Anulação retroativa

1.ANULAÇÃO RETROATIVA

Os psicanalistas Jean Laplanche e J.B. Pontalis, autores do Vocabulaire de psychanalyse, definem assim a Anulação retroativa: “um mecanismo psicológico pelo qual o sujeito tenta fazer com que seus pensamentos, palavras, gestos, atos passados nunca tenham acontecido; para tanto, ele utiliza um pensamento ou um comportamento tendo uma significação oposta.Trata-se de uma compulsão aparentemente “mágica”, particularmente característica da neurose obsessiva.

A anulação é rapidamente descrita por Freud no L’homme aux rats (O homem dos ratos) ; ele analisa os “... atos compulsivos, em dois tempos,cujo primeiro tempo é anulado pelo segundo[...].Sua verdadeira significação reside no fato que eles representam o conflito de dois movimentos opostos e de intensidade quase igual, o que sempre é, segundo minha experiência, uma oposição entre o amor e o ódio”.

Aliás, sua filha Anna Freud cita a anulação retroativa no seu inventário dos mecanismos de defesa do ego; e é geralmente como mecanismo de defesa do ego que ela é definida na literatura psicanalítica.

Notemos que a anulação retroativa se apresenta sob diferentes modalidades. Ora um comportamento é anulado pelo comportamento diretamente oposto ( assim, “o homem dos ratos” recoloca num caminho uma pedra que ele havia, num primeiro tempo, retirado para que a viatura de sua amiga não corresse o risco de se chocar contra o obstáculo); ora é o mesmo ato que é repetido porém com significações, conscientes ou inconscientes, opostas; ora o ato da anulação é contaminado pelo ato que ele tende apagar. Como no exemplo dado por Otto Fenichel, ilustrando as duas últimas modalidades: um sujeito queixa-se de haver desperdiçado dinheiro comprando um jornal; ele gostaria de anular esta despesa e obter asim o seu reembolso; não ousando fazer isso, ele pensa que comprar um outro jornal vai lhe deixar aliviado.Mas o quiosque está fechado; o sujeito joga então no chão uma moeda de mesmo valor que o jornal.

Para conotar tais sequências, Freud fala de sintomas “difásicos”: “A uma ação que executa uma certa injunção sucede imediatamente uma outra que detem ou anula a primeira, mesmo se ela não vai até colocar em execução o seu contrário”.

Laplanche e Pontalis, dizem ainda: “Classificar a anulação retroativa entre os mecanismos de defesa do ego suscita ainda a seguinte observação: deve-se considerar o “segundo tempo” como um simples produto da defesa? A variedade dos exemplos clínicos conduz a uma resposta mais sutil”.

2.A DOR DOS PAIS OU A EXPERIÊNCIA DO LUTO

Encontrei exemplos nos livros do escritor francês, Philippe Forrest, cuja escritura é marcada pelo tema do desaparecimento da criança. Sua filha, Pauline, morreu de um câncer aos quatro anos de idade, o que constitue o tema de seus primeiros romances.

Jérôme Garcin, jornalista, escritor e diretor do serviço cultural do Nouvel Observateur, que aliás perdeu um irmão gêmeo de 5 anos de idade, notou que, ‘’desde a morte da filha, a escritura de Forrest e seus romances foram marcados pelo tema do desaparecimento’’. Ele observou ainda que os próprios títulos dos romances de Forrest são muito eloquentes: “L'enfant éternel” (A criança eterna) , “Toute la Nuit’’ (A Noite toda) , bem como o ensaio escrito dez anos depois: “Tous les enfants sauf un’’ (Todos os filhos menos um). Garcin notou ainda que “Forrest fez uma longa viagem ao Japão com a finalidade de anular o passado’’. Esta experiência do luto constitue o ponto de partida de sua obra e permanece seu sujeito essencial.

Philippe Forrest explicou, notadamente no Le Roman infanticide(O romance infanticídio), seu interesse pelo tema da perda de um ente querido.Laureado da Villa Kujoyama, ele fez uma longa viagem ao Japão em 1999, cuja finalidade era de romper com o passado.No seu livro Sarinagara, ele evoca este tema através da cultura de tres artistes japoneses, entre os quais Soseki. Seu objetivo era de tornar sensivel as suas obras, o que elas tinham em comum, longe de um exotismo factício. Seu estilo lembra o de Tatsuo Hori.

Philippe Forrest escreveu em seguida vários livros sobre a arte e a literatura do Japão e muito especialmente sobre o romancista Ôé Kenzaburô e o fotógrafo Araki.

Apesar das distâncias que ele adotou com relação à autobiografia (como no Le Roman, le Réel et autres essais(O Romance, o Real e outros ensaios) Forrest desenvolve, a partir do pensamento de Georges Bataille, uma outra visão do « Roman du Je » (Romance do Eu). Ele é geralmente considerado como um dos principais representantes e teóricos desta corrente literária, assim como testemunham, entre outros exemplos, o capítulo que lhe dedica Philippe Gasparini na Autofiction, Une aventure du langage (Autoficção,Uma aventura da linguagem), (Seuil, 2008), ou sua presença no colóquio organisado em Cerisy em 2008 por Claude Burgelin e Isabelle Grell, e mesmo no colóquio organisado por Camille Laurens e Tom Bishop em New-York University, em 2012. Alguns dos seus livros, romances ou ensaios foram ou estão sendo traduzidos nos seguintes países: Italie, Espagne, Roumanie, Turquie, Russie, États-Unis, Argentine, Chine, Japon, Corée.

Philippe Forest é membro do júri do prix de littérature André-Gide (prêmio de literatura André Gide).

3.REUNIÕES E COLÓQUIOS

SETEMBRO 2015

*BOULOGNE-BILLANCOURT, les 11 et 12:Psychologie Clinique, Psychopathologie, Psychanalyse et le COPES organisent un colloque sur « Violences dans les soins ».

Informations et inscriptions : COPES, 26 boulevard Brune, 75014 Paris-Tél. :01 40 44 12 27 – Mail : [email protected] – Site : www.copes.fr

*MARSEILLE, les 28 et 29 :La Fédération d’Aide à la Santé Mentale(FASM) organise ses journées nationales de formations continue sur « Égalité, citoyenneté et handicap psychique ». Informations et inscriptions : FASM Croix Marine, 31 rue d’Amsterdam, 75008 PARIS – Téléphone : 01 45 96 06 36 – Mail : [email protected] Site :www.copes.fr

4. LIVROS RECENTES

*Différences et variabilités en psychologie

Jacques JUHIEL et Géraldine ROUXEL

Rennes : Presses Universitaire-2015- Br. 20,00 Euros

*Le discours vivant : la conception psychanalytique de l’affect

André GREEN

Paris :PUF- 2015-Br.-27,00 Euros

* La perversion ordinaire : vivre ensemble sans autrui

Jean-Pierre LEBRUN

Paris :Flamarion-2015- Br.-12,00 Euros

*Revue des collèges de clinique psychanalytique du champ lacanien. 14, L’inconscient et le corps

Sous la direction de François TERRAL