Volume 12 - 2007 Editor: Giovanni Torello |
Agosto de 2007 - Vol.12 - Nº 8 France - Brasil- Psy Coordenação: Docteur Eliezer DE HOLLANDA CORDEIRO Quem somos (qui
sommes-nous?)
France-Brasil-PSY é o novo espaço virtual de “psychiatry on
line”oferto aos profissionais do setor da saúde mental de expressão
lusófona e portuguesa.Assim, os leitores poderão doravante nela encontrar
traduções e artigos em francês e em português abrangendo a psiquiatria, a
psicologia e a psicanálise. Sem esquecer as rubricas habituais : reuniões
e colóquios, livros recentes, lista de revistas e de associações, seleção de
sites. Qui sommes- nous ? France-Brasil-PSY est le nouvel espace virtuel de “psychiatry on
line”offert aux professionnels du secteur de la santé mentale d’expression
lusophone et française. Ainsi, les lecteurs pourront désormais y trouver des
traductions et des articles en français et en portugais concernant la
psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse. Sans oublier les rubriques
habituelles : réunions et colloques, livres récentes, liste de revues et
d’associations, sélection de sites
1. SIGMUND FREUD, PRECURSEUR DAS NEUROCIÊNCIAS ?( S.FREUD, PRECURSOR DAS NEUROCIÊNCIAS?) Eliezer de Hollanda Cordeiro
Lionel Naccache, neurologista do hospital da Pitié-Salpêtrière e especialista da consciência, apresentou há alguns dias o seu livro mais recente, “Le nouvel inconscient : Freud, Christophe Colomb des neurosciences”, na emissão da jornalista Fabienne Chauvière ,“Tout s’explique”, no rádio France-Inter (08/08/2007).O que levou Lionel Naccache a escrever um livro que coloca em questão o inconsciente, propõe uma nova leitura dos trabalhos de Sigmund Freud sobre a questão e prolonga o debate entre psicanálise e ciências cognitivas ? Ele afirma que foi por interesse científico, pela fascinação que lhe exercia os problemas relativos às interações entre o cérebro e o pensamento, suas bases fisiológicas, mas também a subjetividade e a ficção concomitantes a todos esses processos neurobiológicos. Evidentemente, existem pessoas que este assunto vai desagradar por não suportarem pesquisas que questionem as teorias freudianas, neste caso por um especialista das neurociências. Foi o caso do analista que escreveu o seguinte comentário crítico no site de France-Inter : “ Esta corrente cognitivista é redutora e a maneira como o Senhor Naccache fala de Freud me choca.Querer tudo explicar pelo cérebro, o gene da homosexualidade, da violência, etc…Achei este Senhor muito pretencioso e ele não me convenceu.Eu sou um fervoroso adepto da psicanálise, e na minha prática profissional constato todos os dias as artimanhas de nosso inconsciente. Devemos tomar cuidado, a ciência não é tudo, ela é impotente para tratar as neuroses, como Freud já havia muito bem compreendido na sua época. ” De acordo com este ponto de vista, se adotarmos a mesma atitude com relação aos analistas que fazem da psicanálise um sistema interpretativo, uma hermenêutica capaz de tudo explicar. Isto dito, escutei várias vezes a emissão radiofônica de France-Inter e não percebi que o autor tivesse falado de gene da homosexualidade ou da violência, ou colocado em causa o valor e a utilização da psicanálise no tratamento das neuroses. Aliás, o próprio título do livro mostra-nos que ele considera Freud como um precursor das neuro-ciências.
PERCEPÇÃO CONSCIENTE E PERCEPÇÃO SUBLIMINAR
Contudo, o autor defende sua argumentação a partir da oposição entre percepção consciente e percepção subliminar e, assim fazendo, ele não recusa o inconsciente mas interpreta-o à luz dos recentes progressos da neurobiologia.Lembremos que o inconsciente, em suas dimensões tópica e dinâmica, resulta de elaborações teóricas feitas por Freud a partir da experiência da cura analítica. Esta, como notaram Jean Laplanche e J.-B. Pontalis, no Vocabulário da Psicanálise (páginas 197-199, edição francesa), mostra que o psiquismo não pode ser reduzido ao consciente […].Que ele é cheio de pensamentos eficientes, os quais, embora inconscientes, dão origem aos sintomas […]. E que ingressar nos conteúdos do inconsciente exige que o paciente supere suas resistências durante a cura analítica.
Desta forma, a posição defendida por Lionel Naccache é mais sutil do que as dos pesquisadores que recusam a psicanálise por considerarem, como escreveu Gérard Pommier, que‘’tudo seria uma questão de hormônios e de conexões nervosas : o amor, o desejo, a poesia, a atividade psíquica, os sonhos, o inconsciente, os sintomas’’, conforme seu livro : ‘’Comment les neurosciences démontrent la psychanalyse’’. Na perspectiva de Naccache, notamos que o inconsciente existe mas seria constituido pelos traços cerebrais imprimidos pela percepção liminar, sobretudo visual. A percepção liminar, com efeito, não pode ser inteiramente relatada porque é impossivel darmos conta da maioria das coisas que vemos. E vemos muito mais coisas do que imaginamos: experiências com cegos não demonstram que o cérebro pode ver sem os olhos ? Nessas experiências, os olhos não enxergaram mas o cérebro “viu”o que lhe foi apresentado de maneira subliminar pelo experimentador.A reativação dos traços da percepção subliminar explicaria, segundo este autor, os sentimentos e a atividade psíquica. O autor lembra-nos ainda que o pensamento consciente é fugaz, evanescente, enquanto os traços subliminares são permanentes. Lionel Naccache evoca também experiências feitas sobre as percepções subliminares auditivas, embora seja mais dificil dissimular o som do que a imagem.Porém, outras psquisas foram feitas com pacientes em estado de coma, mostrando que eles são capazes de reconhecer a novidade sonora dissimulada e introduzida pelos pesquisadores. A PSICANÁLISE FREUDIANA, UMA PSICOLOGIA DA INTERPRETAÇÃO ?
Dessas experiências, Lionel Naccache diz aceitar “ o sentido profundo do ensino de Freud sobre o inconsciente, mas que a obra de Freud é uma psicologia da interpretação, uma interpretação consciente do que escapa à consciência.” Em compensação, ele reconhece que “ Freud inventou a primeira psicologia que procura encontrar um sentido e que isto é o mais importante […]. Aliás, ‘’o sentido encontrado não precisa ser verdadeiro, pouco importa que seja um fantasma, o importante é o sentido em si,” resumiu. O pesquisador evoca também a riqueza dos processos inconscientes e a temporalidade dos mesmos, deduz que a estrutura do cérebro é marcada por traços inconscientes cuja duração de vida é muito longa, podendo mesmo ser calculada. Ele defende ainda a idéia de que os traços inconscientes não são representações embora eles nos permitam dar um sentido ao que não é representado. “O inconsciente trabalha o tempo todo, inclusive de noite”. Naccache aceita também a idéia freudiana de censura, isto é a diminuição do senso crítico do sonhador, lembrando entretanto que as vezes o sonhador não perde sua lucidez e sabe que está sonhando. PSICANÁLISE E NEUROCIÊNCIAS, UM DIÁLOGO EM CONSTRUÇÃO ?
‘’Le nouvel inconscient : Freud, Christophe Colomb des neurosciences’’ é pois um livro que se inscreve na linha de trabalhos contemporâneos que procuram conciliar os desenvolvimentos teóricos da psicanálise com os progressos mais recentes das neurociências.
Sem dúvida outros analistas franceses teriam reagido de maneira diferente- às teorias defendidas por Lionel Naccache- do que o analista que escreveu para o sitde de France-Inter.Por exemplo, Gérard Pommier, psiquiatra-psicanalista, mestre de conferência em Nantes, bem conhecido das correntes lacanianas francesa e brasileira. Autor do livro :’’Comment les neurosciences demonstram a psicanálise’’, ele defende duas idéias principais : ‘’a recusa da oposição entre o corpo e o espírito, porque não se pode conceber dois enfoques diferentes, até mesmo contraditórios dum mesmo fenômeno’’ ; e o ponto de vista que ‘’inúmeras descobertas da neurofisiologia confirmam as idéias de Freud’’. ‘’De maneira involuntária, tais experiências mostram como a linguagem molda o corpo muito mais profundamente que o sintoma histérico havia deixado prever’’, escreveu.Antes de ajuntar que,‘’desde o início,a psicanálise subverteu esta oposição graças a uma das suas maiores descobertas: a pulsão, que anima o psíquico ao mesmo tempo em que ela integra o somático, numa dialética que chega até a invalidar toda oposição entre o mental e o cerebral’’. Daniel Widlöcher adota uma posição diferente ao defender a necessidade de um diálogo entre a psicanálise e as neurociências.Para ele, ‘’os Progressos da neurobiologia e os desenvolvimentos das ciências cognitivas esclareceram de maneira inédita o mecanismo da produção das operações mentais. Por isso, a psicanálise não pode recusar uma confrontação de pontos de vistas com essas ciências’’.Na POLBr de Setembro de 2004 publicamos uma entrevista dada por Daniel Widlochër à revista L’Express ,na qual o ex-presidente da Associação Psicanalítica Internacional responde às questões da jornalista Marie Huret sobre as relações entre a psicanálise e as neuro-ciências. Lembremos somente os dois parágrafos seguintes:M.H. “Depois da morte de Freud, as neurociêncas fizeram progressos extraordinários: o Americano Antônio Damásio afirma hoje que existe uma biologia dos sentimentos.À luz de suas descobertas, Freud teria escrito a mesma “Interpretação dos Sonhos” ? D.Widlochër: “De maneira nenhuma. Ele teria se mostrado muito interessado pelos avanços da neurobiologia.Sabemos, por exemplo, que conjuntos de neurônios são ativados por certas emoções. A propósito, eu convidei Antônio Damásio para abrir o Congresso da API, que presidí em Nova Orléans.A sala estava cheia, e ele foi aclamado. Podemos dizer que não há dificuldades entre o pensamento de um Damásio e o de um psi. Esta é uma velha história, a da alma independente do corpo.Freud disse mesmo que um dia a neurofisiologia iria explicar as coisas e que a psicanálise perderia sem dúvida sua razão de existir.Isto, eu não creio de modo algum. Sobre este ponto de vista, sou mais “psicológico” do que Freud. Qualquer que seja o interesse em confrontar os dois pontos de vista, a compreensão do espírito humano não pode ser reduzida ao funcionamento neuronal. A psicanálise continua a ser um ideal de lucidez individual”.
CONCLUSÃO ABERTA
Em seu livro, ‘’ Nouvelles cartes pour la psychanalyse ’’, Daniel Widlochër volta a tocar neste assunto e defende a idéia de que a psicanálise deve mostrar-se mais ofensiva, abrir-se e aceitar debates com as neurociências e as ciências cognitivas. Ele considera que aceitar um tal debate seria a melhor maneira de responder às críticas atuais dirigidas contra a psicanálise.
Por sua vez, Gérard Pommier escreveu em :’’Comment les neurosciences demonstram a psicanálise’’(páginas-10-20): “Eminentes pesquisadores procuraram desfazer a rutura de Freud com a neurofisiologia”.[...]. “ Inúmeros conceitos psicanalíticos não foram inovadores”, como por exemplo a “intuição do inconsciente, que existe desde a Antiguidade”. Mas a pulsão, ao contrário, “introduz uma novidade radical”[...], “ao salientar desde o início que a oposição entre o psiquismo e o orgânico não lhe diz respeito”.Citemos ainda esta passagem do livro: “Conceitos freudianos são sistematicamente submetidos à experimentações, mesmo quando eles podem ser verificados facilmente na vida cotidiana.Tais experimentações são feitas, na maioria dos casos, a partir de uma profunda incompreensão das noções psicanalíticas”. [...] “Apesar desses malentendidos, neuropsicólogos de boa fé tentam demonstrar[...] que seria possivel localisar no cérebro algo como o inconsciente”.
Daniel Widlochër evoca os benefícios mútuos que a psicanálise e as neurociências poderiam obter a partir de um diálogo construtivo. Gérard Pommier defende um ponto de vista muito diferente, até mesmo oposto no livro que apresentamos.Como os dois psicanalistas teriam apreciado as experimentações sobre o inconsciente que Lionel Naccache expôs em seu livro, “Le nouvel inconscient : Freud, Christophe Colomb des neurosciences”?
2. LIVRES RÉCENTS (LIVROS RECENTES) La Lettre de Psychiatrie Française de mai 2007 propõe aos leitores os seguintes livros publicados : *Lessons psychanalytiques dur le masochisme Anthropos, 10 euros
*Édifier un monde Seuil, 19 euros
*Mère et fils Odile Jacob, 8 euros
CLEMENT Catherine, KRISTEVA Julia Pocket,7,60 euros
FEDIDA Pierre (sous la direction) J.Millons, 30 euros
*Humanitude : comprendre la vieillesse, GINESTE Yves, LAROCHE Geneviève, PELISSIER Jerôme Armand Colin, 25 euros
PUF, 8 euros
*Pouquoi les pulsions de destruction ou de mort ? GREEN, André Ed .du Panama, 15 euros
*L’actualité de la pensée de BION GUIGNARD Florence, BOKANOVSKI Thierry (sous la direction) In Pess, 19 euros
*Nous ne sommes pas seuls au monde : les enjeux de l’ethnopsychiatrie NATHAN Tobie Points, 9 euros
*Tristes paradis: psychologie des addictions et toxicomanies RICHARD Denis, SENON JEAN Louis Larousse, 19,90 euros
*Vivant jusqu’à la mort : suivi de Fragments RICOEUR Paul Seuil, 14 euros
*Ainsi soient-ils ! A l’école de l’adolescence VAN MEERBEECK Philippe De Boeck, 18,50 euros
*Où en est-on avec le transfert? Association lacanienne internationale (2004-Nancy), Journées de 25 et 26 septembre 2004 15 euros
*Ethique et recherche biomédicale : rapport 2005 Documentation Française, 18 euros
*L’hôpital : obligation de soins, contraintes budgétaires Documentation Française, 14 euros
*Cahiers d’études lévinassiennes, 6, L’Universel Verdire,28 euros
3. REVISTAS
*La revue française de psychiatrie et de psychologie medicale *PSN :(psychiatrie, sciences humaines, neurosciences) : rue de la convention, 75015 paris. Fax : 0156566566 *Psydoc-broca.inserm.fr/cybersessions/cyber.html
4. ASSOCIAÇÕES
*Association française pour l’approche integrative et eclectique en psychotherapie (afiep) *Association française de psychiatrie et psychologie legales (afpp) *Association française de musicotherapie (afm) *Association française de therapie comportementale et cognitive (aftcc) *Association de langue française pour l’etude du stress et du trauma (alfest) *Association de formation et de recherche des cellules d’urgence medico-psychologique (aforcump) *Association nationale des hospitaliers pharmaciens et psychiatres (anhpp) *Association scientifique des psychiatres de secteur (asps) *Association pour la fondation Henri Ey *Association internationale d’ethno-psychanalyse (aiep) *Collectif de recherche analytique (cora) *Groupement d’études et de prevention du suicide (geps) *Groupe de recherches sur l’autisme et le polyhandicap (grap) *Groupe de recherches pour l’application des concepts psychanalytiques a la psychose (grapp) *Société française de gérontologie *Société française de thérapie familiale (sftf) *Société française de psychopathologie de l’expression et d’art-therapie(sfpe) *Société française de recherche sur le sommeil (sfrs) *Société française de relaxation psychotherapique (sfrp) *Fédération française d’adictologie *Société de psychologie medicale et de psychiatrie de liaison de langue française *Union nationale des amis et familles de malades mentaux (unafam) *Association Psychanalytique de France (apf) *Société Psychanalytique de Paris (spp)
*Coordination (coordenador): Eliezer de HOLLANDA CORDEIRO
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