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Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Giovanni Torello

Setembro de 2014 - Vol.19 - Nº 9

Psiquiatria na Prática Médica

INTERFACE - COSMIATRIA E PSIQUIATRIA

Daniela de Freitas Esgarbi*
Prof. Dra. Márcia Gonçalves**


I.      INTRODUÇÃO

Atualmente a cosmiatria vem sendo uma prática dentro especialidade de dermatologia que cresce vertiginosamente. E a correlação entre transtornos psiquiátricos e a cosmiatria estão cada vez sendo pesquisados.

A associação entre essas duas áreas como Dermatologia e Saúde Mental (Psiquiatria/Psicologia) abrange o paciente de forma integrada, valorizando o indivíduo como sujeito da sua história de vida.

A pele como órgão facilmente observado e tocado, possui um lugar especial na psiquiatria. Responde à estímulos emocionais e possui habilidade para expressar medo, vergonha, raiva, frustação, além de responsável pela auto-imagem e auto-estima. A relação entre a pele e o cérebro começa no período embrionário, derivam do mesmo ectoderma e são afetados pelos mesmos hormônios e  neurotransmissores.

Estudos científicos comprovam a influência que as emoções exercem sobre a pele. Nas últimas décadas houve um aumento na demanda por procedimentos cosméticos médicos, e da atuação médica destinada a melhorar ou realçar aspectos “normais” em um indivíduo, considerando sua aparência como um todo.

II.    MÉTODOS

Foi realizada pesquisa bibliográfica em fontes indexadas pelo SciELO e PubMed, utilizando termos em português e inglês (Doenças Psiquiátricas, Alterações Psicológicas, Cosmiatria, Psicopatologia em Dermatologia, Integração Psique-Corpo, Transtorno Dismórfico Corporal).

 

III.   DISCUSSÃO

A imagem corporal é a representação mental de como pensamos e sentimos nosso corpo. Essa perspectiva se inicia durante o crescimento neural da criança e continua ao longo dos anos acompanhando os ciclos cronológicos de envelhecimento biológico. Em alguns transtornos psíquicos a percepção pode estar alterada, contribuindo para diferentes interpretações das sensações ou da imagem do corpo.1,2,3 Entre as inúmeras razões para o aumento da popularidade dos procedimentos médicos deve-se considerar algumas teorias psicossociais que analisam o papel da aparência física na vida cotidiana, especificamente, sua contribuição para as mudanças de comportamento em relação à aparência, além de aspectos relacionados à imagem corporal. Nesse contexto, deve-se considerar à influência da estética, da vaidade, da posição social na avaliação da aparência física e na formação da imagem corporal na sociedade contemporânea, onde esses fatores estão encadeados e se complementam.3,4

Na população geral, a insatisfação com a própria imagem parece ser algo comum. Presume-se que a realização de procedimentos cosméticos tenha como objetivo diminuir a insatisfação com a aparência física.5 No entanto, a mensuração do grau de insatisfação é difícil e as queixas podem variar até atingir um grau em que as preocupações causem interferência na vida cotidiana, ou seja, em níveis psicopatológicos. A maioria dos estudos empíricos que investigaram pacientes que realizam cirurgias/tratamentos cosméticas relatou insatisfações com a imagem corporal.1,4,5,6 A insatisfação com a imagem corporal pode ser uma motivação para busca de tratamentos estéticos, que de maneira importante parecem melhorar o grau de satisfação do individuo com sua aparência.6

A insatisfação com a imagem corporal desempenha importante papel em um grande número de transtornos psiquiátricos, incluindo transtornos alimentares, fobia social, o transtorno de identidade de gênero, realização de procedimentos estéticos, mas principalmente na condição psiquiátrica que é a mais relevante para os tratamentos médicos que visam à melhora da aparência: o Transtorno Dismórfico Corporal (TDC).4,5,7

O transtorno dismórfico corporal (TDC) é um diagnóstico psiquiátrico que caracteriza pessoas que experimentam uma intensa preocupação com um defeito imaginário na aparência ou com um mínimo defeito corporal presente da sua aparência e que leva um significativo incomodo na sua vida cotidiana.8

O TDC parece afetar 2% da população em geral, mas estudos mostram que entre 5% e 15% de indivíduos que procuram tratamentos cosméticos podem ter o diagnóstico de TDC. Para determinar a presença do TDC é importante investigar o grau de insatisfação com a imagem corporal, assim como o grau de satisfação em relação a procedimentos realizados previamente.8 Em geral, o paciente com TDC apresenta mais de uma queixa a qual é exagerada, já consultou inúmeros médicos e realizou diversos procedimentos. Para diferenciar o TDC das queixas normais com a aparência, que são comuns na população geral, a preocupação deve causar estresse significativo ou prejuízo na qualidade de vida.9 Na literatura dermatológica encontramos descrições de pacientes cujo quadro clínico é denominado: dismorfofobia e “dermatological nondisease”10, síndrome dismórfica, hipocondria dermatológica e hipocondria monossintomática, sendo as formas graves da doença.9 Os comportamentos mais comuns são: a reafirmação constante da aparência pela checagem no espelho ou em superfícies reflexivas para se certificar que está normal ou aceitável; controle da posição do corpo para evitar que o “defeito” seja observado; cuidados pessoais excessivos em salões de beleza com produtos cosmecêuticos e tratamentos dermatológicos excessivos.11

O tratamento adequado deve ser informado ao paciente os quais pode aliviar os sintomas e ajuda-lo a ter uma vida mais agradável e produtiva. A  abordagem deve ser interdisciplinar e o dermatologista, o psiquiatra e o psicólogo devem manter-se em contato. O tratamento farmacológico é um desafio, devendo ser conduzido pelo psiquiatra. O TDC tem melhor resposta com inibidores seletivos da receptação de serotonina, mas também responde aos antidepressivos tricíclicos. Um estudo duplo-cego, comparando fluoxetina e placebo, confirmou sua eficácia no tratamento do TDC.1,6,8 

Nos últimos anos, o TDC deixou de ser um transtorno psiquiátrico negligenciado e está sendo mais conhecido e compreendido. Trata-se de um transtorno grave, relativamente comum que, frequentemente, se apresenta não só aos profissionais de saúde mental como aos médicos não psiquiatras.8,11 É de maior importância que que esses profissionais conheçam os sintomas do TDC e investiguem especificamente esses sintomas.11

IV.  CONCLUSÃO

As doenças da pele, embora possuam a própria fisiopatologia, os fatores psicológicos, o estresse pioram os sintomas e o efeito psicossocial dessas doenças aumenta o estresse. A idade do paciente, a localização e a aparência das lesões provocam reações psicológicas variáveis que estão relacionadas a extensão do distúrbio mental, causando impacto na qualidade de vida. Por isso, é importante uma abordagem multidisciplinar com esses pacientes para que esses sintomas e sinais sejam diagnosticados dando uma melhor qualidade de vida para esses pacientes.  A correlação de Transtornos psiquiátricos como transtornos alimentares, fobia social, o transtorno de identidade de gênero, ansiedade , depressivos, de humor, e outros com a prática de cosmiatria  podem ser alvo de novas pesquisas

 

V.   REFERÊNCIAS

1.    Tavares H, Ferraz RB. Transtornos de Personalidade. In Valentim Gentil, Wagner Gattaz e Eurípedes C. Miguel (orgs.). Clínica Psiquiatrica. São Paulo: Manole, 2011, vol.1, pg 1051-59.

2.    Koo J, Gambla C. Psychopharmacology for Dermatologic Patients. Dermatol Clin. 1996;14(3):509-23.

3.    Crerand CE, Infield AL, Sarwer DB. Psychological considerations in cosmetic breast augmentation. Plast Surg Nurs. 2007;27(3):146-54.

4.    Harth W, Hermes B. Psychosomatic disturbances and cosmetic surgery. J Dtsch Dermatol Ges. 2007;5(9):736-43.

5.    Sarwer DB, Crerand CE. Body dysmorphic disorder and appearance enhancing medical treatments. Body Image. 2008;5(1):50-8.

6.    Sarwer DB, Crerand CE. Body image and cosmetic medical treatments. Body Images. 2004;1(1):99-111.

7.    Sarwer DB, Crerand CE, Didie ER. Body dysmorphic disorder in cosmetic surgery patients. Facial Plast Surg. 2003;19(1):7-18.

8.    Phillips KA, Dufresne RG, Jr., Wilkel CS, Vittorio CC. Rate of body dysmorphic disorder in dermatology patients. J Am Acad Dermatol. 2000;42(3):436-41.

9.    Castle DJ, Phillipis KA, Dufresne RG, Jr. Body dysmorphic disorder and cosmetic dermatology: more than skin deep. J Cosmet Dermatol. 2004;3(2):99-103.

10.  Cotterill JA. Body dysmorphic disorder. Dermatol Clin. 1996;14(3):457-63.

11.  Ruffolo JS, Phillips KA, Menard W, Fay C, Weisberg RB. Comorbidity of body dysmorphic disorder and eating disorder: severity of psychopathology and body image disturbance. Int J Eat Disord. 2006;39(1):11-9.

* Acadêmica do Sexto Ano de Medicina da Universidade de Taubaté

** Coordenadora da disciplina de psiquiatria UNITAU


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