Volume 11 - 2006
Editor: Giovanni Torello

 

Janeiro de 2006 - Vol.11 - Nº 1

France - Brasil- Psy

SOMMAIRE (SUMÁRIO)

Docteur Eliezer DE HOLLANDA CORDEIRO

Sumário:

 

  1. A MENINA COUMBA, SEUS ANTEPASSADOS E SEUS SINTOMAS
    Olivier DOUVILLE (psicanalista). Segunda parte.
    -
    Tradutor : Eliezer de Hollanda Cordeiro
  2. O « BANZO » DO CONDE DE GOBINEAU NO BRASIL
    Paulo de Queirós SIQUEIRA (psiquiatra-psicanalista)
    Tradução:Eliezer de Hollanda Cordeiro
  3. Livros recentes
  4. Revistas
  5. Associações
  6. Seleção de sites

QUI SOMMES- NOUS (Quem somos)

QUEM SOMOS ?

France-Brasil-PSY é o novo espaço virtual de “psychiatry on line” oferecido aos profissionais do setor da saude mental de expressão lusofona e portuguesa.Assim, os leitores poderão doravante nela encontrar traduções e artigos em francês e em português abrangendo a psiquiatria, a psicologia e a psicanálise. Sem esquecer as rubricas habituais : reuniões e colóquios, livros recentes, lista de revistas e de associações, seleção de sites.

QUI SOMMES- NOUS ?

France-Brasil-PSY est le nouvel espace virtuel de “psychiatry on line” offert aux professionnels du secteur de la santé mentale d'expression lusophone et française.Ainsi, les lecteurs pourront désormais y trouver des traductions et des articles en français et en portugais concernant la psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse. Sans oublier les rubriques habituelles : réunions et colloques, livres récentes, liste de révues et d'associations, sélection de sites.


 

1. A MENINA COUMBA, SEUS ANTEPASSADOS E SEUS SINTOMAS (segunda parte)

Olivier Douville (psicanalista, Paris).

Tradutor : Eliezer de HOLLANDA CORDEIRO

CLINICA

Coumba é uma menina de oito anos. Recebo-a com seus pais, no meu consultório de psicanalista parisiense. O trio foi-me enviado por amigos restauradores que moram em Barbès-Rochechouart, no XVIII bairro da capital. Não existe, naturalmente, nenhum co-terapeuta, estagiário etnólogo dando-me assistência neste trabalho. Aposto que posso receber pacientes africanos sem criar um dispositivo « especial » para acolhê-lhos. Eu afirmo de maneira categórica meu desacordo com a concepção que pretende reservar unicamente aos pacientes ocidentais a possibilidade de ter acesso às suas divisões subjetivas e imperfeições. Também não penso que a interpretação tenha por função restaurar o sujeito em uma mitologia específica.

Encontrava-me diante de um casal separado, como tantos em toda parte. A menina é descrita como um pouco isolada dos outros, constantemente agarrada à mão do adulto, ela seria as vezes violenta ? A Senhora é de origem guineana, de Peuhl no centro do país, e ela encontrou o marido de origem maliana, habitando na Serra Leoa. A criança é frágil, franzina, fala pouco, sorre muito, e se encosta num canto de minha mesa. Falam-me de bruxaria e de má sorte lançada, sem dúvida por duas razões : por uma lado, porque é uma maneira bastante comum de narrar dificuldades e preocupações ; e, por outro lado, porque a maior parte dos pacientes africanos conhece bem o voyeurismo ocidental e a gulodice de numerosos psis consistindo em absorber histórias un pouco exóticas e um tanto fúnebres. Como numerosos pacientes africanos, os pais reagem sem nenhum terror à idéia que uma má sorte tivesse atingido a criança tornando-a uma criança-antepassada.

Se vocês forem dar uma volta numa aldeia da Africa do Oeste poderão facilmente constatar que a pessoa a quem se anuncia que ele é vítima de uma má sorte não reage com um traumatismo mas com reações de indignação, bastante estênicas, mais frequentemente de fúria, contra a injustiça que lhe é feita. No caso da pequena Coumba, uma condensação poduziu esta designação de uma má sorte lançada. Um curandeiro de Fouta Djallon (centro da Guiné) falou de uma má sorte. Aqui segundo o que os pais me dizem, uma psicoterapeuta convertida à nova etnopsiquiatria dos bairros convocou a personagem chave da criança-antepassada. Um estagiário africano reconheceu que a seriedade da designação " criança-antepassada "faz parte das leituras obrigatórias. Assim, a ciência decidiu. O Senhor ajunta imediatamente, voltando aos azares de sua própria existência, que a má sorte que atingiu a criança era um sortilégio que lhe era destinado, a ele o pai. E que ele teria transgredido.

Depois que ele deixou a Serra Leoa não recebeu nenhuma notícia de seu irmão mais novo. Onde ele estaria ? Ele teria sido vítima das terríveis violências da guerra civil ? Seu irmão fantasmado como possivelmente morto(e isto é longe de ser uma suposição furtiva e infundada) poderia estar colocado no lugar de uma criança considerada como morta. Uma má sorte teria sido lançada ao Senhor, que batia no primeiro de seus futuros filhos, isto é na menina Coumba. Prosseguindo sua narração, ele acrescentou haver sido obrigado a casar com a sua esposa e que ele deveria constituir sua união desde qaue voltasse do Mali. Quem o teria forçado a agir dssta maneira ? Um tio paterno, respondeu, sem nenhuma certeza…Não foi possivel continuar a discutir com ele sobre as relações de parentesco e de autoridade " bambaras ". Quando esse homem contou esta decisão, ele exprimiu com nitidêz o quanto ele, o exilado, o fugitivo, tivera dificuldades em estabelecer uma aliança com uma mulher autóctone legítima. Uma ligação com uma estrangeira permitia-lhe de não esvaziar a vivência de seu próprio exílio, a vivência de sua própria extranheza. Aqui terminamos nossa primeira entrevista.

Em seguida, os laços parecem entrançar-se de outra maneira entre a mulher e seu esposo. Ela discorda um pouco do termo « forçado » para designar a união, acrescenta que o seu tio não forçou o senhor a fazer uma criança. Que ele quis realmente engendrar esta filha. Por sua vez, reagindo muito depressa, Coumba deixa-se cair de maneira brutal em cima do tapete. Sua mãe e eu a levantamos, o pai parece-me tomado por uma grande inquietação. Coumba volta-se para ele e sorre, lança-lhe aos pés um pedaço de tecido que ela conservava consigo até então. Eu incito o Senhor a apanhar o pedaço de tecido, um lenço enroscado em todos os sentidos. A mãe parece-me então esta pessoa e este corpo que a criança lança em direção de um vazio sem fim até que alguém, um terceiro, fosse colocado como separador : neste caso um homem é colocado no lugar daquele que tirou benefícios por haver feito uma criança nesta mulher. Entre uma mãe completa, demasiadamente completa, outra pouco usada e uma ausência radical onde Coumba se perde, um vazio : e o gesto da criança se coliga num surgimento de apelo. A mãe em seu apelo ao pai não é mais toda poderosa. Ela é dividida. E ela fala, muito emocionada. Ela confia então, de maneira indiscutivelmente transtornada e emocionante também, levando-se em conta as francas reservas de pudor que existem na civilidade africana, que ela teve medo de perder a criança quando esta « dormia » no seu ventre. Falamos do nascimento da criança, de seus primeiros choros, de seus premeiros risos. Coumba escuta de maneira extraordinariamente concentrentada essa onda de palavras, afogada nelas.

Na terceira entrevista, o casal falou das concórdias e desavenças cotidianas, em seguida de críticas tanto tempo abafadas. O Senhor diz de sua esposa que ela permanece prisioneira de seu país natal, do qual ela é constantemente nostálgica, e que ela fala, escondida, em Peuhl à criança, que não compreende nada. Ei-lo excluido de um completivo de boca a orelha. Ele se « cansa demais » querendo que a sua filha a cumprimente em Bambara. Naturalmente ele chama a sua filha Coumba " A viela", (Moussokoroba) como é frequente no Mali.

A maldição atingiu a criança, era uma maldição destinada (…) que era para mim, disse o pai. Na verdade, um vago clima sensitivo aumentou após a fuga da Serra Leoa e cristalizou-se num cenário « persecutório » graças à mediação de um charlatão senegalês do bairro de La Chapelle. Na vida deste homem quase tudo que provoca rutura está relacionado com a sujeição e a dominação. Eu soube nas duas entrevistas ulteriores que se o Senhor eria sido obrigado a casar com a Senhora, ele teve de partir apressadamente para a França três anos após o casamento, dois anos após o nascimento de Coumba. Ora, a avó paterna da criança, que havia ficado em Bamako durante o exílio na Serra-Leoa, muito ligada ao tio mencionado, não queria que o casal fosse para a França ; segundo ela, para que o casal tivesse crianças com boa saúde seria necessário que ele fosse morar num país limitrofe. Onde ? Burkina ? Costa de Marfim ? Nada é fácil atualmente no que diz respeito às migrações internas na sub-região do Oeste da Africa. Felizmente, a viagem para a França poude ser realizada. Como estabelecer o limite, borda ou passarela entre duas fronteiras, entre dois lugares ? A criança por sua vez é a proa e o brazão das nostalgias de um e de outro. Ela condensa o que deve ser largado no lugar que deixamos. O exílio na França reaviveu a perda do lugar, que é mais do que a perda de um objeto ou de um ser, é o abandono do lugar que contém os objetos e seres familiares. Portanto os lugares originários estavam estragados. A Senhora teve que deixar a Guiné, onde a miséria era grande demais. O Senhor teve de deixar a Serra Leoa, onde a violência tendia a tornar-se grande demais. Todos sabemos como isso se terminou: cada um abandonou um lugar sem perspectiva de retorno. Neste exato momento, antepassados redobraram sua virulência e seus apetites captatórios. O exílio não religa as linhagens, ele torna-as antagônicas. A criança levou a maldição no lugar do pai. Dito de outra maneira, a metáfora paterna resta errante. A parte inaccessivel da criança resta ainda ameaçadora. Nós veremos como se produz uma travessia dessa parte perigosa.

Falar é necessário, sim, mas é também deslocar a maldição e perder a segurança que representa o mutismo, a segurança que a filha estivesse possessa no lugar do pai. No decurso do quarto encontro, a mãe chorou e disse que nunca havia comentado com o marido nem com qualquer outra pessoa que ela envia de maneira regular a Conakry, fitas de magnetofone nas quais fala de Coumba. Ela as envia a um marabu. Este último -o que poderia surpreender somente os leitores que conhecessem a Africa por meio de uma literatura psicológica - não a repreende e não dá nenhuma indicação relativa a um estatuto de criança-antepassada. Ele comenta, dá conselhos educativos, preconisa uma visita aos psicólogos brancos (mais uma vez, a mesma observação que na frase precedente).

Quando do útimo encontroque relataremos, escutamos as fitas que o marabu nos devolvera, a mãe traduzindo-as. Pouco a pouco Coumba, até então ensimesmada e apoiada no ângulo do muro, se repousa, começa a rir, se desprega de maneira resoluta do ângulo do compartimento onde ela encontrava um refúgio e um eixo. Falaram então de um sacrifício a realizar afim de desfazerem-se do sortilégio, o que está sendo objeto de uma negociação entre os pais, isto mais uma vez sem o menor horizonte metafísico ou oculto aparente. Este pano de realização simbólica ocorreu sem que eu participasse dessa prescrição, o que não seria o meu papel. Colocar-me assim fòra dessas negociações e comércios habituais era a única atitude possivel. Eu não entro nesse sistema de prescrições e dívidas infinitas.

Coumba pediu-me para escrever durante as últimas sessões. Ela decidiu escrever uma carta. Fez um envelope com uma folha de papel, dobrando-a seis vezes. A carta na mão, foi primeiro entregá-la ao pai, depois à mãe, por fim colocou-me de maneira autoritária a carta no bolso do palitó e disse- me : " ela é para você ". " Você me deu-a pois" foi a minha resposta, a qual me permitiu de acrescentar em seguida que existia « duas » Coumba. Uma Coumba que se deixou cair e outra que tomou e deu um objeto. Não é mais apenas questão de corpo cativo ou de corpo espelho, mas de um jogo com riscados da carta e do escrito, de um jogo com riscado , isto é com o que rasga o imaginário do espelho, divide-o e orienta-o. Devemos compreender que o sujeito que se vivia como abandonada e lograda pelo outro restabeleceu-se com uma assinatura, num jogo de presença e ausência, de " representação " do outro. Eu revi novamente o casal e a criança, as vezes a mãe e a filha, as vezes apenas o pai -que veio uma vez com Coumba. Deixei de mencionar a criança-antepassada.Coumba é muito viva e bem preparada para encontrar o próprio caminho no mundo dos vivos. Persistir com o tema da criança-antepassada teria sido para mim atribuir à menina uma filiação a uma única descendência, a uma única ancestralidade da qual eu me tornaria, se ocupasse ilegalmente uma tal lugar, o representnte branco, o auxiliar superegoico.

Coumba era a manifestação presente de uma nostalgia melancólica, desta parte do infantil maternal et paternal que não havia sido " sacrificada " simbolicamente por um dos pais. Eles deixaram muito rápido de acreditar nesta designação, o que poude contribuir para que eles mesmos enfrentassem aquilo que pertencia ao próprio infantil cativando-os demasiadamente.Coumba encontrou seu próprio caminho, ela inventou seu sistema de sígnos, suas localizações do medo, suas fobias.

Coumba cresceu, encontrei-a pela última vez há alguns meses. Ela esquecerá pouco a pouco, talvez, o sonho onde se encontrava murada. Mais tarde, disse-me, ela será cantora ou jogadora de baskett, ou cantora ou enfermeira. Uma menina voltada para os claros dias dos sonhos de sua idade.

[1][5] article cité page 22
[2][6] Le texte de Zempleni de 1965 n'a été réédité que partiellement dans le volume " l'enfant ancêtre " coordonné en 1985 par Tobie Nathan (un autre volume éponyme a été lui édité en 2000). Dans la première édition ; la seconde partie de l'étude de syndrome codifié por les Lebou-Serrer présentait trois études de cas qui ne sont pas reprises dans la réédition coordonnée et dirigée por T. Nathan.

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2. O « BANZO » DO CONDE DE GOBINEAU NO BRASIL
Paulo de QUEIRÓS SIQUEIRA (psiquiatra, psicanalista)
Tradução:Eliezer de HOLLANDA CORDEIRO

Poucos escritores franceses do Século XIX contribuirm tanto para as teorias do racismo como o Conde Joseph Arthur de Gobineau (1816 - 1882).A obra que tornou-o lastimosamente célebre teve como titulo : « Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas » (1). Este livro teve um grande sucesso junto aos adeptos do nazismo que fizeram do mesmo uma de suas referências fundamentais. Quais foram as teorias do conde de Gobineau ? Leiamos para resumir as notas sobre o ele contidas na edição do Larousse Universel de 1922, eù seguida Nouveau Larousse Universel de 1948, o pequeno Larousse de 1980 e enfim Le Petit Larousse Compact de 1999.A evolução dos termos com os quais o célebre dicionário resumiu as teorias de Gobineau conheceu ao longo do Século XX uma evolução subtil. Não pdemos negligenciar tais variações porque elas são sugnificativas das mudanças das mentalidades no que diz respeito às complacências mais ou menos evidentes para com as teses racistas na França.

Vejamos o que escreveu o Larousse em 1922 a propósito do Ensaio sobre as desigualdades das raças humanas. « Fundado na idéia da raça como fator fundamental da história, ele apresenta o ariano dolicocéfalo louro como o tipo da humanidade superior. Com esta maneira de ver, Gobineau favoreceu o orgulho pangermânico, seu sistema sendo, especialmente, muito apreciado na Alemanha. Ele exerceu uma grande influência sobre as idéias de Wagner ». A edição do Nouveau Larousse Universel de 1948 salienta ainda a grande influência de Gobineau sobre Wagner, concluindo : « Os alemães interpretaram o sistema dele para tirarem benefício».

Quase 40 ans depois, o pequeno Larousse passou em silêncio as influências que recebeu Wagner e concluiu no final que o Conde de Gobineau «influenciou os teóricos do racismo germânico ».

Em 1999, contudo, o mesmo Petit Larousse mostrou-se desta vez mais sutil a propósito do autor e de suas teorias, escrevendo que o Ensaio sobre as desigualdades das raças humanas « pretendia retraçar e explicar pelo processo histórico da miscigenação, a marcha da humanidade para um declínio inelutável ».Assim, a questão das teorias de Gobineau sobre as « raças superiores »deixou de ser mencionada. Outra nuança introduzida pelo Petit Larousse de 1999 em sua conclusão concernando o referido autor consistiu em dizer que os « teóricos do racismo germânico reivindicam as teorias do Conde mas « disfarçam as suas teses ».

Dir-se-ia que o Petit Larousse procurasse atenuar o racismo inerente às teorias de Gobineau, deixando supor que os nazistas só utilizaram-nas de maneira disfarçada. Para o o leitor que tivesse ainda necessidade de se convencer de que as idéias de Gobineau fossem tão racistas, suas Cartas brasileiras (2) constituem uma amostra mais do que convincente.

Joseph Arthur de Gobineau, que era não somente escritor mas também diplomata, ocupou o cargo de chefe de gabinete de Alexis de Tocqueville, então Ministro das relações exteriores da França de Napoleão III (3).Após haver deixado este cargo afim de ocupar a função de primeiro secretário de embaixadas em Berna, Hanovre e no Irão, Gobineau foi enviado para o Brasil em 1869, por uma dessas astúcias muito frequentes na história. Ele partiu a contragosto, afim de representar a França perante um dos povos mais mestiços do planeta.Conhecendo-se o papel desempenhado pela mestiçagem em suas teorias, consideradas como fator histórico tendo precipitado a humanidade num declínio inelutável, este encontro do teórico racista com o povo de mestiços é muito engraçado. A estadia no Brasil foi para Gobineau uma grande provação, se considerarmos seu estado de saúde do início até o fim de sua missão no Rio. Esta, que durou pouco mais de um ano, permitiu-lhe escrever numerosas cartas a sua esposa que ficara na França. Nelas o Conde verteu sem nenhuma censura, tudo de ruim que ele pensava da «ignominiosa canalha brasileira. Todos mulatos, todos, todos, menos a família imperial ! » exclamou numa de suas cartas (4).

Tendo chegado ao Brasil no fin de março de 1869, três meses depois Gobineau já tinha um julgamento definitivo sobre o seu povo: «O Brasil só pode tornar-se alguma coisa se os brasileiros desaparecerem ; trata-se de uma população inepta, viciada até a moela, pela qual não se pode fazer nada, que se utilize a força física ou moral » (5).

Gobineau, por que o povo brasileiro não era conforme à idéia que ele tinha das raças superiores, procurou refúgio ao lado do Imperador do Brasil, sua Majestade Dom Pedro II e de sua Alteza a Imperatriz. E o escritor francês teve muita sorte porque o Imperador era um homem realmente excepcional! Ávido de tudo, espírito muito culto e científico, homem de laboratório, admirador de Linné, Dom Pedro manteve uma correspondência com Quatrefages durante vinte anos. O Imperador brasileiro fez parte até dos benfeitores do Instituto Pasteur de Paris.Ele era também um grande poliglota, conhecia quatorze línguas e falava oito ou nove de maneira fluente. Em suma, era um Monarca esclarecido, o que deveria agradar o Conde, era um branco de sangue azul, descendente das linhagens mais altas da aristocracia européia. Porém muito cedo e apesar da benevolente amizade do imperador por Gobineau (ele o recebia duas, três vezes por semana no palácio) a saúde do conde declinou muito depressa : « Você sabia que, desde minha chegada, tenho sofrido, de maneira contínua, de febre e de um abatimento insuportável ? Não se passa uma semana sem que eu me sinta obrigado a deitar-me duas ou tres vezes durante o dia, »escreveu a um amigo na Europa.Sua degradação física e moral atingiu um tal ponto que o próprio Imperador inquietou-se e aconselhou-o a voltar para a França o mais cedo possivel. E Gobineau findou sendo repatriado quase em situação de urgência.

« Como pudeste imaginar que eu sofresse de nostalgia ou de algo semelhante ?» perguntou o Conde a sua esposa. « Estou realmente doente e o Rio vai me matar. Tenho outro coisa a fazer do que deixar-me assim morrer » (6).

Devemos reconhecer que Gobineau sofreu no Rio de uma doença semelhante, e muito frequente, que atingia os negros brasileiros vindos da Africa para trabalhar como escravos. Ao chegarem ao Brasil, numerosos negros reagiram às condições desumanas da escravidão com uma melancolia mortal denominada « banzo ».Este fenômeno alcançou proporções epidêmicas tais e marcou tanto o espírito dos brasileiros que a palavra « banzo », de origem africana ,faz parte doravante da língua comum para designar a melancolia.

Naturalmente, poderiamos dizer que, por razões muito diferentes, tanto o Conde como os negros africanos padeceram de melancolia no Brasil, não pelas mesmas razões mas pela mesma relação com a verdade do sujeito.

O próprio Freud colocou em « Luto e Melancolia » (7) a questão : porque adoecer para alcançar uma… verdade ? Que verdade teriam eles alcançado, o Conde e os escravos africanos, para mergulharem numa melancolia, apenas chegados ao Brasil ? Sem dúvida as causas não foram as mesmas, mas, não poderíamos dizer que eles encontraram no Brasil a verdade do ser-para-a- morte ? Os escravos, assim reduzidos ao estatuto de simples objets do gozo do Outro, tornaram-se mortos como sujeitos. Para o Conde, uma revelação poderia ter-lhe ocorrido: O Brasil prefigurava o mundo futuro onde não mais existiria um lugar para o Outro da raça pura, a raça dos Mestres « arianos dolicocéfalos louros».Este ideal do ego era feroz para os outros mas também para o próprio Conde. A prova, a mestiçagem brasileira, verdadeiro exemplo contrário ao sistema social que Gobineau queria, agia já de maneira sorrateira ao desaparecimento da ordem injusta de base racial com a qual ele sonhava.

Gobineau deve ter percebido isto, a sua melancolia tendo sido o resultado.Aqueles que acreditaram nesse delírio e quiseram aplicá-lo mais tarde na Europa do Século XX, não somente se enganaram mas arruinaram os seus países, seus povos e semearam en toda parte onde passaram o genocídio, a destruição e a miséria. A miscigenação universal- toda a evolução do Século XX nos prova- conduz para um mundo onde o Outro não existe, salvo sob as aparências do único Mestre Absoluto, a Morte.

1) J. A. de Gobineau, Ensaio sobre as desigualdades das raças humanas, 1853 - 1855, re-edição, Paris 1967.
2) J. A. de Gobineau,Cartas brasileiras, Éditions du Delta, Paris, 1969.
3) Ver a propósito das relações de Gobineau com Tocqueville, os comentários feitos por Jacques-Alain Miller. Este salienta a ambiguidade de Alexis de Tocqueville com relação a Arthur de Gobineau : ao mesmo tempo em que o primeiro considerava o sistema da Desigualdade das raças como «a tese mais injusta que se pudesse conceber nos dias atuais » … um « sistema de manobras fraudulosas, uma filosofia de diretor de haras », Alexis mostrava-se além de complacente com o Conde Joseph Artur, correndo servir às ambições de Gobineau no Ministério e na Academia.
Conforme : « Astros obscuros, hidras estreladas » de Jacques-Alain Miller em Élucidation 8/9, Verdier, Paris, 2003, página 85.
5) J. A. de Gobineau, carta de 29 de junho 1969, página 97, Cartas brasileiras, edição citada.
6) J. A. de Gobineau, carta de 18 de julho 1869, página 110 e111, idem.
7) J. A. de Gobineau, carta de 28 de Março de 1870, página 238, Cartas brasileiras, ibidem.
8) Sigmund Freud, « Luto e melancolia », Matapsicologia, Edições Gallimard, Paris, 1968, página 153

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Erès-23€

4. Revistas

*Abstrac psychiatrie : www.impact-medecin.fr
*La revue française de psychiatrie et de psychologie medicale : www.mfgroupe.com
*L'encephale:www.encephale.org
*Les actualités en psychiatrie: www.vivactis-media.com
*Neuropsy : www.neuropsy.fr
*Nervure : rédaction: Hôpital Sainte-Anne, 1 rue cabanis, 75014 paris. Téléphone: 01 45 65 83 09 fax. 01 45 65 87 40
*Neuronale (revista de neurologia do comportamento) [email protected]
*PSN :(psychiatrie, sciences humaines, neurosciences) : rue de la convention, 75015 paris. Fax : 0156566566
*Psychiatrie française : [email protected]
*Psydoc-broca.inserm.fr/cybersessions/cyber.html
*Synapse : [email protected]
*Evolution psychiatrique

5. Associações

*Association française pour l'approche integrative et eclectique en psychotherapie (afiep)
*Association française de psychiatrie et psychologie legales (afpp)
*Association française de musicotherapie (afm)
*Association art et therapie
*Association française de therapie comportementale et cognitive (aftcc)
*Association francophone de formation et de recherche en therapie comportementale et Cognitive (afforthecc)
*Association de langue française pour l'etude du stress et du trauma (alfest)
*Association de formation et de recherche des cellules d'urgence medico-psychologique (aforcump)
*Association nationale des hospitaliers pharmaciens et psychiatres (anhpp)
*Association scientifique des psychiatres de secteur (asps)
*Association commission des hospitalisations psychiatriques france (cdhp france)
*Association promotion defense de la psychiatrie a l'hopital general (psyge)
*Association karl popper
*Association pour la fondation henri ey
*Association internationale d'ethno-psychanalyse (aiep)
*Collectif de recherche analytique (cora)
*Ecole parisienne de gestalt
*Ecole française de sexologie
*Ecole de la cause freudienne www.causefreudienne.org
*Groupement d'études et de prevention du suicide (geps)
*Groupe de recherches sur l'autisme et le polyhandicap (grap)
*Groupe de recherches pour l'application des concepts psychanalytiques a la psychose (grapp)
*Regroupement national en psychiatrie publique (renepp)
*Société française de gérontologie
*Société française de thérapie familiale (sftf)
* Société francophone de medecine psychosomatique
*Société française de psychopathologie de l'expression et d'art-therapie(sfpe)
*Société française de recherche sur le sommeil (sfrs)
*Société française de relaxation psychotherapique (sfrp)
*Société française de sexologie clinique (sfsc)
*Société française de psycho-oncologie/association psychologie et cancers
*Société d'addictologie francophone
*Société ericksonienne
*Société de psychologie medicale et de psychiatrie de liaison de langue française
*Société médicale Balint
*Union nationale des associations de formation médicale continue (unaformec)
*Union nationale des amis et familles de malades mentaux (unafam)
*Association Psychanalytique de France (apf)
*Société Psychanalytique de Paris (spp)
*Ecole Freudienne de Paris

5. Seleção de Sites

*Etnopsiquiatria : www.ethnopsychiatrie.net
Www.carnetpsy.com
*Collège de psychanalyse groupale et familiale www.psychafamille.com
*Œdipe www.oedipe.org
*Quatrieme groupe http://quatrieme-groupe.org
*Société psychanalytique de paris www.spp.asso.fr
*Www.doctissimo.fr
*Association Française des Psychiatres d'Exercice Privé:www.afpep-snpp.org
*Bulletin de l'ordre des médecins: www.conseil-national.medecin.fr


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