Volume 22 - Novembro de 2017 Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello |
Março de 2017 - Vol.22 - Nº 3 France - Brasil- Psy Coordenação: Docteur Eliezer DE HOLLANDA CORDEIRO Quem somos (qui
sommes-nous?)
France-Brasil-PSY é o novo espaço virtual de “psychiatry on line”oferto aos profissionais do setor da saúde mental de expressão lusófona e portuguesa.Assim, os leitores poderão doravante nela encontrar traduções e artigos em francês e em português abrangendo a psiquiatria, a psicologia e a psicanálise. Qui sommes- nous ? FRANCE-BRASIL-PSY est le nouvel espace virtuel de “psychiatry on line” offert aux professionnels du secteur de la santé mentale d’expression lusophone et française. Ainsi, les lecteurs pourront désormais y trouver des traductions et des articles en français et en portugais concernant la psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse.
1.
SOBRE A HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA NO BRASIL A
história da psiquiatria no Brasil seguiu de uma maneira geral as grandes etapas
e progressos do movimento psiquiátrico, notadamente francês, alemão e
norte-americano. É
verdade que este último teve uma importância maior, graças sobretudo, à escola
dita culturalista americana, tanto psiquiátrica como psicanalítica. Os livros
dos autores pertencendo a essas escolas (Karen Horney, Erich Fromm, Clara
Thompson, Sullivan), traduzidos em português depois de algum tempo, obtiveram
bastante sucesso público e também nos meios psiquiátricos. Como
escreveu Maurício Medeiros: a influência vinda da França foi muito importante. Assim,
depois do gesto de Pinel liberando os doentes das correntes de ferro no
hospital da Salpetrière, Sigaud, médico francês estabelecido no Brasil,escreveu
num jornal um artigo que se tornou histórico, no qual ele chamava a atenção das
autoridades para o espetáculo lamentável dos loucos deambulando nas ruas do Rio
de Janeiro, sendo alvo dos risos e sarcasmos dos vagabundos. ‘’Um
ano depois da lei francesa de 30 /06 /1838 sobre a proteção dos alienados, um
médico italiano, De Simoni, lançou no Brasil a idéia da criação de um
estabelecimento que foi inaugurado oficialmente em 1852’’. Maurício
Medeiros, notou ainda, que a primeira lei brasileira
regulamentando a assistência dos doentes mentais, em 1852, foi inspirada pelas
idéias de Esquirol. Esta
também foi a opinião de Pacheco e Silva, para quem as
obras de Pinel e de Esquirol exerceram seguramente uma grande influência no
espírito dos alienistas brasileiros, quando eles aconselharam o imperador para
que mandasse construir um hospital psiquiátrico, segundo as instruções dos dois
sábios, os quais tiveram suas estátuas colocadas na entrada do hospital Pedro
II, nome do imperador. Pacheco
e Silva assinala
ainda que, antes da primeira guerra mundial, a psiquiatria francesa dominava
nas escolas médicas do Brasil. Para
terminar, lembremos ainda outras etapas importantes da história da psiquiatria
no Brasil : a criação em Março de 1881, nas faculdades
de medicina do Rio e da Bahia, das cátedras de doenças nervosas e mentais que
permitiram o ensino da psiquiatria. Em seguida, este ensino ganhou
progressivamente outros Estados do Brasil, onde foram aplicados os novos
métodos psiquiátricos. Sobre
este assunto, Mário Yahn mostrou como a
malarioterapia, a insulina, o cardiazol,o electrochoque e a psicocirurgia,
empregados muito cedo no Brasil inteiro, de maneira isolada ou não, suscitaram
muitas esperanças nos psiquiatras brasileiros pelas perspectivas prometedoras
que eles pareciam trazer. A
terceira etapa foi aquela das importantes descobertas realizadas pela
psicofarmacologia, descobertas que modificaram, no Brasil como no mundo, os
métodos do tratamento psiquiátrico. 2.
SOBRE A HISTÓRIA DA PSICANÁLISE NO BRASIL (Primeira parte) Um
fato interessante na história da psicanálise no Brasil foi a influência
desenpenhada pela psiquiatria dita oficial representada pelo professor Franco
da Rocha, titular da cátedra de psiquiatria da Faculdade de Medicina de São Paulo. Com
efeito, numa conferência pronunciada em 1919 sobre o tema do delírio, Franco da
Rocha falou sobre a importância da obra de Freud para a compreensão do delírio,
dos sonhos e das obras literárias. Ao tomar conhecimento dessa conferência, o
doutor Marcondes começou a se interessar pela psicanálise, fundando, em 1927, a
primeira sociedade brasileira dessa disciplina, cujo presidente foi o
psiquiatra Franco da Rocha. Freud comentou este acontecimento numa carta
enviada a Ferenczi em janeiro de 1928. Um
ano depois foi criada no Rio de Janeiro uma secção desta sociedade. Mais uma
vez, seu primeiro presidente foi um célebre psiquiatra brasileiro, o professor
Moreira. Anos
mais tarde, em 1931, foram publicadas em português as Cinco lições sobre a
psicanálise de Freud. E, em 1937, em São Paulo, foi instalado o primeiro centro
de formação de psicanalistas na América Latina. Para
a realização deste projeto, foi muito importante a ajuda da doutora Lucy Koch,
(Adelheid Lucy (1896 - 1980), membro da
Sociedade psicanalítica de Berlim. Ela havia deixado a Alemanha para escapar às
perseguições dirigidas contra os Judeus. Foi
no congresso psicanalítico internacional de Marienbad, que o doutores Ernest
Jones e Otto Fenichel conferiram a Lucy Koch o direito de trabalhar no Brasil
como psicanalista didática. Em
1944, a sociedade brasileira foi reconhecida de maneira provisória pela
sociedade internacional, e, em 1951, ela foi reconhecida de maneira definitiva. Naquela
época, o movimento psicanalítico no Brasil compreendia quatro sociedades: duas
no Rio, uma em São Paulo e uma em Porto Alegre. Ao
contrário da influência indiscutível exercida pela psiquiatria francesa, a
psicanálise brasileira ignorou durante muito tempo os trabalhos dos
psicanalistas franceses. Sobre esta questão, notemos que Ernest Jones havia
previsto a divisão da sociedade inglesa de psicanálise, após as audaciosas
idéias de Melanie Klein: «Eu não tenho nenhuma dúvida que isto vai ocorrer em
todas as outras sociedades de psicanálise.» Este
fenômeno ocorreu igualmente no Brasil, dando lugar a tomadas de posição
radicais e a adesões incondicionais que dividiram os analistas entre Freudianos
e Kleinianos. Sobre
esta questão : um amigo e psiquiatra me disse um dia: « aqui no Brasil, Freud está
fora de moda, nós estudamos sobretudo as obras de Melanie Klein » ! Mas assim
fazendo, não correríamos os riscos de esquecer as próprias bases e o sentido da
teoria kleiniana?
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