Volume 22 - Novembro de 2017 Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello |
Dezembro de 2015 - Vol.20 - Nº 12 Psicofarmacoterapia ATUALIZAÇÃO EM PSICOFARMACOLOGIA Paulo José R. Soares
3 – 3 BUSPIRONA 3.3.1 HISTÓRICO O cloridrato de buspirona,
um ansiolítico não benzodiazepínico, foi sintetizado por WU e RAYBURN no início dos anos 70, sendo lançado nos Estados Unidos em 1986 e no
Brasil em 1987. Originalmente
foi desenvolvida como um agente antipsicótico, mas
ficou evidente sua pequena potência como droga antipsicótica
e finalmente a droga mostrou ação antiagressiva em
primatas e efeitos ansiolíticos em humanos. 1 A
patente nos EUA terminou em 2001. 1 3.3.2 ESTRUTURA QUÍMICA A buspirona é uma azaspirona, do grupo químico denominado azaspirodecanedionas,
composto lipofílico e heterocíclico. 2,5,7 3.3.3 FARMACOCINÉTICA O cloridrato de buspirona
é rapidamente e bem absorvido por via oral. 2 Atinge o pico em 0,71 +
0,06 h 8 ou 0,7 a 1,5 hora 2,5,
após a ingestão. Apesar
de a absorção oral ser virtualmente completa, sua biodisponibilidade
é de apenas 4%, devido ao metabolismo hepático de primeira passagem. 2,5,7 A administração com alimento
pode reduzir a taxa de absorção em 95%, mas reduz a extensão do efeito da
primeira passagem e aumenta a biodisponibilidade com
uma concentração máxima aumentada em até 116%. 5 Cerca de 86 5 ou 95% 2,8 da droga
absorvida circula ligada às proteínas plasmáticas, em especial a albumina (69%)
2. O equilíbrio plasmático é atingido em aproximadamente 2 dias. 2 É
extensamente metabolizada no fígado pela enzima CYP3A4, onde a buspirona sofre hidroxilação e
clivagem oxidativa, resultando em diversos derivados hidroxilados, principalmente a 1-(2-pirimidinil)-piperazina ou 1-fenil-piperazina,
metabólitos com aproximadamente ¼ da atividade da buspirona
e metabolizada pela enzima CYP2D6. 2,5,7
Sua t ½ geralmente se situa entre 2 e 3 horas (2,4 + 1,1 horas 8),
mas pode variar entre 1 e 14 horas ou 2 e 11 horas. 2,5,7
A meia-vida de eliminação é de aproximadamente 11 horas, o que possibilita o
uso em duas tomadas diárias. 6 O volume de distribuição, após uma
administração intravenosa é de 5,3 + 2,6 L/kg. 2,8 Após uma
única dose, cerca da 29 a 63% da droga são excretados
na urina em 24 horas, sob a forma de metabólitos, enquanto 18 a 38% pelas
fezes. 2 O clearence é de 28,3 + 10,3 mL/min/kg
8 e está reduzido na insuficiência renal e hepática. 5 O
equilíbrio plasmático é alcançado em aproximadamente 2 dias. 2 3.3.4 AÇÕES
FARMACOLÓGICAS O mecanismo de ação da buspirona
não é bem conhecido e envolve vários neurotransmissores. 2
Inicialmente postulou-se que a ação ansiolítica se
daria pelas propriedades dopaminérgicas, mas os efeitos dopaminérgicos centrais
não estão inteiramente claros. 1,8 Posteriormente, a buspirona mostrou exercer ação ansiolítica por agir como agonista parcial no receptor serotoninérgico 5-HT1A. A gepirona e a ipsapirona, drogas ansiolíticas relacionadas sem ação sobre
o sistema dopaminérgico, também possuem esta ação agonista
parcial. 1 A buspirona não se liga com grande afinidade aos receptores
benzodiazepínicos nem GABA, embora possa ter um efeito sobre o canal de cloreto
acoplado ao complexo receptor benzodiazepínico-GABA. 1,5 A buspirona não tem ação anticonvulsivante, hipnótica,
sedativa nem de relaxamento muscular. 1,2,5
Não piora as habilidades motoras após administração aguda ou crônica 1,2,
interage pouco com depressores do sistema nervoso central, como o álcool 2. Não atua
sobre a respiração, podendo ser útil em pacientes portadores de doença pulmonar
obstrutiva crônica ou de apnéia do sono. Na verdade,
pode até estimular a respiração. 5 Ação
mínima sobre cognição, memória e condução de veículos. 5 Possui
baixo potencial para abuso ou adição 5 e sua
interrupção não provoca síndrome de retirada, abstinência nem
dependência 2. Não foi
relatada tolerância aos efeitos da buspirona. 5 A
farmacologia da buspirona ainda não está
completamente compreendida. Ela é uma droga agonista
serotoninérgica parcial 5-HT1A e antagonista dopaminérgica D2. 2,5,7,8 Originalmente
postulou-se que seus efeitos ansiolíticos ocorressem através de propriedades
dopaminérgicas, embora as ações dopaminérgicas centrais da droga não estejam
totalmente claras. 1 A buspirona possui
atividade pelos receptores D2 e em estudos animais, doses elevadas da droga aumentam a atividade
dopaminérgica na substância nigra. 2 Fraca afinidade
pelos receptores D3. 2 A buspirona possui atividade serotoninérgica pré e
pós-sináptica. 2,11 Nos receptores 5HT1A pré-sinápticos (autoceptores), age como se fosse um antagonista e sua ativação pela buspirona inibe a descarga serotoninérgica do núcleo dorsal
da rafe, diminuindo o turnover da serotonina.
2 Nos receptores pós-sinápticos age como agonista parcial. 2 Assim,
foram formuladas duas hipóteses como mecanismo de ação, ambas
decorrentes de sua ação como agonista parcial dos
receptores 5HT1A: •
Atuação nos receptores pré-sinápticos somatodendríticos (autoceptores),
diminuindo a freqüência dos disparos do neurônio serotoninérgico pré-sináptico;
e •
Atuação como agonista
parcial nos receptores pós-sinapticos, competindo com
a serotonina por estes receptores e,
conseqüentemente, reduzindo a sua ação. 1,2,3 A ação agonista parcial do receptor 5HT1A é compartilhada pela gepirona
e ipsapirona, drogas ansiolíticas relacionadas sem
efeitos sobre dos sistemas dopaminérgicos. 1 A buspirona não bloqueia os transportadores de monoaminas. 5 Em
função da demora no início da ação ansiolítica, acredita-se que esta ação seja
mais devida a fenômenos de adaptação neuronal do que à ocupação imediata de
receptores, como ocorre com os antidepressivos. 2,7 Seu
metabólito principal, 1-(2-pirimidinil)-piperazina ou 1-fenil-piperazina,
atua como antagonista nos receptores adrenérgicos 2, inicialmente aumentando a freqüência de
disparo dos neurônios do locus ceruleus,
aumentando os níveis de noradrenalina, razão pela qual a droga não é eficaz no
transtorno do pânico nem na síndrome de abstinência aos benzodiazepínicos. 2,5,7 A buspirona é tão eficaz quanto o diazepam
superior ao placebo em estudos duplo-cego realizados em pacientes ansioso ambulatoriais 1, mas somente em quatro de
oito estudos triplos (buspirona, diazepam,
placebo) controlados para avaliação da buspirona como
agente ansiolítico a mostrou superior ao placebo 5. Pode
haver um efeito preferencialmente sobre sintomas ansiosos, irritabilidade e
agressividade, com pouca ação sobre as manifestações comportamentais. 5 Doses
altas melhoram a discinesia em pacientes portadores
de discinesia tardia severa. 1 Pouca
ação sobra o eletroencefalograma, com aumento da
atividade rápida. Há pouco potencial de abuso e pequeno ou nenhum sinergismo
com o álcool. Aumenta os níveis de prolactina e
hormônio do crescimento. Não
foram relatados sintomas de abstinência com a interrupção da droga. 5 A buspirona foi aprovada pela FDA para uso no transtorno de
ansiedade generalizado em 1986. 2 3.3.5 AÇÕES
ADVERSAS As ações colaterais mais comuns são cefaléia 1,2,3,7,10,11
em até 6% dos pacientes 5 (pode ser tratada com aspirina ou paracetamol) 10, excitação 2,3,
inquietude 2 em 2% 5, insônia 2,7, náuseas 1,2,3,7,10,11,
nervosismo 1,2,3,10,11 em 5% 5, sudorese 2,10,11,
sensação de cabeça vazia em 3% 5,7,10, sonolência 7,10 e
tonturas 1,2,3,7,11. Fadiga 2, parestesias
5,7, entorpecimento 5 e desconforto gastrintestinal em
menos de 10% dos pacientes 5,7,11. 3.3.5.1
SISTEMA NERVOSO CENTRAL Depressão 2, disforia
2, tremores 2, rigidez muscular 2. Foi relatada virada maníaca com quadro de mania
ou hipomania, em pacientes idosos.2,5
Doses elevadas agravam quadros psicóticos. 1,5 Causa pouca sedação, não prejudicando o
desempenho das funções psicomotoras ou cognitivas. 5 Como a buspirona se
liga a receptores dopaminérgicos centrais, ocorre o potencial aumento de risco
de distonia, pseudoparkinsonismo e acatisia, não
consubstanciado nas pesquisas. Contudo, foi relatada uma síndrome de inquietude
motora logo em seguida ao início do tratamento, que poderia ser resultado da
atividade dopaminérgica e/ou noradrenérgica da buspirona. 5 3.3.5.2
SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO Xerostomia 2, dificuldade para a
micção 2, pesadelos 2, precipitação de glaucoma 2. 3.3.5.3
SISTEMA CARDIOVASCULAR Taquicardia 2. 3.3.5.4
SISTEMA DIGESTIVO Anorexia 2, diarréia 2,
flatulência 2, hepatotoxicidade 2. 3.3.5.5
SISTEMA GENITOURINÁRIO Anorgasmia 2,
aumento ou diminuição da libido 2, ejaculação retardada 2,
impotência 2. 3.3.5.6
SISTEMA ENDÓCRINO Amenorréia 2, dor nas mamas 2,
galactorréia 2, ginecomastia
2, ganho ou perda de peso 2. 3.3.5.7
SISTEMA HEMATOPOIÉTICO Anemia 2, agranulocitose
2, linfocitopenia 2. 3.3.5.8
OUTROS Alergias 2,cãibras
2, congestão nasal 2, dor no peito 2, falta de
ar 2, hiperventilação 2, dor de
garganta 2, edema 2, zumbidos 2. 3.3.5.9
EXAMES LABORATORIAIS Raramente provoca elevação da TGO/AST, TGP/ALT, eosinofilia, leucopenia e
trombocitopenia. 2 Hiperprolactinemia
dose-dependente. 2,5 3.3.6 INDICAÇÕES TRANSTORNO
DE ANSIEDADE GENERALIZADA. 2,3,4,5,11 ALTERNATIVA AOS BENZODIAZEPÍNICOS QUANDO A SEDAÇÃO OU O COMPROMETIMENTO
PSICOMOTOR PODEM SER PERIGOSOS. 5 Evidências
incompletas de eficácia: quadros
mistos de ansiedade e depressão 2; como potencializador de drogas antipsicóticas no tratamento de sintomas negativos da
esquizofrenia 2;dependência ao
álcool (como anti-craving),
cocaína e Cannabis e na retirada de opiáceos
2, não reduzindo significativamente os sintomas ansiosos dos
dependentes a opiáceos 9; transtorno de estresse pós-traumático
em doses de 15 a 60 mg/dia, com evidências modestas
de eficácia 2,7, transtorno
obsessivo-compulsivo refratário, associada com inibidores seletivos da recaptação da serotonina 1,2,7,
reduz a ansiedade, mas não está claro se reduz as obsessões e compulsões 5;
bulimia nervosa 2; fobia social 1 com
evidências contraditórias quanto a sua eficácia, podendo ser útil
potencializando respostas parciais aos inibidores seletivos da recaptação da serotonina 5;
discinesia tardia 1; síndrome de tensão pré-menstrual, diminuindo
as dores, fadiga, cãibra e irritabilidade 2,5; em associação com
testosterona no transtorno do desejo
sexual hipoativo 2; em associação com a melatonina no transtorno depressivo maior 2;
dispepsia funcional 2; ansiedade após acidente vascular encefálico
2, agitação, agressão e
comportamento antissocial 5 e bruxismo causado por antidepressivos
inibidores seletivos da recaptação da serotonina e inibidores da recaptação
de serotonina e da noradrenalina, com casos
relatados de alívio 5. 3.3.7 CONTRAINDICAÇÕES PACIENTES ESQUIZOAFETIVOS
(exacerbação da psicose). 1 USO ASSOCIADO A IMAOs. 2 GLAUCOMA AGUDO. 2 LACTAÇÃO. 2 INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA GRAVE. 2,11 HIPERSENSIBILIDADE À DROGA. 2 INSUFICIÊNCIA RENAL COM CLEARENCE DA CREATININA < 80mL/min. 2,11 INTOLERÂNCIA À GALACTOSE. 11 SÍNDROME DE MAL
ABSORÇÃO DE GLICOSE E GALACTOSE. 11 3.3.8 PRINCÍPIOS
PARA UTILIZAÇÃO Os efeitos iniciais só aparecem após 1 a 2
semanas de uso e uma ação clara pode demorar 4 a 6 semanas para ser
evidenciada. 2,3,5,7,11 Em
virtude desta demora para agir, a buspirona não é
útil no tratamento de emergências. 7 Pacientes
que previamente usaram benzodiazepínicos respondem pobremente à buspirona, talvez por não sentirem de imediato os efeitos
sedativos e relaxantes daquelas drogas.1,2,7,9,11
Embora pacientes que tenham feito uso de benzodiazepínicos respondam pior à buspirona que pacientes que nunca a utilizaram, 50% dos
pacientes melhoram com o uso de buspirona. 1 Embora
muitos psiquiatras acreditem que a buspirona seja
fraca, lenta e nunca funcione em pacientes que usaram benzodiazepínicos no
passado, isto não é verdade. A buspirona não tem ação
igual nem tão rápida como os benzodiazepínicos, e não vai aliviar os seus
sintomas de abstinência. 1,2 A buspirona
não apresenta tolerância cruzada com os benzodiazepínicos e não alivia sintomas
de abstinência, devendo a dose dos benzodiazepínicos ser reduzida gradualmente
na medida em que a dose da buspirona vai sendo
aumentada. 5 Na mudança de benzodiazepínicos para buspirona, se esta for introduzida antes da interrupção
total dos benzodiazepínicos, deve se ter cuidado para
não confundir os sintomas de abstinência ou de ansiedade rebote com os efeitos
colaterais da buspirona. 7 Alguns
estudos, mas não todos, mostraram que a buspirona é
mais eficaz que o placebo no tratamento de pacientes com depressão, fobia
social e na combinação ansiedade alcoolismo, em doses de 30 a 60 mg/dia, que não são toleradas como
doses iniciais. 1 A
despeito dos achados controversos nos estudos realizados, a buspirona
ainda parece ser uma escolha racional em pacientes que não toleram e/ou
apresentam contraindicações ao uso de
benzodiazepínicos e antidepressivos, situações freqüentes no idoso. 2 A buspirona pode ser reduzida ou interrompida facilmente,
sendo uma droga muito mais flexível para o tratamento do paciente ansioso. 1 A buspirona não possui ação anticonvulsivante e seu uso não
foi avaliado em pacientes com história de convulsões, não sendo recomendada
para estes pacientes. 5 O
esquema de tratamento é fixo e regular, não deve ser usado em esquemas tipo
"se necessário". 5,7 Aparentemente
a buspirona é menos eficaz que os benzodiazepínicos
no tratamento dos sintomas somáticos e autonômicos do transtorno de ansiedade generalizada, sendo mais indicada quando
predominam os sintomas psíquicos, como preocupações, tensão e irritabilidade 3
e quando há risco elevado de abuso de benzodiazepínicos 7. Todavia,
seu uso não está indicado em transtorno de ansiedade generalizado associada a depressão maior e/ou transtorno do pânico, onde a monoterapia com antidepressivos é a primeira escolha. 7 A buspirona deve ser iniciada em doses de 5 mg duas a três vezes ao dia e
aumentada gradualmente em 5 mg a cada 2 – 3 dias até
30 a 60 mg/dia. 1,2,5,7,11
Duas doses de 7,5 mg/dia também podem ser efetivas. 2
A dose terapêutica usual para a maioria dos pacientes é de 20 a 30 mg/dia, com 10 a 15 mg em duas tomadas diárias. 5 A dose máxima é de
60 mg/dia 2,5,
mas alguns autores consideram, em determinados casos, uma tentativa terapêutica
adequada o uso de 30 a 60 mg por pelo menos 4
semanas. 3,4,7,9 Doses
maiores que 60 mg podem ter
efeitos antidepressivos, mas os efeitos adversos acentuam-se notadamente. 4
Doses até 90 mg têm sido
usadas em pacientes que apresentam transtorno depressivo maior com sintomas
ansiosos importantes associados. 2,5 A buspirona não é eficaz se usada em doses únicas ao deitar. 5 A droga
pode ser reduzida ou interrompida rapidamente sem que o paciente tenha que
enfrentar sintomas físicos de abstinência. 1 A buspirona não é útil em casos de suspensão do tratamento
com benzodiazepínicos, contudo, se a buspirona for associada ao benzodiazepínico por 2 a 6 semanas, o paciente
vai se sentir melhor porque as duas drogas atuam por mecanismos diferentes.
Mesmo que isto não ocorra, o benzodiazepínico será reduzido gradualmente e o
paciente estará estabilizado com a buspirona. 1 A buspirona é bem tolerada em idosos, sem necessidade de
ajuste da dose 2, pois não deprime a respiração nos pacientes
portadores de doença pulmonar e tem alguma utilidade em pacientes com
transtornos impulsivos orgânicos e ansiosos com AIDS 1. Os
pacientes portadores de insuficiência hepática ou renal devem ser monitorados
e, se necessário, a dose deve ser reduzida. 2 A buspirona demonstrou aumentar a eficácia dos inibidores
seletivos da recaptação da serotonina
no tratamento da depressão maior, mas deve se ter
cuidado com o risco de ocorrência de convulsões. 2 A dose de 15 mg duas vezes ao dia mostrou
melhora em pacientes resistentes a inibidores seletivos da recaptação
da serotonina. 7 Usada no
tratamento das disfunções sexuais produzidas por inibidores seletivos da recaptação da serotonina em
alguns pacientes na dose de 15 a 30 mg/dia.
1 Em
transtornos de conduta dos pacientes portadores de retardo mental, a buspirona pode ser útil em doses de 15 a 60 mg/dia mas o início da ação pode
ser demorado. Alguns relatos sugerem uma menor eficácia em pacientes retardados
mais violentos. 1 Na fobia
social usam-se doses de 30 mg/dia
com resultados diversos. 1 Avaliar
a freqüência cardíaca periodicamente dos pacientes em uso com a droga. 2 3.3.9 DOSE E APRESENTAÇÃO Apresentação
comercial: ANSITEC ® (Libbs)
caixas com 20 comprimidos de 5 e 10 mg. 3.3.10 INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA Álcool. Interação mínima. 1,9 Antibióticos. A eritromicina e a claritromicina
aumentam o nível plasmático da buspirona aumentando
em 5 vezes a concentração plasmática máxima por inibição do metabolismo pela
CYP3A4. 5,9 Anticonvulsivantes. A carbamazepina e a fenitoína
diminuem o nível plasmático da buspirona por indução
da enzima CYP3A4. 6 Antidepressivos. Os
antidepressivos tricíclicos como amitriptilina e clomipramina aumentam o risco de síndrome serotoninérgica
quando usados concomitantemente. 5 Os inibidores da recaptação de serotonina e antagonistas
α2, como a
trazodona, aumentam o risco de síndrome
serotoninérgica quando usados concomitantemente. 5 A nefazodona aumenta o nível
plasmático da buspirona por inibição da enzima
CYP3A4, com sonolência, cefaléia e náuseas. 6 Os inibidores
irreversíveis da MAO, como a fenelzina e a tranilcipromina, podem potencializar a atividade
serotoninérgica da buspirona pela inibição do
metabolismo da serotonina, levando a um risco
aumentado de síndrome serotoninérgica, além de elevar a pressão arterial quando
usada a associação das drogas. 2,5,6
O uso concomitante com inibidores seletivos da recaptação
da serotonina, como a fluoxetina e a fluvoxamina, aumenta o risco de síndrome serotoninérgica. 5
A fluvoxamina aumenta 3
vezes a concentração plasmática da buspirona. 5
Há relatos de casos de síndrome serotoninérgica, euforia, convulsões e distonia
com a associação de buspirona e inibidores seletivos
da recaptação da serotonina.
2,5,9 Antifúngicos. O itraconazol e o cetoconazol
aumentam o nível plasmático e/ou as ações da buspirona pela inibição da CYP3A4. 5 Antipsicóticos. O haloperidol tem
seu nível plasmático aumentado em 26%, talvez decorrente da competição no
metabolismo pela CYP3A4. 5 Caso relatado de
sangramento gastrintestinal grave e hiperglicemia um mês depois que a buspirona foi associada a esquema estabilizado de
tratamento com clozapina sem que fosse encontrada
explicação para o fato. 9 Antituberculostáticos. A rifampicina reduz
o pico plasmático e a meia-vida da buspirona por
induzir o metabolismo via CYP3A4. 5,9 Antivirais.
Efeitos extrapiramidais severos à associação de ritonavir
ao tratamento com buspirona. 9 Benzodiazepínicos. O diazepam tem seu nível plasmático aumentado. 5 O
alprazolam parece não interagir com a buspirona. 9 Bloqueadores
do canal de cálcio. O verapamil e o diltiazem aumentam o nível plasmático da buspirona em 3,4 e 4 vezes, respectivamente, pela inibição
do metabolismo pela CYP3A4. 5,9 Suco de grapefruit. Aumento do pico plasmático da buspirona em até 15 vezes e da meia-vida em 1,5 vez por inibição do metabolismo pela CYP3A4. 5,7,9 Imunossupressores. A ciclosporina A tem seu nível sérico aumentado, com
possíveis ações renais adversas. 5 Erva de
São João (Hipericum perforatum).
Aumento do risco de síndrome serotoninérgica e redução do nível plasmático da buspirona pela indução da enzima CYP3A4. 5,6,9 3.3.11 INTOXICAÇÃO Não
foram observadas mortes em seres humanos por superdosagem
acidental ou intencional. 2 Os sintomas são: náuseas e vômitos 2,5,
sonolência 2, tonturas 2,5, miose
2, distúrbios gástricos 2, parestesias
2 e convulsões 2. Tratamento da intoxicação: medidas gerais de
suporte, monitorar respiração, pressão arterial e freqüência cardíaca, seguidas
de imediata lavagem gástrica e tratamento sintomático. 2,5 3.3.12 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 1. SCHATZBERG AF &
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