Volume 22 - Novembro de 2017 Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello |
Fevereiro de 2016 - Vol.21 - Nº 2 Psicanálise em debate PSICANÁLISE – MORTE E RESSURREIÇÃO *
Sérgio
Telles Psicanálise,
morte e ressurreição, tema que nos foi proposto, aponta para o refluxo sofrido
pela psicanálise nas últimas décadas, abalando o papel de proeminência que ela ocupava
tanto na psiquiatria e como na cultura de modo geral. Iniciarei
falando de sua relação com a psiquiatria. Para entendê-la precisamos falar da
história dessas disciplinas. Como é algo muito extenso, farei um recorte com o
que interessa mais diretamente a nosso tema. Durante
muitos anos, o preconceito contra a doença mental ocorria dentro da própria
medicina e a psiquiatria era ali desvalorizada e desprestigiada. Seu saber foi
constituído, inicialmente, pelos grandes mestres europeus dos séculos 18 e 19,
que descreveram e classificaram as doenças mentais, distinguindo as de origem orgânica
e as psicogênicas. Para ambas, a psiquiatria oferecia poucos recursos
terapêuticos. As descobertas de Freud ocorreram na virada do século 19 para o
20, estabelecendo a existência do inconsciente, dimensão do psiquismo até então
ignorada. Mostrava que os sintomas, assim com os sonhos, expressavam de forma
simbólica, deslocada e condensada, conflitos internos derivados de experiências
vividas pelo paciente, que necessitam ser interpretados para serem
compreendidos. Após uma inicial rejeição, a psicanálise foi integrada à psiquiatria,
que a viu como uma valiosa contribuição, fornecendo elementos nosográficos, uma
etiologia psicogênica e uma terapêutica para diversos distúrbios mentais, especialmente
as neuroses. Essa integração foi particularmente bem sucedida nos Estados Unidos,
chegando ao auge entre os anos 50 e 70. Sua importância era tanta que influenciou
diretamente a feitura dos dois primeiros manuais de diagnóstico e estatístico
de transtornos mentais, os DSM. Tudo mudou em 1973, quando forças-tarefa da APA
foram organizadas com o objetivo especifico de estabelecer novos parâmetros
diagnósticos e aproximar a psiquiatria da medicina, daí resultando o DSM3
publicado em 1980. As forças-tarefa seguiam os modelos da medicina baseada em
evidências e os critérios psicanalíticos, que não podiam ser testados
empiricamente, foram descartados. Essas
mudanças foram concomitantes com avanços significativos no campo das
neurociências, na melhor compreensão do funcionamento dos neurotransmissores, no
estudo das neuroimagens e, especialmente, no grande desenvolvimento dos psicofármacos.
O
fator econômico também pesou nessas mudanças, configurando o que Eisenberg chama
de “monetarização”[1] da medicina. A preocupação
com a redução dos custos dos tratamentos assume uma importância decisiva, seja
no âmbito do orçamento público ou no setor privado das empresas de seguro-saúde,
impondo tratamentos rápidos e baratos. Ficam assim priorizados os tratamentos farmacológicos
e as terapias de curto prazo, como a terapia cognitivo-comportamental. Nesse
contexto, as terapias de base psicanalítica, mais longas e de difícil avaliação,
ficaram inviabilizadas[2]. Essas
mudanças restauraram a autoimagem da psiquiatria, que finalmente podia sentir-se
tão “séria” e “cientifica” quanto às demais especialidades médicas. “Estivemos
por tanto tempo expostos ao ridículo por colegas médicos e cirurgiões - que nos
viam como curandeiros ou pensadores amalucados - que muitos de nós procuraram a
respeitabilidade profissional aderindo a um modelo reducionista da doença
mental. Trocamos a psiquiatria sem cérebro da primeira metade do século XX pela
psiquiatria sem mente da segunda metade” – diz Eisenberg.[3] Com isso a psiquiatria reduziu sua dimensão
psicológica, provocando alguns vieses. O maior
deles é a perda da subjetividade do paciente, que passou a ser visto
como alguém que sofre um desequilíbrio neuroquímico a ser medicado. Numa
consulta psiquiátrica, queixam-se os próprios pacientes, o que parece importar
é seu comportamento e a contabilidade estatística de seus sintomas, ficando
esquecidos sua vida pessoal, seus relacionamentos, seus problemas. Por
outro lado, a primazia dada à medicação na terapêutica em detrimento da
psicoterapia levou a uma crescente medicalização da vida cotidiana. Diz
Whitaker – “Nos Estados Unidos os gastos com drogas psiquiátricas aumentaram de
cerca de 800 milhões de dólares em 1985 para mais de 40 bilhões em 2011, evidência
de como o diagnóstico de transtorno mental e a prescrição de medicação
psiquiátrica se expandiram dramaticamente desde a publicação do DSM4[4],[5]. A
importância dos psicofármacos na clinica instalou graves questões éticas e
conflitos de interesse trazidos pelas nem sempre transparentes relações entre o
establishment psiquiátrico e a
indústria farmacêutica. Além disso, a preocupação com os diagnósticos ditos “científicos”
levaram às severas distorções configuradas no DSM5, como mostra Frances[6]. A
psiquiatria desligou-se, espero que temporariamente, do saber teórico clinico
da psicanálise, que tanto tem a dizer sobre a relação transferencial médico-paciente,
a técnica de apreender sua intimidade através da escuta, além dos procedimentos
terapêuticos individuais, grupais, familiares e institucionais. Penso
que deveríamos lutar para recuperar a proximidade que já existiu um dia entre a
psiquiatria e a psicanálise. A meu ver um dos obstáculos a serem superados para
a consecução desse objetivo é a questão da cientificidade da psicanálise[7]. Perrés[8]
afirma que a ideia de que a psicanálise é uma pseudociência advém de
filósofos positivistas, que propõem definições do que é ciência, usando
unicamente o modelo das ciências duras, (hard sciences, ciências exatas). Hoje
os epistemólogos não defendem a existência de uma única ciência e um único método
científico. Pensam em diferentes formas de cientificidade e distintas
abordagens epistemológicas em função das características das disciplinas em
pauta. Há diferentes formas de produzir conhecimento, dependentes de métodos
particulares. As ciências duras (exatas), desdobram um saber
científico, as disciplinas discursivas, geram um saber narrativo.
A história e o direito, a sociologia, a antropologia e a própria economia, como
a psicanálise, produzem um inestimável saber sobre o homem e esse conhecimento
não pode ser descartado por ele não ser quantificado, reproduzido ou equacionado
em termos estatísticos. A
crença de que existe uma total objetividade na relação entre o objeto de
conhecimento e o sujeito cognocente (observador), ou seja, que a
observação científica seja isenta e objetiva, que dela estejam excluídos
interferências subjetivas por parte do observador, é hoje considerada um mito,
o mito da objetividade totalmente desinteressada do cientista e da ciência, que
nega a realidade de sua inserção sócio-política e subjetiva. Perrés
afirma que Freud na verdade introduz uma verdadeira revolução epistemológica ao
propor o contrário da posição positivista. Freud postula não só que na relação objeto
de conhecimento/sujeito cognocente não existe o mito da objetividade
como incorpora na observação científica a subjetividade do observador, criando
um novo campo pesquisa. Mais ainda, mostra como o próprio observador, o sujeito
cognocente, está cindido pelo Inconsciente, e somente tendo conhecimento
desta sua dimensão terá acesso aos processos de conhecimento de si-mesmo e do
outro. Freud[9]
diz que o pensamento científico se opõe ao pensamento religioso. A religião é a
verdade revelada por um ser supremo. A ciência não é uma verdade revelada: é um
corpo de conhecimento produzido pelo homem, num trabalho paciente, sempre
incompleto, preso ao regime do ensaio e erro, submetido à necessidade de correção, Por
esse critério, a psicanálise está dentro do campo da ciência, mesmo que, como
disse Freud, a especificidade de seu campo faça com que seus trabalhos “científicos”
se assemelhem mais a contos e romances do que aos trabalhos das demais áreas. Entretanto,
artigos recentes, produzidos dentro da metodologia predominante, mostram a
eficácia das terapias dinâmicas e questionam a efetividade das TCC[10]. Penso
então que a psicanálise está no momento em certo ostracismo na psiquiatria não
por seu saber ter sido contestado, mas em função de determinados critérios de
cientificidade, da imposição de diagnósticos que privilegiam o comportamento e a
contabilidade dos sintomas e de tratamentos centrados na medicação e nas
terapias de curto prazo, que atendem às pressões por baixos custos públicos e
privados. Assim
como na psiquiatria, a psicanálise também perde aparentemente seu lugar
proeminente no campo da cultura. Para compreender esse fato é necessário
apontar para algumas das alterações ocorridas nas ultimas décadas nos
costumes sociais. Minorias
longamente oprimidas tiveram um definitivo suporte na luta contra
discriminações com o estabelecimento da Carta dos Direitos Humanos (1948).
Negros, mulheres e homossexuais desenvolveram agendas e militância política de
grande força e conseguiram importantes mudanças legais e comportamentais,
descriminalizando condutas e impondo o politicamente correto. Nessa luta, feministas e LGBT tiveram
o auxílio dos avanços da tecnociência, que estabeleceram métodos anticoncepcionais
seguros e possibilitaram profundas intervenções no corpo. A pílula libertou a
sexualidade da mulher, até então restringida pelo risco de gravidez. A
tecnologia alterou as modalidades da reprodução humana (inseminação artificial,
fertilização in
vitro,
implantação do ovo em barrigas de aluguel, etc.), a ponto de, estritamente falando,
sua realização prescindir da forma biológica natural, configurada pela cópula
de dois seres de sexos opostos. Além disso, os avanços da
medicina, através da manipulação hormonal e de novos procedimentos cirúrgicos,
propiciaram alterações radicais no corpo, tornando viável até mesmo a mudança
de sexo. O Viagra devolveu a sexualidade para aqueles que a julgavam
perdida. Acompanhando estas transformações,
os costumes passaram a aceitar novas formas de organização familiar, como as
famílias reconstituídas após o divórcio, a união estável protegida pela lei e a
união civil homoafetiva, que abriu espaço para que pares homossexuais postulassem
uma nova forma de parentalidade, através da adoção de filhos ou da concepção
através de recursos tecnológicos, quando os gametas doados por terceiros ou por
um dos interessados são fertilizados in
vitro e
implantados posteriormente num útero de aluguel ou de um dos cônjuges, no caso
de um casal de lésbicas. Hoje temos famílias monoparentais, multiparentais,
homoparentais. As mudanças na organização da
família introduzidas pela tecnociência reforçaram o declínio da figura paterna,
tal como descrito por Roudinesco[11]. Para ela, a deposição e decapitação do rei na
Revolução Francesa foi um golpe simbólico decisivo no poder paterno. A
estrutura familiar patriarcal – na qual o pai é o representante de Deus e do
rei - perdeu sua estabilidade e vem definhando desde então, fenômeno
acompanhado pelo gradual empoderamento da mulher. Como vimos, atualmente grande
número de famílias não é mais regido pelo pai, cujo poder é compartilhado com outras
figuras parentais, quando não substituído pelo poder materno. Sob esse prisma
pode ser visto também a contestação da autoridade ocorrida 68, com a revolta
dos estudantes na França, o movimento hippie e pacifista contra a guerra no
Vietnam, a liberação sexual. De
certa forma, com o enfraquecimento do pai e o empoderamento da mãe, transitamos
de Édipo para Narciso. Ao
mesmo tempo, ocorria uma mudança na ética do capitalismo. Em seus primórdios,
como propõe Weber, ele seguia a ética do calvinismo, que impunha ascetismo,
abnegação, poupança e esforço de produção. O capitalismo hoje estabelece um mandado
oposto, não se deve poupar e sim consumir[12].
Há uma conclamação para que se goze a vida, para que todos satisfaçam seus
desejos. Todos têm “direito de ser feliz” e essa felicidade é apresentada como
a posse de bens de consumo. Tais ideias são apregoadas através de eficazes técnicas
de propaganda muitas vezes derivadas de conceitos psicanalíticos[13], que
manipulam as massas ao lhes vender a ilusão de que adquirindo bens de consumo se
conseguirá a tão almejada completude. Em termos analíticos, o objeto perdido (o
falo) deixa de ser inalcançável e pode ser adquirido em qualquer loja. Como
essa é uma promessa impossível de ser cumprida, desencadeia-se nas massas uma
insatisfação ressentida, uma frustração frente ao engodo que sofreram e que é diagnosticada
como “depressão”, e, como tal, medicada, para regozijo da big pharma. Mais
recentemente, a globalização rompeu fronteiras geográficas e culturais,
universalizando não só a economia, como hábitos e costumes. A internet – que
tem provocado uma revolução cuja grandeza aos poucos vamos apreendendo - dissemina conhecimento, imagens,
informações, desinformação e muita pornografia. No
meio de tantas mudanças, a psicanálise estaria falando de realidades que não
existem mais? A psicanálise é uma crença que vigorou por cem anos e se extinguiu
à luz da ciência? É uma velharia a ser depositada num museu? O complexo de
Édipo pressupõe uma família patriarcal autoritária? Como ficaria ele nas famílias de hoje? Ataques
mais diretos à psicanálise foram feitos pelo chamado “Freud bashing”ou “Freud
wars”, liderados por Frederick Crews nos anos 80-90 nos Estados Unidos, cujos
equivocados argumentos foram retomado na França com o famoso “Livro Negro da
Psicanálise” (2005). Da mesma forma fizeram as feministas dos anos 70, que a
viam como uma teoria machista, misógina e patriarcal. Mais recentemente, os
grupos LGBT tiveram atitude semelhante, acusando os psicanalistas de preconceituosos
por se recusarem a vê-los como praticantes de variantes legítimas da
sexualidade. Radicalizando esse pensamento, a “queer theory” afirma que a
teoria psicanalítica impõe uma heterossexualidade normativa, patologizando as
demais vertentes da sexualidade. Enquanto a psicanálise insiste nas
consequências psíquicas das diferenças anatômicas sexuais, os novos teóricos
afirmam que o complexo de Édipo é apenas uma modalidade de relacionamento
próprio de um determinado tipo de família e não uma estrutura universal.[14] Vê-se
então que a psicanálise encontra-se no meio de um fogo cruzado, atacada por uns
como pseudociência, e por outros como preconceituosa, defensora de valores
patriarcais ultrapassados, politicamente conservadora e reacionária. Como
lidar com tais acusações? Em
primeiro lugar, avaliando se são pertinentes ou não. É verdade que a realidade hoje
nos oferece questões que parecem colocar em cheque alguns pontos de nossa teoria,
o que nos obriga a reformulá-los ou depurá-los de ideologias e preconceitos que
poderiam tê-los distorcido. Concomitantemente,
devemos ter em conta que o fato de alguns valores serem dominantes numa certa época
não lhes confere legitimidade e veracidade. Sabemos
que fatores político-sociais podem desencadear graves ataques à psicanálise não
por ela estar equivocada, mas pelo contrário, pela veracidade intrínseca de seu
saber. É o que ocorreu com o nazismo, que a perseguiu e quase a exterminou. De
minha parte, penso que a psicanálise está na contramão do espírito do tempo. O
que é muito paradoxal, dado ter sido ela mesma uma das forças que forjaram
esses novos tempos. A psicanálise, que esteve sempre na vanguarda, agora se vê
obrigada a assumir um lugar que parece retrógrado e reacionário. Porque
a psicanálise está na contramão? Porque enquanto a ideologia do consumo e a
liberação dos costumes sexuais propagam a plena e imediata realização dos
desejos, alimentam o narcisismo, a fantasia onipotente, a negação de perdas e limites
inerentes à vida, a psicanálise diz o oposto. Para vivermos em sociedade, é
necessário reprimir ou sublimar nossos desejos sexuais e agressivos. É preciso abandonar
a onipotência e superar o narcisismo, aceitar o outro em sua alteridade, entender
que o desejo nunca se satisfaz, pois o que em última instância ele busca é a
completude e a totalidade do sentimento oceânico, a fusão paradisíaca com a mãe.
É justamente desse desejo que devemos abdicar, aceitar sua perda, fazer seu
luto. Nisso se constitui o que chamamos de “castração simbólica”, que permite a
transição do principio do prazer para o principio da realidade, indispensáveis
para que possamos crescer, ter autonomia e constituir-nos como sujeitos. Estar
nessa posição não significa que a psicanálise tenha perdido seu vigor. Sua vitalidade
se constata na pujança de sua produção teórica, patente nas inovações trazidas
por Melanie Klein e seus discípulos, Winnicott, Rosenfelt e Bion, e, mais
recentemente, no forte impacto trazido por Lacan. São mostras de um pensamento
vivo e em expansão. Outra
evidencia de sua atualidade é a defesa que lhe faz Jacques Derrida, tido por
muitos como um dos filósofos mais importantes dos últimos tempos. Sua obra foi
profundamente influenciada pela psicanálise e a “desconstrução”, procedimento
que criou para a compreensão dos fenômenos socioculturais, segundo René Major, é
um prolongamento de psicanálise[15]. Derrida[16]
diz que mais do que nunca o pensamento psicanalítico é necessário para
entendermos as grandes questões socioculturais que nos atormentam, desde que a
evidente irracionalidade que nelas se detecta aponta para uma dimensão inconsciente
que somente a psicanálise tem instrumentos para abordar. Em
contrapartida aos ataques que a psicanálise tem recebido no correr de sua
historia, é reconfortante saber que desde o inicio ela contou com uma
formidável aliada. A arte. A arte lhe tem sido fiel desde sempre. Se ainda não
temos padrões epistemológicos precisos para aferir a verdade de seu saber, ela
fica de pronto evidente no contato com as produções artísticas, especialmente a
literatura. Muito antes de Freud, os grandes escritores descreviam os conflitos
psíquicos inconscientes, entendiam a ambivalências e a contradição interna com
as quais nos debatemos. Shakespeare dizia que o sonho é a matéria da qual nós
homens somos feitos. Não poderia haver uma formulação mais precisa sobre a
importância do inconsciente no acontecer humano. Concordo
com Eli Zaretsky quando diz que o pensamento de Freud ficou “obsoleto” por razões
circunstanciais que nada têm a ver com seus méritos intelectuais, com a verdade:
“Sua plausibilidade foi minada pela dinâmica do capitalismo de consumo, a
ambição comercial da indústria farmacêutica e das companhias de seguro saúde, a
abertura da esfera pública para qualquer clamor sensacionalista, não importa
quão mal fundado seja, a política de
gênero e sexualidade e as mutantes significados da vida privada”[17]. Uma
evidência de como a “obsolescência” da psicanálise decorre de circunstâncias políticas
e socioeconômicas alheias a seu valor intrínseco é sua grande expansão na
China, contexto socioeconômico bem diferente do nosso. Isso, por sua vez, mostra a universalidade
das descobertas freudianas, aplicadas numa realidade cultural distante do
judaico-cristianismo que as viu nascer. A psicanálise não morreu e
consequentemente não ressuscitou. Ela continua viva e, mais do que nunca,
necessária. Segue seu caminho, confiante na verdade de seu saber, com os altos
e baixos produzidos por previsíveis resistências. Ao contrário de temer por seu
fim, penso que ela mal começou a ser entendida e aplicada adequadamente. Os ataques que recebe não deixam de ser
evidencia de sua força e prova de sua resistência. (*) Palestra realizada no evento “II Curso Psiquiatria para não psiquiatras”, promovido pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em 05/03/2016 [1] Ginzberg, E. –
“Monetarization of medical care”- N. Eng. J. Med, 1984; 310:1162-1165 – apud
Eisenberg, Leon - “Were we all asleep at the switch? A personal reminiscence of
psychiatry from 19940 t0 2010”- Acta Psychiatr Scand , 2010,:12:89-102 [2] Burkeman, O. – Therapy wars – Revenge of Freud – The Guardian – January 7 2016 https://www.theguardian.com/science/2016/jan/07/therapy-wars-revenge-of-freud-cognitive-behavioural-therapy - artigo publicado na grande imprensa mas com grande massa de informação e referencias bibliograficas. [3] Eisenberg, Leon – “Mindlessness and
Brainlessness in Psychiatry”- British Journal of Psychiatry (1986), 148,
497-502 [4] Whitaker R. and Cosgrove, L. –
Psychiatry under the influence – Palgrave Macmillan – 2015 – Kindle Edition - loc. 251 de 6422 [5] Whitaker and Cosgrave, op. cit. - loc136-237 de 6422 [6] Allen, Frances – Saving
Normal – William Morrow/HarperCollins, New York, 2013 [7] Burkeman, O. – op.cit. [8] Perrés, José – “La epistemologia de la psicanalisis – Introducción a sus núcleos problemáticos e encrucijadas – www.acheronta.org/acheronta7/epis-psa.html [9] Freud, S. – “A questão de uma weltanchauung” – Novas Conferencias Introdutórias – Vol. XXII – Imago Editora, Rio, 1976 [10] a) Leichsenring F1, Rabung S, Leibing E. - The efficacy of
short-term psychodynamic psychotherapy in specific psychiatric disorders: a
meta-analysis Arch Gen
Psychiatry. 2004 Dec;61(12):1208-16.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15583112 b) Abbass AA1, Hancock JT, Henderson J, Kisely S. - Short-term psychodynamic psychotherapies for
common mental disorders.- Cochrane Database Syst Rev. 2006 Oct 18;(4):CD004687. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17054212 c) Bateman A1, Fonagy P. - 8-year follow-up of patients treated for borderline personality
disorder: mentalization-based treatment versus treatment as usual - Am J Psychiatry. 2008 May;165(5):631-8. doi: 10.1176/appi.ajp.2007.07040636. Epub 2008
Mar 17. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18347003 [11] Roudinesco,Elizabeth – “A Família em desordem”- Jorge Zahar Editor – Rio – 2003 – pg 18/34 [12] Zaretsky, Eli – “Political Freud, a
history” – Columbia University Press, New York, 2015, Kindle edition, location
285-679 [13] É necessário lembrar a importância de Edward Bernays, sobrinho de Freud, que foi o primeiro a usar o conhecimento analítico na propaganda e nas relações publicas, como pode ser visto no excelente documentário realizado pela BBC, “The century of the self”, escrito e dirigido por Adam Curtis - 2002 [14] Telles, S. – Algumas ideias em torno de “A moral sexual ‘cultural’ e o nervosismo moderno – in Braunstein, N. e Fuks, B. (org) - 100 anos de novidades – A moral sexual ‘cultural’e o nervosismo moderno, de Sigmund Freud – Editora Contracapa, Rio, 2011, p 166 [15] Major, René – Lacan com Derrida – Civilizacao Brasileira, Rio, 2002, p.22 [16] Derrida – Estados d’Alma da Psicanálise – Editora Escuta, São Paulo, 2001 [17] Zaretsky, op. cit. 1-2 de 215
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