Volume 9 - 2004
Editor: Giovanni Torello

 

Janeiro de 2004 - Vol.9 - Nº 1

História da Psiquiatria

A Psiquiatria Brasileira em 1964

Dr. Walmor J. Piccinini

O Brasil do início de 1964 era um país agrícola e pobre. As exportações brasileiras não atingiam os dois bilhões de dólares e sua população era predominantemente rural. A industrialização era incipiente e o sistema de saúde estava centrado nos Institutos de Previdência, uns com mais recursos, por ex. o dos bancários e o dos comerciários e outros com menos recursos como dos industriários, dos ferroviários e dos funcionários públicos. O mundo enfrentava a guerra fria e os países da América latina, depois do incidente dos mísseis em Cuba passaram a ser mais observados pelos órgãos de segurança americanos. Pobreza, insatisfação popular, apelo por mudanças profundas na estrutura do país, foram o caldo de cultura para a reação materializada no golpe militar de 1964. As publicações psiquiátricas não refletiram esse clima político tenso e belicoso. Os psiquiatras, que eram reduzidos em número, estavam dedicados a trabalhar na mudança da práxis psiquiátrica com a introdução de novos conceitos, ambientoterapia, terapia ocupacional, técnicas grupais, psicoterapia e formação de novos especialistas de orientação psicodinâmica. A influência psicanalítica era marcante, seguíamos o caminho da psiquiatria americana do pós-guerra.

A principais publicações psiquiátricas daquele ano foram: A Revista de Psiquiatria Dinâmica do Rio Grande do Sul com 26 artigos. (Essa revista foi resultante da fusão dos Arquivos da Clínica Pinel com a Revista Psiquiatria do Centro de Estudos Luís Guedes, mais tarde ela se transformou na Revista de Psiquiatria do RS, hoje disponível online). O Jornal Brasileiro de Psiquiatria vinha a seguir com 19 artigos. A Revista Neurobiologia com 8, a Revista de Psiquiatria (Rio de Janeiro, CEDr. Eiras) com 7 e outros trabalhos em revistas de difusão médica. O Hospital com 4 e A Folha Médica com 3. Cabe destacar que tivemos ainda quatro teses de Livre Docência no Departamento de Psiquiatria da USP. (Carvalho, Henrique M. , Fortes, J.R. Albuquerque, Gonçalves, Jayme e Martins, Clóvis). Duas outras teses, uma em S.Paulo, por Cremonesi, E., outra no Rio por Chuc, Wassily).

José Leme Lopes publicou uma biografia de Juliano Moreira no JBP 13:1,1964 em que começa destacando a transformação do antigo Hospital de Alienados em Edifício sede da Universidade do Brasil. Ele reproduz as palavras de J.E.Rees, Presidente da Federação Mundial de Saúde Mental a respeito do fato: “grande o país que fecha um asilo para colher uma Universidade”.

O número 2 do JBP foi todo dedicado a Terapia Ocupacional com três trabalhos de Luiz Cerqueira, dois de Oswaldo Santos e um de Roberto Quilelli Correa. Com sua irreverência característica, Luiz Cerqueira dizia que o Setor de Praxiterapia ainda é um jardim da infância para adultos. Conta que o Serviço foi criado pelo Professor Maurício de Medeiros em 1957 e foi dirigido por Pierre Le Galais durante alguns meses e depois passou a ser dirigido por Luiz Cerqueira. As atividades eram divididas em três grupos: 1.predominantemente motoras (ginástica, esportes em geral, trabalho agrícola e doméstico). 2. predominantemente sociais (festas, folclore, bandas, coral, ballet)

3. Predominantemente auto-expressivas (desenho pintura, escultura, gravura etc.).

Luiz Cerqueira destaca o pioneirismo de Nise Silveira que desde 1946 desenvolvia atividade importante na praxiterapia do Centro Psiquiátrico Nacional.

Uma Bibliografia Brasileira com vistas à reabilitação no Hospital Psiquiátrico, junto com as bibliografias organizadas por J. Caruso Madalena e Isaías Paim, foi o incentivo fundamental para que criássemos o Índice Bibliográfico Brasileiro de Psiquiatria, atualmente com 13 mil referências bibliográficas.

Oswaldo Santos apresentou conceitos de ambientoterapia e de psicodrama. Quilelli Correa apresentou estudo sobre o emprego da música na recreação. Esse trabalho encontrou novos interessados e hoje temos o Cancioneiro do IPUB, excelente trabalho no emprego da música na reabilitação dos enfermos.

A bibliografia registrada no IBBP é a seguinte:

1. Abuchaim, Jamil and Trachtenberg, Moisés. Significado maníaco Del "Wasamba" en la Circuncisión de niños Del Sudan Francês. Rev.De Psiquiat.Dinâmica. 1964; 4(set/dez.):299-305.

2. Albuquerque, Manoel A. et al. Psicoterapia de Grupo em Psicóticos: Relatório da Sociedade de Psicoterapia de Grupo de Porto Alegre. Rev.De Psiquiat.Dinâmica. 1964; 4(set/dez.):245-250.

3. Almeida Ramos, J. Sobre experiência em "anima nobili". Arq.CREMESP. 1964; 5:6.

4. Andrade, Oswald M. Anfetamismo, aspectos psiquiátricos e médico-legais. Rev.Bras.De Saúde Mental. 1964; 8(1):13-26.

5. Andrade, Oswald M. The Criminogenic Action of Cannabis (Marihuana) and Narcotics. Bull.Narc. 1964; 16:23.

6. Araico, José Renus. El factor econômico en la psicoterapia en Medicina Psicossomática. J.Bras.Psiquiat. 1964; 13(1):63-72.

7. Barbosa, B. J. Novos ensaios terapêuticos com a tioproperazina (RP 7843) em Psiquiatria. Rev. O Hospital. 1964; 66(4):195-207.

8. Bastos, Othon. Esboço de Comunidade Terapêutica em Unidade Psiquiátrica de um Hospital Universitário . Rev.Neurobiologia, Recife. 1964; 27(1):57-71.

9. Blay Neto, Bernardo. Conceito de Interpretação Grupal. Rev.De Psiquiat.Dinâmica. 1964; 4(set/dez.):88-95.

10. Blay Neto, Bernardo; Paiva, Luiz Miller de; Rosenhaus, Sophia R., and Silveira, N. de. Mecanismos de Avaliação da Cura em Psicoterapia de Grupo: Relatório da Sociedade Paulista de Psicoterapia e Psicologia de Grupo. Rev.De Psiquiat. Dinâmica. 1964; 4(jun/set/dez.):23-35.
Notes: Relatório da Sociedade Paulista de Psicoterapia e Psicologia de Grupo

11. Campos, J. S. O Tactaram em psiquiatria. Rev. O Hospital. 1964; 66(6):1363-1364.

12. Carmo, Célio A. Contribuições da reflexologia para o desenvolvimento da psiquiatria. Revista De Psiquiatria. 1964; 3(6):170-178.

13. Carpilovsky, José Carlos. Frustração,inveja e ódio de um Grupo Terapêutico. J.Bras.Psiquiat. 1964; 13(3):365-371.

14. Carvalho, Henrique M. Contribuição para o estudo das modernas terapêuticas biológicas nos estados depressivos. Tese,Livre-Docência-Fac.Med.USP. 1964; 1-142.

15. Cerqueira, Luiz. Da Praxiterapia à Comunidade Terapêutica. J.Bras.Psiquiat. 1964; 13(2):255-301.

16. Cerqueira, Luiz. Um serviço de ocupação terapêutica. J.Bras.Psiquiat. 1964; 13(2):161-203.

17. Cerqueira, Luiz. Uma Bibliografia Brasileira com vistas à uma reabilitação no hospital psiquiátrico. J.Bras.Psiquiat. 1964; 13(2):255-301.

18. Chuc, Wassily. Da Diagnose Clínica da Dementa Praecox. Livre-Docência,Tese-Escola De Medicina e Cirurgia,Rio De Janeiro. 1964.

19. Corrêa, Roberto A. Q. Atividade musical em Terapêutica Ocupacional. J.Bras.Psiquiat. 1964; 13(2):239-254.

20. Cremonesi, E. Contribuição para o estudo da neuroleptanalgesia tipo II. Docência,Tese-Fac.Med.USP. 1964.

21. Cunha Lopes, Ignácio da and Andrade, Oswald M. Anfetaminismo. Aspectos psiquiátricos e médicos legais. Rev.Bras.De Saúde Mental. 1964; 8(1):13-26.

22. D'Andréa, Flavio Fortes. Algumas considerações sôbre a terapêutica das relações Interpessoais. Rev.De Psiquiat.Dinâmica. 1964; 4(set/dez.):203-205.

23. D'Andréa, Flavio Fortes. O Ensino em pequenos grupos: um método reeducativo das relações interpessoais. Rev.De Psiquiat.Dinâmica. 1964; 4(set/dez.):206-213.

24. Davanzo, Hernan C. and Azoubel Neto, David. Aspectos relativos à localização como forma de comunicação não verbal num Grupo Terapêutico. J.Bras.Psiquiat. 1964; 13(3):331-338.

25. Fé, Nilson de Moura. A impregnação pela flufenazina em esquizofrênicos. A Folha Médica. 1964; 49(4):283-292.

26. Fortes, J. R. Albuquerque. Psilocibina e alcoolismo crônico: contribuição para o estudo dos efeitos somáticos e psíquicos em 30 casos. Tese,Livre-Docência-Fac.Med.USP. 1964; 1-134.

27. Fráguas Neto, J. Sôbre um caso de desdobramento da personalidade analisado com o auxilio da dietilamida do ácido lisérgico(LSD-25). Bol. Clin. Psiquiat. FMUSP . 1964; 3:97.

28. Freitas, E. Z. Emprego do cloridrato de flufenazina na tensão nervosa pré-parto. Rev. Gineco-Obst. S.P. 1964; 58:45.

29. Garcia, J. Alves. Síndromes neuro-endócrinas no climatério. Rev.Bras.De Medicina. 1964; 21(8).

30. Garcia, J. Alves; Madalena, J. Caruso; Luzitano, R. Ferreira, and Gangemi, Giovanni. Efeitos de um novo derivado fenotiazínico de ação prolongada (enantato de flufenazina). Revista De Psiquiatria. 1964; 3(6):146-158.
Notes: Idem O Hospital. 1965: 67 (1) 29-41 - Idem Rev. C.E. Galba Velloso (BH), 1970; 1(2);1-20

31. Garcia, J. Alves et al. Efeitos psicofarmacológicos de um nôvo derivado fenotiazínico de ação prolongada. Revista De Psiquiatria. 1964; 3:146.

32. Gonçalves, Jayme. Do asilo a comunidade terapêutica,contribuição para o estudo da terapêutica ocupacional em esquizofrênicos. Tese,Livre-Docência-Fac.Med.USP. 1964; 1-173.

33. Groisman, M. and Cançado, W. L. Sobre um caso de esquizofrenia catatônica tratada pela thiproperazina. J.Bras.Psiquiat. 1964; 13(4):509-512.

34. Guedes, Fernando. Aspectos do Funcionamento de um Grupo de Psicóticos . Rev. De Psiquiat. Dinâmica. 1964; 4(1):17-21.

35. Guedes, Fernando. Vicissitudes de um grupo em face da entrada de um Novo. Rev.De Psiquiat.Dinâmica. 1964; 4(set/dez.):136-139.

36. Hoirisch, Adolpho. Alguns aspectos do "chegar só". J.Bras.Psiquiat. 1964; 13(1):73-78.

37. Hoirisch, Adolpho and Levy, Maria C. A chegada do Nôvo Paciente,suas reações e às do grupo. Rev.De Psiquiat.Dinâmica. 1964; 4(set/dez.):140-146.

38. Hulak, S. Ensaio de aplicação clínica do R - 1625.(Haloperidol). Rev.Neurobiologia,Recife. 1964; 27:170.

39. Kemper, Kattrin. Mecanismos e Avaliação da Cura em Psicoterapia de Grupo. Relatório da Sociedade de Grupoterapia do Rio de Janeiro. Rev.De Psiquiat.Dinâmica. 1964; 4(jun/set/dez):19-22.
Notes: Relatório da Sociedade de Grupoterapia Analítica do rio de Janeiro

40. Kemper, Kattrin. Risos Espontâneos como expressão do contato emotivo. Rev.De Psiquiat.Dinâmica. 1964; 4(set/dez.):115-117.

41. Kemper, Werner. Encontros com Ernest Kretschmer. J.Bras.Psiquiat. 1964; 13(1):53-62.

42. Kemper, Werner.. O Paciente Silencia. Rev. De Psiquiat. Do CELG. 1964; 4(1):1-16.

43. LaPorta, Ernesto; Portella Nunes Filho, Eustachio, and Schneider, Galina. Psicoterapia de grupo em psicóticos. J.Bras.Psiquiat. 1964; 13(3):317-329.

44. LaPorta, Ernesto; Portella Nunes Filho, Eustachio, and Schneider, Galina. Psicoterapia de Grupo em Psicóticos: Relatório da Sociedade Brasileira de Psicoterapia de Grupo. Rev.De Psiquiat.Dinâmica. 1964; 4(set/dez.):234-238.

45. Leme Lopes, José. "Juliano Moreira". J.Bras.Psiquiat. 1964; 13(1):3-20.

46. Leme Lopes, José. Relação médico-paciente. J.Bras.Psiquiat. 1964; 13(4):495-507.

47. Lima, Oscar Rezende de. Sociogênese da Despersonalização - Estudo em Psicoterapia de Grupo. Rev.De Psiquiat.Dinâmica. 1964; 4(jun/set/dez.):265-266.

48. Loreto, Galdino. O aconselhamento psicológico como meio para a formação do estudante em psicologia e em psiquiatria. Rev. Neurobiologia, Recife. 1964; 27(3):221-231.

49. Lucena, José. Alguns dados complementares sobre as variações de Incidência das doenças mentais entre épocas cronológicamente afastadas. Rev. Neurobiologia, Recife. 1964; 27(4):283-304.

50. Lucena, José. Variações da incidência de doenças mentais entre épocas cronológicamente afastadas. Rev. Neurobiologia, Recife. 1964; 27(1):22-35.

51. Macedo, Gilberto de. O ensino da psicologia nas Faculdades de Medicina. Rev. Neurobiologia, Recife. 1964; 27(3):240-245.

52. Madalena, J. Caruso. Avaliação de um novo derivado benzoquinolizídico,o RO 4-6451 (tetrabenazina), na esquizofrenia. A Folha Médica. 1964; 48:263.

53. Madalena, J. Caruso. Neurodyslepic Therapy, Clinical Trials in Chronic Schizophrenia with a New Butyrophenone derivative: R-2498 (Trifluoperidol). Rev. O Hospital. 1964; 66:1207.

54. Madalena, J. Caruso. O tratamento da ansiedade neurótica por um novo derivado benzodiazepínico, o RO 4-8180. Revista De Psiquiatria. 1964; 5(20).

55. Madalena, J. Caruso. O tratamento dos estados depressivos. O emprêgo da tranilcipromina na quimioterapia antidepressiva. Rev.Bras.De Saúde Mental. 1964; 8:46-54.

56. Madalena, J. Caruso. Tratamento da ansiedade neurótica com um novo derivado benzodiazepínico. O Ro-4-8180. Revista De Psiquiatria. 1964; 3(5):20-24.

57. Martins, Clóvis. Psicose lisérgica: psicopatologia da percepção do espaço, da percepção do tempo e da despersonalização. Tese,Livre-Docência-Fac.Med.USP. 1964; 1-224.

58. Martins, Cyro. Contribuição ao estudo psicodinâmico da cura no grupo terapêutico. Rev.De Psiquiat.Dinâmica. 1964; 4(set/dez.):118-120.

59. Moura Fé, N. A impregnação pela flufenazina em esquizofrênicos. Fôlha Médica. 1964; 49:283.

60. Murad, J. E. A Psicofarmacologia abre novas esperanças no combate aos distúrbios mentais. Rev. Univ. M. Gerais. 1964; 12:197-225.

61. Oliveira, Walderedo I. Notas sobre a terminação da análise do grupo. J.Bras.Psiquiat. 1964; 13(1):21-52.

62. Pacheco e Silva Filho, A. C. LSD-25. Rev.AMB. 1964; 178-179.

63. Pacheco e Silva Filho, A. C.. Resposta ao colega. Rev.AMB. 1964; 10:178.

64. Paim, Isaías. Bibliografia brasileira de legislação e assistência aos doentes mentais. Revista De Psiquiatria. 1964; 3(6):240-257.

65. Paim, Isaías. Bibliografia Brasileira de psicologia forense. Revista De Psiquiatria. 1964; 3(5):88-116.

66. Paiva, Luiz Miller de and Koch, Adelaide. A importância do tipo da Observadora para a Catálise das vivências Edipianas. Rev.De Psiquiat.Dinâmica. 1964; 4(set/dez.):101-108.

67. Parente, G. A.; Cançado, W. L., and Groisman, M. Sôbre um caso de esquizofrenia catatônica tratado pelo thioproperazina. J.Bras.Psiquiat. 1964; 13(4):509-12.

68. Perestrello, Danilo. Freud e a Medicina. J.Bras.Psiquiat. 1964; 13(4):481-493.

69. Piccoli, Beatriz. A Cena Primária como núcleo central num grupo de meninos psicóticos. Rev.De Psiquiat.Dinâmica. 1964; 4(set/dez.):272-275.

70. Portella Nunes Filho, Eustachio; LaPorta, Ernesto, and Schneider, Galina. Psicoterapia de Grupo em Psicóticos. J. Bras. Psiquiat. 1964; 13(3):317-331.

71. Ribas, J. Carvalhal. As fronteiras da Demonologia e da Psiquiatria. Ed.Edigraf-1a Ed. 1964.

72. Rocha, Zaldo. Sobre os mecanismos de elaboração dos sonhos na infância. Rev. Neurobiologia, Recife. 1964; 27(1):42-56.

73. Rocha, Zaldo and Lins, Ivone. Sobre a relação entre dislexia e dominância lateral. Rev. Neurobiologia, Recife. 1964; 27(3):207-220.

74. Roithman, Moysés. Psicoterapia Analítica de Grupo com Adolescentes Delinquentes-relato do manejo técnico. Rev.De Psiquiat.Dinâmica. 1964; 4(set/dez):121-124.

75. Santos, Célia F. and D'Andrea, Flavio Fortes. Conflitos de Papéis em estudantes de enfermagem: Evidências numa experiência sócio-dinâmica. Rev.De Psiquiat.Dinâmica. 1964; 4(set/dez.):85-87.

76. Santos, Júlio G. and Santos, Myriam. Sôbre o desenvolvimento da Psicanálise de Grupo. Rev.De Psiquiat.Dinâmica. 1964; 4(set/dez.):166-173.

77. Santos, Oswaldo dos. Dramatização em psiquiatria. J.Bras.Psiquiat. 1964; 13(2):219-237.

78. Santos, Oswaldo dos. Uma Terapêutica Ocupacional de Grupo. J.Bras.Psiquiat. 1964; 21(2):205-218.

79. Saraiva, Paulo. Esquizofrenia Infantil. Minas Gerais,Ed.Soc.Pestalozzi De Belo Horizonte. 1964; 1-159.

80. Schreen, Hans I. Reunião Comunitária: Uma Experiência Terapêutica. Rev. De Psiquiat.Dinâmica . 1964; 4(1):22-27.

81. Sonenreich, Carol. Problemas de Psiquiatria. Capítulos Abertos. São Paulo, Edanee. 1964. 1964.

82. Souza, João Souza. O tactaram em psiquiatria. Rev. O Hospital. 1964; 66:1363.

83. Trachtenberg, Moisés. Circuncisión, un Ritual Maníaco de nuestra cultura. Rev.De Psiquiat.Dinâmica. 1964; 4(set/dez.):306-312.

84. Uchôa, Darcy M. and Rezze, Cecil J. Ansiedade esquizoparanóide,"splitting" e atuação psicótica num Grupo de Elite. Rev.De Psiquiat.Dinâmica. 1964; 4(set/dez.):158-165.

85. Vasco, José Barbosa. Emergência do líder no Grupo terapêutico. Rev.De Psiquiat.Dinâmica. 1964; 4(set/dez.):155-157.

86. Zembrod de Freitas, E. Emprêgo do cloridrato de flufenazina na tensão nervosa pré-parto. Rev.Ginec.Obstetric.,Rio De Janeiro. 1964; 58:45.

87. Zimmermann, David and Brum, Ronaldo M. Assistência em Grandes Grupos a psicóticos agudos. Rev.De Psiquiat.Dinâmica. 1964; 4(set/dez.):276-278.

88. Zimmermann, David; Cavalcanti, Odon; Medeiros, Álvaro, and Osório, Luiz Carlos. Reuniões de grupo de funcionários de um serviço de psicóticos agudos. Rev.De Psiquiat.Dinâmica. 1964; 4(jun/set/dez.):323-326.

Pelo simples exame dos títulos dos artigos publicados podemos avaliar a influência psicanalítica, seja em trabalhos sobre o emprego da psicanálise, seja na sua aplicação em grupoterapia. Os trabalhos psiquiátricos se concentravam na aplicação de novos medicamentos e na modernização do ambiente hospitalar. Não apareciam artigos críticos sobre a atuação da psiquiatria. E sobre seus referenciais teóricos. Nas publicações americanas surgiam artigos defensivos em face dos ataques contra a psiquiatria e seus praticantes. Nessa breve abordagem nos limitamos ao exame dos Archives of General Psychiatry que, no ano de 1964 estava no seu décimo volume. Antes de entrarmos nas questões ideológicas envolvendo Saúde Mental e Psiquiatria, vamos examinar um trabalho pioneiro de aplicação da informática em psiquiatria. Encontramos na página 220 um artigo pioneiro sobre o emprego da informática na montagem de um programa simulador de neurose. Trata-se do artigo de Keneth Mark Colby de Stanford Calif. “Experimental treatment of Neurotic Computer Program”. Hoje em dia, mesmo com todo progresso na área dos microcomputadores e de softwares, há muita resistência no emprego do computador na atividade clínica dos psiquiatras. Técnicas como a Terapia On-line, uso do computador no diagnóstico, uso da “medical computing” em geral, imaginem em 1964. Na verdade o trabalho havia sido apresentado no congresso da APA em 1963, seguido de um capítulo de livro no mesmo ano.

( Colby,K.M. “Comptuer Simulation of a Neurotic Process” in Computer Simulation of personality, Tomkins, S.S. and Messick, S. editors. New York, John Wiley & sons,1963).

No Editorial, Roy Grinker tenta prevenir os leitores e fazendo uma defesa prévia, escrevendo: “ Nossa mais poderosa ferramenta para o estudo da associação livre é a teoria da psicanálise. Dr. Colby está familiarizado com ela e a usa com maestria; e êle jamais cometeu o erro de se identificar com sua teoria; êle não se considera defensor da “verdadeira psicanálise”, como muitos o fazem hoje em dia. As críticas provêm de alguns psicanalistas que esqueceram o quanto Freud era criativo na sua pesquisa psicológica. O Jornal San Francisco Chronicle estampou em manchete; “ Computador imita conduta Humana. Ele atribue as críticas que se seguiram a pessoas imaginativas que temem que os computadores venham a tomar conta e dominar o mundo. O artigo em si é muito extenso para ser resumido aqui, mas em linhas gerais foi criado um programa que mimetiza uma personalidade neurótica e seria utilizado no treinamento de psicoterapeutas. A apresentação não é amigável como o windows de hoje em dia. A linguagem utilizada é o Balgol desenvolvido em Stanford e utiliza um mainframe da época. Exemplo:

System Output in Natural Language

Program ; Father is indiferent to me

Mother says father abandoned us

Father preferred sister

I avoid father

Sister admires father

I feel tense now

Therapist: You admire father

Program: No

I do not admire father

I admire al.

Mother ought not admire Al

Mother detest father

Na medida que o programa vai se expressando ele vai construindo um dicionário e o processo vai se tornando mais complexo, seleciona nomes, verbos etc.

Colby, na sua introdução se mostra muito cauteloso. Ele escreveu assim;”Eu gostaria de falar hoje sobre algo que pode ter pouco significado no atual momento, mas é muito novo para ter suas consequências avaliadas decisivamente. A simulação de psicoterapia por computador é, sem dúvida nova e agradeço a honra de discutí-la com vocês. Um modelo computacional é um tipo de teoria que tenta explicar uma classe de fenômeno observável dirigindo as relações entre entidades hipotéticas e processos. O modelo não imita o mundo real, mas apresenta nossas idéias a rspeito do mundo real”.

Um outro artigo polêmico foi “Critique of Views of Thomas Szasz on Legal Psychiatry” por Manfred S. Guttmacher (Archives Gen. Psychiatry, 1964, vol 10;3; 238-245).

Ele começa citando Alfred Auerbach ( AJP 120;105,1963. “ The Anti-Mental Health Movement”. “ Nos anos recentes, uma nova forma de ataque foi montada contra os movimentos de Saúde Mental que lembra os dias de caça das Feiticeiras de Salem. Em contraste com as críticas legítimas de deficiência ou metodológicas, elas atribuem intenções malignas aos programas de saúde mental em geral e a todos os envolvidos na área. Diretamente ou por suposições acusam as associações de saúde mental e grupos psiquiátricos de serem subversivos ou mesmo conspiradores. O refrão constante é que todos que participam de Programas de Saúde Mental são parte de uma quadrilha mafiosa, anti-americanos ou comunistas. Seriam agentes comunistas prontos a subverterem e conquistarem os EUA. Os grupos que fazem essas acusações, com exceção de alguns ingênuos, parecem na maioria indivíduos envolvidos em “atividades de direita” ao longo dos anos”.

Guttmacher evita chamar Szasz de direitista, observa, porém, que ele é muito festejado pela direita. A seguir cita as principais idéias de Szasz que irá discutir: 1) Não existe doença mental. 2) Todos os criminosos devem ser responsabilizados independente do seu estado mental. 3, As internações involuntárias devem ser abolidas. 4, O hospital psiquiátrico é uma forma de despotismo e que a democracia americana está se aproximando do paternalismo soviético.

5, O termo doença mental deveria ser substituído por “infelicidade pessoal e conduta desviante”. 6. A Psiquiatria é despótica. 7. compara o doente mental ao negro escravo. 7. Critica os esforços semânticos para transformar a opressão psiquiátrica em benevolência. 8. Palavras como paciente, hospital e tratamento, são transformadas em interno, prisão, asilo e punição.

Guttmacher responde a todas essas afirmativas de Szasz. Achei que seria de interesse geral simplesmente apresentá-las para comparar com certas afirmativas que até hoje fazem parte do arsenal de grupos que atacam a psiquiatria e os psiquiatras.

Selecionamos um artigo de Roy Grinker por apresentar de maneira eloqüente as incertezas que cercavam a Psiquiatria nos primórdios dos anos 60. O título já nos indica o rumo das concepções do autor. “Psychiatry Rides Madly in all Directions”. Archives of Gen. Psychiatry, vol.10; 3; 228; 237. O autor discute a idealização do papel do psiquiatra, visto por muitos com super pais. Diz ele que muitos clientes sofisticados se aproximam dos psiquiatras em busca de “identidade”, “certeza”, “liberdade”, logo se frustram e acusam os profissionais de charlatães. Os profissionais, por sua vez se sentem confusos no papel a ser desempenhado. Afirma que a psicanálise não se mostrou à resposta terapêutica esperada. E que, a grande revolução prometida pela psicossomática com seus conceitos de especificidade de etiologia psicológica das doenças degenerativas, sucumbiu à realidade da multicausalidade e das fases críticas do desenvolvimento. O autor discute ainda algumas definições da psiquiatria. A primeira dele mesmo: “Psiquiatria é uma especialidade médica que pode ser definida como uma prática médica ou ciência aplicada no tratamento e prevenção da doença ou transtornos da mente”. A seguir ele cita uma definição de Jules Masserman; “A psiquiatria pode ser definida e forma ampla como uma ciência que lida com fatores determinantes da conduta humana, suas variações e vicissitudes, métodos de suas análises e os meios que pode empregar para alinhar a conduta com a otimização dos objetivos pessoais e sociais”. As duas definições são vistas como ocorreram mudanças na psiquiatria que expandiu seus limites da medicina para o contexto bio-psico-social. A essas idéias contrapôs a definição de Rado que afirmava que a psiquiatria não passava de uma coleção heterogênea de ciências básicas sem uma estrutura básica. Passados dois mil anos, não se tinha avançado nada na relação mente-corpo.

O autor discute as fases por que passou a psiquiatria e que pode ser assim resumida. A humanização de Pinel e Tuke. A observação clínica e nosologia de Kraepelin. A ampliação da visão clínica por M.Bleuler. O uso do laboratório a partir de Alzheimer e Nissl. Seguidas no século XIX pelas concepções terapêuticas: Hipnose. Introspecção. Psicoterapia de Janet. Psicanálise por Freud. Psicodinâmica e algumas áreas limitadas a alguns autores como Pavlov e Piaget. Por fim descreve as alterações ocorridas depois da Segunda guerra mundial com o domínio da Psicanálise, o surgimento da Psiquiatria comunitária, a ambientoterapia e os hospitais abertos. Ele critica a facilidade com que os psiquiatras adotavam novidades vindas de outras áreas, como a Sociologia, a Antropologia e a Filosofia. Grinker defende que é fundamental a observação da conduta em vez de inferências a respeito de sentimentos. “Eu entendo que a aquisição e a validação por testes dos dados de conduta são o cerne da psiquiatria como ciência”. A conduta é o foco teórico central da pesquisa psiquiátrica “. Uma das linhas de pesquisa apresentadas pelo autor é a seguinte:” Observational and Descriptive Data Subjected to Quantitative Methods “. A discussão fugiria do nosso objetivo histórico, mas trabalhos como esse de Roy Grinker mostram um pioneirismo e seriam atuais nos dias de hoje”.


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