jovens médicos e reciclar os maduros na arte de bem utilizar medicação. Já ouviu falar em desespero terapêutico. Diante de um caso mais difícil, dê-lhe medicamentos. Não é surpreendente aparecerem pacientes com 13, 15 medicamentos ao mesmo tempo. Ser continente da ansiedade do paciente não se aprende em curso de psicofarmacologia. Walmor Piccinini

 

 

Em termos de vies, deve-se incluir academicos que recebem verbas do governo ou da industria.  Dinheiro e gloria...  Mesmo os eticistas, por assim dizer, que influenciam os review board de pesquisa nos EUA, cujo papel e' importante em discussoes como transplantes, tem um vies de treinamento e ideologico.  Por exemplo, assumo (e posso estar errado factualmente, mas acho que nao) que predomina uma perspectiva esquerdista.  Eu ja' tive discussoes interessantes, por exemplo, sobre o pagamento de individuos participantes de pesquisa, que os IRBs limitam de forma paternalista.  No caso do managed care, nao faltam pesquisadores apontando como problema central do sistema de saude os medicos superutilizando recursos e propondo um dirigismo central.  A posicao sobre dinheiro da industria farmaceutica e' culturalmente arrogante, tambem querendo dizer que os medicos sao uns comprados. Estou simplificando, e' claro, para tornar o ponto mais evidente, mas JUSTAMENTE os medicos que sao os participantes MENOS corruptos e enviesados em todo o sistema de saude.  Nao sao os politicos, nao sao os feudos academicos, nao sao os administradores, nao sao as companhias farmaceuticas os menos enviesados. Paulo J Negro

 

 

Dias atrás li um livro policial onde umas freiras faziam contrabando de drogas do Canadá para os EUA. Além dos assassinatos de praxe a serem desvendados, o policial ficou sem saber o que fazer com as freiras, As drogas que elas contrabandeavam eram tamoxifeno e outras contra câncer. Elas mantinham 5 mil pacientes nesse esquema. Ficou a pergunta, por que as drogas que eram fabricadas nos EUA tinham preço mais baixo no Canadá. Ai vem a parte que o Márcio gosta. O Governo do Canadá importava as drogas por preço especial e as distribuía. Por que os americanos não poderiam comprar a droga no Canadá?. Não podem, senão a indústria deixa de vender ao Canadá. Justificativa; a de sempre, preço da pesquisa. Resumindo, o cidadão americano subsidia o canadense. Os pobres dos EUA que se ralem. A indústria tem que ter lucros senão fecha. E ai ficamos nós entre o mar e o rochedo. Por isso, também, não há maior interesse em desenvolver drogas que resolvam essas doenças triviais dos subdesenvolvidos como a leishmaniose, malária etc. Walmor Piccinini

 

 

Os americanos mais pragmaticos apenas falam: "Follow the money"...e a gente passa a entender melhor as coisas. Marcio Pinheiro

 

ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS VS. TRADICIONAIS

 

http://www.medscape.com/viewarticle/572315?src=mp&spon=12&uac=103631AT

 

(colaboração de Cláudio Lyra Bastos)

 

PAROXETINA E PLACEBO

 

http://www.medscape.com/viewarticle/571050?src=mp&spon=12&uac=103631AT

 

(colaboração de Cláudio Lyra Bastos)

 

 

Comentários sobre o clip deste link

 

Este clip confirma artigo publicado na Europa sobre o fato de antidepressivos serem tão ou MENOS EFICAZES que o o PODEROSO PLACEBO!!! ... e nem poderia ser de outra forma: por exigência das agências reguladoras - FDA e EMEA - um medicamento para ser licenciado tem de se submeter a testes duplo-cegos contra placebo. A emenda de
Edinborough desaconselha estudos com placebos...inativos !
As agências e os produtores de medicamentos chegaram a uma acordo a meio termo: estudos versus placebo terão duração limitada - 4 semanas mais ou menos.
Ora, desde os antigos estudos de Wolfe e de Louis Lasagna então na Cornell, ficou estabelecido que para se separar placebo-respondedores de placebo-resistentes , a substância INERTE deve ser administrada por um período MÍNIMO de 6 a 8 semanas!!!
Se V. junta os estudos publicados - duplo-cegos com uma semana de wash-out antes e depois do período teste - V. terá 6 semanas.
Se se adicionar ao molho da famigerada METANÁLISE os estudos POSITIVOS com os NEGATIVOS e mudar o enfoque ESTATÍSTICO de "conglomerado de sintomas" para "resultados globais", o PODEROSO PLACEBO É MUITO MELHOR, INCLUSIVAMENTE POR QUE CAUSA MENOR INCIDÊNCIA DE EFEITOS
COLATERAIS.. .
Resultado da chorumela: sómente após o lançamento, com uso clínico em condições NORMAIS (fora do setting de pesquisa) é que o medicamento vai mostrar a sua cara.
Esta simples observação joga por água abaixo os tais "guide-lines" e algoritmos ou receitas de bolo para tratamento desta ou daquela condição clínica.
Quanto ao aumento de RISCO DE SUICÍDIO no início de tratamento com anti-depressivos isto é coisa mais velha que a Sé de Braga: qualquer estudante-sextanista de medicina sabia disto na década de sessenta: IMAOs e TRICÍCLICOS primeiro melhoram a parte psico-motora do complexo
"depressão": estando mais aptos, os deprimidos tentam se auto-aniquilar com mais vigor!!!
Os professores d'antão diziam: "cuidado com os pacientes deprimidos nas primeiras semanas de tratamento, quando começam a melhorar é quando mais se matam... O mundo gira e Lusitana roda... J Romildo Bueno

 

 

Há muito interesse num reducionismo bioquímico da realidade do tratamento psiquiátrico. Interesses financeiros de mercados farmacêuticos, interesses de classse de não médicos e médicos não especilistas, interesses sociais de uma Cultura imediatista e impessoal que vê o médico como instrumento para a medicação e não o contrário. Ora placebo e nocebo -- seu antônimo -- não são entidade químicas ou burocráticas, mas sim qualidades de contato interpessoal, são sínteses globais da abordagem de quem assiste a quem é assisitido, incluindo o contexto básico de relacionamento e empatia, freqüentemente passando pelos recursos científicos tecnológicos, mas não necessariamente. A Psicanálise mais que nunca é um meio de investigação antropológico, mais que médico, e a psicanálise da Psiquiatria mais que nunca se faz necessária.

    Defendi, defendo e defenderei a tese de que a medicação só faz seu efeito psicotrópico dentro de um ambiente ritual, com os significados xamânicos do médico ajudar o paciente bem definidos e limitados. se a Psicoterapia se beneficia da Psicofarmacologia adequada, a Psicofarmacoterapia só atinge seu fim num contexto psicoterapêutico lúcido e conveniente entre médico e cliente num tratamento psiquiátrico. E desde que todo sofrimento tem sua realidade na esfera percipiente, se reflete na cosnciência de si e do mundo, todo paciente que sofre é uma caso psiquiátrico, ou deveria ser encarado nestes moldes. Somos alma antes de sermos corpos, senão trataríamos cadáveres. Psiquiatria é o esforço total para evitar a morte da alma. Marcos Klar, de Piracicaba.

 

 

Marcos. Compartilho com sua vivência sobre a psicanálise. Mas acho que o mundo mudou tanto que já existe tanta coisa desde que Freud morreu. Neurociência. Filosofia da Mente. E muito mais, que não vou ficar listando aqui por não padecer de nenhum diletantismo professoral. Os medicamentos, em geral, trouxeram mais benefício do que malefício. Nem os lucros da indústria farmacêutica conseguem esconder isso. Pessoalmente prefiro prescrever genéricos e, em razão disso não sou aquinhoado com os presentes dos laboratórios. Se vou a um congresso pago do meu bolso. Geraldo Sette.

 

 

Romildo, Há aqui uma questão premente: se a indústria sabe disto, se os psiquiatras também sabem, então por que a indústria continua lançando esses produtos no mercado? Ela tem de fazer isso para manter o capital girando, e ganha a parada porque sabe que um medicamento integra lendas urbanas e sistemas de crenças (cai na boca do povo). No meu entender, isto se dá devido a um outro viés gêmeo do placebo: a "experiência" do médico, subjetividade que nos remete a um sistema de crenças que alicerça o ritual da prescrição médica (ato primitivamente mágico, rito eucarístico por excelência, onde um transfert profundamente arcaico pode ocorrer repentinamente) . Servimos a deus e ao diabo, e talvez até ao dalai lama? Portela

 

 

Caro Portela, fica difícil encontrar explicações, estamos "in THE HEART OF DARKNESS"!
Alguns esclarecimentos: um medicamento tem uma "vida média" em torno 15 anos (exceção feita aos 'paradigmas' : aspirina, digitálicos, corticóides, nitroprussiato de sódio et similes...)
Leva-se cinco anos para colocar uma substância no mercado; esta substância só se torna "medicamento, remédio" mediante a prescrição MÉDICA!
Os produtores precisam recuperar "os investimentos" da pesquisa e desenvolvimento ("R&D") em um curto período de 3 a 5 anos para continuar alimentando novas pesquisas.
Daí a necessidade de estudos de curta duração e tantas metanálises porque, ao final do segundo ano no mercado, estudos naturalísticos ou comparativos com outros medicamentos irão determinar se a substância é boa, melhor ou apenas "mais uma" (este grupo, o da "mais uma", cresce mais que o cordão de puxa-sacos planaltinos. ..).
Por isto, ao final de algum tempo, uma nova geração de substâncias é lançada procurando a brecha de ser diferente...
E nós estamos no meio desta embrulhada toda; melhor precrever o que se
conhece bem e aguardarmos que as novidades encontrem seu nicho de indicações corretas. Ah! ia me esquecendo: a maior pressão por novos medicamentos tem
origem na população... de usuários... J Romildo Bueno

 

HOMENAGEM

Nossa homenagem este mês é para o poeta pernambucano cabra da peste Ascenso Ferreira, que Luís da Câmara Cascudo definiu como um poeta "que olha a vida do alto de um metro e noventa e pisa com cem quilos as ruas velhas do Recife". 

 

Filosofia

 

Hora de comer - comer!
Hora de dormir - dormir!
Hora de vadiar - vadiar!
Hora de trabalhar?
- Pernas pro ar que ninguém é de ferro!

 

 

Sucessão de São Pedro

 

 - Seu vigário!

Está aqui esta galinha gorda

que eu trouxe pro mártir São Sebastião!

- Está falando com ele!

- Está falando com ele!

 

Minha Escola

A escola que eu freqüentava era cheia de grades como as prisões.
E o meu Mestre, carrancudo como um dicionário;
Complicado como as Matemáticas;
Inacessível como Os Lusíadas de Camões!

À sua porta eu estava sempre hesitante...
De um lado a vida... - A minha adorável vida de criança:
Pinhões... Papagaios... Carreiras ao sol...
Vôos de trapézio à sombra da mangueira!
Saltos da ingazeira pra dentro do rio...
Jogos de castanhas...
- O meu engenho de barro de fazer mel!

Do outro lado, aquela tortura:
"As armas e os barões assinalados!"
- Quantas orações?
- Qual é o maior rio da China?
- A 2 + 2 A B = quanto?
- Que é curvilíneo, convexo?
- Menino, venha dar sua lição de retórica!
- "Eu começo, atenienses, invocando
a proteção dos deuses do Olimpo
para os destinos da Grécia!"
- Muito bem! Isto é do grande Demóstenes!
- Agora, a de francês:
- "Quand le christianisme avait apparu sur la terre..."
- Basta
- Hoje temos sabatina...
- O argumento é a bolo!
- Qual é a distância da Terra ao Sol?
- ?!!
- Não sabe? Passe a mão à palmatória!
- Bem, amanhã quero isso de cor...

Felizmente, à boca da noite,
eu tinha uma velha que me contava histórias...
Lindas histórias do reino da Mãe-d'Água...
E me ensinava a tomar a bênção à lua nova.

 

 

"Oropa, França e Bahia"

(Romance)


Para os 3 Manuéis:
Manuel Bandeira
Manuel de Souza Barros
Manuel Gomes Maranhão


                                              Num sobradão arruinado,

 

Tristonho, mal-assombrado, Que dava fundos prá terra.
( "para ver marujos,
Ttituliluliu!                                     
ao desembarcar").

...Morava Manuel Furtado,
português apatacado,
com Maria de Alencar!

Maria, era uma cafuza,
cheia de grandes feitiços.
Ah! os seus braços roliços!
Ah! os seus peitos maciços!
Faziam Manuel babar...

A vida de Manuel,
que louco alguém o dizia,
era vigiar das janelas
toda noite e todo o dia,
as naus que ao longe passavam,
de "Oropa, França e Bahia"!

- Me dá uma nau daquelas,
lhe suplicava Maria.
- Estás idiota , Maria.
Essas naus foram vintena
Que eu herdei da minha tia!
Por todo o ouro do mundo
eu jamais a trocaria!

Dou-te tudo que quiseres:
Dou-te xale de Tonquim!
Dou-te uma saia bordada!
Dou-te leques de marfim!
Queijos da Serra Estrela,
perfumes de benjoim...


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