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Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Giovanni Torello

 

Maio de 2014 - Vol.19 - Nº 5

História da Psiquiatria

DESAFIOS DA PSIQUIATRIA NOS DIAS ATUAIS

Walmor J.Piccinini

    A prática psiquiátrica vive dias contraditórios. Por um lado trabalha com novas descobertas das neurociências, tais como o mapeamento cerebral, com os progressos nas pesquisas genéticas, com o DSM-5 e com a prática privada atraindo muitos jovens médicos. Por outro lado temos um sucateamento do setor público, campanhas ferozes para terminar com os hospitais psiquiátricos no geral, não só os asilares, mas os privados inclusive. As entidades psiquiátricas tentam se estruturar para uma luta política que não parece ter um fim à vista.

     A transformação da doença mental em um modo delituoso de viver levou ao encarceramento de milhares de doentes, ao ponto de as pessoas praticarem atos delituosos para obter tratamento.  As prisões, rapidamente estão se tornando os novos asilos. Lá os doentes são segregados, hostilizados e maltratados pela massa carcerária.

Num slide copiado do NIMH (Dr.Insel) vemos os seguintes números para os EUA.

 

   São números que põem a mostra a crueldade com que os doentes mentais estão sendo destratados.

    No início do século XX era terrível o estigma em relação à doença mental. Ter um doente mental na família era um impedimento para a aceitação social. Pais com moças casadoiras escondiam a existência de algum doente mental na família, isso era impedimento que as filhas casassem. Progredimos em relação a preconceitos, mas o estigma, a discriminação nos afetam até os dias atuais.

    A Associação Brasileira de Psiquiatria, num trabalho incansável do seu presidente e diretoria, ao lado da reestruturação da Entidade, se lança no combate ao estigma e ao que denominou  psicofobia. Um alerta que maltratar doente mental é tão pernicioso e maléfico como qualquer tipo de agressão a minorias.

    Em recente congresso da Associação Psiquiátrica Americana, a palavra de ordem era Parity, a busca de um tratamento igual entre as doenças somáticas e mentais. Trouxe o discurso dos dois presidentes, o que sai e o que entra, pois os considero documentos importantes para entender o momento histórico que vivemos.

 

1.       Reflexões de Jeffrey A Lieberman depois de um ano na Presidência da APA

 

Queridos amigos, Colegas e Ilustres convidados.

    Eu tenho uma confissão a fazer que possa deixá-los chocados ao ouvi-la. Eu sei que fiquei quando cheguei a esta realidade. Após o tumultuado ano que nós atravessamos e a despeito dos múltiplos desafios, muitas reuniões, longas horas e muitas viagens que acompanha o trabalho de liderar esta grande organização, eu tive prazer em ser Presidente da APA.

    A experiência de ser cercado por membros e staff... Pessoas que estão comprometidas  com os objetivos traçados e apaixonados pelo que fazem no dia a dia e aspirando o que fazer no futuro foi extremamente gratificante. Mais do que eu poderia prever. É gratificante e inspirador ajudar os psiquiatras a fazer o que foram treinados para ajudar pessoas com doenças mentais.

    Durante os últimos dois anos como Presidente Eleito e depois Presidente, eu vi em primeira mão o que nós somos capazes de realizar quando nós focamos nossa mente no trabalho conjunto. Nós fizemos muito para ajudar os psiquiatras e seus pacientes, e por isso, eu desejo aplaudi-los.

    Em deferência ao David Letterman que vai partir do seu programa “Late Show” logo após eu deixar meu gabinete, sinto ser apropriado fazer uma lista de dez realizações.

   Na verdade, vou realizar duas: uma dos objetivos atendidos durante minha presidência, todos devido aos esforços de pessoas que vocês conhecem e que estão aqui hoje: e uma no final da minha palestra sobre nosso futuro.

Então, o que realizamos no nosso ano que passou:

1.      Dilip Jeste, nosso presidente anterior, e Becky Rinehart Editora da APPI, junto com dezenas de pessoas que trabalharam atrás do cenário, conseguiram o quase milagre de lançar o DSM-5 que está na lista de Best Sellers da Amazon desde que foi liberado para o público no Congresso no ano anterior. São raros os livros médicos que podem reclamar tal distinção.

Acima de tudo, os clínicos gostam dele.

Você não pode esperar fazer a revisão do DSM pela primeira vez em 20 anos sem sofrer alguns contratempos. E nós temos mais do que esperávamos. Porém a APA manteve sua compostura, mesmo quando atacada por nossos inimigos, e ocasionalmente por nossos amigos, para fazer do DSM-5 um grande sucesso. Que diferença um ano faz.

2.      A APA atacou o processo de reforma do sistema de saúde de frente e, efetivamente influenciou a legislação incluindo o “Affordable Care Act”, “The Mental Health Parity and Addiction Equity Act” the “Excellence in Mental Health Act” e estamos presentemente trabalhando com o congressista Tim Murphy no “Helping  Family Crisis Act” e começaremos a trabalhar com a “Democratic Mental Health Bill” que está por ser apresentado. Saúde Mental e adições não são assuntos partidários, mas nós temos que gerenciar as realidades políticas como elas são. A APA também auxiliou o Congressista Murphy para reverter com sucesso à decisão equivocada de restrição dos formulários para antidepressivos e antipsicóticos pelo Centro para Medicare e Medicaid Services.

Esta corrente de sucessos legislativos não aconteceu por acidente. John Oldham começou o processo quando era Presidente e encarregou Paul Summergrad como diretor do grupo de trabalho sobre Health Care Reform, que posteriormente Howard Goldman assumiu e recrutou o grupo de especialistas com o infatigável Sam Muzcinski e funcionários para construir uma política governamental efetiva com capacidade legislativa que agora está ativa em toda sua capacidade.

3.      Uma figura chave na nossa iniciativa legislativa tem sido Patrick Kennedy, com quem a APA firmou uma parceria maravilhosa. Na sua vida pós-congressional e como consequência do seu triunfo com o “Parity Act”, Patrick está se tornando rapidamente a mais visível voz da América sobre doença mental e Adição.

A coragem e eloquência que ele demonstrou compartilhando a sua experiência e da sua família com doença mental e adição tem ajudado muito em aumentar o interesse público sobre o problema.

4.      Sob a liderança de Ron Burd e Allan Anderson, a APA teve outra vitória com os Centros de Medicare e Medicaid Services, aumentando o valor do reembolso para a cobertura psiquiátrica do Medicare.

5.      Na onda de trágicos e violentos incidentes envolvendo pessoas com doença mental, o Escritório de Comunicações e Public Affairs da APA sob direção do novo CEO, Shaun Snyder, foi mobilizado e engajado em relações públicas externas com o objetivo de assistir e montar uma campanha na mídia que realizasse campanha construtiva e acurada, em oposição a informações inflamatórias ao público. Nós enviamos Paul Appelbaum ao White House Meeting em Doença Mental e Violência como representante da APA e o tornamos nosso contato com a Mídia. Deixe-me dizer que não poderíamos achar uma pessoa mais capaz para falar em nome da APA sobre assunto de tamanha carga emocional e com aspectos politicamente controversos da forma que foram tratados por Paul.

6.      A APA assumiu o papel de guardiã na proteção de consumidores e psiquiatras contra as companhias de seguro que não estavam aceitando o Parity Act. A conselheira da APA Colleen Coyle foi brilhante no desafio os gigantes dos seguros com argumentos legais competentes. A New York State Psychiatric Association, com sucesso, move ação contra a United Behavioral Health pela violação do Parity Act.

7.      Para aumentar a desempenho da APA em obter diversidade nos seus associados e papéis de liderança, Maria Oquendo assumiu a importante tarefa de liderar um Trustee and Assembly Work Group on Under-represented  Minorities.  Agora cabe a nós seguir com as recomendações e inclusive trabalhando com o Minority Caucuses par identificar candidatos para apontamentos com vista à eleição.

8.      Psiquiatras em treinamento e iniciantes na carreira estão entre os mais preciosos membros da APA, mas os estamos perdendo em números recordes.

Para determinar o porquê e o que pode ser feito, nós pedimos a dois jovens psiquiatras, Carolyn  Rodriguez e Yoni  Amiel, para liderar um grupo de trabalho que nos assessore. Nove meses depois eles nos apresentaram um fabuloso relatório e um a série de recomendações ao BOT (Board of Trustees) que nós já estamos colocando em ações, começando com a admissão de John Fanning como o Chefe de um novo Training and Early Career Psychiatrists Office para atender suas necessidades específicas.

9.      Um menos visível, mas não menos importante, foi a revisão do regimento ou estatutos da APA de acordo com o novo District of Columbia Non-Profit ACT. Agradece a Rebecca Brandel e grupo pelo trabalho.

10.   Fala sobre a troca do CEO da APA, John Scully, que após dez anos no posto está se aposentando e sendo substituído por Saul Levin.  A seguir agradece aos funcionários.

Nós estamos aqui no dia de hoje, não somente para celebrar nosso progresso como organização e especialidade médica, mas também, para olhar o que temos pela frente. Ao fazer isto, nós podemos ver as forças destrutivas que tornam nosso futuro simultaneamente promissor e inquietante. Entretanto, acredito que temos a sorte da convergência do progresso científico e o foco do Governo na reforma da Assistência Médica colocou a psiquiatria numa posição única. Soma-se isto ao crescente interesse público na saúde mental, e você concordará que a psiquiatria está numa posição única de oportunidades.

    O ano começou com colunista Nick Kristof do New York Times declarando que Saúde Mental é o mais importante assunto da América em 2014, seguido semanas depois com a saúde mental sendo o tópico mais frequente no Fórum Econômico de Davos, onde celebridades como Goldie Hawn, Arianna Huffington e Glenn Close denunciam o estigma da doença mental e clamaram por um cuidado melhor, e o Presidente, justamente nesta semana declara Maio o mês da Consciência em Saúde Mental, vocês podem quase pensar que saúde mental e a psiquiatria quase estão se tornando especiais.

Eu disse quase.

    Porém, se desejarmos aproveitar a maior mudança científica, econômica e legislativa nos cuidados em saúde mental das nossas vidas, nós devemos então aproveitar esta oportunidade, agora.

    Temos que compreender que o núcleo do nosso ser profissional- que o Nosso Futuro é Agora.

    Eu tenho uma nova confissão a fazer – quando fui eleito presidente da APA dois anos atrás, eu não estava completamente confiante que estivesse apto para o desafio. Depois, vendo como nós respondemos com nossas costas contra a parede, eu sei que posso lidar com as tarefas à mão. Daí a escolha do tema para este encontro anual: Mudando a Prática e a Percepção da Psiquiatria.

    Meus amigos, Nosso futuro é agora. Nós temos esperados, muitos de nós por toda nossa vida, pela chance de mudar a maneira que o mundo pensa da Psiquiatria, e da maneira que pensamos, nós mesmos como psiquiatras. Vamos usar este momento para mergulhar  no próximo ano com confiança, nossa energia renovada e nossos objetivos colocados em alto nível.

   

    A APA é uma organização muito diferente hoje, do que vários anos atrás. Eu concorri a Presidência sem me sentir frustrado com o que ocorria no campo da psiquiatria e o que a APA não vinha fazendo a respeito. O que via então, era muito lamento,chafurdando em racionalizações sobre o que era então o presente e negando o futuro. Hoje, dois anos depois, eu posso falar, olhando vocês diretamente nos olhos que esta organização fez o que pode para defender nossos interesses, atingir objetivos e superar o prejuízo e discriminação em histórico contra o doente mental e a psiquiatria.

O famoso Yogi Berra disse, “É difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro”.

Estou tão confiante que me aventurarei numa nova lista de dez, então aqui estão os 10 objetivos que eu prevejo que nós podemos esperar no futuro a frente:

1.      A percepção do público sobre doença mental e psiquiatria irá mudar. Nós informaremos melhor sobre o que é doença mental e qual será o nosso papel no futuro do sistema de saúde dos EUA Como consequência, o público terá uma visão mais acurada e respeitosa da doença mental e da psiquiatria.

2.      A Psiquiatria vai ocupar o seu lugar de direito na casa da medicina. Somente alguns poucos desenvolvimentos mudaram fundamentalmente a psiquiatria através da nossa história: O Tratamento Moral e o Asilo; Freud e a Psicanálise; Psicofarmacologia e a Neurociência Moderna.

Eu presumo que outro ponto de inflexão é iminente. Impulsionada pelos avanços científicos e forças econômicas, a psiquiatria tornar-se-á uma disciplina de base científica, adquirirá capacidades para diagnosticar e tratar pacientes com transtornos mentais que antes seriam inimagináveis e fazendo isto re-aglutinar-se na família da medicina.

3.      A APA será uma voz forte e presença respeitada na arena política. A APA, com a liderança de Saul Levin e através da sua Divisão de Advocacia sob Kristen Kroeger será pró-ativa com a Administração e Congresso.  Isto permitirá à adoção de políticas favoráveis a psiquiatria e às pessoas com doença mental. Simplesmente colocado, para vencer o jogo nós devemos jogá-lo.

4.      A Psiquiatria vão se beneficiar da pesquisa biomédica. Nenhuma especialidade se apresenta para ganhar mais da pesquisa biomédica que a psiquiatria. Só recentemente nós conseguimos as ferramentas para desconstruir o cérebro de maneira que se possa explicar como a mente funciona e suas más funções. Como Galileu não pode provar o heliocentrismo antes que o telescópio fosse desenvolvido, nós não poderíamos conhecer o que faz o cérebro das pessoas ter um mau funcionamento antes do advento da moderna neurociência. Doença mental está na primeira linha da iniciativa do Presidente Obama anunciada este ano, a “Human Brain Iniciativa”. Ela irá apoiar o desenvolvimento de novas formas, poderosas, de neurotecnologia.

Para maximizar os benefícios da pesquisa necessitamos trabalhar conjuntamente com o NIH e agressivamente defender no aumento de fundos para a pesquisa biomédica. Entre outras tantas iniciativas iniciamos discussões com a diretora do NIDA, Nora Volkow para o lançamento de uma campanha anti fumo na população de doentes mentais, e um estudo de grupo sobre os efeitos da maconha no cérebro de jovens. Estou confiante que não precisaremos esperar como fizemos com Eric Kandel, para que outro psiquiatra seja honrado com o Prêmio Nobel. Eu vou além predizendo que Karl Deisserotth provavelmente será o próximo psiquiatra a vencer o Nobel.

5.      O DSM será um instrumento vivo. O DSM é, sem dúvida, o mais importante produto da APA. Não somente é um importante recurso para doutores, pacientes, companhias e agências governamentais, mas também o símbolo da psiquiatria. Se alguma coisa responde pela credibilidade científica da psiquiatria médica, é seu sistema de diagnóstico. Como guardiã do DSM, a APA garante que será gerenciado com responsabilidade e pelo mais rigoroso padrão científico e ético. Com este objetivo nós estabelecemos um DSM Steering Comitee, chefiado por Paul Apelbaun e como co-chefia para Ken Kendler e Ellen Liebenluft que estarão à frente de uma elite de clínicos e pesquisadores de ponta para revisarem o DSM-5 seguindo toda e qualquer fato nosológico ou descoberta científica extraordinária ao invés de observar intervalos de décadas.

6.      6. A APA vai trabalhar em conjunto com outras organizações para assegurar que a legislação do sistema de saúde como o Affordable Care e o Parity Care, seja implantada apropriadamente de modo que os  profissionais de saúde mental e os pacientes recebam os benefícios que tem direito.

7.      Os programas de treinamento irão mudar para refletir o impacto da reforma do sistema de saúde e o progresso científico.

8.      Nosso governo, os administradores políticos e nossos colegas não psiquiatras vão finalmente entender que não há saúde sem saúde mental. Como resultado, a psiquiatria e o cuidado de saúde mental vão se integrar, nos diversos locais, com ênfase nos cuidados primários.

9.      A APA vai continuar sob a atividade do seu CEO/Diretor Médico e com a eleição de forte liderança. Desta forma a APA irá mais efetivamente representar os interesses da psiquiatria e do doente mental.

10.   Nós vamos dissipar as relações Ambivalentes que nossa sociedade tem com a psiquiatria. A maioria das pessoas, em algum momento das suas vidas, necessitará de um psiquiatra, embora ainda não saibam e nem admitem. Sem dúvida a psiquiatria é um mistério para a maioria das pessoas e muitos são ambivalentes quanto ao seu valor. Eu acredito que a psiquiatria atingiu um patamar na sua evolução onde ela pode se libertar da ignorância, mistério e estigma com os quais tem sido historicamente associada. E a APA deve liderar este caminho

Hoje comemoramos o progresso que construímos como organização, como um campo da medicina, e a projeção de um futuro melhor. Esta é a nossa oportunidade para mudar o exercício e a percepção da psiquiatria para melhor e como nunca antes.

No ano passado em São Francisco e vos disse que nosso Tempo Chegou. Hoje lhes digo que nosso Futuro é Agora.

 

1.      Futuro Presidente da APA Paul Summergrad, MD, Enfrenta as tarefas e oportunidades que se apresentam aos psiquiatras.

Extratos do discurso do Dr. Summergrad na sessão de abertura.

    Estou profundamente honrado por estar aqui neste dia em que me preparo para me tornar presidente desta grande organização ao término deste congresso. É especialmente significativo fazer isto na minha cidade de nascimento com os votos de apreciação do meu filho em Madrid, e a presença da minha filha, minha esposa e, especialmente dos meus pais. A ausência do meu falecido irmão se torna mais aguda em momentos como este.

    Antes de falar da APA e este momento muito especial na longa história da psiquiatria, eu não posso esquecer o excelente e apaixonado trabalho que Jeffrey Lieberman executou como Presidente da APA e agradecê-lo por seu infatigável esforço. Levei algum tempo para entender o estilo de Jeffrey, e pude entender porque ele foi um ranqueado “quaterback” e jogador defensivo no College. Jeffrey sabe como movimentar a bola no campo e é confortável a gritar na linha de disputa. Poucos passaram por Jeffrey quando atuava  na defesa da Universidade Miami de Ohio e eu asseguro que quase nada passou por ele atuando como presidente da APA. Jeffrey veio para disputar e disputar arduamente cada dia, para vencer. Ele esteve sempre, e eu digo sempre focado no avanço da psiquiatria, tornando claro que podemos e devemos responder aos desafios públicos e científicos que estão na nossa frente. Ele foi e seguirá sendo um grande líder para a psiquiatria americana. Eu sou grato pela sua orientação, exemplo e apoio.

    Nós estamos num momento único na história da psiquiatria. O reconhecimento e a compreensão que a doença mental é a mais comum e incapacitante e proeminente transtorno dos jovens é bem conhecido. Nós estamos no auge do que tem sido uma árdua e difícil jornada na descoberta de mecanismos fundamentais, desvendando substratos genéticos e de meio ambiente, bem como neurobiológicos no que tem sido o mais temido transtorno da espécie humana. Estes progressos não serão fáceis e são testemunha da complexidade do cérebro humano e a característica única e pessoal das doenças psiquiátricas. Nenhuma condição está tão próxima do nosso sentido de Self, e não importam as descobertas acerca da etiologia destas doenças, seu cuidado sempre irá requerer uma respeitosa atenção à experiência dos nossos pacientes.

    Na medida em que reconhecemos a frequência destes transtornos, nós também reconhecemos seu desgaste, em sofrimento humano, em vidas perdidas, na destruição de fogo descontrolado que correm no cérebro em desenvolvimento, deixando os jovens atrofiados e sitiados. Há ainda o custo, seja psicológico e financeiro, em anos de vida perdidos para a incapacitação tanto para a doença mental e médica, e em vidas esgotadas no sistema judicial e criminal, em vez de do sistema de cuidados médicos. Ligado a tudo isso há o Estigma, Prejuízo e Discriminação. Abraham Lincoln, que sofria muito de depressão (ou melancolia como era chamada no século XIX) escreveu em 1841 “A tendência para a melancolia é uma infelicidade se não uma falta” Poderia qualquer um de nós dizê-lo melhor?

    O impacto das doenças mentais não é aleatório. Suas raízes tanto no neurodesenvolvimento bem como em traumas precoces na vida as tornam profundamente destrutivas ao longo curso de muitas vidas. O impacto não é somente regional ou nacional, mas também mundial, não somente pessoal, mas social e comunitária de maneira profunda. Esta doença penetra em toda parte, e com ela a vergonha e estigma que tristemente navega na sua onda. Falhar na busca para as causas destas doenças com a esperança de tratá-las com efetivamente e humanamente é simples e finalmente inaceitável.

    Assim como a psiquiatria está na ponta, o mesmo se dá com a APA. Nós somos a mais antiga organização de uma especialidade médica nos Estados Unidos e a única que estabelece pontes entre os mundos da medicina e da psiquiatria. Nós devemos liderar, não só porque é direito para nosso campo, mas porque é direito para os pacientes e famílias eu servimos. Por 170 anos nós ocupamos a posição de confiança e garantidores da nossa ciência e profissão. Nós devemos continuar a viver para esta confiança.

    Nós temos agora uma oportunidade excepcional. Nós podemos estabelecer um curso para o nosso campo que nos permita ser efetivos nos próximos vinte anos ou podemos perder as possibilidades embutidas neste momento.

    O que torna este momento tão especial? A Saúde Mental nos dias de hoje está tanto na berlinda como se sob avaliação de um microscópio. O interesse público em assuntos de saúde mental nunca esteve tão intenso, despertado em parte por eventos que chegaram de forma trágica nas manchetes e que nos deixaram todos abalados. Porém, a despeito da polarização em Washington, a saúde mental não PE um caso partidário – como bem sabemos doença mental não respeita posição, riqueza, fama ou persuasão política. As crianças dos Democratas e Republicanos, dos ricos e dos pobres podem e ficam doentes.

    Entretanto, há uma nova geração que viveu com doença mental, que não ficará calada, que não se esconderá, mas que vai falar- mesmo em situação que poderá nos deixar desconfortáveis. Eles sabem como fizeram os primeiros advogados dos direitos para gays e tratamento para AIDS que, “silencia é igual à morte”.

    As oportunidades científicas reais que se apresentam na nossa frente não tem precedente na história humana. Nós não tínhamos a capacidade de pesquisar imagens do cérebro, ver o impacto de anormalidades genéticas no neurodesenvolvimento, ou começar a compreender os meios complexos de como nosso cérebro dá forma as nossas percepções do mundo e por sua vez como são influenciadas por ele. Nós vivemos num mundo em que a reforma do sistema de saúde finalmente está sendo realizada e proporcionando oportunidade de um tratamento integrado para tantos dos nossos pacientes. Quem dentro de nós tem um filho ou irmão ou esposa com doença mental com doença mental e ter que vê-los morrer anos antes do que deveriam, devido a uma condição médica tratável?  Estes desenvolvimentos são púnicos em momentos da vida que nós não devemos desperdiçar.

Então, quais são as tarefas que devemos enfrentar?

Primeiro: Nós devemos falar em nome tanto dos nossos pacientes e do crescente corpo da ciência como médicos especialistas em Saúde mental. Isto significa ajudar outros a compreender o que sabemos bem como clínicos p que a estas doenças são reais, incapacitantes, e fortemente associadas com comorbidade médica, mas também acessíveis ao cuidado, tratamento, e no poder da ciência contemporânea. Para aquele objetivo, temos uma responsabilidade especial de por de lado batalhas cinematográficas, especialmente aquelas impulsionadas por ideologia e ir para onde a ciência nos levar.

Segundo: Nós devemos atuar na defesa dos nossos pacientes e nossa profissão. Nosso paciente vive com estigma e nós também.  Nós não agiremos no seu melhor interesse se não lutarmos e apoiarmos a Equidade e Paridade. Dentro do nosso país, a cada dia, psiquiatras atendem e propiciam excelentes cuidados aos pacientes hospitalizados ou em consultório, e também debaixo de pontes e prisões. Milhares de nossos colegas trabalham sem descanso em

Ambientes militares e de veteranos, cuidando de militares, homens e mulheres, e nós devemos dar-lhes nossa energia e apoio. Com respeito a nossa pesquisa e missão acadêmica, pressupõe-se que sejam dependentes de nossa criatividade e imaginação, e n´os devemos continuar a dar-lhes nosso vigoroso apoio.

    Terceiro: Ao falar sobre saúde mental, nós devemos achar uma linguagem simples e direta para nos comunicarmos entre nós, nossos pacientes e o público Americano. Devemos aproveitar o crescente interesse público em saúde mental e nos tornarmos parceiros com aliados na mídia para amplificar nossa mensagem.

Quarto: Nós devemos abraçar nosso papel como líderes globais em psiquiatria de uma forma que não só reflita a força do nosso capital humano e intelectual, como com profundo respeito  diversidade dos nossos membros e outras culturas. Muitas partes do mundo estão apresentando enorme desenvolvimento social, econômico e político e descobrindo a importância da saúde mental e seus próprios países, e adição ao desgaste que o estigma da doença mental afeta sua população. Colegas vindos de todo mundo que experienciam estas transformações culturais tem muito a nos ensinar.

    Na medida em que estabelecemos o curso desses objetivos, devemos lembrar que nenhum deles será trabalho apenas de um presidente ou um grupo de dirigentes em um dado momento. Estas são tarefas em andamento que devem animar esta grande organização e profissão nos anos que virão. Nada disto virá rapidamente. Sem dúvida nós já estamos numa longa jornada por conhecimento e justiça. Na sua luta pelos Direitos Civis, as palavras de Martin Luther King são adequadas a respeito de nosso trabalho hoje e no futuro: “O arco do universo moral longo, mas ele se curva em relação a justiça”.

    Nossos pacientes, suas famílias e nossa profissão necessitam do nosso conselho, orientação, e incansável  esforço, assim, quando olharmos para trás, nós podemos ficar orgulhosos do nosso trabalho e conquistas. Eu estou honrado em assumir esta responsabilidade, para servir e trabalhar para o benefício de nossos pacientes, nossa profissão e nossas comunidades.


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