Psyquiatry online Brazil
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Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello

Junho de 2017 - Vol.22 - Nº 6

France - Brasil- Psy

Coordenação: Docteur Eliezer DE HOLLANDA CORDEIRO

Quem somos (qui sommes-nous?)                                  

France-Brasil-PSY é o novo espaço virtual de “psychiatry on line”oferto aos profissionais do setor da saúde mental de expressão lusófona e portuguesa.Assim, os leitores poderão doravante nela encontrar traduções e artigos em francês e em português abrangendo a psiquiatria, a psicologia e a psicanálise.

Qui sommes- nous ?

FRANCE-BRASIL-PSY est le nouvel espace virtuel de “psychiatry on line” offert aux professionnels du secteur de la santé mentale d’expression lusophone et française. Ainsi, les lecteurs pourront désormais y trouver des traductions et des articles en français et en portugais concernant la psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse.

SOMMAIRE (SUMÁRIO):

 

  • 1. O NASCIMENTO DA PSICOLOGIA DA CRIANÇA
  • 2. O OBJETIVO DA AGNOTOLOGIA
  • 3. INCIDÊNCIAS DA PSICANÁLISE (1)
  • 4. A RESSONÂNCIA DAS DORES CRÔNICAS SOBRE O PSIQUISMO


  • 1. O NASCIMENTO DA PSICOLOGIA DA CRIANÇA

    Referência: revista Sciences Humaines, Agosto de 2017

    Foi na segunda metade do século passado que nasceram os primeiros trabalhos de psicologia da criança. Em 1877, Charles Darwin (1809-1882) publicou o « Esboço biográfico duma criança », partindo da observação de seu filho. Nos Estados Unidos, Granville Stanley Hall (1844-1924) fundou, em 1893, a Associação Nacional para o estudo da Criança. Em 1904, Alfred Binet (1857-1911) elaborou com Théodore Simon a ‘’escala métrica da inteligência’’, que dará origem ao famoso QI (Quociente intelectual), cujo objeto é a descrição sistemática das capacidades mentais das crianças, levando em conta suas idades.

    No inicio do século 20, duas correntes se afrontaram: o behaviorismo, ciência dos comportamentos, pretende que a inteligência é o produto de aprendizagens obtido pelo condicionamento. Os inatos, quanto a eles, é o produto das capacidades inerentes sobre as quais nem sempre è possível agir.

    Mas neste século também nasceram concepções construtivistas da inteligência. Para Jean Piaget (1896-1980), considerado o grande psicólogo da criança naquela época, a inteligência se desenvolve pelas interações entre as estruturas mentais e o meio ambiente.

    Dois outros pesquisadores célebres, Henri Wallon (1879-1962) e Lev S.Vigostki (1896-1934), criticaram, entretanto, Piaget por não levar suficientemente em consideração a influência do meio social no desenvolvimento da criança.

    A teoria de Piaget, discutida desde o inicio, foi muito invalidada pelas pesquisas no fim do século vinte. Ela tornou-se um modelo de base para as numerosas pesquisas feitas em psicologia cognitiva, que se multiplicaram nos últimos trinta anos.

    Pesquisadores mostraram, notadamente, as capacidades precoces do bebê; alguns preferiram insistir sobre as estratégias da aprendizagem, outros se interessaram pela importância das emoçôes e das relações afetivas… Os trabalhos sobre os distúrbios da criança (autismo, dislexia, perturbações da atenção…) foram também objeto de pesquisas fecundas, graças especialmente aos avanços das neurociências.

    2. O OBJETIVO DA AGNOTOLOGIA

    Filosofia, biologia, sociologia, antropologia… E porque não uma agnotologia, uma « ciência da ignorância»? A palavra foi inventada pelo historiador americano Robert Proctor nos anos de 1990, quando ele realizou, fascinado, a capacidade do setor do tabaco a desinformar a opinião. Naquela época, após procedimentos judiciários, a justiça americana obrigou os industriais do tabaco a publicar seus arquivos. Robert Proctor começou então a ler os milhões de páginas contidas nesses documentos. Ele descobriu como a indústria conseguiu fazer que fossem esquecidas as relações entre cigarros e câncer, portanto comprovadas desde 1940. A estratégia não consistia em negar a realidade dos trabalhos científicos, mas de desprezá-los no meio de outras pesquisas.

    Assim, a indústria do tabaco começou a financiar trabalhos científicos de grande valor sobre as origens genéticas dos diferentes tipos de câncer¸ permitindo assim de minimizar a responsabilidade do tabaco.

    Outra pista consistiu em multiplicar as pesquisas sobre o câncer e o tabaco, a fim de recusar os resultados dos trabalhos já existentes.

    Como resumiu em 1969 uma nota interna do fabricante de tabaco Brown et Williamson, ‘’o que produzimos é a dúvida, que é a melhor maneira de rivalizar com a quantidade de informações e de fatos que ocupam o espírito do público. ’’

    Depois, a noção entrou em vigor na comunidade científica para designar, ao mesmo tempo, a ciência da ignorância e o estudo dos mecanismos de sua construção. Ela permitiu de melhor compreender a tentativa de alguns industriais procurando minimizar o impacto do reaquecimento climático ou, num outro domínio, o longo silêncio sobre o perigo dos pesticidas para os agricultores.

    Em suma, um novo campo essencial para experimentar ‘’outras verdades alternativas’’.

    3. INCIDÊNCIAS DA PSICANÁLISE (1)

    Referência:J.-B. PONTALIS (NOUVELLE REVUE DE PSYCHANALISE) (1970-1989)

    1970

    Acho necessário recusar tanto o imperialismo da psicanálise como sua estrita limitação ao espaço da cura, como significa aqui o termo incidência. Não há ou não deveria haver uma psicanálise aplicada. Mas como contestar que o aparecimento do freudismo no inicio do século modificasse, tanto no seu objeto quanto no seu método, todas as ciências do espírito?

    Este primeiro número indica assim o projeto da revista e convida os analistas a não ficarem encerrados nos seus discursos e nas suas instituições, mas igualmente de não ceder sobre a especificidade de suas experiências e a maneira como interpretam.

    Assim, abordaremos questões precisas sobre a etnologia, a mitologia, o materialismo histórico, a psicobiografia.

    A fronteira entre analistas e não-analistas não será erigida em principio.

    OBJETOS DO FETICHISMO

    A noção de fetichismo varia entre uma teoria das religiões herdada de Auguste Comte e uma sociologia vinda de Marx, entre a etnologia que tende a recusá-la e a psicopatia sexual. Qual é o sentido que pode ser encontrado nesses empregos tão variados?

    Os elementos de análise trazidos por Freud e, sobretudo, os conceitos de denegação e de clivagem, permitem de não limitar o fetichismo a uma perversão e de não o reduzir a um tipo de objeto considerado como capaz de excitar o desejo sexual. Uma das hipóteses aqui propostas é que a função do objeto fetiche, no perverso, é preenchida em toda sociedade por certo tipo de crença.

    Este número, no qual a confrontação entre disciplinas revelou-se particularmente fecunda, tornou-se um trabalho de referência.

    1971

    De que maneira a psicanálise-que só opera por meio da linguagem e só trata afecções psíquicas - é concernida pelo corpo? Se for o caso, não seria de uma maneira imaginária, pela representação que cada um se faz de seu corpo e de seus órgãos, representação muitas vezes bastante distante dos dados anatômicos e da fisiologia, como mostra a histeria?

    Que significam os distúrbios da imagem do corpo invocados na clínica das psicoses? Como compreender o ‘’biologismo’’ freudiano?

    São algumas questões que recebem respostas geralmente confusas que este número quer evitar, pesquisando os diferentes lugares da anatomia onde o corpo é representado.

    4. CHRISTINE YAHDAT

    « A RESSONÂNCIA DAS DORES CRÔNICAS SOBRE O PSIQUISMO ».

    Ginecologista e obstetra em Paris, CHRISTINE YAHDAT trabalha no hospital Tarnier-Cochin e na clínica Hartmann, sendo também secretária adjunta do Conselho da Ordem.

    PERCURSO:

    *1987

    Tese de medicina na universidade Purpan de Toulouse.

    *1990

    Três anos de prática hospitalar em tempo integral no Centro Hospitalar Universitário da Citadelle, em Liège (Bélgica).

    *2006

    Primeira estadia em Kongoussi, capital da província de Bam, e depois no Sanrgo (Burkina Faso).

    *2014

    Nomeada secretária geral adjunta do Conselho da Ordem.

    ENTREVISTA DADA A BEATRICE JAULIN E PUBLICADA NO BOLETIM DA ORDEM NACIONAL DOS MÉDICOS DA FRANÇA.

    « Eu fui criada por uma avó que havia dado à luz seu primeiro filho em condições dramáticas e cuja vida foi marcada por tragédias médicas que eu considerava como uma maldição. Muito cedo, senti a necessidade de compreender, de reparar, de aliviar, de curar.

    Os anos de 1980 foram os de uma formidável evolução da ginecologia-obstétrica com o desenvolvimento das técnicas de ajuda médica à procriação, o progresso da ecografia obstétrica e as possibilidades do diagnóstico pré natal, sem esquecer a utilização do lasers em cirurgia… Participar desta aventura, era entusiasmante.

    Eu encontrava assim as razões que me levaram a ser médica: a proximidade, o acompanhamento, a prevenção, a alegria. Três anos como prático hospitalar no Centro Hospitalar Universitário de Liège, completaram minha formação. O serviço de ginecologia do professor

    Lambotte era muito atuante, tanto no diagnóstico pré natal como na procriação medicalmente assistida.

    A dimensão psicossomática das patologias era levada em conta, um enfoque que se tornou o fio condutor da minha maneira de acompanhar meus pacientes.

    Depois de meu retorno à Paris, há vinte anos, eu trabalho como médico num gabinete. Minhas experiências pessoais e a maturidade favoreceram a evolução da minha maneira de trabalhar. A ginecologia é uma especialidade aberta que possibilita especializações específicas.

    Com o professor Paniel, aprendi a acompanhar patologias vulvovaginais. As patologias dolorosas crônicas da pélvis e do períneo afetam uma região tabu, misteriosa, sobre a qual as pacientes falam com muita dificuldade. É preciso compreender e escutar suas dores, estabelecer objetivos realistas e acompanhá-las até a cura.

    Nessa situação, eu notei o quanto era essencial a ressonância das dores crônicas no psiquismo. O objetivo da restauração vulvo-vaginal é de responder à esperança estética das pacientes que desejam ser restauradas nas suas intimidades e funções sexuais.

    Eu trabalho ainda numa associação em favor do Burkina Faso. Isto é igualmente uma história de família na medida em que, com minhas irmãs, criamos essa associação para continuar o trabalho de nosso pai, médico, e de nossa mãe que ensinava na região de Bam.

    Atualmente, ajudamos a escolarizar e a nutrir 1500 crianças, tendo como parceiro a Escola alsaciana, em Paris, e participamos do funcionamento dum dispensário médico. Meu sonho é de ir morar no Burkina Faso e ficar muito tempo para poder realizar a construção dum dispensário para as mães e suas crianças.


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