Volume 22 - Novembro de 2017 Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello |
Janeiro de 2017 - Vol.22 - Nº 1 Artigo do mês
A MEDICINA PSICOSSOMÁTICA RELACIONADA À ÚLCERA PÉPTICA: REVISÃO DE LITERATURA
Alana Vasconcelos da Silva Paiva A medicina
psicossomática enfatiza a interação entre mente e corpo, existe a convicção de
que os fatores psicológicos são importantes no desenvolvimento de todas as
doenças. Pode ser na progressão, no agravamento, na exacerbação ou na
predisposição de uma doença, variando de transtorno para transtorno (KAPLAN
& SADOCK, 2010). Levando em
consideração a existência de tais fatores psicológicos, em 1978, a National Academy Sciences dos Estados Unidos definiu a medicina
comportamental como “o campo interdisciplinar voltado para o desenvolvimento e
a integração de conhecimentos e técnicas nas ciências
comportamental e médica e para aplicação desses conhecimentos e técnicas
na prevenção, no diagnóstico e na reabilitação” (SCHWARTZ et
al, 1978). Observa-se que o estresse
crônico, em geral, com a variável da ansiedade, tem correlatos fisiológicos
que, combinados à vulnerabilidade genética ou à debilidade de um órgão,
predispõem certas pessoas a transtornos psicossomáticos (KAPLAN; SADOCK, 2010).
Algumas pessoas reagem pelo estômago, outras pelo sistema cardiovascular, ou
ainda pelos diversos sistemas do corpo humano (KAPLAN & SADOCK, 2010). Sabe-se que existe
uma ligação entre estresse, ansiedade e responsividade
fisiológica do sistema gastrintestinal (ALEXANDER, 1989; CERCHIARI, 2000;
REZENDE, 2009; KAPLAN & SADOCK, 2010). O sistema nervoso entérico é
bastante sensível aos estados emocionais, estudos sugeriam que fatores
psicológicos estavam relacionados à vulnerabilidade à úlcera péptica, mediada
pelo aumento da secreção de ácido gástrico associada ao estresse (COELHO, 2007;
REZENDE, 2009). Estudos com prisioneiros de guerra durante a II Guerra Mundial
documentavam taxas de formação de úlcera péptica duas vezes
mais alto (REZENDE, 2009). Diante disso, fatores psicossociais estão
envolvidos na expressão clínica dos sintomas, talvez por reduzir as respostas
imunológicas, resultando em vulnerabilidade à infecção com Helicobacter pylori (REZENDE, 2009). Os objetivos do
presente estudo são realizar uma revisão sistemática da literatura médica do
século XXI sobre úlcera péptica psicossomática, identificar os fatores
biopsicossociais mais prevalentes na úlcera péptica psicossomática e descrever
as causas psicogênicas, as características de personalidade e formas de
enfrentamento mais frequentemente descritas na literatura médica sobre úlcera péptica. Para a realização
dos objetivos desta pesquisa, serão realizadas buscas em bases de dados
eletrônicos e bibliotecas virtuais, tais como Medline-PubMed,
Periódicos Capes e SciELO (Scientific Electronic Library Online). Os termos de busca serão “psychosomatic peptic ulcer” e os termos equivalentes nos idiomas
português e espanhol. A amostra de
artigos para análise será determinada por meio dos dois seguintes critérios de
inclusão: 1) artigos com data de publicação a partir de 2010; 2) artigos
publicados em periódicos médicos internacionais com avaliação cega por pares. Os artigos
fornecidos pelas bibliotecas virtuais em resposta aos termos de busca passarão
por uma triagem, sendo que só serão lidos na íntegra e analisados aqueles
artigos que atenderem, simultaneamente, aos dois critérios de inclusão na
amostra. Os artigos selecionados para análise serão copiados das bibliotecas
virtuais e salvos em formato digital PDF para a leitura e análise. A úlcera péptica é uma doença milenar, mencionada pelas
antigas civilizações através de sintomas, especialmente a hematêmese
e melena (COELHO, 2007; REZENDE, 2009).
Após a
aquisição dos conhecimentos anatomoclínicos sobre a
úlcera péptica no século XIX e início do século XX, deu-se início a
investigação de sua etiopatogenia. Sem uma exata
compreensão da causa e da patogênese da doença ulcerosa seria difícil
estabelecer uma orientação racional de seu tratamento (REZENDE, 2009). Segundo
Coelho (2007), duas correntes de pensamento se posicionaram a respeito: a
primeira que considerava a úlcera uma lesão primária de natureza local e a
segunda que admitia tratar-se de manifestação secundária a uma condição mórbida
de natureza sistêmica. Das
duas correntes de pensamento nasceram várias teorias - teoria vascular,
inflamatória, mecânica, infecciosa, endócrina, alérgica, neurogênica,
biotipológica, genética, eclética, da hipersecreção gástrica e psicossomática -
todas atribuíam a participação do suco gástrico na formação e progressão da
úlcera (COELHO, 2007). Levando em
consideração a teoria psicossomática a literatura
alude à possível influência do psiquismo na patogenia da úlcera. Em 1942, Wolff
e Wolff, divulgaram suas experiências com um caso de gastrostomia
definitiva por oclusão do esôfago. Nos bordos da fístula gástrica,
exteriorizara-se um colar de mucosa gástrica que permitiu aos autores observar
a influência das emoções na motilidade,
vascularização e secreção do estômago. Verificaram que o
sentimento de medo ou de tristeza causava palidez da mucosa gástrica e inibição
da motilidade e da secreção do estômago, enquanto os
sentimentos de ansiedade, hostilidade ou ressentimento acompanhavam-se de
hipersecreção, hipermotilidade, ingurgitamento da
mucosa, tornando-a mais frágil ao traumatismo e à ação da secreção
ácido-péptica. Observaram também o papel protetor e cicatrizante do muco
na mucosa gástrica. De acordo com Dunbar existem estudos de perfis que descrevem determinadas correlações entre a doença e o tipo de personalidade.
Através destes estudos de perfis, Dunbar, conclui que
determinados tipos de personalidades tenderiam a assumir ou não ocupações de
responsabilidade. Alvarez, clínico e estudioso de perfis, tem aperfeiçoado o conceito de personalidade própria do portador de úlcera
péptica, concluindo que estas pessoas demonstram características do tipo
empreendedor, enérgico e agressivo. No entanto, Draper
diz que um grande número de pacientes com úlcera péptica demonstra que sob a
aparência de empreendedor, enérgico e agressivo há característica de
dependência e, conforme
Draper as expressou,
femininas. As
perturbações da função gastrintestinal ocorrem mediante a liberação de
catecolaminas, as respostas autonômicas simpáticas podem ser geradas no
hipotálamo lateral e as parassimpáticas no hipotálamo periventricular
e lateral, viajam até o núcleo motor dorsal do nervo vago, que é modulado pelo
cérebro límbico, produzindo uma rota de resposta emocional-intestinal (COELHO,
2007; REZENDE,
2009). Referências: 1-
REZENDE, J., M. Úlcera
péptica e a ilusão do conhecimento um exemplo de falácia das evidências em
medicina. São Paulo: Unifesp, 2009 2-
CERCHIARI, E., A., N. Psicossomática um estudo histórico e
epistemológico. Mato Grosso do Sul, 2000 3- ALEXANDER, F. Medicina Psicossomática. Artes Médicas. Porto Alegre, 1989 4- COELHO, L., G., V.; et
al; Como
diagnosticar e tratar enfermidades pépticas e Helicobacter
pylori. Belo Horizonte: Moreira Jr, 2007 5- SCHWARTZ, G.E.; WEISS, S.M. Proceedings of the Yale Conference on Behavioral
Medicine. Washington, D.C.: Government Printing Office, 1978. * Graduanda de Medicina –
Faculdade de Medicina de Rio Verde ** Prof. de Psicologia Faculdade de Medicina de Rio Verde
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