Volume 8 - 2003
Editor: Giovanni Torello

 

Dezembro de 2003 - Vol.8 - Nº 12

France - Psy

Atualidade

Eliezer de Hollanda Cordeiro

Qui sommes-nous

France-Psy est le nouvel espace virtuel de “Psychiatry on Line” offert aux internautes et aux professionnels du secteur de santé mentale au Brésil.Notre but est de rendre plus aisé, l'accès à certaines publications en langue française concernant la psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse.

Dans ce numéro, nous reviendrons sur la polémique à propos du statut de psychothérapeute; nous parlerons du rôle de l'argent dans la pratique psychanalytique; nous rapporterons une expérience inédite dans la lutte contre la violence et rendrons hommage à une psychanalyste brésilienne, aujourd'hui disparue. Pour finir, nous proposerons une sélection d'adresses de sites “psy” et les dates de quelques congrès scientifiques qui auront lieu en France lors des prochains mois.

Quem somos

FRANCE-PSY é o novo espaço virtual de “Psychiatry On Line” dedicado aos internautas e aos profissionais do setor da saúde mental no Brasil. Nosso objetivo é de facilitar o acesso a certas publicações em língua francesa concernando a psiquiatria, a psicologia e a psicanálise.

Neste número, voltaremos a abordar a polêmica sobre o estatuto de psicoterapeuta; falaremos do papel do dinheiro na prática psicanalítica; citaremos uma experiência inédita de luta contra a violência e homenagearemos uma psicanalista brasileira, desaparecida há alguns anos. Para terminar, proporemos uma seleção de endereços de sites “psi”e as datas de alguns congressos científicos previstos para os próximos meses na França.

ATUALIDADE

UM ESTATUTO PARA OS PSICOTERAPEUTAS

Como dissemos na edição precedente, a Assembléia Nacional da França aprovou, em 8 de Outubro deste ano, o projeto de lei instituindo um diploma de psicoterapeuta homologado pelo Estado.

Como era de se esperar, o projeto do Deputado Bernard Accoyer, que deve ser ainda ratificado pelo Senado en Janeiro 2004, está dividindo o mundo dos “psi” e suscitando polêmicas consideráveis.Assim, num programa transmitido por uma cadeia de televisão do serviço público, um psicanalista muito conhecido e um jornalista insultaram-se ferozmente , o segundo dizendo ao primeiro, que sua oposição ao projeto decorria do medo “de uma vassourada na sociedade que ele dirige”! Nessa luta terrível, os gladiadores agarram-se às suas convicções, crenças e preconceitos, poucos parecendo atentos aos argumentos de seus interlocutores.

Naturalmente, as mídias francesas entraram em cena, artigos foram escritos pelos jornais “Le Monde” e “Libération” , duas reportagens sairam na revista “L'Express”, enquanto “France- Culture” e “France Inter”, rádios do serviço público, consagraram programas sobre o assunto.

Argumentos não faltama aos que aprovam o projeto: “é necessário acabar com o caos psicoterápico atual”;devemos “impedir que seitas religiosas utilizem a cobertura psicoterápica para influenciar pessoas vulneráveis”; “em nome do interesse dos pacientes, os psicoterapeutas devem possuir uma formação e uma experiência em psicopatologia”, etc.

Os adversários do projeto,por sua vez, argumentam “que é impossivel fazer uma avaliação da psicanálise como se faz em medicina” ; eles denunciam a confusão que o projeto faz entre sofrimento psíquico e distúrbio mental : “a tristeza ligada à perda de um próximo, o luto que decorre dessa perda, problemas entre pais e filhos são situações diferentes de um distúrbio mental.».Outros adversários do projeto, receiam, que as pessoas que se ocupam de sofrimentos psíquicos sejam obrigadas a trabalhar sob a responsabilidade dos psiquiatras.

Donde a pergunta: quais as razões de um debate tão acalorado? O Jornal “Le Monde nos dá uma primeira pista: " O jogo é importante num país onde cerca de 25 % da população beneficiou pelo menos uma vez , em 2000, do reembolso de uma receita de psicotrópico”.Sem esquecermos as milhões de consultas psicoterápicas anuais pagas pela Segurança social ou pelos próprios pacientes.

Força é de constatar os enormes interesses materiais, ideológicos e políticos existentes no imenso mercado das ofertas de ajuda psicológica, de tratamentos e de conselhos .

A propósito da importância do dinheiro em psicanálise, do papel que ele desempenha ao longo da cura analítica, lembrei-me de uma artigo publicado pela revista “Critique” e que me pareceu útil à demonstração dessa problemática .

UM ARTIGO, DOIS AUTORES

Economia e mercado da psicanálise na França

Este artigo foi publicado na revista “Critique”, Tomo XXXI, N° 333, em Fevereiro de 1975, com o título :"Economie et marché de la psychanalyse en France". Seus autores: Antoine Compagnon (economista) e Michel Schneider (psicanalista, de quem falei na coluna "France-Psi" de Novembro último).

Antoine Compagnon e Michel Schneider formulam uma questão essencial sobre as relações do psicanalista ao dinheiro (e que me parece válida para as psicoterapias em geral, sobretudo as que se inspiram da psicanálise): "O que é que o analista como tal não pode interpretar?" Eles escrevem: "A resposta seria a situação de classe, o lugar nas relações de produção, e na divisão social do trabalho daquele que é pago para interpretar".

Eles dão dois exemplos precisos: "o fim da análise, onde o desejo e sua interpretação são ratificados, confirmados por um pagamento em dinheiro, único elemento que permite de qualificar um momento como fim; e o acesso à posição de analista, onde aquele que escuta há tanto tempo se reconhece analista quando começa a ser pago para isso". Os autores ajuntam(...): “Os psicanalistas nunca levam em conta , as condições sociais e econômicas do estatuto analitíco, base objetiva onde vão se desenvolver as formas ideológicas da consciência analítica”.

Eles precisam suas intenções: (...)Nosso projeto é político, e nós somos conscientes de seus limites”. Contudo, “ seria oportuno estudar todo o aparelho da saúde mental na França afim que nossos propósitos não sejam suscetiveis de confortar as criticas reacionárias sobre a psicanálise”.

No capítulo intitulado : “L”Economie dans la cure”, os autores são perfeitamente conscientes de que abordar o problema do dinheiro na cura é falar de outra coisa, significa também outra coisa. Mas ajuntam, imediatamente: “quando se fala de dinheiro na cura, é de dinheiro que se fala”. E, após denunciarem o silêncio dos analistas sobre este assunto, eles tentam uma avaliação do custo de uma cura psicanalítica.

Com efeito, (...)“A cura é um desejo que se paga, e o paciente vai consagrar-lhe uma fração substancial de sua renda ou de seu patrimônio.E, se isto não bastar, ele partirá em busca de um trabalho suplementar, donde resultarão incidências múltiplas e diretas sobre seus horários, seus impostos, seu rendimento social, a menos que ele financie seu tratamento de outra forma ( pelos pais, parentes, herança,fortuna ou renda)”.

Neste trabalho preciso e muito bem argumentado, rigor conceitual e inquérito sociológico sustentam o desenvolvimento dos autores sobre o papel da instância econômica no processo da cura. Eles notam: “(...)Quando alguém se instala como analista, toma uma posição no mercado, trata-se de uma escolha econômica e essa escolha implica um capital. Este é composto de despesas imediatas ligadas à sua instalação profissional, mas também de despesas de qualificação analítica anteriores ou posteriores ao início de sua prática.Torna-se necessário que o analista calcule os diferentes custos para ter uma idéia do capital engajado, cuja soma vai induzir um comportamento de amortização que o prático não pode neglicenciar no decurso de sua carreira”.

Em seguida, eles examinam, de maneira minuciosa, os custos de instalação de um psicanalista: a locação ou a compra de um apartamento,as despesas mobiliárias, a compra de livros, os custos ligados à formação ,à análise pessoal e às supervisões ou controles, (que representam os gastos mais importantes). Assim, eles calcularam a soma total das despesas engajadas por um psicanalista instalando-se em Paris nos anos de 1975, incluindo a amortização das mesmas em trinta anos!

Em suma, “os analistas não escapam aos mecanismos reinantes no funcionamento econômico das profissões liberais e dos empreendedores , por conseguinte aos efeitos decorrentes deste funcionamento”

Por fim, Compagnon e Schneider abordam os “Aspectos Macro-Econômicos da produção e do consumo analíticos”, estudando “a oferta e a demanda de psicanálise ,e sua inscrição como valor mercantil”.

Meus comentários: mais dificil me parece o cálculo do que a análise pode dar ao paciente em termos de maior rendimento social, de melhor inserção no trabalho, de diminuição do uso de medicamentos, de maior capacidade de criação, etc. Assim, não é somente nos Estados Unidos que os aspectos adaptativos aparecem como efeitos ou objetivos da cura ...

Outra coisa, quando observamos o mercado psicanalítico na França, força é de constatar que, com exceção daqueles que têm um renome indiscutível, muitos analistas sofrem da angústia do divã vazio.A explicação é simples: a oferta e a demanda de psicanálise cresceram enormemente a partir de 1950, mas, de uns anos para cá, a demanda diminuiu, entre outras razões, por causa da crise econômica. Assim, parte da clientela psicanalitica tradicional preferiu consultar os psiquiatras-psicoterapeutas, cujas consultações são, total ou parcialmente, reembolsadas pela Sécurité Sociale. Os psicológos-psicanalistas foram as primeiras vítimas dessas mudanças de atitude da parte dos “consumidores”.

Mais ainda, os analistas estão sofrendo a concorrência severa de outras formas psicoterápicas( psicoterapias breves, comportamentais, cognitivas, sistêmicas...), das terapias biológicas e da ofensiva das neuro-ciências. Sem esquecermos, naturalmente, o projeto de lei visando atribuir um diploma de psicoterapeuta que vai perturbar muitos analistas cujas formações não correspondem às exigências definidas pelo Estado.

Período de transição, crise passageira? Em todo o caso, os problemas atuais interpelam os psicanalistas e conduzem-nos a engajar os debates que percebemos atualmente na França.

SOCIEDADE

Violência: uma experiência francesa

A revista “L'Express” de 4/12/03 resume muito bem a experiência que está sendo feita na França : “o uso da leitura em prisões e colégios para combater a delinquência (...) canalizar os comportamentos violentos. Trata-se de um iniciativa do escritor Alexandre Jardin, intitulada “Relais civique” (Retransmissão cívica).

“A filosofia desse projeto é fundada no adágio: quando as palavras cessam a violência começa”, explicou Pascal Guénée, presidente da associação. Para apoiar essa idéia, ele disse que “juizes de menores notaram que a maioria desses jovens não compreendem os discursos dos adultos”. “Essa operação, batizada das “1000 palavras”, foi ensaiada durante dois anos na prisão de Villepinte (Seine Saint-Denis): 17 detentos de 15 a 17 anos leram Os Três Mosqueteiros em companhia de um adulto. Quando encontrava uma palavra desconhecida ,o grupo de leitura fazia uma pausa, procurava a definição da palavra ignorada e escrevia a mesma em um repertório de recitação para a sessão seguinte”.

“Esses jovens têm um vocabulário de 200 ou 300 palavras no máximo”, explicou Yves Sultan, professor na prisão de Villepinte. Esses grupos de leitura vão permitir-lhes de enriquecer o vocabulário e, sobretudo, de exprimir suas emoções com palavras. Então, poderemos começar a desarmar os mecanismos da violência”, concluiu o professor.

“Os ministérios da Justiça e da Educação esperam que essa experiência dê bons resultados,donde a idéia de estender o dispositivo experimental em outras prisões, em estabelecimentos de Proteção judiciária da juventude e em colégios.

“Uma editora fornece o material literário e escolar. Na cidade de Lens, os colegiais relecionados já escolheram os livros que irão ler :Robinson Crusoé, Un sac de billes , Le Journal d'Anne Franck e... Harry Potter.”

Qual será o balanço final dessa experiência? O futuro nos dirá.

HOMENAGEM

Elza Ribeiro Hawelka, uma brasileira em Paris

Alguma semanas após a morte de Elza Ribeiro Hawelka, recebí dois documentos que me foram enviados pela sua família: no primeiro, D.Elza estende-se sobre a sua biografia, revelando-nos aspectos de sua história que ignorávamos; no segundo, ela analisa a obra de Pierre Janet, detendo-se especialmente no seu famoso “Automatismo psicológico” e nas relações complexas que existiram entre Freud e Janet.

O artigo de D. Elza foi uma contribuição ao Grupo de Trabalho que tinha se constituido em Paris com a finalidade de promover uma nova edição das obras completas do grande autor francês.

Em suas notas autobiográficas, percebemos ao mesmo tempo alguns traços significativos da personalidade de D. Elza (exigência intelectual, perseverança, minúcia, abertura de espírito, fidelidade às suas origens brasileiras...), e seus centros de interesse,sua paixão pela língua portuguesa e varais linguas estrangeiras, seus dons de tradutora, seu engajamento psicanalítico e o valor que atribuia ao ensino e à transmissao do conhecimento das disciplinas que orientaram sua carreira profissional.

Essas qualidades fizeram de Dona Elza, uma das figuras importantes da História recente da psicanálise brasileira, embora ele seja pouco conhecida em sua pátria. Uma injustiça que pretendemos reparar, pois não somente ela analisou vários psiquiatras e psicólogos exercendo atualmente no Brasil, mas também foi a tradutora de obras psicanalíticas e literárias importantes.

Ela nasceu em Piraju, no Estado de São Paulo, em 1910, e faleceu há cerca de 15 anos, na Itália, por ocasião de uma de suas inúmeras estadias nesse país . Tendo feito seus estudos primários em sua cidade natal, prosseguiu os estudos secundários no Colégio Nossa Senhora de Sion, no Rio de Janeiro, “onde o ensino era feito por professores preparados segundo a tradição francesa”, escreveu em sua auto-biografia. Desde 1934, após a morte do pai, oorientou-se para o professorado, ensinando a língua francesa em instituições privadas durante mais de dez anos.

Em 1945, a Embaixada da França e o Ministério da Educação do Brasil organizaram um curso destinado ao aperfeiçoamento dos professores brasileiros de francês. Este curso de três anos foi ministrado por universitários franceses sob a direção do Senhor Pierre Hawelka, professor de gramática e futuro esposo de Dona Elza . Pouco depois, ela foi convidada a fundar, na Aliança Francesa, um curso de português para franceses, continuando ao mesmo tempo a ensinar inglês no Instituto dos Estados Unidos.

Em 1951, o Professor Pierre Hawelka foi convidado para ensinar na Faculdade de Filosofia, Ciências e Lêtras da Universidade de São Paulo. Um ano depois,

Dona Elza começou uma psicanálise (salvo engano, com Durval Marcondes), cujo “sucesso explica sua decisão de tornar-se analista”. Para tanto, inscreveu-se na Faculdade de Filosofia, Ciências e Lêtras e começou a seguir os cursos da Sociedade de Psicanálise de São Paulo. Obteve a licença de filosofia em 1956, após 4 anos de estudos e um estágio em Psicologia Patológica e Psicologia Clínica.

Anos depois, começou uma formação didática e iniciou sua carreira de tradutora , traduzindo o romance da “Comédia Humana” de Balzac, “O ilustre Gaudissart”. Ao mesmo tempo fez traduções de publicações científicas inglêsas e francêsas para editores do Rio e de São Paulo. Mais ainda, Dona Elza foi encarregada da revisão gramatical e estilística de publicações científicas traduzidas do alemão. E, na Faculdade de São Paulo, onde os alunos deviam estudar em livros escritos em inglês, francês e espanhol, ela traduziu, para a Cadeira de Psicologia, capítulos de livros nestas línguas, afim de torná-los accessiveis a muitos estudantes. Ela escreveu “ter se dado conta da grande penúria onde se encontrava o Brasil no tocante à uma terminologia técnica adequada nos domínios em que trabalhou”.

Em 1957, Pierre Hawelka foi nomeado para o Instituto Hispânico da Universidade de Paris, sua esposa continuando sua análise didática com um professor da Sociedade Francesa de Psicanálise. Ela tornou-se assistente do Professor Daniel Lagache, catedrático da cadeira de Psicologia, na Sorbonne.

Paralelamente às suas atividades pedagógicas e à sua formação psicanalítica pessoal, D.Elza continuou a manifestar um interesse particular pela língua portuguêsa, a“Flor do Latim” , como costumava dizer. Em suas memórias, escreveu que, “Embora rica, flexivel e muitíssimo receptiva, acolhendo o neologismo sem timidêz nem excesso, o português ainda não era suficientemente cultivado de maneira a mostrar todas as suas possibilidades como meio de expressão de uma civilização dinâmica. Na minha esfera limitada, aproveitei todas as possibilidades que me foram oferecidas para agir nesse sentido”.

Seu grande interesse pela lexicologia levou-a a encontrar, desde o inicio de 1960, Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira. Assim, em seu prefácio à décima edição do “Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa”, Aurélio Buarque agradece, (pg.XVII), entre muitos outros colaboradores, Dona Elza Hawelka e seu esposo, Pierre Hawelka, por suas contribuições à edição do famoso livro. Aurélio Buarque encontrou várias vezes,em Paris, o casal Hawelka, discutindo com os mesmos sobre questões etimológicas, históricas , sintáxicas de certas palavras e expressões previstas para o dicionário em gestação.

No terreno psicanalítico, ela contribuiu de maneira importante à elaboraçao do famoso “Vocabulaire de la psychanalyse”, de Jean Laplanche e J.B. Pontalis. Foi assim que, na página XI do prefácio deste livro que conheceu um grande sucesso internacional, Laplanche e Pontalis escreveram: “Do início até o fim, a Senhora Elza Ribeiro Hawelka, colaboradora técnica junto à Cadeira de Psicologia Patológica (Faculdade das Letras e Ciências Humanas, Paris, Sorbonne) foi uma ajudante devotada, notável pela diligência, pelo seu cuidado e sua experiência de diversas línguas. Juntamente com o Doutor Durval Marcondes, ela traduziu os termos psicanalíticos do “Vocabulaire” em português.

Muito exigente em matéria de tradução, ela criticou as traduções espanhola e brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Dela recebí, pessoalmente, os comentários seguintes: “ A tradução brasileira das obras completas de Freud pela Editora Delta S.A., Rio de Janeiro, São Paulo, em 18 volumes, teve a grande vantagem de existir. Ela reuniu todos os trabalhos de Freud que tinham sido publicados naquela época, isto é os da "Gesammte Werke" editora , menos os escritos póstumos.”

“Contudo, este trabalho deixa muito a desejar por causa da falta de rigor da terminologia adotada e dos inúmeros êrros contidos no texto publicado. Com efeito, a tradução foi feita por pessoas cuja língua materna não era o português, e ela parece inspirar-se da tradução espanhola, que data de 1923, igualmente imperfeita. Na realidade, as duas traduções comportam os mesmos êrros e as mesmas omissões”.

“Um exemplo entre muitos: se compararmos os artigos “Weitere Bermerkungen über die Abwehrneuropsychosen”da Gesamnte Werke, Tomo I, paginas 391-392, intitulado “Novas observações sobre as psiconeuroses de defesa”, com as traduções respectivas espanhola e portuguesa, notaremos que uma lacuna importante se observa nos dois textos , comparados ao texto original. E se observarmos com mais atenção, perceberemos que se trata da mesma omissão na tradução brasileira e na traducão espanhola. Podemos entao concluir que a tradução brasileira, posterior à edição espanhola, procede desta ultima”.

Contudo, convém lembrarmos que Elza Ribeiro Hawelka contribuiu ao conhecimento das obras freudianas ao traduzir e comentar o jornal original da análise do “Homem dos ratos”, de Sigmund Freud (L'Homme aux rats, Journal d'une analyse, Paris, Presses Universitaires de France, 1974).Realmente, traduzir em língua francesa ,um livro escrito em cursivo gótico( “forma de letra manuscrita, miúda e ligeira”), contendo inúmeras expressões oriundas de dialetos austríacos, me parece uma proeza. Naturalmente, seus conhecimentos linguísticos,( ela falava o português, francês, espanhol, italiano, inglês e alemão), deram-lhe os requisitos necessários à realização desse trabalho meticuloso e cansativo, exigente e erudito.

Um exemplo de sua exigência intelectual e de seu rigor como tradutora: em seus agradecimentos preliminares no “Homem dos ratos”, Dona Elza explica ter feito uma estadia em Viena , cita os nomes de dois doutores ,de um cartógrafo e de uma especialista em língua semítica que muito lhe ajudaram em suas pesquisas e na leitura e correção do texto publicado. Foi Anna Freud, filha do fundador da psicanálise, que lhe confiou uma fotocópia do manuscrito original, acatando um pedido feito pelo Professor Daniel Lagache.

Seu interesse considerável pelas palavras e por tantos idiomas lembrou-me o escritor grego, Vassilis Alexakis , ao escrever: "que elas sejam maternas ou estrangeiras, as palavras e as línguas são como brinquedos, espetáculos, obras de arte: o que os povos construiram de mais lindo". E ele acrescentou dispor de duas línguas: “uma para falar com os outros, outra para falar consigo mesmo".

Minhas homenagem a D. Elza Ribeiro Hawelka, cuja lembrança procurei evocar em nossa língua comum, consciente, entretanto, que materna ou estrangeira, falada ou escrita, o idioma não consegue preencher inteiramente, a distância inerente à comunicaçao inter-humana.

REUNIÕES CIENTIFICAS

“La Lettre de Psychiatrie Française” selecionou as seguintes reuniões:

JANEIRO 2004

Marseille( dia 10): Journée scientifique sur Institutions et Perversions(Jornada cientifica sobre Instituições e Perversões. Participação do Grupo Mediterrâneo da Sociedade Psicanalítica de Paris.

Informações: [email protected] Tel. 04 42 27 75 42

Paris( dias 16 e 17): Journées Nationales AFP sur Penser la psychose(Jornadas Nacionais da AFP( Association Française de Psychiatrie) sobre o tema “Pensar a Psicose”: Novas respostas terapêuticas às expressões psicóticas.

Informações: AFP, 147 rue Saint Martin, 75003 Paris Tel: 01 42 71 41 11 E.mail: France-Psy Dezembro.doc

Paris( dia 19): Conférence de l'Hôtel Lemoignon sur “Sommeil et Rêve”, avec Pierre Carrique( Conferência no Hotel Lemoignon sobre “Sono e Sonho”). Conferência de Pierre Carrique.

Informações: AFP, 147 rue Saint Martin, 75003 Paris Tel: 01 42 71 41 11 E.mail: [email protected]

Paris( dia 24): L'Association Psychanalytique de France organise une journée sur “ L'Acte”(O Ato).

Informações: APF, 24 pl. Dauphine, 75001 Paris Tel. 01 43 29 85 11 Fax: 01 43 26 13 46

Valence(dia 29): Colloque sur “Entre adultes e adolescents, trouver la bonne distance... illusion ou perspective” ( Colóquio sobre “ Entre adultos e adolescentes, encontrar a distância boa... ilusão e perspectiva”.

Informações: DASSP, Valence. Téléphone: 04 75 79 22 11 E.mail: www.fdf.org

Eaubonne (dia 30): Journée de Psychiatrie Légale sur “Devenirs du traumatisme”( Jornada de Psiquiatria Legal sobre “As sortes do traumatismo”).

Informações: Docteur Gueguen. Téléphone: 01 34 06 64 05

Sceaux( dias 30 e 31): La Clinique Médicale Dupré organiza um Colóquio sobre “Tratar pela Instituição”.

Informações: Clinique Dupré, Docteur Botbol- Telefone: 01 40 91 50 25

FEVEREIRO 2004

Paris( dia 7): L'Institut Français d'Analyse de Groupe et de Psychodrame organise un Colloque sur “l'Analyse des Pratiques”. Objectifs, méthodes, dispositifs.

Informações: IFAGP, 12 rue E. Deutsch de la Meurthe, 75014, Paris- Téléphone: 01 45 88 23 22 E.mail: [email protected]

Lyon( dia 28): Le Groupe Lyonnais de Psychanalyse-Rhône-Alpes organise un Colloque sur “Psychanalyse dans la cité”( Psicanálise dentro da cidade).

Informações: GLPRA, 25 rue Sala, 69002 Lyon. Téléphone: 04 78 38 78 01 Fax: 04 78 38 78 09

MARS 2004

Paris( dia 15): Conférence de l'Hôtel Lemoignon sur “Sommeil et Rêve”, avec Janine Altounian( Conferência no Hotel Lemoignon sobre “Sono e Sonho”. Conferência de Janine Altounian).

Informações: AFP, 147 rue Saint Martin, 75003 Paris Tel: 01 42 71 41 11 E.mail: [email protected]

França( do dia 15 ao dia 20, em vários lugares ): “Semaine d'Information sur la Santé Mentale” : “En parler tôt pour en parler à temps”: Droit et Santé mentale( Falar cedo para falar a tempo: Direito e saúde mental).

Informações: AFP, 147 rue Saint Martin, 75003 Paris Tel: 01 42 71 41 11 E.mail: [email protected] ou www.psychiatrie-française.com

Reims( de 18 ao dia 20): L'Association de Recherche et de soutien de Soins en Psychiatrie Générale organise son deuxième congrès sur “La schizophrénie dans tous ses états”(A esquizofrenia e suas perturbaçoes).

Informações: ARSPG, Hôpital R. Debré, avenue General Koenig, 51092 Reims Cedex.

Téléphone: 03 26 78 78 26 Fax: 03 26 78 83 18

Ultima hora: A revista L'Encéphale organiza seu 2° Congresso nos dias 14,15 e 16 de Janeiro 2004.

Local: Palais des Congrès, Paris.

O editorial da revista, assinado por H. LOO e J.P. OLIE, informa que Le Comité Scientifique elaborou o conteúdo das sessões plenárias e dos encontros a partir de temas atuais e em função das aquisições clínicas e das evoluções terapêuticas recentes.Os organizadores esperam cerca de 1500 psiquiatras franceses e estrangeiros durante os três dias deste importante congresso.

Programa:

14 de Janeiro: Simpósio sobre “As depressões, práticas futuras”. Assuntos escolhidos : Hiperativade como síndrome, Fatores de vulnerabilidade na doença alcoólica, Profilaxia das recidivas depressivas, Evolução do distúrbio bipolar ao longo curso,etc.

15 de Janeiro: Seções Plenárias com temas sobre A Adolescência e as Psicoses(única, múltiplas,esquizofrências). Assuntos escolhidos: Ameaças depressivas e síndromes suicidários, Condutas arriscadas, Distúrbios alimentares, Estratégias terapêuticas, O vínculo mãe-criança , Tratamento do distúrbio ansioso generalizado,Cognição e esquizofrenia, etc.

16 de Janeiro: Sessões sobre: “Estresse agudo e síndromes pós-traumáticos”, Simpósio sobre “Neuroplasticidade: novos horizontes para a depressão”. Conferências previstas: A neuroplasticidade no centro da depressão, Efeitos dos antidepressivos sobre a neuroplasticidade, Neuroplasticidade e Stablon, A continuidade ansiedade-depressão, As condutas suicidárias ,etc.

Inscrição e informações: www.congres-encephale.org

SITES SELECIONADOS

Le Bulletin de l'Ordre des Médecins. E-mail:www.conseil-national.medecin.fr

L'Encéphale : www.encephale.org

La Revue Française de Psychiatrie et de Psychologie Médicale: E-mail: www.mfgroupe.com

Les Actualités en Psychiatrie: www.vivactis-media.com

Nervure. Rédaction: Hôpital Sainte-Anne , 1 rue Cabanis, 75014 Paris. Téléphone: 01 45 65 83 09 Fax. 01 45 65 87 40

Neuronale (Revista de Neurologia do Comportamento).E-Mail: [email protected]

PSN(Psychiatrie, Sciences humaines, Neurosciences). Endereço: rue de la Convention, 75015 Paris. Telefone: 01566565 Fax: 0156566566

Psychiatrie Française : www.psychiatrie-française.com

SYNAPSE. E-mail: [email protected]

Association Française Des Psychiatres d'Exercie Privé: www.afpep-snpp.org

www.carnetpsy.com

psydoc-fr.broca.inserm.fr/Cybersessions/Cyber.html

www.psycologies.com

O leitor é cordialmente convidado a dar sua opinião sobre os assuntos acima tratados, e, particularmente, sobre o tema seguinte :Qual seria a importância do preço da sessão no estabelecimento do processo psicanalítico e nos efeitos terapêuticos da cura ?


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