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Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello

Novembro de 2017 - Vol.22 - Nº 11

Psiquiatria Forense

HILDA MORANA EM CAPÍTULOS
CAPÍTULO 2

Hilda Clotilde Penteado Morana


O Psicopata

Psicopatologia

Os transtornos da personalidade e psicopatia são o grande desafio da psiquiatria, uma vez que a personalidade determina a evolução de todos os quadros mentais além do estilo de vida de cada um.

Anormalidade é imperfeita, há imperfeições humanas que são próprias da condição humana, quando imperfeição se manifesta com comportamento antissocial com prejuízo aos outros a sociedade precisa custodiar tais sujeitos.

Existe a ideia comum que a violência sempre esteve presente no ser humano, desde Caim e Abel. A psicologia durante anos buscou um culpado para a questão, sendo o trauma emocional na primeira infância o grande vilão.

Para os filósofos a violência estaria dentro de nós e todos seríamos vítimas e agressores potenciais.

Segundo Sassi e Soares (2001) o córtex pré-frontal sofre intensa maturação e “poda” sináptica durante a infância. Teoricamente, experiências emocionais e estímulos ambientais nesse período seriam capazes de influenciar a neuroarquitetura cortical, com resultado final no volume de substância cinzenta medido na ressonância magnética.

TEICHER, (2002)  refere que :

“(...) até o início dos anos 90, profissionais da área de saúde mental acreditavam que as dificuldades emocionais e sociais ocorriam principalmente por meios psicológicos. Os maus tratos na infância eram vistos como causadores do desenvolvimento de mecanismos de defesa intrapsíquicos, responsáveis pelo fracasso do indivíduo na idade adulta. Ou como paralisadores do desenvolvimento psicossocial, mantendo a vítima presa à condição de "criança ferida” (...)”.

Como o abuso infantil ocorre durante o período formativo crítico em que o cérebro está sendo fisicamente esculpido pela experiência, o impacto do extremo estresse poderia, segundo o autor, deixar uma marca indelével em sua estrutura e função. “Tais abusos, induziriam a uma cascata de efeitos moleculares e neurobiológicos, que alterariam de modo irreversível o desenvolvimento neuronal ”.

 

Outro aspecto que têm sido relacionados com delinquência é a relação do hábito de fumar durante a gravidez. Esta tem sido objeto de estudos com resultados positivos (BRENNAN, 2002).

 

A pobreza sempre foi um fator etiológico considerado para a questão da criminalidade, principalmente entre a literatura leiga ou jornalística. Contudo hoje é clara a ideia de que a pobreza não gera psicopatia. Contudo a miséria é um campo fértil para a proliferação da violência. Na periferia das grandes cidades, onde a situação social carece de recursos de educação, lazer e cultura, principalmente o jovem, fica mais vulnerável à influência de tráfico de drogas e a serem cooptados pelas organizações criminosas. Daí a importância em se diferenciar os conceitos de criminalidade, violência e psicopatia.

 

Nos países desenvolvidos existem prisões para psicopatas e são prisões perpetuas quando não pena capital (pena de morte) e a prisão é perpetua porque o psicopata tem a natureza de psicopata, ou seja, é da natureza dele e ele não consegue ser diferente, por isso ele vai sempre reincidir em atividade cruel. Cadeias de psicopatas, ao contrário do que as pessoas pensam, é uma cadeia tranquila. Nada acontece. O psicopata, ele é covarde, buscando a vítima frágil. Em uma cadeia de psicopatas eles acabam respeitando uns aos outros formando grupos de afinidade, mas sem nenhuma crueldade porque ali todos são como ele, os diretores de cadeias de psicopatas afirmam que dormem. No Canada muitas cadeias de psicopatas são cuidadas por mulheres normais. A experiência com cadeia de psicopata tivemos em São Paulo com a Unidade Básica de Saúde que foi um projeto da FEBEM, o projeto bancado pela Secretaria da Saúde existe até hoje, o autor entende que psicopata tem que ser muito bem tratado com ambiente familiar e socialmente adequado, por isso construiu nessa unidade básica de saúde, rodeada por muros altos, segurança máxima, mas dentro da unidade existem 6 casas com quadros na parede, geladeira, televisão, computador, internet e pinguim em cima da geladeira, para lá o primeiro habitante dessa unidade foi o assassino da Liana Friedenbach, Roberto Aparecido Alves Cardoso, o Champinha. Esta unidade chegou a abrigar 9 psicopatas que se agruparam em grupos de 3 faziam brincadeiras as vezes de mal gosto com os enfermeiros, mas sem agressão, nunca houve um ato cruel entre eles. Os psicopatas em cadeias próprias se agrupam por afinidade, mas nada fazem de cruel uns com os outros. Ontem, estive na presença do atual diretor do Hospital de Custódia de Franco da rocha. Ele me disse que tinha duas psicopatas na ala de mulheres e que elas agiam assim como descrevi. Elas dividiram as demais detentas e as dominam fazendo com que elas pratiquem atos que não seriam da natureza dela praticar. E que agora entrou mais uma. Durante um período, o colega relatou, (...) “é com um copo com lama, fica turbulento por um período, mas logo a lama se assenta e volta tudo a normalidade”. O que ele quis dizer é que a terceira psicopata fez um acordo com as outras duas e re-dividiram as demais detentas em três grupos.

Tanto pela visão de Rousseau, Freud e Nietsche a infelicidade humana existe devido à restrição individual que a sociedade impõe. Para Augusto Conte o homem só e infeliz quando não consegue integrar socialmente. Para Augusto Comte, a natureza do homem é essencialmente social. Portanto, tanto neurótico quanto psicopático são infelizes. O que mais se aproxima dessas ideias é o marxismo, mas que não deu certo. Ou seja, ou marxismo propunha o mundo ideal através do fim das classes sociais, mas apesar de toda a luta de classes não conseguiu se estabelecer, as classes sociais existem e vão sempre continuar a existir, no positivismo de Augusto Comte vive- se para o outro que pode ser uma pessoa, uma causa social ou coletivo com a pátria. Essa posição difere frontalmente com a psicanalise onde o que importa é o bem-estar de si próprio, o psicopata se auto exclui da sociedade porque ele não consegue formar uma unidade interna socializada.

O psicopata tem uma hostilidade vital (Allonso Fernandez)

A ideia que a violência sempre esteve presente no ser humano vem desde Caim e Abel, as pessoas entendem que há uma entidade do bem e uma entidade do mal. Para os filósofos a violência estaria dentro de nós e que todos seríamos vítimas e agressores em potencial. A psicologia considera que o psicopata é resultado de um trauma emocional.

Existem duas posições doutrinares, a primeira é da tabla rasa (Locke). Refere-se a doutrina do bem Salvaje de J.J. Rousseau, isso leva a esperança de corrigir o indivíduo através da boa influência, a ideia de buscar fora da pessoa os elementos que explicasse seu comportamento e sua desenvoltura vivencial, teve ênfase com as teorias de Rousseau, segundo o que era a sociedade quem corrompia o homem e a teoria constitucional, o sujeito é melhor ou pior de acordo com sua disposição constitucional, essa doutrina estabelece limites na esperança terapêutica. A teoria da tabla rasa refere-se à escola social (extrínseca). Esta afirma que a sociedade é quem produz os psicopatas e faz seus próprios criminosos por não lhes dar os meios educativos e econômicos necessários, a segunda posição (intrínseca) corresponde a escola constitucionalista. Nesta o psicopata tem uma constituição especial, é geneticamente determinado e como consequência pouco se pode fazer.


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