Volume 22 - Novembro de 2017 Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello |
Abril de 2015 - Vol.20 - Nº 4 Psiquiatria na Prática Médica RITALINA E SEU USO NO BRASIL Luiza Sizue de Carvalho Ribeiro* O metilfenidato, vendido
comercialmente com o nome de Ritalina tem sido cada vez mais produzido e
utilizado no Brasil.1 fato devido principalmente ao aumento dos diagnósticos de TDAH (transtorno de deficit de atenção e hiperatividade) nas crianças e adultos. Essa medicação aumenta a liberação de dopamina, auxiliando no
controle da hiperatividade, sendo eficiente e legal o seu uso para controle
desta moléstia, fato comprovado pelo estudo realizado no Instituto de Saúde Mental dos EUA com 579
crianças separadas em três grupos 1º) só
recebeu
tratamento com medicamentos, 2º) tratamento baseado em
psicoterapia, 3º) passou por tratamento comportamental-cognitivo
com psiquiatras e recebeu medicamentos e o 4º) recebeu tratamento somente com pediatra, sem medicação. Os
grupos que apresentaram melhores resultados quanto ao aprendizado foram o 1º e o 3º. Entretanto, apesar dos benefícios cientificamente
comprovados, as polêmicas acerca do uso da Ritalina iniciam-se baseadas em
seus efeitos colaterais, tais como, alterações gastrointestinais, inapetência, dependência,
psicose, alucinações, convulsões, sonolência, agressividade e até
suicídio. Pode
provocar também nos pacientes que a usam um efeito de letargia e
apatia, o que levou a fama de “droga da obediência”. Tais polêmicas ganham força principalmente devido ao uso
indiscriminado da droga, o que ocorre devido os diagnósticos equivocados de TDAH.
Nem toda criança agitada é hiperativa. O que chama atenção para um possível erro de diagnóstico é
o aumento na
venda do medicamento. Em oito anos (de 2000 até 2008), a comercialização
anual de caixas de Ritalina passou de 71 mil
para 1,147 milhões, sem contabilizar as demandas revendidas
clandestinamente no País. O número coloca o Brasil como o segundo maior consumidor de
metilfenidato do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Entretanto, é
válido lembrar que a Ritalina é
o único medicamento para
tratamento de TDAH comercializado no território brasileiro, o que contribui
com o grande consumo no País.2 Na tentativa de combater a banalização da prescrição desta medicação, hoje cada receita de
metilfenidato é notificada à Vigilância sanitária, devendo ser prescrita na
receita A (cor amarela), a qual também é
usada para a
prescrição de opiáceos/opióides. O que provoca revolta no meio médico, que contesta a
verdadeira necessidade de tal controle, o que acaba por tornar o produto pouco disponível nas farmácias, amedrontar os parentes dos
pacientes e
dificultar o trabalho dos profissionais.3 Apesar de toda polêmica que envolve seu uso, o
Metilfenidato demostrou ser cientificamente útil no tratamento da TDAH, os
possíveis efeitos colaterais que podem surgir com o tratamento devem ser
prontamente identificados e se possível contornados, sendo necessário portanto um acompanhamento
íntimo e constante deste paciente. Vale também propor aos médicos que revejam a
necessidade de prescrever a Ritalina, reservando seu uso apenas para os casos
em que os benefícios ultrapassam os riscos impostos pelo medicamento. E, enquanto a
Ritalina for vista como uma medicação milagrosa que sossegue as
crianças, a vigilância Sanitária se faz de vilã
da situação, regulamentando a real
necessidade do uso do medicamento. Referências. 1. A Ritalina no Brasil: uma década de produção, divulgação e consumo. Rio de Janeiro 2009 Itaborahy Claudia 2. A polêmica
da Ritalina contra a inquietação na
vida escolar - Revista eletrônica
minuto psicologia. 3. metilfenidato: influencia da notificação da receita A (cor amarela) sobre a prática de prescrição por médicos brasileiros. Revista de psiquiatria. Carlini Et all. ·
* Interna
do departamento de medicina da UNITAU · ** Prof. de psiquiatria - UNITAU
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