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Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello

Junho de 2016 - Vol.21 - Nº 06

Artigo do mês

A PREVALÊNCIA DA DEPRESSÃO NA SÍNDROME DA FIBROMIALGIA

Maria Laís de Ávila Lima1,6
Amanda Braga Munuera2,6
Débora Bernardes Peixoto3,6
Mônica Maciel Guimarães4,6
Cláudio Herbert Nina e Silva5,6

(1) Graduanda do Curso de Medicina, Universidade de Rio Verde [email protected]
(2) Graduanda do Curso de Medicina, Universidade de Rio Verde [email protected]
(3) Graduanda do Curso de Medicina, Universidade de Rio Verde [email protected]
(4) Graduanda do Curso de Medicina, Universidade de Rio Verde [email protected]
(5) Orientador, Prof. Adjunto, Faculdade de Medicina, Universidade de Rio Verde. [email protected]
(6) Grupo de Estudo de Neurociências e Saúde, Faculdade de Medicina, Universidade de Rio Verde (GENS-FAMERV)

Resumo: A síndrome fibromiálgica (SF) é uma doença reumatológica caracterizada por dor difusa e crônica, queixas de fadiga, rigidez muscular, distúrbios do sono, disfunção cognitiva, ansiedade e depressão e acomete principalmente mulheres. A associação entre dor crônica e transtornos mentais, como por exemplo a depressão e a ansiedade, é bastante referida na literatura médica, sendo que tanto a depressão pode gerar a dor fibromiálgica quanto a SF pode causar a depressão. A comorbidade da depressão em pacientes com SF está diretamente relacionada a prejuízos na qualidade de vida. Desse modo, o objetivo do presente estudo foi determinar a prevalência da depressão na fibromialgia a partir da revisão sistemática da literatura. A busca nas bibliotecas virtuais Periódicos Capes, Scielo, Lilacs e PubMed publicados no século XXI produziu 128 artigos dos quais apenas 12 artigos satisfizeram, simultaneamente, a todos os critérios de inclusão. A prevalência da depressão em pacientes fibromiálgicos na amostra de artigos analisada teve uma média de 52%. Em todos os artigos analisados, a prevalência da depressão em fibromiálgicos foi significativamente superior à prevalência da depressão em não fibromiálgicos. Além disso, a prevalência da depressão em mulheres com SF foi significativamente superior à prevalência da depressão em homens com SF. Esses achados evidenciam a importância da atenção aos aspectos psiquiátricos de pacientes com SF. 

 

Palavras–chave: depressão maior, distúrbios psiquiátricos, síndrome fibromiálgica

 

 

The prevalence of depression in the fibromyalgia syndrome: a systematic review

 

Abstract: The fibromyalgia syndrome (FS) is a rheumatic disease characterized by diffuse pain and chronic complaints of fatigue, muscle stiffness, sleep disorders, cognitive dysfunction, anxiety and depression and mainly affects women. The association between chronic pain and mental disorders such as depression and anxiety, is well reported in the medical literature where both depression may generate the SF as fibromyalgia pain may cause depression. Comorbidity of depression in patients with SF is directly related to losses in quality of life. Thus, the aim of this study was to determine the prevalence of depression in fibromyalgia from a systematic review of the literature. The search in virtual libraries Capes, Scielo, Lilacs and PubMed produced 128 articles published in the 21th century of which only 12 articles met simultaneously to all the inclusion criteria. The prevalence of depression in fibromyalgia patients in the article analyzed sample had an average of 52%. In all the analyzed articles, the prevalence of depression in fibromyalgia patients was significantly higher than the prevalence of depression in non fibromyalgia. Moreover, the prevalence of depression in women with SF was significantly higher than the prevalence of depression in men with SF. These findings highlight the importance of attention to the psychiatric aspects of patients with SF.

 

Keywords: fibromyalgia syndrome, major depression, psychiatric disorders

 

Introdução

            A fibromialgia é uma das síndromes reumáticas mais frequentes, caracterizada por dor musculoesquelética difusa e crônica, que afeta cerca de 2% a 3% da população brasileira, acometendo predominantemente o sexo feminino e surgindo entre os 30 e 55 anos de idade (SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA, 2011).

Segundo os critérios do Colégio Americano de Reumatologia (CAR), a síndrome fibromiálgica (SF) é definida, como dor por pelo menos três meses e presença de sensibilidade em 11 ou mais dos 18 pontos dolorosos à digito palpação, denominados tender points (SANTOS et al, 2012). Acredita-se que a etiologia da SF seja multifatorial, podendo envolver fatores genéticos, estados inflamatórios, perturbações do sono e fatores psicológicos (FERREIRA, 2015).

O quadro clínico da SF se caracteriza por queixas de fadiga, rigidez muscular, distúrbios do sono, disfunção cognitiva, ansiedade e depressão. Trata-se de uma doença incapacitante, sendo comum a referência de agravamento pelo frio, umidade, mudança climática, tensão emocional ou por esforço físico (PROVENZA JUNIOR et al, 2004; CROFFORD, 2014).

             A associação entre dor crônica e transtornos mentais, como por exemplo a depressão e a ansiedade, é bastante referida na literatura médica. Do ponto de vista psiquiátrico, tal associação pode ocorrer quando o transtorno mental: (1) provoca o aparecimento de condições físicas que causam dor; (2) piora a condição dolorosa, evento comum nos quadros de depressão; (3) é secundário ao aparecimento de dor física, propiciando condições para que o transtorno psiquiátrico aflore; ou (4) pode apresentar como queixa a dor (PINHEIRO et al, 2014).

A prevalência de anormalidades psiquiátricas, particularmente a depressão, é elevada entre pacientes com fibromialgia, variando de 49% a 80% (BERBER et al, 2005). A depressão pode desencadear ou agravar os sintomas característicos da fibromialgia, implicando em funcionalidade reduzida, maior percepção de estresse e maior intensidade dos sintomas depressivos do que indivíduos saudáveis (HOMANN et al, 2012).

Devido ao impacto que a depressão pode ocasionar na apresentação da doença, seja através da intensificação dos sintomas pré-existentes ou da produção de sintomas adicionais, é de extrema importância haver uma abordagem multidisciplinar dos sintomas depressivos tanto na avaliação quanto no tratamento nos pacientes com fibromialgia (SANTOS et al, 2012).

Logo, o objetivo do presente estudo foi determinar a prevalência de depressão em pacientes fibromiálgicos, uma vez que o conhecimento das variáveis relacionadas à fibromialgia é crucial para a elaboração de estratégias mais adequadas no tratamento e conduta de pacientes afetados (PINHEIRO et al, 2014).

 

Material e Métodos

          A revisão sistemática da literatura foi realizada por meio da consulta às bibliotecas virtuais Periódicos Capes, Scielo, Lilacs e PubMed. Os termos de busca foram: “depression AND fibromyalgia” e os termos equivalentes em português, incluindo o operador booleano “AND”.

Os critérios de seleção dos artigos foram: 1) publicação a partir de 2001 em periódicos com a avaliação cega por pares; 2) estudos empíricos (clínicos e/ou epidemiológicos); 3) estudos realizados em populações brasileiras; 4) estudos que não envolveram o uso de medicamentos nos grupos estudados.

Após seleção, os artigos foram lidos na íntegra e os dados epidemiológicos de prevalência da depressão na SF foram registrados em planilha eletrônica para análise quantitativa.

 

Resultados e Discussão

            A busca nas bibliotecas virtuais Scielo e Lilacs produziu 151 artigos, dos quais apenas 12 artigos satisfizeram, simultaneamente, a todos os critérios de inclusão. A prevalência da depressão na SF nos artigos revisados variou entre 60% e 48%, sendo que a média de prevalência foi igual a 52%.

Esses resultados corroboram estudos prévios de prevalência da depressão na SF em populações estrangeiras (PINHEIRO et al, 2014). Os dados dos estudos revisados indicaram que pacientes com SF apresentaram uma prevalência significativamente maior de transtornos depressivos quando comparados com indivíduos sem diagnóstico de SF.

            Para explicar a relação entre a dor na fibromialgia e depressão foram elaboradas três hipóteses: 1) a dor crônica da SF provocaria a depressão devido às consequências estressantes causadas pela experiência prolongada do paciente com a dor; 2) depressão e dor compartilhariam mecanismos patofisiológicos semelhantes; 3) depressão provocaria dor devido ao aumento da sensibilidade dolorosa. Também há evidências de que a SF seria uma resposta patofisiológica ao estresse devido às alterações no eixo hipotálamo-hipofisário-adrenal (SANTOS et al, 2012; PINHEIRO et al, 2014)

            Dentre os estudos encontrados, o que apresentou menor prevalência de depressão em pacientes fibromiálgicos foi o de Santos et al. (2012), que foi realizado em pacientes com diagnóstico de fibromialgia no ambulatório de Reumatologia de Hospital das Clínicas da faculdade de Medicina de São Paulo, com uma prevalência de 32,4% de pacientes acometidos. Em contrapartida, um estudo realizado em Curitiba por Homann et al. (2012) demonstrou a maior prevalência sendo 75%. Essa discrepância possivelmente pode ser explicada pelo fato de que o primeiro estudo utilizou como grupo amostral homens e mulheres, e o segundo utilizou somente mulheres pois nesse gênero a prevalência de depressão é maior.

            Comprovando o fato supracitado, observou-se que, na maioria dos artigos analisados na amostra, a prevalência de fibromialgia em mulheres foi significativamente superior à prevalência da fibromialgia em homens, sendo que a média desta prevalência no sexo feminino foi de 88,25% (SANTOS et al, 2006; SANTOS et al, 2012; BERBER et al, 2005)

            Além disso, a faixa etária mais acometida foi de adultos, com a média de idade de 48,78 anos incluindo homens e mulheres fibromiálgicos, o que corrobora com o estudo de Santos et al. (2006), onde a idade mais prevalente foi de 47,6 anos, evidenciando-se a importância de cuidado multidisciplinar em pacientes nessa faixa etária.

            Registraram-se evidências de decréscimo significativo no nível geral da qualidade de vida relacionada à saúde quando há comorbidade entre SF e depressão. Concordando com isso, os dados do estudo de Santos et al. (2006) demonstraram que a qualidade de vida dos fibromiálgicos é bem inferior aos indivíduos saudáveis e os domínios mais comprometidos foram o aspecto físico, a dor, a vitalidade e a capacidade funcional, em ordem decrescente. Já os domínios menos comprometidos foram o aspecto social e a saúde mental.

 

Conclusão

            Através de uma revisão sistemática de periódicos médicos nacionais e internacionais, o presente trabalho determinou que a prevalência da depressão na fibromialgia é mais alta do que na população em geral. Devido ao impacto que esse distúrbio psiquiátrico pode ocasionar na manifestação da SF, seja através da intensificação dos sintomas pré-existentes ou da produção de sintomas adicionas, é de extrema importância haver uma abordagem multidisciplinar dos sintomas depressivos tanto na avaliação quanto no tratamento nos pacientes com fibromialgia, o que demonstra a necessidade de maior atenção do reumatologista e, sobretudo, dos clínicos gerais, para os aspectos psiquiátricos dos pacientes fibromiálgicos.

 

 

Referências Bibliográficas

BERBER, J.S.S.; KUPEK, E.; BERBER S.C. (2005) - Prevalência de Depressão e sua Relação com a Qualidade de Vida em Pacientes com Síndrome da Fibromialgia. Revista Brasileira de Reumatologia. 45:47-54.

 

FERREIRA, A.J.O. (2015) - Fibromialgia: conceito e abordagem clínica: artigo de revisão. 43 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Medicina, Universidade de Medicina da Universidade de Coimbra.

 

HOMANN, D. et al. (2012) - Percepção de estresse e sintomas depressivos: funcionalidade e impacto na qualidade de vida em mulheres com fibromialgia. Revista Brasileira de Reumatologia. 52:319-330.

 

CROFFORD, L.J. (2014). Fibromialgia. In: Braunwald, E. et al. (orgs). Medicina Interna de Harrison.  Porto Alegre: ArtMed /Mc Graw Hill. 2849-2852

 

PINHEIRO, R.C. et al. (2014) Prevalência de sintomas depressivos e ansiosos em pacientes com dor crônica. Jornal Brasileiro de Psiquiatria. 63:213-219.

 

PROVENZA JUNIOR, J.R. et al. (2004) - Fibromialgia. Revista Brasileira de Reumatologia, 44:443-449.

 

SANTOS, A.M.B. et al. (2006) - Depressão e qualidade de vida em pacientes com fibromialgia. Revista Brasileira de Fisioterapia, 3:317-324.

 

SANTOS, E.B. dos et al. (2012) - Avaliação dos sintomas de ansiedade e depressão em fibromiálgicos. Revista da Escola de Enfermagem da USP. 46:590-596.

 

SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA - SBR - Fibromialgia: Cartilha para pacientes. São Paulo - SP, 2011. 20.


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