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Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello

Junho de 2016 - Vol.21 - Nº 6

COLUNA PSIQUIATRIA CONTEMPORÂNEA

PATOLOGIA DUAL

Fernando Portela Câmara


É interessante ver como um conceito novo precisa de tempo para ser assimilado quando se pensa dentro de um marco referencial estabelecido, um paradigma. A Patologia Dual é um paradigma novo, e por isso ainda entra em choque com nossa enteléquia programada no paradigma linear das classificações psiquiátricas que, por tradição, fundamenta-se na primeira lei da lógica aristotélica. Fomos programados para pensar em termos de co-morbidade ou patologias concomitantes, quando a própria expressão “patologia dual” já sugere em si patologias concorrentes. Gosto de usar a expressão “duas doenças numa só”, ou “dois frutos de uma mesma árvore”, e talvez a imagem sirva para fixar o conceito. Alguns dos meus leitores devem se lembrar da novidade americana dos anos 90, o “Double D”, instituído pela APA, quando se notou que a dependência química grave não se associava ao acaso a uma doença mental, e nem eram as drogas que induzia essa segunda patologia. E tinha mais, era uma doença mental que precedia a DQ, e isso muitas vezes passava despercebido devido à alta visibilidade social da DQ. E para virar ainda mais os miolos da psiquiatria tradicional, evidências genéticas e epidemiológicas sugerem fortemente que a DQ não decorre de exposição reiterada à uma droga, ou seja, de frequência de uso e de dose, mas de um endofenotipo presente numa doença mental (exofenotipo). Assim, não existe vício, mas vulnerabilidade individual, ou seja, polimorfismos geneticamente produzidos.

Disto decorre que o termo “dependência química” é inadequado, pois, não distingue a dependência fisiológica, assim sendo, a PD recomenda o uso do termo “adição”, por razões óbvias.

Acrescento também que a PD não é somente ligada a drogas ilícitas, drogas lícitas são também incluídas e, mais recentemente, a ludopatia, cujas evidências são bastante significativas. Acrescento também que somente da adição grave, que necessita cuidados diretos e muitas vezes internação, estão incluídas no conceito de PD. Não entra no constructo o uso recreativo ou habitual de drogas.

Em Salvador, pela primeira vez, dias 1 e 2 de julho deste ano, acontecerá o congresso ibero-americano de PD, patrocinado pela ABP, e será uma boa chance para trocar conhecimentos com os colegas que trabalham com isso.

Uma prévia pode ser vista na mesa promovida pela ABP-TV recentemente:

https://www.youtube.com/watch?v=CKONAUMFv4c


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