![]() ![]() Volume 4 - 1999 Editor: Giovanni Torello |
Fevereiro de 1999 - Vol.4 - Nš 2 Contribuições
da Aliança Terapêutica no Manejo de Paciente Psicótico Adriano
Resende Lima e Márcia Helena Zanini RELATO DE CASO 1. INTRODUÇÃO Nos últimos anos, houve crescente enfoque sobre
o papel da psicoterapia na esquizofrenia, cujos dados de literatura
revelam resultados favoráveis. Autores discurssam sobre a
importância de um tratamento que possa atender de forma global
as viscissitudes do paciente esquizofrênico. Rockland, Winston
e Pinker falam sobre terapia suportiva psicodinamicamente orientada,
cujos principais objetivos são: o fortalecimento egóico
e o favorecimento do processo adaptativo do paciente, tanto para
o mundo externo, como interno. Referente ao mundo interno do paciente,
autores como Lewis e Langner refletem sobre a importância
do processo simbólico, visto que através do entendimento
das experiências internas do paciente é possível
o estabelecimento de ligaçòes entre emoções,
pensamentos e percepções. Estudos enfatizam a importância do estabelecimento de aliança terapêutica favoravel, tanto para farmacoterapia como psicoterapia. Frank e Gunderson discorrem sobre os benefícios da aliança terapêutica no sentido de diminuir abandonos precoces do tratamento, comuns em pacientes psicóticos, favorecer adesào à farmacoterapia e melhorar o prognóstico como um todo. 2. OBJETIVOS. B) Descrever os benefícios terapêuticos obtidos nesta experiência, principalmente em relação às manifestações negativas, facilitados por aliança terapêutica favoravelmente estabelecida. 3. MÉTODOS O paciente apresenta história de transtorno psíquico
desde meados de 1987. Seu quadro teve início insidioso, caracterizado
por alterações de comportamento, do tipo manifestações
delirantes de cunho paranóide, alucinações
auditivas, agressividade, irritabilidade excessiva, retraimento
social e prejuízo do pragmatismo. Ao longo destes anos, paciente
foi atendido por vários profissionais, em associação
a atividades multidisciplinares. Sua evolução caracterizou-se,
principalmente, por intensificação progressiva das
manifestações negativas. Em abril / 1997, quando encaminhado para atendimento com
o atual profissional, paciente apresentava grande dificuldade de
reconhecimento e expressão de suas próprias vivências,
como se fosse um indivíduo vazio, sem conteúdo, sem
história. Ao ser questionado sobre reconhecimento de seus
próprios sentimentos, A respondia: " como assim tristeza
? Como assim alegria ? Como assim sentimento ? ".Era facilmente
notório e reconhecidamente angustiante, o embotamento e o
distanciamento afetivos. Percebendo as dificuldades para coleta
de anamnese subjetiva, por meio da clássica investigação
clínica de sinais e sintomas, optou-se por mudança
na forma de atendimento ao paciente. Reconheceu-se a importância
de ampliação da abordagem psicodinãmica, somada
à abordagem clínica, como ferramenta indispensável
à investigação do obscuro mundo interno de
A .Com base em uma aliança terapêutica favoravelmente
estabelecida, o psiquiatra que o atende decidiu centralizar as abordagens
farmacoterápica e psicodinâmica. Iniciava-se a busca
das viscissitudes internas de A e, apartir desta busca, tentava-se
reconstruir sua verdadeira história. As consultas passaram a ser semanais. Inicialmente, o psiquiatra
tomou postura de simplesmente permanecer na presença do paciente,
evitando intervenções verbais desnessessárias.
Tanto paciente, como terapêuta, permaneciam longos períodos
das consultas no mais absoluto silêncio. Gradualmente, o terapêuta
passa a estimular o paciente, através de conselhos práticos
que pudessem estar em concordância com suas viscissitudes
externas: _ Jogar futebol lhe faz bem, você gosta, deveria
jogar mais vezes e me contar quantos gols marcou. _ Aprender informática é de seu interesse,
você poderia me dizer o que aprendeu. Com o passar dos atendimentos, encorajado pela estimulação
constante, A passa a sentir-se mais seguro e confiante. Lentamente,
começa a apresentar demanda espontânea de perguntas
ao terapêuta: _ Você tambem gosta de futebol, que posição
joga ? _ Eu sempre fui artilheiro na pelada do Palmeiras; e você,
joga mais na frente como eu ou mais atrás ? Neste momento, tornava-se claro um movimento de aproximação
constante entre ambos. Reforcava-se a aliança terapêutica.
Diminuia o distanciamento afetivo de A. Em um segundo momento, percebendo interesse no paciente,
o terapêuta passa a estimulá-lo, não somente
em relação ao relato puro dos fatos de per si, mas
também a expressar suas próprias vivências sobre
eles; _ O que você sentiu quando marcou aquele gol ? Perguntava
o terapêuta. _ Fiquei feliz, me senti importante !! Respondia o paciente. Progressivamente A foi aprendendo a perceber sentimentos
próprios, a compartilhar vivências mais carregadas
de emoção e afeto. O terapêuta, por sua vez,
procurava clarificar estes sentimentos, facilitando o ascesso e
entendimento das vivências internas de A Aos poucos, como
um trabalho artesanal, foi sendo reconstruída a história
subjetiva. Cabe, neste momento, citar uma frase significativa de
A: _ Hoje, eu consigo entender e reconhecer meus sentimentos.
Aprendi a falar das minhas emoções, a produzir meus
próprios pensamentos ! Apenas como citação, faz-se mister, informar
que aquele paciente que outrora não reconhecia suas próprias
vivências, como um indivíduo sem história, ultimamente
interessou-se em trazer sonhos às consultas e, sempre que
possível, fornece sua própria interpretação
do material onírico. 4. RESULTADOS. 5. DISCUSSÃO. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. PROESQ (EPM-UNIFESP): R. Machado Bittencourt 222 - CEP: 04044-000 São Paulo, SP Tel: 570-6784 |
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