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Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Giovanni Torello

Junho de 2014 - Vol.19 - Nº 6

Psiquiatria na Prática Médica

RELAÇÃO ENTRE A EPIDEMIOLOGIA ENTRE PACIENTES PORTADORES DE TRANSTORNO DO PÂNICO E PACIENTES PORTADORES DE SÍNDROME DO PROLAPSO DE VALVA MITRAL

Diana Hammes De´Carli*
Prof. Dra. Márcia Gonçalves**


INTRODUÇÃO

Na década de 1960, várias pesquisas científicas começaram a diferenciar inesperados ataques de ansiedade de outras manifestações de ansiedade. A reação de pânico pode não ser nova, mas é nova a sua classificação científica como Síndrome do Pânico ou Transtorno do Pânico, assim como há atualmente tentativas sistemáticas de compreensão do fenômeno.

As crises de pânico são caracterizadas como ataques agudos de ansiedade intensa, acompanhados por sintomas somáticos proeminentes: palpitações ou aceleração da freqüência cardíaca, sudorese, tremores, sensação de asfixia, dor torácica, náusea, tonturas, parestesias, calafrios ou ondas de calor, etc. Entre os sintomas psíquicos encontram-se o medo intenso (de morrer, de perder o controle, de enlouquecer) e sensações de irrealidade ou estranheza referidas ao ambiente (“desrealização”) ou a si mesmo (“despersonalização”). Para o diagnóstico de crise de pânico, devem estar presentes quatro ou mais dos sintomas listados acima (de acordo com os critérios da Associação Psiquiátrica Americana). Os sintomas iniciam-se agudamente e atingem sua máxima intensidade dentro de uns 10 minutos, esvanecendo-se num período variável de minutos a uma ou duas horas.

Vários estudos epidemiológicos, realizados nos Estados Unidos e na Europa, convergem em apontar uma prevalência do Transtorno do Pânico entre 1,5% a 3,5% da população.Esse transtorno  é de 2 a 3 vezes mais freqüente no gênero feminino, em particular associado à agorafobia que se caracteriza por um transtorno de ansiedade.

As afecções cardíacas estão entre os diagnósticos diferenciais mais importantes das crises de pânico; numerosas doenças cardíacas podem mimetizar os sintomas de pânico, entre elas diversos tipos de arritmias, taquicardia supraventricular (atrial ou nodal), além de angina pectoris e infarto do miocárdio. Freqüentemente, o diagnóstico requer um eletrocardiograma na situação de emergência; eventualmente a monitoração eletrocardiográfica nas 24 horas pode ser necessária. Além de diagnóstico diferencial, tem-se alguns estudos iniciais sugerem maior prevalência de prolapso de valva mitral em pacientes com pânico, no entanto essa correlação ainda não é fidedigna. Mesmo assim, isso mostra a importância do conhecimento da cardiologia quando se trata de transtorno do pânico.

O Prolapso da Valva Mitral é a protusão ou prolapso de parte da válvula mitral para dentro da aurícula (átrio) esquerda durante a sístole, quando a válvula deveria estar fechada. A Síndrome do Prolapso da Valva Mitral, é uma síndrome clínica com ou sem regurgitação mitral e/ou válvula espessada ou mixomatosa. A degeneração mixomatosa é resultante da proliferação acentuada da camada esponjosa, composta por tecido mixomatoso nas lâminas de suporte da válvula. O excesso de mucopolissacarídeo causa fragmento do colágeno, determinando menor rigidez da válvula facilitando o prolapso e comprometendo outras estruturas da válvula mitral. Do ponto de vista anatomopatológico a válvula mixomatosa, apresenta-se macroscopicamente uma estrutura frouxa, com aspecto de conchas ou cúpula.

A Síndrome do prolapso da valva mitral apresenta uma gama de apresentações clínicas em que em um extremo encontramos pacientes assintomáticos no qual o diagnóstico, é um achado ocasional, feito por meio de exames complementares e assim permanecem durante toda vida. Na faixa intermediária, estão aqueles com sintomas isolados ou múltiplos, alguns inespecíficos, outros de natureza cardíaca, neuropsiquiátricas, que completam a constelação de sintomas da denominada Síndrome do PVM. No outro extremo, encontram-se aqueles pacientes altamente sintomáticos, com graus avançados de disfunção valvular e insuficiência cardíaca.

Dentre as queixas clínicas mais comuns relacionadas à Síndrome do Prolapso da valva mitral estão: Dor torácica não coronariana, em aperto, em pontada, sem irradiação para membros superiores, em cima do coração ou retroesternal. Fadiga, intolerância ao exercício, palpitações. Arritmias (palpitações): Extra-sístoles ventriculares, taquicardias, e a taquicardia supraventricular é arritmia sustentada sintomática mais comum.Transtornos Psiquiátricos: Ansiedade, transtorno do pânico, sudorese, palidez, hipotensão postural.

Assim, vemos a intensa relação entre o Transtorno do Pânico e a Síndrome do Prolapso da valva mitral e a importância de se estudar a correlação entre elas a fim de estabelecer uma possível melhora no prognóstico e conduta naqueles pacientes que se encontram na intersecção dessas patologias.

MÉTODO

Foi realizada revisão bibliográfica, correlacionado os resultados observados na relação entre o Transtorno de Pânico e Síndrome do Prolapso de Valva Mitral. Tal análise bibliográfica foi correlacionada também com a epidemiologia de ambas as patologias.

OBJETIVO

Observar a correlação entre o Transtorno de Pânico e Síndrome do Prolapso de Valva Mitral.

DISCUSSÃO

Vários estudos epidemiológicos, realizados nos Estados Unidos e na Europa, convergem em apontar uma prevalência do Transtorno do Pânico entre 1,5% a 3,5% da população. Dentre os trabalhos analisados não houve um resultado padrão que nos comprovasse o aumento epidemiológico dessa patologia entre os portadores de Prolapso de Valva mitral. No entanto os trabalhos consideraram em média um índice de 35% de correlação entre ambas as patologias. Assim mesmo considerando trabalhos que tiveram como resultado uma prevalência de pacientes com transtorno do pânico  entre os portadores de prolapso de valva mitral equivalente a prevalência da população em geral, ao abranger  vários trabalhos, tivemos um aumento substancial dessa taxa, chegando a 10 vezes o valor apresentado pela literatura na população como um todo. Além do elevado resultado apresentado, devemos lembrar que cada trabalho utilizou de métodos diagnósticos e de analise estatística diferentes, que podem justificar esse intervalo entre os resultados apresentados em cada pesquisa.  Vale lembrar ainda que os transtornos psiquiátricos como ansiedade, transtorno do pânico, sudorese, palidez, hipotensão postural, fazem parte de um conjunto de sinais e sintomas conhecidos como a síndrome do Prolapso da Valva Mitral. Assim, tem-se outro dado para corroborar com os índices apresentados, sendo o Transtorno do Pânico já conhecido na literatura como um sinal dessa valvulopatia.

CONCLUSÃO

Mesmo parte dos trabalhos não apresentando uma resposta positiva a relação entre as duas doenças. A maior parte apresentou uma variação importante entre a epidemiologia de portadores de Prolapso da Valva Mitral na população geral comparado aqueles portadores de Transtorno do Pânico. Considerando a epidemiologia  bibliográfica de prolapso valvar mitral com uma incidencia de 3 a 7 por cento da população e a média da correlação entre as duas patologias analisadas foi de 35%. Observa-se um alto aumento epidemiológico de Prolapso de Valva Mitral entre os portadores de transtorno do pânico. Vale lembrar que o transtorno do pânico compõe um dos  Sintomas da síndrome do prolapso da valva mitral, o que corrobora esta teoria.

REFERÊNCIA

Rossi, Eduardo Giutsi; Grinberg. Prolapso da valva mitral. RBM rev. bras. med;51(7):806-18, jul. 1994. ilus.

Taru, Peixoto. Disponível no site:cardiologistaruipeixoto.com.br

Caetano, Dorgival. Comparaçäo entre pacientes com desordem de pânico e prolapso de valva mitral e aqueles com desordem de pânico e sem prolapso de valva. J. bras. psiquiatr;35(1):53-9, jan.-fev. 1986. Tab

 Scarpato A.T. O estranho que me habita: a Síndrome do Pânico numa perspectiva formativa. Revista Reichiana do  Instituto Sedes Sapientiae, São Paulo, número 10, 2001, p. 50-66

Porto J.A.D. Departamento de Psiquiatria da Unifesp/EPM. Crises de pânico na prática médica.Disponível no site www.unifesp.br

SOCERJ. Disponivel no site: sociedades.cardiol.br/socerj

Oliveira Júnior, Wilson; Albuquerque, Marco Antonio Aguiar; Santos, Frederick Lapa; Assi, Nagib. Prolapso da valva mitral. RBM cardiol;8(2):57-68, abr.-1989

*Interna do curso de Medicina da Unitau – 2014

** Coordenadora da Disciplina de Psiquiatria - UNITAU


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