Volume 9 - 2004
Editor: Giovanni Torello

 

Junho de 2004 - Vol.9 - Nº 6

No Paiz dos Yankees

Um itinerário afetivo-fotográfico da psiquiatria em Baltimore

Dr. Erick Messias

A cidade de Baltimore, e o estado de Maryland, possuem alguns marcos da história da psiquiatria americana. Aqui trabalharam duas figuras fundadoras de tradições da psiquiatria dos EUA: Adolf Meyer e Harry Stack Sullivan. O primeiro foi o fundador do departamento de psiquiatria da Johns Hopkins, um dos pais do movimento de higiene mental, e defensor de uma `psiquiatria de bom senso', enquanto o segundo desenvolveu suas teorias de entrevista psiquiátrica e tratamento de esquizofrenia, nas enfermarias do hospital Sheppard Pratt. Nessa coluna atípica apresento algumas fotografias desses lugares onde trabalhei e estudei, que fiz nesse último mês no paiz dos yankees (perdoem a qualidade da foto, tive que diminuir a definicao para poucar espaco nos servidores).

No primeiro ano de residência fui selecionado para o Research Track, da residência de psiquiatria da universidade de Maryland. Os residentes selecionados para esse `track' possuem tempo reservado para pesquisa a partir do primeiro ano; assim, pelo meu interesse em epidemiologia psiquiátrica, fui trabalhar com o Brian Kirkpatrick, no Centro de Pesquisas Psiquiátricas de Maryland, o MPRC (Maryland Psychiatric Research Center). O diretor, e fundador, do MPRC é o William Carpenter, e nos anos em que trabalhei por lá tive oportunidade de conviver com figuras importantes na pesquisa em esquizofrenia, como a Carol Tamminga, Robert Buchanan, Robert Conley, e Gunnie Thaker.

Como o MPRC fica no campus do antigo hospital estadual Springfield, é possivel observar os requícios da era dos grandes hospitais asilares, no abandono do prédio original, que está fechado há anos, e na grama e no lodo que cobrem as antigas unidades de internação, que albergavam milhares de pacientes crônicos até a desinstitucionalização.

Ainda na residência de psiquiatria fiz dois anos de consultório no hospital Sheppard Pratt, um hospital privado, que está entre os dez melhores centros de saúde mental dos EUA, segundo a pesquisa anual da US News and World Report. Foi no Sheppard que Harry Stack Sullivan desenvolveu suas técnicas de entrevista e suas teorias sobre esquizofrenia que muito influenciaram a psiquiatria americana. O hospital fui fundado, com fins filantrópicos, com dinheiro doado por duas fortunas de Baltimore: Moses Sheppard e Enoch Pratt, influenciados por Dorothea Dix, que fui uma incansável batalhadora por um melhor tratamento para os `insanos' no século XIX.

No lado leste de Baltimore paira, gigantesco, o complexo médico da Universidade Johns Hopkins. Os três principais componentes são: a escola de saúde pública, a escola de medicina, e o hospital. Depois da residência na Universidade de Maryland, foi aceito para o mestrado e o doutorado na escola de saúde pública, e nesse último ano trabalhei como professor adjunto no departamento de psiquiatria.

A escola de saúde pública é a mais antiga, mais rica, e `melhor escola de saúde pública dos EUA', segundo a pesquisa a US News and World Report. Foi fundada com dinheiro da fundação Rockfeller, e possue uma longa tradição de pesquisa em saúde pública. No que se refere à psiquiatria, a escola de tem orgulho de ser a única dos EUA a possuir um departamento exclusivo de saúde mental, hoje chefiado pelo William Eaton - que foi meu orientador no doutorado. Um passeio pela escola mostra um pouco da sua história, com a fachada original na Wolfe Street, e a nova expansão, moderna, na Monument Street.

O departamento de psiquiatria, ligado ao hospital e à escola de medicina, também possue suas histórias. Quando Adolf Meyer foi convidado pela direção do hospital para fundar o departamento, no início do século XX, ele viajou pela Europa estudando a arquitetura utilizada nas principais instituições de saúde mental, e sob sua supervisão foi construido, em 1912, o prédio da Phipps Clinic - o nome vem de Henry Phipps, um magnata do aço que doou dinheiro para a criação do departamento de psiquiatria. A clínica de psiquiatria ali funcionaria até recentemente, quando o prédio foi ocupado pela administração, e o departamento se mudou para o prédio Meyer. A Phipps Clinic possue um agradável jardim interno, onde até hoje são reailzadas recepções do departamento.

Esses são alguns dos lugares onde se faz saúde mental aqui em Baltimore. Há uma rica diversidade de abordagens e direções em cada uma dessas instituições. No MPRC se faz pesquisa avançada sobre as origens, a psicopatologia e os tratamentos da esquizofrenia. No Sheppard Pratt há uma abordagem mais psicodinâmica, inclusive com um pavilhão totalmente destinado a pacientes particulares, para tratamento psicodinâmico hospitalar; na escola de saúde pública da Hopkins se faz pesquisa epidemiológica moderna, combinando técnicas estatísticas com estudos genéticos e de imagem; no departamento de psiquiatria há de tudo um pouco, com grupos específicos para estudo de Alzheimer, esquizofrenia, depressão, Transtorno Obsessivo Compulsivo, uma clínica só para Huntington, e transtorno bipolar. E com toda essa diversidade, posso dizer com um coração pesado de despedida, que Baltimore é uma excelente escolha para se aprender o fazer psiquiátrico.

Mais informações:

http://www.hopkinsmedicine.org/jhhpsychiatry/

http://www.jhsph.edu/Dept/MH/index.html

http://www.mprc.umaryland.edu/

http://www.sheppardpratt.org/

Classificação dos serviços de saúde mental

http://www.usnews.com/usnews/health/hosptl/rankings/specreppsyc.htm


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