Volume 5 - 2000
Editor: Giovanni Torello

 

Novembro de 2000 - Vol.5 - Nº 11

História da Psiquiatria

Breve História da Psiquiatria do Rio Grande do Sul à Luz das suas Publicações

Walmor J. Piccinini

Introdução

A tradição oral, documentos, testemunhos pessoais são alguns dos recursos utilizados pelos historiadores. O viés da visão pessoal impregna o relato dos fatos e sua compreensão. Desde 1996 venho coletando e organizando a bibliografia psiquiátrica brasileira. Ela está reunida num banco de dados ao qual denominei de Índice Bibliográfico Brasileiro de Psiquiatria. A primeira edição foi publicada em 1998, a Segunda em forma de CD-ROM em 1999 e a próxima deverá ser lançada no ano 2000 no Congresso Brasileiro de Psiquiatria.

Neste trabalho examinaremos uma parte do trabalho que abrange as Revistas Psiquiátricas do Rio Grande do Sul. Foram coletados alguns trabalhos avulsos, alguns livros, trabalhos publicados na Revista Amrigs e, principalmente as publicações da Revista de Psiquiatria da SPRS e algumas das suas antecessoras. Esperamos que este seja um trabalho inicial no estudo das nossas raízes e de como fazemos psiquiatria. Preservar a história, a memória e valorizar a pesquisa dos psiquiatras gaúchos e brasileiros é o objetivo do trabalho.

A Psiquiatria no Rio Grande do Sul

Em 1801, em Paris, Philippe Pinel (1745-1826) publicava seu “Traité Médico-Philosophique sur le Manie”. Aqui no Extremo sul do Brasil terminava vitoriosa a campanha militar contra os espanhóis e nossas fronteiras eram estabelecidas.

Em 1807 o RGS foi elevado à categoria de Capitania Geral e D. Diogo de Souza é nomeado o primeiro titular. Enquanto isso, na Europa, a Inglaterra fazia frente a Napoleão e Portugal era seu aliado. Por sugestão dos ingleses que argumentavam que seria impossível oferecer proteção a Portugal, a corte portuguesa decide viajar para o Brasil aqui aportando em 1808. Com a abertura dos portos, industrialização, educação, cursos cirúrgicos na Bahia e no Rio de Janeiro, começou a florescer a Medicina brasileira.

Em 18 de julho de 1824 chegaram os primeiros colonos alemães no RGS,  primeira leva que teve seu fluxo interrompido em 1830 e retomado em 1848. Até 1858 haviam chegado 1.309 famílias. Em 1832 foram fundadas as Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia.

No Rio Grande do Sul, no período de 1835 a 1845 tivemos a “Revolução Farroupilha” e a criação da República do Piratini. Com a pacificação, Lima e Silva, mais tarde o Duque de Caxias permaneceu no estado administrando e acalmando os belicosos. Entre suas iniciativas criou a educação pública em 1846 e a melhoria dos transportes. Em 1848 foi criada a Diocese do RGS.

Em 1870 termina a guerra do Paraguai e a população do RGS era de 470.000 habitantes. Um fato extraordinário é que o RGS contribuiu com 33. 803 soldados. (¼ de todos os soldados brasileiros ). Este breve resumo histórico nos dá uma idéia do que era o RGS no século XIX, um grande acampamento militar, com seus fazendeiros guerreiros e com um população pequena. Preocupações com a saúde do corpo ou com a loucura não eram as mais importantes. A assistência aos doentes era precária e feita na Santa Casa de Misericórdia. Os tratamentos eram praticados por leigos e religiosos, médicos eram poucos e atendiam as classes mais ricas. Podemos dizer que a caridade era mais importante do que o tratamento em si, tanto que uma das figuras importantes das Santas Casas era o “capelão da agonia” preocupado em atender as necessidades dos moribundos. Os médicos eram poucos. Acredita-se que em todo Brasil, no século XVII existiam apenas 10 médicos, A assistência estava nas mãos de curiosos, feiticeiros ou práticos versados em tratamentos indígenas e outros.

A história do atendimento ao doente mental no nosso Estado segue a mesma trajetória da ocorrida na Bahia, Rio de Janeiro e em outros estados. Os doentes mentais eram recolhidos às prisões, mantidos em cárcere privado no fundo das fazendas ou recolhidos pela caridade pública aos porões da Santa Casa de Misericórdia. Examinando os movimentos de criação dos asilos, podemos concluir que, sob a liderança de José Clemente Pereira, Provedor da Santa Casa do Rio de Janeiro, ( período de 1838 a 1854) os demais Provedores passaram a pleitear verbas públicas para construir asilos pelo país. No Rio Grande do Sul o movimento mobilizou a população a ponto de, por decisão da Assembléia Provincial foi votada um lei determinando a construção de um hospital para os loucos. As disputas políticas retardaram o processo. Em janeiro de 1884 foi fundado o jornal “ A Federação” de cunho republicano e positivista, cujo editor mais influente foi Julio de Castilhos e em maio de 1884 o jornal cobrava o término das obras do asilo. A pressão foi grande e neste mesmo ano, mesmo incompleto foi inaugurado o Hospício São Pedro. O nome homenageava o padroeiro do estado e o Imperador D.Pedro II grande humanitário que apoiava medidas de proteção aos doentes. Diferentemente do Rio de Janeiro, o asilo não ficou sob controle da Santa Casa, foi fundada uma Fundação para administrá-lo. O povo participou da escolha do seu primeiro diretor, e o Dr. Carlos Lisboa, (24 anos de idade) , jovem clínico, recém chegado do Rio de Janeiro onde recebera formação médica e cumprira estágios em enfermarias de alienados. O jovem doutor, no entanto, sofreu uma doença fulminante que o levou a morte, tendo permanecido no cargo por apenas dois anos (1884-1886) no cargo. Os diretores que o sucederam eram figuras de expressão política na época mas também tiveram mandatos curtos: Ramiro Barcellos, Olinto de Oliveira, Tristão Torres e Francisco de Castro. O primeiro diretor estável assumiu em 1906 e foi o Dr. Deoclécio Pereira, grande clínico da época, que permaneceu 20 anos na direção do hospício. Seu substituto foi o Dr. José Carlos Ferreira.

Período Clássico

O Hospício São Pedro recebeu forte influência da psiquiatria francesa e adquiriu, desde a a nomeação do Dr. Jacintho Godoy  para sua direção, características de hospital de alienados. Segundo depoimento da sua filha Sra  Carlinda, o Dr. Jacintho recebeu do sogro, fazendeiro abonado de Alegrete, condições financeiras que permitiram uma viagem de estudos à França. Lá, no período de 1919-21, estagiou com o Prof. Pierre Marie. Com ele estavam outros jovens médicos da América Latina que vieram a liderar a psiquiatria em seus países. Como,por exemplo o Dr. Antônio Carlos Pacheco e Silva que veio a substituir o Dr. Franco da Rocha na direção do Hospital de Juqueri (1923 a 1936). E que em 1937 assumiu a Cátedra de Psiquiatria da USP. A trajetória dos dois ilustres médicos foi semelhante: trouxeram da França princípios de organização hospitalar psiquiátrica, novos métodos terapêuticos e estimularam a formação de psiquiatras.

A política dividia o estado e se refletia no Hospício. O Estado do RGS era governado pelo Dr. Borges de Medeiros e foi dele a indicação do nome de Jacintho Godoy para dirigir o Hospício São Pedro. Como ele era o fundador e diretor do Manicômio Judiciário. Foi criada em 1926 a Diretoria de Assistência aos Alienados que englobava os dois hospitais e assim, assumindo a DAA ele acumulava os dois cargos. Da França ele trouxe os conceitos de clinoterapia, balneoterapia e a organização do hospital nos padrões da época. A Escola francesa exigia fichários clínicos, fichários nosográficos, seções de punção liquórica e malarioterapia.

Começava-se a implantar os Serviços Abertos e Serviços de Profilaxia Mental bem como a  criação de Colônias para os crônicos.

Em 1932 Borges de Medeiros apoiou os revoltosos paulistas, pegou em armas e foi derrotado. O Governador Flores da Cunha resolveu afastar todos os “borgistas” dos cargos públicos e com isso caiu o diretor do Hospício São Pedro. Foi substituído pelo Dr. Luís Guedes que acumulava a Direção do São Pedro com o ensino da Faculdade de Medicina. Os ventos da política mudaram e em 1937, com a ditadura de Getúlio, novas alianças políticas foram feitas, e nestas mudanças o Dr. Jacinto Godoy volta a dirigir o Hospício São Pedro. A nova Constituição proibia o acúmulo de cargos públicos federais e estaduais, o que determinou o afastamento dos Drs. Luís Guedes e Fábio de Barros do São Pedro para ficarem apenas na Faculdade de Medicina. O mesmo aconteceu com A. C.Pacheco e Silva em São Paulo. Deixou o Hospício de Juqueri pela Faculdade de Medicina da USP.

O leitor poderá estar se perguntando, afinal o que nos interessa isso tudo? Eu diria que neste seu segundo mandato o Dr. Jacinto Godoy lança as bases do que mais tarde veio a se constituir a “psiquiatria gaúcha”. Foi criada a carreira de médico psiquiatra e tomada a decisão de que a contratação para o trabalho no Hospício São Pedro seria realizada mediante concurso público.

Em 1938 realizou-se o primeiro grande concurso público para psiquiatra e dele participaram 4 jovens médicos; Mário Martins, Cyro Martins, Victor de Brito Velho e Luiz Pinto Ciulla (que obteve o primeiro lugar). Neste mesmo ano foi fundada a sociedade de Neurologia e Psiquiatria do Rio Grande do Sul que estava assim constituída: Pres. Dr. Jancintho Godoy. Vice-Presidente Dr. Fábio de Barros. Secretário Dr. Cyro Martins

Neste mesmo ano de 1938 criava-se o serviço aberto de atendimento aos alienados e foram dados os primeiros passos para o atendimento ambulatorial.

Os psiquiatras do São Pedro começaram a se integrar no mundo e vários foram buscar fora do estado a ampliação dos seus conhecimentos. Podemos citar alguns nomes bastante conhecidos: Januário Bittencourt e Décio Soares de Souza (Europa); Dionélio Machado e Ernesto LaPorta (Rio de Janeiro); Luiz Pinto Ciulla e Almir Alves (EUA); Mario Martins e Cyro Martins (Buenos Aires). O Dr. Almir Alves, era neurocirurgião e fez muitas leucotomias no HSP, nos EUA teria aprendido a eletroencefalografia tendo trazido o primeiro aparelho para o Estado.

Os internamentos se sucediam e criava-se o problema da superpopulação hospitalar apesar do uso de todas as novas técnicas  terapêuticas que iam surgindo. A Malarioterapia, convulsoterapia pelo cardiazol e a eletroconvulsoterapia de Cerletti e Bini , bem como a Laborterapia e a Praxiterapia.

Fora do São Pedro surgiram a partir de 1932 alguns estabelecimentos privados. O Sanatório Santa Elizabeth em São Leopoldo ( Dr. Frederico Wolfenbüttel); o Sanatório São José ( Dr. Jacinto Godoy); o Hospital Espírita ( Dr. Pedro Rosa); o Sanatório Henrique Roxo mais tarde Sanatório Olivé Leite em Pelotas ( Dr. Avelino Costa) e a Casa de Saúde Bela Vista em Santa Cruz do Sul.

Em 1950 o PTB elegeu o Governador do Estado e muitas mudanças ocorreram. O dr. Jacintho Godoy foi afastado do Hospício São Pedro, seus inimigos facilitaram uma série de entrevistas em que eram mostrados pacientes do São Pedro em extrema penúria de modo a criar um clima em que era exigida a mudança do diretor. O dr Godoy sentiu-se desconsiderado e se afastou definitivamente da vida pública: mais tarde escreveu um um livro sobre suas realizações e o publicou sob o título de História da Psiquiatria do Rio Grande do Sul.

A demissão do Dr. Jacintho Godoy encerra o que poderíamos chamar de período clássico da assistência psiquiátrica no nosso Estado.

Tempos de Renovação

Os anos cinqüenta foram muito produtivos em termos de renovação dos métodos e da maneira de encarar o tratamento do doente mental. O Dr. Mário Martins iniciou a formação de novos analistas. Com a chegada de José Lemmertz, Cyro Martins e Celestino Prunes, foram-se estabelecendo as bases da futura Sociedade de Psicanálise de Porto Alegre. É inegável a atração que a nova especialidade teve sobre os jovens médicos: surgiu o Curso de Psiquiatria Dinâmica, na verdade o Primeiro Curso de Especialização em Clínica Psiquiátrica da Faculdade de Medicina. Os novos profissionais foram assumindo posições no Hospício e gradativamente transformando-o no Hospital Psiquiátrico São Pedro. Fora da instituição iam surgindo novas possibilidades de tratamento e ai houve importante participação do Dr. Marcelo Blaya. Ele inaugurou a Clínica Pinel em março de 1960, defendeu Tese de Livre Docência na Faculdade de Medicina da UFRGS e movimentou o ambiente psiquiátrico com posições inovadoras: Ambientoterapia, Socioterapia, Grupos Operativos, Reuniões Comunitárias, Trabalho em Equipe, nova valorização para os Assistentes Sociais e os Psicólogos. A Residência em Psiquiatria da Clínica Pinel atraia jovens de várias partes do país.

Em 1961 o Pres. Kennedy lança o seu “Action for Mental Health” propondo a criação de ambulatórios psiquiátricos que dariam atendimento preventivos e deveriam diminuir as hospitalizações. Juntou se a isso a possibilidade do emprego de novas drogas antipsicóticas e antidepressivas com a consequente diminuição importante dos internamentos. Schreen, Hans e colaboradores publicaram na Rev de Psiquiatria do RGS em 1997, número 19(1) pág. 8-15 um excelente trabalho sobre: “A Reforma psiquiátrica no Rio Grande do Sul: história da assistência em saúde mental e situação atual” que ilustra perfeitamente o que foi feito com objetivo de diminuir significativamente a população internada no HPSP.

Tempos modernos

“Os anos sessenta, foram particularmente significativos para a psiquiatria do Rio Grande do sul, pois consolidam-se os programas de Residência Médica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Clínica Pinel de Porto Alegre. Inicia-se em Pelotas a primeira Residência Médica em Psiquiatria do interior, no Departamento de Saúde mental da Universidade Federal de Pelotas. Destacam-se na Psiquiatria Gaúcha por seus méritos e obras, Paulo Guedes, David Zimmermann, Marcelo Blaya, Fernando Guedes, Mário Martins e cyro Martins entre outros. Como líderes e docentes, estes médicos formam uma nova geração de Psiquiatras “iniciados” na Psiquiatria Dinâmica e no Modelo Institucional de Comunidade Terapêutica. Esta é a base teórica, conceitual e de recursos humanos que sustentará toda a transformação na assistência psiquiátrica do Estado” (Gastal,F. e t al.)

Em pouco mais de 100 anos o HPSão Pedro que atendia uma população inicial de 470 mil pessoas passa a atender 9 milhões. Nascido da caridade pública, passa por várias fases que o levaram ao gigantismo, a superlotação e insuperáveis problemas administrativos e institucionais. O macro-hospital passou a ser condenado em todas instâncias e tornou-se um desafio enfrentar suas estruturas esclerosadas pelo abandono. Com os novos psiquiatras, surgiram novas abordagens. Uma delas foi a de realmente entrar para dentro do hospital, colocar os consultórios no pátio da Divisão de Crônicos, levar o mundo para dentro do Hospital com as famosas festas, espetáculos circenses e outros. Alguns nomes se destacaram nesta fase e para evitar injustiças citarei apenas o Dr. Ely Cheffe. As diferentes divisões do hospital se reformulavam e nos anos setenta iniciou-se a chamada setorização do hospital. Aqui poderíamos destacar o Dr. Carlos Gari Faria. Os doentes foram agrupados por região de proveniência, identificados, contactadas as autoridades da sua cidade de origem, familiares e forças vivas da comunidade. Concomitantemente a Previdência social assumia boa parcela do atendimento externo muitos psiquiatras se deslocaram para o interior e muitos generalistas foram treinados para conterem os pacientes nas suas comunidades. A comprovação da efetividade destas medidas se refletiu na crescente redução dos pacientes internados que do número inicial foi reduzido a aproximadamente 850, na maioria pessoas de idade que se tornaram residentes do hospital.

Os psiquiatras nunca estiveram sozinhos neste trabalho de esvaziamento do macro-hospital, assistentes sociais, psicólogos, enfermeiros e auxiliares participaram ativamente do processo. Aos poucos, nomes como Laing, Foucault, Basaglia passaram a ser citados nas discussões e surgiu um grupo bastante aguerrido de trabalhadores de saúde mental que passaram a defender a bandeira da Reforma Psiquiátrica, logo a palavra de ordem era luta contra o asilo, mas como este nome não tinha força suficiente, reviveu-se o termo manicômio e pronto, estava desfraldada a bandeira anti-manicomial. A fonte mais citada era a lei 180 de 1978 na Itália que propunha não hospitalizar e a desospitalizar os que estivessem hospitalizados. O desdobramento político da atuação deste grupo se materializou na Lei da Reforma Psiquiátrica  em nosso Estado. Lei 9715/92 que proíbe a construção de novos hospitais, cria recursos alternativos extra-hospitalares tais como os atendimentos comunitários e as pensões protegidas. No artigo publicado pelo Grupo de Estudos da Reforma Psiquiátrica da SPRS ( ) avaliando os primeiros cinco anos da nova lei constataram que pouco foi feito para cumprir suas metas. Apenas um aspecto recebeu comentários positivos que foi o do acompanhamento pelo Ministério Público das internações involuntárias.

A Psiquiatria moderna no Rio Grande do Sul não é só a luta para melhorar e esvaziar os hospitais. Os Cursos de Pós-Graduação a partir dos anos 80 começaram a produzir psiquiatras sintonizados com as pesquisas de ponta em nível internacional. Muitos realizaram treinamento no exterior e estão reafirmando o prestígio da Psiquiatria Gaúcha. Acho justo destacar o nome do Prof Ellis A D Busnello que já batalhara no HPSP e no CC Murialdo, agora está na linha de frente na formação de doutores em psiquiatria.

Outros serviços que tem a psicoterapia como sua meta principal devem ser destacados: Fundação Mário Martins com Curso e residência em psiquiatria. Cursos como os da PUC e da FFCM atingiram sua maioridade e enriquecem as publicações psiquiátricas.

Publicações em Psiquiatria

No período que chamamos de clássico e que o Prof. Paulo Guedes chamava de Kraepeliniano os poucos psiquiatras que publicavam seus estudos o faziam por iniciativa própria como ocorreu com alguns trabalhos do Prof. Luís Guedes e com Carlos Penafiel(1910), ou utilizavam revistas de medicina geral como os “Archivos Rio Grandenses de Medicina”, os Anais da Fac. De Medicina de Porto Alegre e mais recentemente na Revista da Amrigs.

No ano de 1957 iniciou-se o “ Curso do David” que na verdade era o Curso de Formação em Psiquiatria da Cadeira de Psiquiatria e Medicina Legal da FMUFRGS, tendo sido organizado pelos profs. Paulo Luiz Vianna Guedes e David Zimmermann. Este curso originou o Centro de Estudos Luiz Guedes e as Jornadas de Psiquiatria Dinâmica. O Prof. Paulo L.V. Guedes que foi o presidente da primeira Jornada realizada no Parque Hotel em Gramado nos dias 12 e 13 de novembro de 1960, na sua fala inaugural dizia que “Data de 1947, mais precisamente da primeira segunda feira de fevereiro, dia em que Mário Martins – então recém chegado da Argentina onde fora se especializar em psicanálise – atendia seu primeiro paciente. A ele pois, devemos a introdução, em nosso meio, do instrumento indispensável para a boa prática da psiquiatria dinâmica, a formação analítica”. ( Aquela Jornada reuniu 45 médicos entre psiquiatras, alunos e alguns neurologistas, 26 deles ainda estão entre nós em franca atividade).

Em março de 1960 o Prof. Marcelo Blaya, vindo de formação psiquiátrica na Menninger Clinic de Topeka,Ka, USA inaugurava a Clínica Pinel, que também passou a formar psiquiatras e que revolucionou o atendimento psiquiátrico hospitalar no Brasil. Destes dois cursos, originaram-se as duas primeiras revistas de psiquiatria do nosso meio e ambas foram lançadas em março de 1961. Em 1964 os Cursos foram unificados e as Revistam também se uniram e deram origem a Revista de Psiquiatria Dinâmica.

Em recente artigo “As primeiras revistas psiquiátricas no Brasil e no Mundo, publicado na Rev. Bras. Psiquiatr,21(4)1999 Paulo Dalgalarrondo publica um histórico em que omite as publicações do Rio Grande do Sul e isso serviu de estímulo para este nosso trabalho. Do artigo extraímos a tabela:

Revistas Psiquiátrica no Brasil

1905: Archivos Brasileiros de Psychiatria, Neurologia e Medicina Legal
1922: Archivos Brasileiros de Neuriatria e Psychiatria
1923: Memórias do Hospital de Juqueri
1936: Arquivos da Assistência Geral a Psicopatas do Estado de São Paulo (hoje, Arquivos de Saúde Mental de São Paulo)
1929: anais da Assistência a Psicopatas (Distrito Federal)
1932: Arquivos de Psicopatas de Pernambuco, depois virá:
1938: Revista de Neurobiologia-Recife
1934: Revista de Neurologia e Psychiatria de São Paulo, depois virá:
1943: Arquivos de Neuropsiquiatria
1952: Jornal Brasileiro de Psiquiatria
1966: Revista Brasileira de Psiquiatria ( de 1979 a 1998 chamou-se Revista ABP-APAL).

Existem vários omissões nesta tabela, mas o que mais me chamou a atenção foi o esquecimento do Rio Grande do Sul. Assim poderíamos acrescentar;
1961: Revista Psiquiatria
1961: Arquivos da Clínica Pinel
1964: Revista de Psiquiatria Dinâmica
1979: Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul que entra no seus 31 anos de publicação ininterrupta.
1994:Arquivos de Psiquiatria, Psicoterapia e Psicanálise da Fundação Mário Martins.

Artigos Publicados

A construção de um banco de dados é uma tarefa sempre em andamento, desta forma os números aqui apresentados estão sempre alterados. É possível, no entanto, traçar um quadro geral das relações entre as publicações. No atual momento, estamos com 9563 publicações psiquiátricas coletadas no Brasil, incluem-se artigos de revistas, teses de mestrado e doutorado, livros e algumas publicações avulsas. As publicações do Rio Grande do Sul são 993. Isso nos deixa com 10,3 % das publicações nacionais. Até 1960 registramos poucos trabalhos de autores gaúchos, eles estão relacionados no índice que se segue a este artigo. Em 1958 encontramos dois trabalhos sobre eletroconvulsoterapia publicados nos anais da Faculdade de Medicina da UFRGS. Um trabalho sobre grupos do Prof David Zimmermann publicado nos Arquivos de Neuro-Psiquiatria, SP. Em 1959 três trabalhos do prof Marcelo Blaya e no ano seguinte mais três trabalhos do mesmo autor. Num destes trabalhos, “ Conceito e indicações do hospital-dia psiquiátrico” ele tratava de um assunto pioneiro no país. No ano de 1961 houve uma explosão de artigos propiciados pela Primeira Jornada Sul Riograndense de Psiquiatria Dinâmica. Neste ano chegamos a produzir 44% dos artigos psiquiátricos publicados no país. Vejam tabela:

1961: 44%
1962: 33%
1963: 21%
1964: 12%
1965: 0,6%
1966: 1,9%
1967: 22,8%
1968: 0,5%
1969: 4,4%
1970: 9,0%
1980: 48,2%
1981: 21,2%
1990: 19%
1999: 8,4%

Estes números, muitas vezes discrepantes refletem momentos vividos pelas nossas publicações em função de aproximações e afastamentos dos diferentes grupos que constituíam a psiquiatria gaúcha na época.
O ano de 1961, muito produtivo, Tinha como marcos a Revista Psiquiatria e a Arquivos da Clínica Pinel. Existia uma certa rivalidade sadia entre os grupos e uma certa disputa pela Cadeira de Psiquiatria que tinha um titular interino. O Prof. Paulo Guedes assumira interinamente após afastamento do Prof. Décio de Souza que optou pela psicanálise e radicou-se no Rio de Janeiro. A cátedra foi extinta e somente em 1984 teve um titular na pessoa do Prof Ellis A D. Busnello.

Os cursos de formação em determinado tempo se uniram e chegaram a formar uma turma.Em 1961 tivemos o episódio da Legalidade que reacendeu os brios guerreiros dos gaúchos e foi estimulante em todas as áreas. Já em 1964, com o golpe militar, o ambiente tornou-se sombrio. No meio analítico, José Lemmertz, um dos didatas do grupo inicial afastou-se da sociedade psicanalítica e lançou um livro em que questionava Freud e a psicanálise. A crise passou, o grupo analítico continuou forte e o Dr. Lemmertz associou-se com o Dr. José de Barros Falcão que criou o Curso de Psiquiatria da Católica em 1968. Em 1976 Manoel Albuquerque cria o Curso de Psiquiatria da PUC-RS. O relógio do tempo não pode ser detido. Muito cedo, em 1969 a Psiquiatria Gaúcha perde o Prof Paulo Luiz Vianna Guedes, figura ímpar, com a qualidade de iluminar e enriquecer o meio psiquiátrico. Fazia dupla com o Prof. David Zimmermann, grande formador de homens, que nos deixou mais recentemente. Muitos outros professores, colegas e amigos nos deixaram e a eles todos rendemos nossas homenagens.

Numa última referência em relação as publicações, considerando os assuntos por ela tratados temos o seguinte: Utilizamos os indicadores de Pyncus para avaliação da produção bibliográfica (Pesquisa, Revisão, Relato de Casos, Opinião, editorial e Histórico/Instituições) e acrescentamos os seguintes (Psicofármacos, Alcoolismo, Prática hospitalar, Psicoterapia, Psicanálise, Grupoterapia, Psicobiologia, Psiq.Forense, ensino, Psiq.Infantil).

Nos primeiros dez anos (61-70) a maior parte dos trabalhos se referia:
prática hospitalar (manejo, equipe, auxiliares , atividades)
Grupoterapia
Psicoterapia psicoanalítica
Psicanálise aplicada

No período de 71-80 predominaram:
Psiquiatria Infantil
Psicoterapia
Prática hospitalar
Alcoolismo

No período de 81-90
Psicoterapia
Alcoolismo
Psicanálise
Histórico instituições

No período de 91 a 99
Psicoterapia
Alcoolismo e drogas
Pesquisa
Psiquiatria infantil

Da produção global construímos a seguinte tabela:

Maiores índices de interesses

 


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