Volume 22 - Novembro de 2017 Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello |
Janeiro de 2017 - Vol.22 - Nº 1 História da Psiquiatria DARCY DE MENDONÇA UCHÔA (1907-2003) Walmor João Piccinini Em 1977 o
Professor José Ribeiro do Vallle publicou uma coletânea e nela foi publicado um
resumo biográfico do Professor Uchôa. Este material consta de um Memorial do
Professor Itiro Shirakawa “A Psiquiatria na Escola Paulista de Medicina” que
ele fez chegar ao meu conhecimento. “Darcy de
Mendonça Uchôa nasceu em dois de junho de 1907 no Estado de Alagoas, Município
de Camaragibe”. Filho de Alfredo de Mendonça Uchôa e de dona Idalina de
Mendonça Uchôa. Fez seus primeiros estudos, primário e
ginasial em seu Estado natal, no Liceu Alagoano, concluídos aos 14 anos. Foi
então para o Rio de Janeiro, matriculando-se na Faculdade de medicina da Praia
Vermelha, mais tarde Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, aonde
veio a se formar, em 1927, contando apenas 20 anos. Regressando a Alagoas, praticou durante
dois anos medicina geral e cirurgia na Santa Casa de Maceió. Em 1929 veio para
o Estado de São Paulo onde se radicaria definitivamente. Durante cinco anos
exerceu a medicina em Santana dos Olhos D´Água (Ipoã), Comarca de São Joaquim
da Barra. Desenvolveu, também, atividades jornalísticas e políticas chegando a
vice-prefeito. Estudioso, interessado em ciências humanísticas, lendo
psicologia e filosofia, meditando e refletindo, sentiu ser a psiquiatria a
disciplina médica que mais se coadunava com sua personalidade, tendências e
aspirações. Desejando desenvolver-se neste sentido,
procurou a Capital passando a estagiar no antigo Departamento de assistência a
Psicopatas, hoje coordenadoria de Saúde Mental. Em 30 de maio de 1936 foi
nomeado médico desse Departamento, com funções no manicômio Judiciário onde
ficou até 1941, trabalhando posteriormente no Hospital de Juqueri (1941-43),
Hospital Pinel e ambulatório de Higiene Mental, tendo se aposentado ao assumir
a Cátedra de Psiquiatria da Escola Paulista de medicina (1964). Personalidade inquieta, curiosa, não se
satisfez com uma psiquiatria meramente descritiva ou mesmo fenomenológica
transcendendo a esses limites, buscando penetração maior na psique do ser
humano, daí o seu interesse pela psicodinâmica, psicanálise e ciências
afins. Foi um dos seis fundadores da
sociedade Brasileira de Psicanálise, em 1944, tendo se submetido à didática com
a Dra. Adelheid Koch, médica psicanalista alemã, que durante a segunda grande
guerra foi atraída para o Brasil por jovens psiquiatras sequiosos de formação
neste setor. Em 1949 viajou para os estados Unidos onde
permaneceu por cinco meses estagiando com Sandor Lorand no Instituto de
Psicanálise de Nova York, acompanhando por cinco meses os trabalhos de Frieda
From Reichmann e colaboradores, em análise de psicóticos no Chestnut Lodge
Sanatorium em Rockville, entrando também em contato com Franz Alexander,
Therese Bendek, Annie Reichmann e Edith Jacobson. Regressando ao Brasil foi convidado para
analista didata do Instituto de Psicanálise da SBP São Paulo, funções que
exerce até hoje (1977). Foi presidente dessa sociedade nos biênicos 1953-54,
1961-62 e 1973-74, tendo promovido a vinda ao Brasil de ilustres psicanalistas
estrangeiros como Hans Thorner, W.Bion e Hervert Rosenfeld. Doutorou-se em medicina pela Faculdade
Nacional de Medicina da Universidade do Brasil tendo defendido, brilhantemente,
com distinção, a tese “Sobre a Psicopatologia do Incesto”, a dois de abril de
1943; obteve o título de docente livre pela Faculdade de medicina da
Universidade de São Paulo, por concurso realizado em 1947. Tendo também se
tornado Docente Livre pela Faculdade de medicina da Universidade do Brasil, por
concurso para provimento efetivo do cargo de professor catedrático em
maio-junho de 1958. Em março de 1964 prestou concurso para
provimento do cargo de professor Catedrático da Cadeira de Psiquiatria na
Escola Paulista de Medicina. Depois se tornou Chefe do
Departamento onde exerceu intensa atividade nas áreas de ensino, pesquisa,
assistência e mais recentemente na psiquiatria comunitária e preventiva, com
oportunidade de realização e preenchimento dos anseios e filosofia psiquiátrica
que vinha elaborando desde os primórdios de sua formação. Ampliou e dinamizou o
Departamento de Psiquiatria da EPM. Iniciou seu trabalho em 1964, com apenas a
colaboração de quatro médicos voluntários ou comissionados e uma secretária,
contando atualmente com mais de 70 elementos. Graças ao convênio assinado pela Secretaria
de Saúde e a Escola Paulista de medicina, em 1972, Darcy Uchôa conseguiu
melhorar e ampliar gradualmente as instalações do Departamento e obter e
aprimorar pessoal especializado. A criação de Residência em Psiquiatria, na
EPM, uma das mais antigas aspirações de recém-formados, que ao terminarem o
curso curricular precisavam buscar outros centros para especialização, se deve
aos esforços e interesse de Darcy Uchôa. De ano para ano é maior o número de
candidatos à residência e estágio, cujo prestígio se deve ao trabalho que vem
sendo desenvolvido sob sua orientação. Com grande capacidade de reunir ao seu
redor pessoas jovens com sede de saber, que valorizam e compreendem o
privilégio de trabalhar e aprender ao seu lado fundou em 1955, com seus
primeiros colaboradores, o Centro de Estudos do Departamento, do qual foi o
primeiro presidente, centro esse que vem promovendo reuniões ordinárias
semanais, e extraordinárias para as quais tem sido convidados ilustres conferencistas.
Em agosto de 1967 promoveu a criação do Boletim de Psiquiatria, publicação
trimestral que, não obstante os percalços e dificuldades várias, que
caracterizam as publicações científicas de um modo geral, vêm sobrevivendo sem
falhas, agora no seu 8º. Volume. Características de sua personalidade
dinâmica e criativa são os “Simpósios de Psiquiatria” que vem organizando
anualmente, desde 1971, simpósios esses, para os quais são chamados notáveis
nomes da psiquiatria brasileira. Além dos “simpósios” tem promovido e
organizado cursos extracurriculares, ciclos de cinema, conferências e exposição
de arte psicopatológica, bem como aceito inumeráveis convites para participar
em empreendimentos semelhantes patrocinados por outras entidades. Inúmeros congressos
nacionais e estrangeiros têm contado com sua presença em ativa participação e
por muitas vezes apresentação em relatório oficial. Tem publicado cerca de 300
trabalhos científicos sobre psiquiatria, psicanálise, medicina psicossomática,
filosofia e ciências afins. Publicou cinco teses que defendeu com inteligência,
cultura, eloquência e brilhantismo que lhe são peculiares: Sobre a Psicopatologia do Incesto, tese de doutorado; A Estrutura Psicológica da Neurose
Compulsiva, no concurso à docência livre de Clínica Psiquiátrica na
Faculdade de Medicina da USP; Sobre a
Psicopatologia da Despersonalização, no concurso para catedrático de
Psiquiatria da Faculdade Nacional de Medicina;
Sobre a Psicodinâmica da
Depressão, no concurso à cátedra de Psiquiatria da Escola Paulista de
medicina; A Estrutura Psicológica do
Delírio Esquizofrênico, no concurso à cátedra na Faculdade de Medicina da
USP. Publicou os livros Psiquiatria e Psicanálise, duas edições, a segunda revista e
ampliada e atualizada e Conceito de
Psiquiatria, já tendo prontos e aguardando publicação Estudos de Psiquiatria dinâmica – 2 volumes e Psicologia Médica. É membro da IPA, analista didata da SBP de
São Paulo, Associação Brasileira de Psicanálise, Associação Brasileira de
Psiquiatria, do departamento de Psiquiatria da Associação Paulista de Medicina,
Sociedade de Medicina Legal e Criminologia de são Paulo, Centro de estudos
Franco da Rocha, Sociedade Paulista de Psicologia e Psicoterapia de Grupo,
associação Brasileira de medicina Psicossomática e Academia de Medicina de são
Paulo. Entre outros cargos foi por três biênios presidente da Sociedade
Brasileira de Psicanálise, 1º. Secretário e por duas vezes presidente do
Departamento de Psiquiatria (anteriormente Neuropsiquiatria) da Associação
Paulista de medicina, Secretário da seção de Psicologia Judiciária da sociedade
de medicina Legal e Criminologia de São Paulo, Presidente do CE Franco da Rocha
e do Centro de Estudos do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de
medicina, 2º. Secretário e diretor da Seção de Higiene mental da sociedade de
Psicologia de são Paulo, Presidente da comissão de ensino e membro do conselho
consultivo da sociedade paulista de Psicologia e Psicoterapia de Grupo,
delegado, Vice-Presidente e membro da comissão Científica e Educação da
associação de Psiquiatria. Participou de diversas bancas examinadoras
inclusive para Professor titular de Psiquiatria. É um dos pioneiros no Brasil
das técnicas de psicoterapia breve e grupal. Características bastante peculiares do
Professor Uchôa são a presteza, atenção, disponibilidade e prazer com que
aceita, assume e cumpre os compromissos científicos que lhe são solicitados,
muitas vezes com sacrifício de sua vida particular e lazer, cousa rara em
pessoa já tão sobrecarregada de afazeres. O gosto de ensinar, o interesse e
amor pelo ser humano, à imensa capacidade de trabalho, a facilidade de
comunicação, o brilho e cultura que põe a serviço da ciência jamais permitiram
que desapontasse os que o procuraram em busca de conhecimento ou terapêutica. Darcy de Mendonça Uchôa em seu trabalho
clínico, conferências, seminários, discussões e apartes em sessões científicas
é figura invulgar. "Ensina deleitando os ouvintes e discípulos, tal a
clareza de seu pensamento, de sua linha de raciocínio e maneira elegante de
verbalizar.” É pessoa de energia inesgotável, incansável, que vem dedicando sua
vida de maneira integral a uma só filosofia de trabalha que marca, honra e
engrandece a Psiquiatria e a Psicanálise brasileiras”. O
professor Uchôa chegou à aposentadoria compulsória em 13 de junho de 1977. Bibliografia
consultada. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X1944000200011 Sobre
a psicopatologia do incesto. Darcy Mendonça Uchôa. Tese de doutoramento. Ed.
Mário M. Ponzini e Cia., Rio de Janeiro, 1942.
F. Tancredi Shirakawa, Itiro. A
Psiquiatria na Escola Paulista de Medicina. São Paulo 1989.
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