Volume 11 - 2006
Editor: Giovanni Torello

 

Março de 2006 - Vol.11 - Nº 3

France - Brasil- Psy

SOMMAIRE (SUMÁRIO)

Docteur Eliezer DE HOLLANDA CORDEIRO

Sumário:

 

  1. NOVOS DESAFIOS À PSICANÁLISE
  2. COMO ESCOLHER O BOM PSI
  3. UMA ESPERANÇA DE TRATAMENTO PARA CONTROLAR A DOENÇA DE HUNTINGTON
  4. ASSOCIAÇÕES

QUI SOMMES- NOUS (Quem somos)

QUEM SOMOS ?

France-Brasil-PSY é o novo espaço virtual de “psychiatry on line” oferecido aos profissionais do setor da saude mental de expressão lusofona e portuguesa.Assim, os leitores poderão doravante nela encontrar traduções e artigos em francês e em português abrangendo a psiquiatria, a psicologia e a psicanálise. Sem esquecer as rubricas habituais : reuniões e colóquios, livros recentes, lista de revistas e de associações, seleção de sites.

QUI SOMMES- NOUS ?

France-Brasil-PSY est le nouvel espace virtuel de “psychiatry on line” offert aux professionnels du secteur de la santé mentale d'expression lusophone et française.Ainsi, les lecteurs pourront désormais y trouver des traductions et des articles en français et en portugais concernant la psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse. Sans oublier les rubriques habituelles : réunions et colloques, livres récentes, liste de révues et d'associations, sélection de sites.


 

1. NOVOS DESAFIOS À PSICANÁLISE

Eliezer de Hollanda Cordeiro

ASSIM, no momento em que a eficiência terapêutica da psicanálise está sendo colocada em causa na França, especialmente pelos defensores das TCC através de livros, artigos em revistas e entrevistas nas rádios e televisões, força é de constatar a progressão espetacular das terapias breves e a aparente perda de prestígio concomitante da psicanálise clássica. O « Nouvel Observateur », por exemplo, revista muito conceituada, publicou vários artigos sobre a questão, entre eles « Como escolher o bom psi »( cuja tradução propomos nesta edição de France-Brasil-Psi) e « Seria necessário acabar com a psicanálise ?».

Como era de se esperar, muitos psicanalistas reagiram e estão se mobilisando afim de resistirem à ofensiva das TCC, pois o que está em causa é o ensino da psicologia, da psicanálise e da psiquiatria nas faculdades mas também o grande mercado das psicoterapias numa sociedade atravessada de ponta a ponta pela influência das novas terapias derivadas do freudismo e das novas terapias que taratam do bem estar, do desenvolvimento das potencialidades, de coaching , de estima de si, reunidas sobre o qualificativo de breves. que recebem adenominação germaNa realidade, se a oposição entre os defensores da psicologia clínica e da psicologia experimental existe na França há várias décadas, ela tomou proporções inusitadas após o projeto de lei criando um estatuto de psicoterapeuta, a publicações do « Livro Negro da Psicanálise », os estudos feitos pelo INSERM pretendendo demonstrar a superioridade terapêutica das TCC comparadas à psicanálise e às terapias sistêmicas.

Como se era de esperar, a contestação do projeto visando a regulamentação das psicoterapias está aumentando, como demonstra o jornal Libération desta manhã, que relata a existência de uma petição intitulada :« Psis contra a terapia do Estado ».O jornal nota que, em menos de 48 horas, mais de 35 responsáveis de associações de analistas ou de psicoterapeutas, e 500 psis de todas as tendências assinaram uma petição contra o projeto. O jornal cita Xavier Bertrand, Ministro da saúde, que se exprimiu anunciando que ele não queria confrontações com os psi, que existia um acordo e que ele ia retomar o estudo do dossiê, precisando que se houvesse pontos insuperáveis sobre a avaliação das psicoterapias ou o conteúdo do ensino nas universidades, ele estaria disposto a levar em conta tais divergências.

Portanto, se os antagonismos atingiram tais proporções nos últimos meses, Daniel Lagache, desde 1949 (1), ao estabelecer o paralelo entre as características respectivas da psicologia clínica e da psicologia experimental ou objetiva, procurou encontrar uma complementaridade entre essas duas maneiras de apreender e cuidar dos fenômenos psíquicos. Ele buscava de uma certa maneira a possibilidade de promover um modus vivendi entre elas. Mas isto não ocorreu, ao contrário, durante mais de cincoenta anos este antagonismo persistiu, transformou-se em guerra fria com momentos de tensão mais ou menos importante que, segundo os termos de Emile JALLEY, « pode agora evoluir e dar lugar a um antagonismo mortal para os dois adversários » (1).

Segundo este autor, o antagonismo pode ser resumido da seguinte maneira : « Temos de um lado o sujeito e suas diversas especificações-pessoa, personalidade, caráter- exploradas por uma psicologia humanista, uma disciplina centrada no consciente e no inconsciente (…)e visando à compreensão em termos de finalidade ». E do outro lado, temos « o objeto, estudado por uma psicologia naturalista (ciência da natureza, disciplina orientada para o comportamento, o organismo, definida como um enfoque quantitativo do elemento) (…) visando a explicação dos mecanismos da conduta » (1).

REAÇÕES AO RELATÓRIO DO "INSERM" E ÀS TESES "DO LIVRO NEGRO DA PSICANÁLISE"

Nobert BON (2), a propósito dos ataques contidos no « Livro Negro da psicanálise », denunciou o fato de que os autores só recensearam trabalhos da literatura de língua inglesa e, por conseguinte, não consultaram as revistas de psicanálises francesas antes de tirarem deduções a partir de uma avaliação contestável pelos critérios assim empregados. Ele critica também o trabalho sobre a avaliação das psicoterapias pelo INSERM (Instituto Nacional da Saúde e da Pesquisa Médica) e o método hipotético-dedutivo utilizado pelos autores, que não poder ser aplicado à psicanálise, que procede por inferência e indução. O psicanalista seria assim « mais próximo do artesão do que do sábio trabalhando num laboratório ». Ele ajunta que a psicanálise age no singular e em função de cada caso, notando que Jean COTTREAUX, um dos coordenadores do « Livro Negro », procedeu por inferência, ao concluir a partir do fracasso de sua experiência analítica pesoal,que a psicanálise é ineficaz.

G. POMMIER (3), por sua vez, considera o « Livro Negro da Psicanálise»como uma medíocre compilação de trabalhos sem nenhum valor, que traduzem uma estratégia destinada a remodelar a paisagem da saúde mental na França, a partir da aplicação do projeto de lei sobre o exercicio da psicoterapia. Ele ajunta que o título mesmo e o conteúdo do "Livro negro da psicanálise" são como um veneno inoculado pelos eternos inimigos da psicanálise. E a propósito do relatório do INSERM, ele denuncia o caráter parcial, orientado das expertisas realizadas, que falseiam os resultados obtidos e por conseguinte a afirmação da superioridade terapêutica das TCC sobre a psicanálise. Ele recusa também a idéia de que as TCC dão resultados mais rápidos e são menos custosas do que a psicanálise ou as PIP (Psicoterapias de Inspiração Psicanalítica), e deduz que o Ministério da saúde engana-se ao pensar que as terapias curtas custariam menos aos cofres públicos. Assim fazendo, o Ministério não leva em conta o benefício subjetivo que a população poderia tirar de um enfoque da saúde mental que respeitasse a psicanálise.

Por sua vez, Olivier DOUVILLE (4), em seu texto marcado por uma certa ambição política, « interroga a demanda atual que é feita à psicologia clínica de tornar-se uma máquina cientista apta a expertisar os indivíduos e as condutas, o que pode torná-la cúmplice de toda e qualquer tentativa preventiva de enquadramento dos sujeitos desde a mais tenra idade, agora que os psicólogos clínicos não têm a vocação de « psicologisar » ou « etnicisar » as relações sociais ».Ele mostra-se inquieto com relação a um certo tipo de discurso político que faz a promoção de um projeto de sociedade cujos índices inquietantes são o relatório do INSERM ; o projeto de lei sobre o estatuto da psicanálise, ameaçada de ser diluida no meio das outras psicoterapias; o desmantelamento da psiquiatria em favor da saúde mental e da psicopatologia em favor da psicologia da saúde;a diluição de toda psicopatologia numa generalisação terminológica dos distúrbios centrados em torno da angústia e da depressão ; enfim pelo anúncio de políticas de prevenções muito precoces, acompanhando-se de fantasmas consistindo em prevenir desde o jardim da infância futuros riscos de suicídio.

Notemos contudo que, afora os artigos de Jalley e de BON , os outros autores mencionados não questionam as razões do impacto do « Livro Negro » e do relatório do INSERM em diversos segmentos da sociedade ; não fazem nenhuma referência à impostura das seitas que utilizam a menção psicoterapeuta afim de propagarem idéias religiosas ; não mencionam as práticas existentes que permitem a qualquer pessoa autoproclamar-se psicoterapeuta ; não interrogam as questões das indicações em psicanálise, sem falarmos da ausência de qualquer referência aos insucessos que todos os analistas conhecem em suas práticas, insucessos que tomam muitas vezes a forma de uma análise interminável que já sensibilizara Freud , levando-o a elaborar alguns conceitos metapsicológicos de grande importância.

A RESPOSTA NÃO VIRIA DA FILOSOFIA?

O artigo de Emile JALLEY, ao contrário, mostra que muitos psicanalistas e psicólogos clinicos perderam o senso crítico, seus artigos e publicações não comportando desenvolvimentos contendo argumentos contraditórios. Ao contrário, eles aderem às teorias que eles defendem de maneira visceral, numa época em que predominam as incertezas, e correm assim o risco de ver a teoria esclerosar-se, como podemos observar no pouco número de conceitos inovadores aparecidos na metapsicologia psicanalítica contemporânea.

Mais ainda, JALLEY considera que os psicanalistas não estão cambatendo as posições e os argumentos dos defensores das terapias experimentais de maneira adequada por lhes faltarem uma cultura filosófica, única maneira de opor argumentos intelectuais de valor afim de contestar as pseudo-verdades científicas reivindicadas pela psicologia objetiva.

Na parte do artigo intitulada : « Sobre a importância das referências filosóficas no debate científico contemporâneo » (1), ele cita alguns conceitos muito úteis para o campo das disciplinas psicológias. Estes conceitos são tirados das obras de Pascal ( « diferentes ordens de verdade, distinção entre o espírito de geometria e de fineza, entre dedução e intuição, entre razão e coração no sentido de conheciemnto imediato) ; Kant( razão científica, a passagem ou conversão da verdade relativa em verdade absoluta) ; Fitche(verdade científica e sua subordinação à ética) ; Hegel(existe sempre uma síntese entre tese e antitese) ; Leibnitz(três quartos de nossas ações são mecânicas, mas ao lado da máquina existe a monada , correspondendo ao sujeito).

Emile Jalley escreveu ainda que só « um tratamento dialético (da antinomia entre psicanálise e psicologia objetiva) poderia cessar com esta obtusa guerra de religiões, onde, por definição, se eu tenho razão o outro está completamente errado »(1).Ele sustentaria por conseguinte uma solução de compromisso, como na passagem de seu artigo onde ele apresenta os malentendidos do conflito : « nenhum psicanalista nunca poude nem nunca poderá certificar (…) que um paciente atravessou o limiar da cura »(pg. 30). A natureza mesma da psicanálise não pode ser demonstrada nem como verdadeira nem como falsa, por qualquer critério que seja, como os da falsificação descritos por Popper. Por sua vez, a psicologia objetiva nunca poderá considerar o humano de outra maneira que sob a forma de uma máquina, de um organismo, hoje recentrado na parte nobre que é o órgão cerebral (1) pg. 31.

No fim deste artigo, e para abrir a questão aqui abordada a outras problemáticas, parece-nos interessante citar o psiquiatra Dominique Megglé (5) : « É pelo aprofundamento da reflexão antropológica, pela filosofia dura e não pela metapsicologia que virá o progresso no conhecimento do que é a terapia. ».

Terapeuta atípico, eclético, adepto dos terapias breves ou curtas, um pragmático que dá pouca importância às teorias psicológicas, mesmo tão bem elaboradas como a psicanálise, Dominique Megglé é um a-teórico que se refere ao ensino de Milton Erickson e diz « tirar a sua experiência dos autores clássicos, filósofos e escritores, mas igualmente de seus próximos. E não dos teóricos caducos da psicologia, cuja perspectiva deve ser remodulada afim de torná-la verdadeiramente humana ».

Dar uma olhadela nos livros deste autor, ex-presidente da Sociedade médico-psicológica e da Confederação francófona de hipnose e de terapias breves, pode permitirnos de melhor compreender estas práticas psicoterápicas totalmente diferentes da psicanálise ortodoxa. Sob o nome de terapias breves, o autor apresenta as terapias analíticas breves, as TCC e a terapias ditas humanistas de maneira muito clara e num estilo marcado por um humor contagiante. Os psicanalistas, que na grande maioria dos casos ignoram estas terapias, poderão assim obterem maiores informações afim de julgarem de maneira mais objetiva todas estas práticas que estão se desenvolvendo com bastante sucesso na França e em outros países europeus.

A seguir…

1)Emile JALLEY : A propósito do debate sobre O livro negro da psicanálise », em "Le Journal des psychologues" N. 23, Editora MARTIN MEDIA, Revigny-sur-Ornain, Março 200 6.
2) Norbert BON, « Sim, a psicanálie pode ser avaliada », em « Le Journal des psychologues" N. 23, Editora MARTIN MEDIA, Revigny-sur-Ornain, Março 2006.
3) Gérard POMMIER : « O Livro negro : um cavalo de Troia », em « Le Journal des psychologues" N. 23, Editora MARTIN MEDIA, Revigny-sur-Ornain, Março 2006.
4)Olivier DOUVILLE : « O mercado da segurança psíquica,ou da alteridade reificada », em « Le Journal des psychologues" N. 23, Editora MARTIN MEDIA, Revigny-sur-Ornain, Março 2006.
5) Dominique Megglé : « Les thérapies brèves », Presses de la Rennaissance, Paris,2002.

2. COMO ESCOLHER O BOM PSI

LE NOUVEL OBSERVATEUR numéro 2155
Ursula GAUTHIER
Tradução : Eliezer de Hollanda Cordeiro

Psis contra psis. Analistas contra terapeutas. A batalha é furiosa. Um debate quase existential, que sem dúvida nunca será terminado. Eis uma situação que não simplificará a escolha daquels que procuram simplesmente o bom « psi » : aquele que saberá tratar seus sofrimentos psicológicos. Porque não existe terapia milagrosa miracle, nem método universal. Análise freudiana, TCC, gestalt, hipnose... Para cada personalidade suas necessidades. Cada distúrbio seu tratamento. Então o que é que funciona, e para quem ? Sem a priori, « o Nouvel Obs » conduziu o inquérito.

«Você vê um psi ? - Oh ! há quase quinze anos. Eu continuo ainda durante um ano, e depois irei a Lurdes... » Woody Allen, herói trágico-cômico dos tempos pós-modernos, sabe fazer-nos sorrir com sua incorrigivel neurose - talvez porque ele pareça concosco como se fosse um irmão. Quem melhor do que ele encarna a vítima tolerante de uma aventura interior que fisgou-se em viagem imóvel ? Incorrigivel cerebral mal à vontade no seu divã, à espreita do retorno do recalcado mas esperando o aparecimento da Virgem, Woody personifica o Homo psychologicus paradoxal, apaixonado pelo freudismo mas que sonha somente com cura milagrosa. A psicanálise ou a superstição: o dilema rói talvez de maneira sigilosa muitos assinantes do divã e todos os que não sabem a qual psi se confiar para aliviar uma depressão, angústia, estresse, vazio existencial, dependência, pequenas ou grandes penas que colam à alma. Não existiria pois outra alternativa, para curar-se deste mal- estar, do que mergulhar numa « análise interminável » ou fugir num pensamento mágico ?

É o que afirmam os herdeiros do mestre de Viena, que descrevem a paisagem da oferta terapêutica como uma temivel selva onde proliferam uma multidão de métodos, uns mais loucos do que os outros. Podia-se contar 300 ou 400, alguns dizem mesmo 800 - ignorando que se trata de variantes das quatros grandes correntes da psicoterapia. A crítica obstina-se contra esses métodos, qualificados de folclóricos, irracionais e efêmeros. Ela só percebe neles derivas corrompidas da psicanálise. Pior : a crítica suspeita a existência de relações com a nebulosa do New Age e da galáxia exotérica, ou mesmo com certas seitas. O famoso projeto de lei de Bernard Accoyer visando regulamentar a profissão de psicoterapeuta (enfim adotado em 2004 após algumas emendas) não tinha por objetivo de separar os verdadeiros psis dos falsos curandeiros ?

As associações dos psicoterapeutas esforçam-se para convencer que elas foram as primeiras que se inquietaram com as condutas dos charlatãos e pediram a regulamentação de suas profissões, ajuntando que elas promovem formações conforme às normas européias e fazem a limpeza em suas tropas : para os puristas da ortodoxia freudiana, os psicoterapeutas são apenas os curandeiros de nossa época narcísica e produtivista.

É verdade que existe uma terceira via, mas atenção, ela vai de mal a pior pois atinge o consultório de psiquiatras que sabem apenas prescrever Prozac ou terapias desumanizantes : são perigosos fanáticos da química e do condicionamento- acusam os guardiões da causa psicanalítica -, que querem reduzir o sujeito ao funcionamento de seus neurônios ou à soma de seus comportamentos.

Não é de surpreender que a entrada em terapia continue a suscitar uma certa ansiedade. É preciso coragem para decidir de se livrar de suas inibições e começar a busca do « bom » terapeuta. Segundo um estudo realisado em 2001 pelo Instituto BVA para a revista « Psychologies », 5% da população francesa aceitou este risco - comparado à média de 15% encontrada em nossos vizinhos europeus, sem falar dos 20% a 30% de Americanos que procuram um psi cada ano. Outrora, havia um freio por causa do medo de ser considerado como um « louco », hoje teme-se cair nas mãos de pseudo-profissionais.

« Eu pensava há muito tempo dever ir consultar », conta Gloria, 32 anos, que esconde debaixo de um aspecto de pessoa combativa o caos interior que lhe faz alternar crises de bulimia e períodos de anorexia. « Mas eu não sabia quem procurar. E sobretudo, eu desconfiava. Um desses palhaços como vemos na televisão, dissertando sobre tudo e mais aguma coisa, ou um desses tecnocratas de blusa branca que tratam seus pacientes como ratos de laboratório ? »

Foi finalmente uma nutricionista que convenceu Gloria de encontrar um psiquiatra especialista no tratamento de distúrbios alimentares pelas TCC (terapias comportamentais e cognitivas). « Sim, un cognitivo-comportamentalista, quem teria imaginado isso, disse Gloria brincando. Ele me pediu para contar as calorias e preencher as casas afim de avaliar meus progessos a cada etapa. É seco como método, as TCC não não têm sex-appeal. Mas eu saí do círculo vicioso ao fim de três meses. » Curada ? « Talvez. Não sei. Em todo o caso, tive vontade de continuar o trabalho para abordar outras questões, como meus problemas emocionais. O comportamentalista deu-me o endereço de um psi que me propôs uma terapia de grupo integrando técnicas diversas vindas de escolas como a gestalt ou a hipnose. »

Após o desaparecimento da apreensão da « selva dos clarlatões », a maioria dos « terapisados »ficam, como Gloria, satisfeitos com a variedade das terapias. Somente 12% aceitam uma psicanálise clássica; os outros navegam em função de necessidades pontuais. Alguns fazem um estágio de relaxação para lutar contra o estresse dos exames, outros uma TCC para vencer uma fobia de avião, outros uma pequena cura de psicoterapia analítca (o psi e o paciente ficam sentados em face a face) ou uma análise transacional afim de resolver um conflito do casal, ou então uma terapia da família para resolver o problema suscitado por um filho perturbado, pode também ser uma hipnoterapia afim de afrontar um divórcio dificil... E para terminar, porque não uma psicanálise, uma verdadeira, com divã, associações livres, transferência e contra-transferência, quando nos sentirmos enfim maduros para « o grande mergulho ? »Em todo o caso, a época do psi durante a vida inteira parece ultrapassada. É chegada a era da terapiasegundo as necessidades, - adaptada às guinadas da vida.

« É preciso terminar com a idéia de que um único ponto de vista, mesmo tão rico e complexo como a psicanálise, possa responder a todas as necessidades, afirma Edmond Marc, professor de psicologia e autor de um precioso «Guia prático das psicoterapias» (1) onde as diferentes correntes são apresentadas sem hegemonia nem hierarquia. Todas têm suas utilidades. Algumas, como as TCC ou a hipnose, possuem mesmo bases teóricas inteiramente distintas do freudismo. Graças à diversidade de seus objetivos e de suas técnicas, elas não suscitam as mesmas demandas e não obtêm os mesmos resultados. »E todas têm um papel a desempenhar, em função da gravidade e do amplor das necessidades. Os inquéritos sobre a saúde mental revelam com efeito que a tristeza francesa enraiza-se num mal-estar psíquico bem mais profundo do que se pensava. Um terço das pessoas interrogadas (contra um quarto dos nossos vizinhos europeus) apresentam pelo menos um distúrbio psíquico: ansiedade, depressão, dependência. E um terço já tomou « medicamentos para os nervos ». O número de pacientes em psiquiatria aumenta cada ano ao rítmo de 5% ; as consultas de psiquiatras liberais aumentaram, quanto a elas, de 20% em dois anos !

Diante deste quadro alarmante, os psicoterapeutas fariam muito bem de cultivarem as complementaridades. « Segundo as características dos pacientes e a natureza de suas expectativas, uma terapia pode aparecer mais pertinente ou melhor adaptada do que outra», explica Edmond Marc. Assim, as terapias psicanalíticas convêm de preferência às pessoas que apresentam tendência à introspecção, que sentem seus distúrbios como enraizados na infância e na relação aos pais. Os que sofrem de ansiedade ou de fobia mas hesitam em analisar seus processos inconscientes podem consultar os TCC, que tratam os distúrbios em 10 a 20 sessões. Quando a esfera das relações derapa, um método humanista que aborde o contacto com o outro, a gestalte-terapia, a análise transacional ou a PNL (programação neurolinguística) parece melhor indicado. Os alunos com dificuldade escolar, crianças agitadas, adolescentes com tendências suicidárias podem ser tratados com sucesso por uma terapia sistêmica visando restabelecer uma comunicação sã « num sistema familiar »bloqueado. E quando a vida esgota-se sob o peso dos traumatismos não « digeridos », a hipnose ou o EMDR (reprogramação e dessensibilisação pelos movimentos oculares) podem ser a melhor escolha.

No fundo, todos os terapeutas sabem muito bem, pouco importa a teoria contanto que ela alivie o sofrimento e reative o movimento íntimo do ser.A chave de toda terapia bem sucedida reside na noção bem dificil a traduzir em francês, l'empowerment, que é as vezes traduzida por « capacitação », o que permite ao paciente de retomar a barra de sua vida no ponto exato em que ele se deixara levar pela correnteza.

Uma terapia e um terapeuta afinados ao nosso caráter e ao nosso estilo afetivo pode ajudar mas isto não é uma necessidade absoluta.Os « tutores da resiliência », segundo Boris Cyrulnik, são às vezes bem mais eficientes : uma professora primária atenciosa, um amigo caloroso, mesmo um livro ou uma obra de arte podem dar-nos acesso à nossa força íntima. É a lição que nos dá Thierry Melchior (2) num ensaio estimulante que nos convida a meditar sobre as tradições terapêuticas e as sabedorias do mundo: em vez de satisfazer a paixão das nossas origens conduzindo a uma exploração sem fim das causas de nosso mal-estar, interessêmo-nos antes de tudo ao efeito que nossas crenças, nossos pensamentos e nossos atos exercem sobre nós, sobre o outro e sobre o mundo. «Pouco importa finalmente a fonte do rio. O que conta, é a água, os peixes, o limo que ele traz - e onde ele pode levar meu barco. » Uma sabedoria prática para o uso de Woody Allen e de todos nós, que parecemos com ele como se fôssemos irmãos.

Ursula Gauthier

(1) Retz, 2000. E também « a Mudança em psicoterapia, abordagem integrativa , Dunod, 2002.
(2) «100 Palavras para não ir de mal a psi. Escolha seu intinerário, Les Empêcheurs de penser en rond, 2003.

3. UMA ESPERANÇA DE TRATAMENTO PARA CONTROLAR A DOENÇA DE HUNTINGTON

Jornal Le Monde
Jean-Yves NAU
Tradução : Eliezer de Hollanda Cordeiro

Jean-Yves Nau indica no jornal Le Monde que « uma equipe de pesquisadores dirigidas por Anne-Catherine Bachoud-Lévi e Marc Peschanski (unidade 421 do Inserm, faculdade de medicina de Créteil, AP-HP) publica no Lancet Neurology os primeiros resultados de suas pesaquisas sobre o tratamento experimental da doença de Huntington a partir de enxertos intracerebrais de células fetais».
O jornalista lembra que« em 1998, um grupo dirigido por Philippe Hantraye (serviço hospitalar Frédéric-Joliot, CEA, Orsay) anunciou haver inventado um modelo experimental no macaco « Macaca fascicularis », no qual eles tinham produzido lesões e sintomas comparaveis à coréia de Huntington e enxertado após, células neuronais prélevées em embriões desses primatas. Baseando-se nesses trabalhos, um teste piloto foi lançado num grupo de 5 doentes, no cérebro dos quais enxertaram-se as células neuronais fetais prelevadas após uma interrupção de gravidês ».
Jean-Yves Nau cita assim o Dr Anne-Catherine Bachoud-Lévi, que notou : « dos 5 doentes do groupe, 2 não melhoraram, sem dúvida por causa do estado evoluido da doença no momento do enxerto».
« Em compensação, para os 3 outros, as conclusões são positivas pois observamos uma diminução dos sintomas motores durante um período de 4 a 5 anos e uma diminuiçao dos distúrbios intelectuais, que permanecem se a motricidade não é solicitada. Dito de outra maneira, não é questão de um tratamento capaz de curar, mas antes de um avanço que, pela primeira vez, abre reais perspectivas terapêuticas », explica o especialista.
Jean-Yves Nau precisa que «os autores deste trabalho tomam entretanto as precauções de sulinhar que, paralelamente às melhoras observadas nos tres pacientes, a prática dos enxertos de células fetais não impediu a progressão, em outras regiões cerebrais, das alterações características da evolução da doença ».
O jornalista ajunta que « foi lançada uma pesquisa européia prolongando este trabalho.Ela prevê a realização dos mesmos enxertos em 60 pessoas sofrendo da doença de Huntington. Cerca de trinta operações já foram praticadas e os primeiros resultados serão apresentados dentro de 2 anos ».

4. Associações

*Association française pour l'approche integrative et eclectique en psychotherapie (afiep)
*Association française de psychiatrie et psychologie legales (afpp)
*Association française de musicotherapie (afm)
*Association art et therapie
*Association française de therapie comportementale et cognitive (aftcc)
*Association francophone de formation et de recherche en therapie comportementale et Cognitive (afforthecc)
*Association de langue française pour l'etude du stress et du trauma (alfest)
*Association de formation et de recherche des cellules d'urgence medico-psychologique (aforcump)
*Association nationale des hospitaliers pharmaciens et psychiatres (anhpp)
*Association scientifique des psychiatres de secteur (asps)
*Association commission des hospitalisations psychiatriques france (cdhp france)
*Association promotion defense de la psychiatrie a l'hopital general (psyge)
*Association karl popper
*Association pour la fondation Henri Ey
*Association internationale d'ethno-psychanalyse (aiep)
*Collectif de recherche analytique (cora)
*Ecole parisienne de gestalt
*Ecole française de sexologie
*Ecole de la cause freudienne www.causefreudienne.org
*Groupement d'études et de prevention du suicide (geps)
*Groupe de recherches sur l'autisme et le polyhandicap (grap)
*Groupe de recherches pour l'application des concepts psychanalytiques a la psychose (grapp)
*Regroupement national en psychiatrie publique (renepp)
*Société française de gérontologie
*Société française de thérapie familiale (sftf)
* Société francophone de medecine psychosoma
*Société française de psychopathologie de l'expression et d'art-therapie(sfpe)
*Société française de recherche sur le sommeil (sfrs)
*Société française de relaxation psychotherapique (sfrp)
*Société française de sexologie clinique (sfsc)
*Société française de psycho-oncologie/association psychologie et cancers
*Société d'addictologie francophone
*Société ericksonienne
*Société de psychologie medicale et de psychiatrie de liaison de langue française
*Société médicale Balint
*Union nationale des associations de formation médicale continue (unaformec)
*Union nationale des amis et familles de malades mentaux (unafam)
*Association Psychanalytique de France (apf)
*Société Psychanalytique de Paris (spp)
*Ecole Freudienne de Paris
*Mediagora:http://perso.wanadoo.fr/christine.couderc/
*Agoraphobie.com:http://www.agoraphobie.com/
*Sitesfrancophones:http://www.churouen.fr/ssf/pathol/etatanxiete.html
*Distúrbios do humor (afetivos) : www.depression.ch
*Estados limites em psiquiatria: tratamento (d. Marcelli): suicidio escuta - 24/24 http://suicide.ecoute.free.fr
*Informações sobre o suicidio e as situações de crise: http://www.suicideinfo.org/french
*Centro de prevenção do suicidio: http://www.preventionsuicide.be
*Associação alta ao suicidio: http://www.stopsuicide.ch
*Suicídio : http://www.chu-rouen.fr/ssf/anthrop/suicide.html
*Drogas : http://www.drogues.gouv.fr/fr/index.html
*S.o.s. Réseaux : http://www.sosreseaux.com/
*Ireb - Instituto de pesquisas cientificas sobre às bebidas: http://www.ireb.com/
*Addica : addictions precarité Champagne Ardenne : http://www.addica.org/
*Internet addiction : conceito de dependência à internete: http://www.psyweb.net/addiction.htm
*Estupefiantes e conduta automobilistica; as proposições da sfta: http://www.sfta.org/commissions/
*stupefiantsetconduite.htm

Coordination (coordenador): Eliezer de HOLLANDA CORDEIRO [email protected]


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