Volume 9 - 2004
Editor: Giovanni Torello

 

Julho de 2004 - Vol.9 - Nº 7

France - Psy

Atualidades

Eliezer de Hollanda Cordeiro

Sumário:

  1. Filiações psicanalíticas( Eliezer de Hollanda Cordeiro)
  2. Tradução: depressão e distúrbios cognitivos (Daniel Widlöcher)
  3. Tradução: práticas e modelos teóricos em psiquiatria (J.J. Kress)
  4. Associações
  5. Calendário científico
  6. Seleção de sites
  7. Quem somos

 

1. FILIAÇÕES PSICANALÍTICAS

O problema da filiação dos psicanalistas deu lugar a debates acalorados entre alguns colegas que participam do fórum da Lista de Psychiatry on line. Assim, o próprio termo empregado para designar o percurso de um psicanalista e os vínculos que ele tem com uma sociedade científica foi alvo de discussões etimológicas e semânticas diversas. Eu mesmo falei de genealogia mas findei preferindo a palavra filiação, enquanto outros preferiram o uso do termo pedigree. Durante essa polêmica, achei importante tentar esclarecer a significação desses termos, percorrendo o campo semântico de cada um, afim de melhor precisá-los.

Genealogia, diz o dicionário francês LE ROBERT, é uma sequência de antepassados que estabelece uma filiação. Podemos assim estabelecer a genealogia de um indivíduo, de uma família, e mesmo sua árvore genealógica, que aliás certos psicoterapeutas utilizam como método de ajuda e compreensão de pacientes.Contudo, o inconveniente do termo genealogia é que ele é muito vasto, podendo evocar outros conceitos : ascendência, descendência, família, filiação, linhagem, raça. Assim, podemos falar de genealogia a propósito de um animal de raça. Ajuntemos que o termo genealogia tem um segundo sentido: o da ciência cujo objeto é a pesquisa das filiações , por exemplo psicanalíticas.

Quanto ao termo pedigree, que alguns preferem às palavras genealogia ou filiação, o dicionário LE ROBERT nos diz que se trata de uma palavra inglesa derivada do francês antigo pied de grue, pé de grua, uma ave pernalta. O dicionário precisa que pedigree ( que se refere ao fato de que a pata da grua deixa uma marca de tres traços) é  « o estabelecimento do livro genealógico de um animal de pura raça ». Por conseguinte, esse termo não é apropriado quando falamos de genealogia humana.

Por conseguinte, examinados os conceitos de genealogia e de pedigree, preferimos empregar o de filiação, que comporta várias significações, segundo LE ROBERT. Retenho apenas duas : « Laço de parentesco unindo a criança ao seu pai ou a sua mãe »( filiação paternal e maternal ) ; o segundo sentido é o de ligação, de junção, de vinculação, que encontramos no francês liaison e no inglês link. Dessa forma, quando falo de minha filiação a uma sociedade de psicanálise freudiana, quero indicar meus vínculos com essa sociedade, salientar os analistas que tive, nomear os supervisores que guiaram minhas primeiras análises de adultos e crianças, lembrar que meu percurso psicanalítico inscreve-se na trajetória de um movimento fundado por Freud e cuja filiação é representada pela Associação Psicanalítica Internacional.

Lembro-me que Wladimir Granoff - psicanalista francês da APF, hoje desaparecido e que desempenhou um papel relevante na História do movimento psicanalítico na França - escreveu um livro intitulado Filiations, no qual ele examina essa questão do ponto de vista psicanalítico. Mas no livro o problema da filiação psicanalítica foi abordado de maneira muito particular, curiosa, o autor estabelecendo critérios que deveriam permitir de afirmar, com certeza, quem não era freudiano, entenda-se analista como ele mesmo se considerava , se representava ... Será que ele reconhecia os outros analistas não freudianos como analistas ? Em todo o caso, uma tal postura intelectual aparenta-se a uma posição ideológica, que, infelizmente, muitos analistas adotam. O dogmatismo de tais posições deve ser criticado. Um exemplo pessoal :conhecí um psicanalista num congresso organizado por uma das múltiplas dissidências da escola criada por Lacan. Num dado momento, começamos a trocar idéias sobre a psicanálise. Ao entender minhas posições , ele perguntou-me duas ou tres coisas sobre Lacan. Diante de minhas respostas, decretou que eu não era analista, numa tentativa manifesta de disqualificar minha formação, minha prática, minha filiação a uma outra corrente.

Lembrei-me então de Kierkgaard, cuja obra foi em grande parte dirigida contra Hegel e o sistema que ele forjou, pensei em Marx e no materialismo histórico, que daria origem ao leninismo e ao Estado comunista. Pensei nas palavras de George Lanteri-Laura : Se a psicanálise se apresenta como uma concepção geral do homem, uma antropologia, a psiquiatria só pode perder nas relações que estabelecer com a mesma. Evoquei a comparação feita por analistas muito lúcidos entre a teoria psicanalítica e a paranóia, onde o pensamento é, precisamente, sistematizado. Enfim, lembrei-me das palavras de André Gide: acreditemos naqueles que dizem buscar a verdade, desconfiemos daqueles que afirmam tê-la encontrado.

Assim , o que significa ser membro, sócio de uma sociedade de psiquiatria, de psicanálise, de psicologia ? Quais os motivos, as razões inconscientes, os interesses que determinam nossas escolhas por tal doutrina psicanalítica , por tal corrente psiquiátrica, por tal grupo ou sociedade científica , por tal partido político ? Donde tiramos nossa opinião, como forjamos nossa convicção, como se formam as crenças de uma pessoa, crenças que podem conduzir a engajamentos sem reservas, a posições ideológicas ? Mais ainda, a psicanálise é suficiente para explicar esses problemas ou seria necessário recorrermos às outras ciências humanas : psicologia social e sociologia, por exemplo ? De fato, essas ciências estudam igualmente fenômenos como nosso conformismo com relação aos grupos, a maneira como nossas escolhas são influenciadas pela moda ( em psicanálise, a escolha de pertencer a um grupo psicanalítico é muitoas vezes determinada pela moda do momento), etc.

Tais questões restam abertas, mas ajuntemos somente que a psicanálise deve manter e desenvolver o diálogo não somente com as ciências humanas mas também com as disciplinas que constituem o vasto campo das ciências cognitivas.

Recife, 14 de Julho de 2004

Eliezer de Hollanda Cordeiro

2. DEPRESSÃO E DISTÚRBIOS COGNITIVOS

Uma comunicação de Daniel Widlöcher * durante um colóquio sobre as relações entre distúrbios cognitivos e depressão.

D.W. situou o debate em torno da definição dos distúrbios cognitivos. Ele fez várias advertências.

Primeiro, deve-se distinguir dois registros, o do humor e o dos distúrbios intelectuais. O humor é uma noção vaga e de conteúdo muito difícil de ser precisado embora o humor depressivo seja um sofrimento que se comunica facilmente, muitas vezes o primeiro sintoma que chama a atenção do psiquiatra. O enfoque cognitivo, por sua vez, resulta de uma atitude bem diferente, consistindo em analisar os fenômenos em um outro nível, o das funções intelectuais.

Não se deve confundir também o enfoque cognitivo e a terapia cognitiva. As terapias cognitivas progridem numa sorte de dinâmica das crenças, e as crenças devem ser situadas no quadro dos chamados mecanismos complexos. Os enfoques cognitivistas situam-se no quadro dos mecanismos elementares, que são operações nem sempre aparentes na clínica, donde a necessidade de utilizar certas técnicas experimentais para colocá-las em evidência. Estas operações mentais resultam de mecanismos inconscientes, que D.W. considera como sendo produzidos por geradores cerebrais que , no caso da depressão, estariam na origem dos distúrbios psicopatológicos.

D.W. opõe o que funciona na ordem dos fenômenos complexos como as psicoterapias, e as operações elementares que são produzidas por geradores cerebrais, accessíveis às terapêuticas medicamentosas. As psicoterapias tratam as crenças, o tratamento médico trata os geradores cerebrais. Notemos que a atividade intelectual dos deprimidos é ela mesma dependente desses elementos psíquicos que são o sofrimento, a inibição e a lentidão. Dito de outra maneira, a atividade intelectual é dependente do bom funcionamento das operações mentais elementares.

Sobre o problema do mecanismo das operações mentais elementares, D.W. diz que ele resta inteiro e pergunta se essas operações são dependentes de um único mecanismo, ou de mecanismos múltiplos.

Enfim, D.W. propõe a clarificação entre os dois tipos de sofrimento psíquico: o que não se acompanha de uma alteração das operações mentais elementares e o que se acompanha de tais alterações. As conseqüências são importantes: as psicoterapias se destinariam ao sofrimento psíquico sem alteração das funções mentais elementares, enquanto os tratamentos medicamentosos seriam utilizados no sofrimento dependendo de uma alteração dessas operações.

* Daniel Widlöcher : « Dépression et troubles cognitifs »,n. 8 , Paris, 1997

3. TRADUÇÃO :PRÁTICAS E MODELOS TEÓRICOS EM PSIQUIATRIA

Act.Méd.Int. Psychiatrie n.6, Juin 1999 Par J.J. Kress

EPISTEMOLOGIA (relações entre a psicanálise e a psiquiatria)

G. Lantéri-Laura colocou uma questão de grande importância : « Será que a psiquiatria tira benefícios de sua relação com a psicanálise ou ela paga o preço ? Ele mostrou que a resposta depende da relação que a teoria pretende ter com a verdade. Se a psicanálise se apresenta como uma concepção geral do homem, uma antropologia, a psiquiatria sai perdendo ; se a psicanálise se apresenta como um ponto de vista relativo, levando em conta a variedade epistemológica, a psiquiatria vai tirar benefícios, mas correrá o risco da falta de nitidêz própria ao ecletismo.

Um exemplo permite de definir de maneira mais precisa nosso propósito : o da questão do sujeito e de sua evacuação pela psiquatria avaliadora. A psiquiatria sozinha não possui uma teoria do sujeito, embora a parte da psiquiatria que se refere à psicanálise defenda a necessidade de prestar-se atenção ao sujeito. Contudo, essa corrente da psiquiatria psicanalitica tem as vezes tendência a tomar como refém a outra parte da psiquiatria que se refere às neurociências. E necessário notarmos que a psicanálise pode ficar perturbada diante da diversidade da teorização do sujeito em função das correntes psicanalíticas.

No meu entender, tres pontos especificam essa atenção para com o sujeito : a singularidade, a história e o sofrimento. Com a psicanálise, esses tres aspectos relativos ao sujeito são especificados pelo inconsciente e a transferência.

Contudo, não se pode dizer que a medicina em sua totalidade não se preocupe com o sujeito. Ela se preocupa , naturalmente, porém no sentido da ética médica do tratamento e não a partir da reflexão epistemológica feita pela parte da psiquiatria que se refere à psicanálise.

A propósito da relação do psiquiatra com as teorias, Paul Ricœur colocou o acento no caráter metafórico dos conceitos da psicanálise e no estatuto linguajar da teoria, insistindo sobre o fato de que a prova não era obtida pela verificação mas por critérios cumulativos, cuja convergência torna as hipóteses plausíveis, prováveis convincentes. Num trabalho paralelo sobre as relações subjetivas do psiquiatra com as teorias, J.J. Kress tentou mostrar que a relação às teorias e aos modelos em psiquiatria não se desenvolve longe de nós, num céu estrelado das idéias, ao contrário, nós somos implicados nesse processo através nossos intinerários de formação, nossas escolhas, nosso estilo de atividade , nossas decisões terapêuticas. . .

4. CALENDÁRIO CIENTÍFICO

LA LETTRE DE PSYCHIATRIE FRANÇAISE propõe as seguintes reuniões:

SEPTEMBRE 2004

À AGEN: du 8 au 10: L'Association Française de Criminologie organise son XXXIV Congrès sur Responsables, coupables, punis?

Renseignements: AFC, P. Pélissier, 19 rue Ginoux, 75015 Paris-

Tél: 01 42 63 45 04 E. Mail: [email protected]

À DOUAI:, le 23: L'Utilité de Soin(cuidados)et d'information sur les Drogues de Douai organise ses 7es Rencontres sur Addictions er Créations.

Renseignements: USID, 91 rue M. Wagon, 59500 Douai. E.mail: [email protected]

5. SITES

Psiquiatria

ABSTRAC PSYCHIATRIE : www.impact-medecin.fr

ASSOCIATION FRANÇAISE DES PSYCHIATRES D'EXERCICE PRIVE:www.afpep-snpp.org

LA REVUE FRANÇAISE DE PSYCHIATRIE ET DE PSYCHOLOGIE MEDICALE : www.mfgroupe.com

L'ENCEPHALE:WWW.ENCEPHALE.ORG

LES ACTUALITES EN PSYCHIATRIE: www.vivactis-media.com

NEUROPSY : WWW.NEUROPSY.FR

NERVURE : REDACTION: HOPITAL SAINTE-ANNE, 1 RUE CABANIS, 75014 PARIS. TÉLÉPHONE: 01 45 65 83 09 FAX. 01 45 65 87 40

NEURONALE: (REVISTA DE NEUROLOGIA DO COMPORTAMENTO): [email protected]

PSN :(PSYCHIATRIE, SCIENCES HUMAINES, NEUROSCIENCES) : rue de la convention, 75015 paris. fax: 0156566566

PSYCHIATRIE FRANÇAISE :[email protected]

PSYDOC-BROCA.INSERM.FR/CYBERSESSIONS/CYBER.HTML

SYNAPSE : [email protected]

ETNOPSIQUIATRIA : www.ethnopsychiatrie.net

PEDO-PSIQUIATRIA

Associação HyperSupers http://membres.lycos.fr/hyperactivite/

Guia para pais de crianças hiperativas http://www.planete.qc.ca/sante/elaine/

Sevicias em crianças http://www.med.univ-rennes1.fr/etud/medecine legale/sevices.htm

Abuso sexual : sites francophones http://www.chu-rouen.fr/ssf/anthrop/abussexuel.html

PSICANÁLISE

www.carnetpsy.com

SITES diversos

www.doctissimo.fr

Bulletin de L'ordre des Medecins: www.conseil-national.medecin.fr

SITES TEMÁTICOS

Ansiedade

Mediagora:http://perso.wanadoo.fr/christine.couderc/

Agoraphobie.com:http://www.agoraphobie.com/

Sitesfrancophones:http://www.churouen.fr/ssf/pathol/etatanxiete.html

Depressão

Distúrbios do humor(afetivos) : www.dépression.ch

Estados limites em psiquiatria: tratamento (D. Marcelli): Suicídio Escuta - 24/24 http://suicide.ecoute.free.fr

Informações sobre o suicídio e as situações de crise: http://www.suicideinfo.org/french

Centro de Prevenção do suicídio: http://www.preventionsuicide.be

Associaçao Alta ao Suicídio: http://www.stopsuicide.ch

Suicídio : http://www.chu-rouen.fr/ssf/anthrop/suicide.html

Toxicomanias e Drogas

Drogas : http://www.drogues.gouv.fr/fr/index.html

S.O.S. RÉSEAUX : http://www.sosreseaux.com/

IREB - Instituto de pesquisas científicas sobre as bebidas: http://www.ireb.com/

ADDICA : Addictions Précarité Champagne Ardenne : http://www.addica.org/

INTERNET ADDICTION : conceito de dependência à Internete: http://www.psyweb.net/addiction.htm

Estupefiantes e conduta automobilística; as proposições da SFTA: http://www.sfta.org/commissions/
stupefiantsetconduite.htm

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