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Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello

 

Junho de 2015 - Vol.20 - Nº 6

História da Psiquiatria

ASSOCIATIVISMO MÉDICO E A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA - II

Walmor J.Piccinini

    No ano de 2016 a Associação Brasileira de Psiquiatria completa 50 anos num momento de grandes conquistas sendo a principal a de uma sede moderna no centro do Rio de Janeiro. Fundada em 13 de agosto, numa sala do Instituto Municipal Philippe Pinel por lideranças psiquiátricas vindas de diferentes pontos do território nacional. Muitos dos seus fundadores eram professores de psiquiatria. Sua criação ocorre num momento em que o poder psiquiátrico estruturado em torno de Centros de Estudos ligados aos hospitais passa para setores ligados à Universidade. Não deixa de ser sintomático que no mesmo ano foi fundada a Federação Brasileira dos Hospitais Psiquiátricos, e se estabelece uma acirrada disputa entre as duas associações.  Na época a FBHP era poderosa e seus líderes ocupavam altos cargos no governo federal. Nos dias atuais, com os hospitais colocados como vilões e sofrendo asfixia progressiva do Ministério da Saúde a Associação Brasileira de Psiquiatria luta contra a simples extinção dos leitos hospitalares.

    No presente artigo não vamos discutir a política de atendimento psiquiátrico, vamos voltar o assunto do associativismo. Para tanto vamos nos basear em dois autores, um elaborado por um professor de psiquiatria e outro num trabalho de uma doutora em História.

O primeiro é “Vida associativa brasileira; alguns dados históricos” publicado no Jornal Brasileiro de Psiquiatria em 1998. 47(5): 213-216. Por Othon Bastos (Othon Coelho Bastos Filho).

O segundo é o artigo da Historiadora Marta de Almeida  publicado na Revista História Ciências  Saúde Manguinhos, publicada em 2006; vol. 13 n.6 com o título “Circuito aberto: ideias e intercâmbios médico científicos na América Latina nos primórdios do século XX”. 

     Partimos do geral para o particular, a Dra Marta nos conduz pelos caminhos de origem dos primeiros congressos médicos latino-americanos e brasileiros, enquanto o Dr. Othon nos permite ter uma ideia dos congressos de psiquiatria.

No Brasil, Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro (1829) em 1835 passa a se chamar Academia Imperial de Medicina. Em 1889 com a proclamação da república passa a se chamar Academia Nacional de Medicina.

Em 1886 é fundada a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro.

Em 1895 é fundada a sociedade de medicina e Cirurgia de São Paulo.

“Essas associações científicas tiveram um papel fundamental em atividades de produção e de divulgação científicas. A participação das sociedades médicas na organização de congressos médicos foi constante, pois junto a sua atuação como foro de discussões entre os sócios, promotor de publicações, seus dirigentes tomavam para si a missão de realizar esses eventos como sinônimo do grau de 'adiantamento' em que se encontrava a medicina em seu país”.

Em 1898 aconteceu o Primeiro Congresso Científico Latino-americano, a Medicina era apenas uma das áreas envolvidas. Em 1901, no Chile aconteceu o primeiro congresso Médico Latino-americano. No quadro abaixo temos a relação dos principais congressos. Nos EUA em 1844 foi fundada por 13 administradores de hospitais uma entidade (The Association of Medical Superintendents of American Institutions for the Insane ) que mais tarde veio a ser a American Psychiatric Association.

(Apud Marta de Almeida)

Os Congressos Internacionais de psiquiatria começaram a partir de 1950 em Paris, depois veio o de Zurich em 1957, seguiu-se o de Montreal em 1961 e ali foi fundada a Associação Mundial de Psiquiatria.

No Brasil a Sociedade de Neurologia Psiquiatria e Higiene Mental do Brasil, capitaneada por Ulysses Pernambucano, em Pernambuco começou a promover reuniões e congressos. O primeiro foi em João Pessoa em 1938. O segundo em Aracaju em 1940 e o terceiro em Natal no ano de 1943. Se lembrarem da história, era o período da ditadura de Getúlio Vargas e o interventor em Recife era inimigo de Ulysses. Esta é a explicação por Recife, terra de Ulysses Pernambucano não sediar o congresso da SNPHM. Em 1943 morre Ulysses Pernambucano de Melo Sobrinho (1892-1943) (http://www.polbr.med.br/ano01/wal0201.php).

 A sociedade ressurgiria, após doze anos de hibernação, em 1955, em Recife. Seguem-se os eventos de Salvador (1958); de Belo Horizonte (1962); o primeiro fora da região nordestina e em 1965, o histórico Congresso de Fortaleza, que reuniria psiquiatras de diversas regiões do país e onde seriam lançadas as bases de fundação da ABP. Em decorrência destas articulações, no ano seguinte, 1966, seria criada a Associação, na cidade do Rio de Janeiro, sendo seu primeiro presidente o Prof. José Leme Lopes. A SNPHM realizou ao todo 23 Congressos sendo o último em Brasília em 1997. Aos poucos seus congressos, na prática se fundiram com o Congresso anual da ABP.” 

Nos Estados eram realizadas Jornadas, Simpósios, encontros que foram formando uma massa crítica que resultou no congresso brasileiro de psiquiatria (CBT) que tem reunido de seis a sete mil psiquiatras.

 A fundação da ABP significou uma troca de poder, os Centros de Estudos ligados aos hospitais públicos e privados deixaram de ter o domínio da psiquiatria brasileira que passou para a Universidade. Muitos dos Centros de Estudos eram ativos, com membros publicando em suas Revistas e em Revistas nacionais. Cito o Centro de Estudos  da Casa de Saúde Dr. Eiras, o C.E. do  Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo, O C.E. do  Hospital de Juquery.  Em Porto Alegre tínhamos o C.E. da  Clínica Pinel e o C.E. Luiz Guedes (Celg) muito ativo até os dias atuais.

Segundo Othon Bastos, “a ABP  não nasceu entre nós por acaso ou por geração espontânea. Ela surgiu a partir de uma imposição e de uma necessidade. Teve, portanto, suas várias antecessoras. Foram elas: a Sociedade de Neurologia, Psiquiatria e Medicina Legal do Brasil, fundada em 1904, por Juliano Moreira e colaboradores e que se estendeu até 1948, sendo sucedida pela APERJ; a Liga Brasileira de Higiene Mental, de curta existência, e a Sociedade de Neurologia, Psiquiatria e Higiene Mental do Nordeste, depois do Brasil, fundada em 1938 pelo professor Ulysses Pernambucano”.

    “A ABP, desde sua criação e durante cerca de vinte anos, esteve a ABP diretamente ligada a um endereço, aquele da Rua Álvaro Ramos, 450, onde funcionou durante várias décadas o Sanatório Botafogo. O Prof. Ulysses Vianna Filho, na condição de um dos proprietários do estabelecimento, abrigou zelosamente a Secretaria Geral da Associação e também sua Tesouraria, nos primeiros anos de sua implantação. Ele viria a ser o sétimo psiquiatra a ocupar a presidência da ABP. Outro endereço que se notabilizou junto aos sócios, a partir do final dos anos 70, foi o da Rua Borges Lagoa, 394, em São Paulo, consultório do Prof. Marcos P. T. Ferraz, que gentilmente o cedeu para funcionamento da tesouraria e da Revista da ABP, depois Revista ABP/APAL, até 1995”.

    O primeiro congresso da ABP foi realizado em São Paulo, durou um dia e fazia parte da programação do congresso da APAL cujo presidente era Clóvis Martins.

Enquanto isto, a Sociedade de Neurologia, Psiquiatria e Higiene Mental do Nordeste, definitivamente integrada à ABP, prosseguiu a sequencia vitoriosa de seus congressos bianuais: São Paulo (1973); Brasília (1975); Curitiba (1977); Maceió (1979); Campinas (1981); Porto Alegre (1983); Campo Grande ( 1985); Fortaleza (1987); São Paulo (1989); Maceió (1991); Rio de Janeiro (1993); Salvador (1995) e agora,1997, Brasília.

 

A partir de 1972, quando do (II) Congresso da ABP, em Belo Horizonte, nossos encontros científicos passaram a contar com um número crescente de especialistas estrangeiros, que possibilitaram um intercâmbio permanente cada vez maior com os grandes centros psiquiátricos internacionais. Para Minas Gerais acorreram em massa os confrades portugueses, concretizando o Primeiro Encontro Luso-Brasileiro da especialidade. (III)Em1974. no Rio de Janeiro, coincidindo com a jubilação do Prof. Leme Lopes e graças à colaboração ética da indústria farmacêutica tivemos, entre outras ilustres figuras, as presenças dos professores Max Hamilton, Mogens Schou e Van Praag.

Em Fortaleza, em 1976, ocorreu um muito bem organizado IV- Congresso da ABP, que também contou com Anais previamente impressos.

O V- Congresso de Camboriú, em 1978, além das importantes participações científicas dos professores Sir Martín Roth, Pierre Pichot (Presidente da WPA) e Roland Kuhn, houve um importante posicionamento político. Em sua sessão de encerramento foi aprovada por unanimidade uma moção (a primeira de uma associação médica) em favor da "Anistia Ampla, Geral e Irrestrita". Este evento foi algo de verdadeiramente consagrador.

Os demais congressos, VI – Salvador,1980;

VII- Rio de Janeiro, 1982;

VIII- Recife, 1984;

IX- Curitiba, 1986;

X- Vitória, 1988;

XI- Salvador, 1990;

XII- Gramado, 1992;

XIII- Goiás, 1994;

XIV - Belo Horizonte,1996 mantiveram a tradição, embora contando predominantemente com a prata da casa, mesclada com colegas do Mercosul, portugueses e de outras nacionalidades.

O XV- Congresso em 1997  Brasília DF.

O XVI- Congresso em 1998 São Paulo.

O XVII- Congresso de Fortaleza-CE em 1999. XVIII- Congresso no Rio de Janeiro no ano 2000.

XIX – Congresso Em Recife, PE em 2001.

XX – Congresso em Florianópolis em 2002.

XXI – Congresso no Rio de Janeiro em 2003

XXII – Congresso na Bahia em 2004.

XXIII - Congresso em Belo Horizonte, MG em 2005.

XXIV – Congresso em Curitiba, PR em 2006.

XXV – Congresso em Porto Alegre, RS em 2007

XXVI – Congresso em Brasília, DF em 2008

XXVII – Congresso em São Paulo, SP em 2009.

XXVIII – Congresso em Fortaleza, CE em 2010. Nesse congresso foi eleita uma diretoria de oposição e determinou grandes mudanças na liderança da psiquiatria nacional

XXIX – Congresso no Rio de Janeiro em 2011.

XXX – Congresso em Natal, RN em 2012.

XXXI – Congresso em Curitiba, PR. Em 2013. Pela primeira vez ocorreu uma eleição pelo voto direto dos psiquiatras brasileiros.

XXXII – Congresso em Brasília, DF. Em 2014.

XXXIII- Congresso em Florianópolis, SC em 2015.

XXXIV – Congresso do Cinquentenário será realizado em São Paulo, SP em 2016.


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