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Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Giovanni Torello

Março de 2014 - Vol.19 - Nº 3

Psiquiatria na Prática Médica

PSIQUIATRIA & CLINICA MÉDICA

Prof. Dra. Márcia Gonçalves*


Introdução

Psiquiatras são médicos especializados no cuidado da saúde mental por meio do tratamento da doença mental, através do modelo biomédico de abordagem das perturbações psíquicas, incluindo o uso de medicamentos.

Os psiquiatras e os médicos assistentes podem realizar exames físicos, solicitar e interpretar análises laboratoriais, eletroencefalograma (EEG) e exames como Tomografia computadorizada (CT), Ressonância magnética (RM) e PET (Tomografia por emissão de pósitrons). O profissional tem que avaliar o paciente em busca de problemas médicos que possam ser a causa da perturbação mental.

Nenhum diagnostico psiquiátrico pode ser estabelecido baseando-se exclusivamente num exame laboratorial, entretanto os exames laboratoriais são utilizados para (1) efetuar a triagem de doenças clínicas; (2) ajudar no estabelecimento dos diagnósticos; (3) determinar se um tratamento pode ser instituído, e (4) avaliar os efeitos tóxicos e terapêuticos do tratamento.

Certos problemas clínicos ocultos podem manifestar-se inicialmente na forma de síndromes psiquiátricas.

Podemos citar como exemplo: A doença tireóidea e outras endocrinopatias podem manifestar-se na forma de distúrbio do humor ou psicose; o câncer pode expressar-se na forma de depressão; e infecção e doenças do tecido conjuntivo podem apresentar alterações agudas do estado mental.

Além disso, o psiquiatra pode deparar-se inicialmente com um espectro de condições mentais ou neurológicas orgânicas. Essas condições incluem, entre outras, esclerose múltipla, doença de Parkinson, doença de Alzheimer, coréia de Huntington, síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS), demência, etc.

 

 

Avaliação Inicial

Qualquer que tenha sido o motivo da consulta, o psiquiatra primeiro avalia a condição física e mental do paciente.

Isso se faz através da realização de uma entrevista psiquiátrica para obter informação e se necessário, outras fontes são consultadas, como familiares, profissionais de saúde, assistentes sociais, policiais e relatórios judiciais e escalas de avaliação psiquiátricas. O exame físico é realizado para excluir ou confirmar a existência de doenças orgânicas como tumores cerebrais, doenças da tireóide, ou identificar sinais de auto-agressividade. O exame pode serrealizado por outros médicos, especialmente se exame de sangue ou diagnóstico por imagem  é necessário.

O exame do estado mental do doente é parte fundamental da consulta e é através dele que se define o quadro psiquiátrico e a capacidade do mesmo em julgar a realidade, e consequentemente a gravidade do quadro.

Uma variedade de condições médicas podem estar presentes com sintomas psicóticos.

Algumas das mais comuns incluem epilepsia do lobo temporal, tumor, acidente vascular cerebral, trauma cerebral, distúrbios endocrinológicos e metabólicos, processos infecciosos (ex., paresia geral, AIDS), esclerose múltipla e doenças autoimunes.

O diagnóstico diferencial geralmente depende de se obter um histórico cuidadoso e solicitar os testes laboratoriais apropriados.

 Em geral, uma apresentação atípica é o indicador mais provável de que a doença não está dentro do espectro da esquizofrenia. Exemplos incluem uma idade de início incomum (especialmente quando aliada a uma doença existente) ou um padrão incomum de sintomas (ex., alucinações visuais proeminentes na ausência de sintomas negativos).

Alguns testes laboratoriais comumente usados incluem uma hemograma, exame de urina, avaliação da função endócrina, avaliação da função hepática, eletrencefalograma (EEG), Tomografia computadorizada (TC) ou por ressonância magnética (R.M.), testes neuropsicológicos e testes projetivos.


        Um hemograma e um exame de urina são comumente feitos na maioria dos pacientes quando são atendidos em um hospital. Estes são testes de triagem úteis para fornecer indícios quanto a se alguma doença não identificada pode estar produzindo os sintomas.

Exemplos incluem um processo infeccioso, que poderia afetar a contagem de glóbulos brancos ou a taxa de sedimentação. Muitas vezes um subgrupo de pacientes esquizofrênicos crônicos desenvolve uma "síndrome de intoxicação por água", caracterizada por alta ingestão de líquidos e baixa gravidade da urina.

Um início fora desta faixa etária pode sugerir a presença de um processo fisiopatológico diferente da esquizofrenia, tal como ferimento na cabeça, infecção ou tumor. A necessidade de descartar outras síndromes "não esquizofrênicas" é intensificada quando há presença de confusão, visto que a alteração da sensopercepção é classicamente "claro" na esquizofrenia (embora alguns pacientes severamente psicóticos ou muito cronicamente doentes possam ficar confusos e apresentar desorientação ou deficiência de memória). Além disso, embora o quadro clínico da esquizofrenia possa ser bastante variável, alguns tipos de sintomas são muito menos comuns. Por exemplo, as alucinações são geralmente auditivas, embora possam ser visuais, táteis ou olfativas.

Quanto mais as alucinações diferem da forma auditiva típica, mais provável que elas possam dever-se a alguma outra síndrome. Por exemplo, as alucinações visuais são mais características de intoxicação com drogas como os alucinógenos ou com delirium tremens em decorrência de abstenção de álcool.

Alucinações olfativas podem sugerir uma síndrome como epilepsia de lóbulo temporal. A desorganização marcante da fala deveria alertar o clínico para considerar a possibilidade de afasia e descartar uma síndrome como derrame ou tumor. Imbecilidade e deficiência de afeto marcantes acompanhadas por desorganização da fala podem sugerir lesões de lóbulo frontal, por exemplo, tumores.

 

A frequência com a qual processos infecciosos podem ser observados variará amplamente dependendo da região. Quadros psicótico secundário a um processo infeccioso endêmico, tal como toxoplasmose, enquanto estas síndromes são relativamente raras na Europa e nos Estados Unidos.

Outros testes laboratoriais que podem ser úteis em um diagnóstico diferencial entre esquizofrenia e doenças do espectro e outras doenças incluem testes de sangue para avaliar a função endócrina e hepática, um EEG e técnicas de neuroimagem como TC ou R.M.

 Estes testes podem ser úteis para identificar doenças como mixedema (ex., "myxedema madness"), síndromes devidas a tumores ou ferimentos na cabeça (ex., hematoma subdural), esclerose múltipla ou lesões de HIV ou sífilis.

Uma variedade de indícios pode alertar o clínico para a necessidade de solicitar testes laboratoriais adicionais ou mais complexos. Tais indícios incluem a presença de confusão, um quadro clínico atípico ou um início atípico. Por exemplo, a idade mais típica para o início da esquizofrenia é no final da adolescência e no início da faixa etária dos 20.

Dependendo da apresentação clínica, modo de início e história passada, o clínico pode selecionar uma variedade de testes laboratoriais a fim de auxiliar nas decisões de diagnóstico e tratamento.

Quaisquer dessas manifestações incomuns tornará mais necessários testes laboratoriais adicionais.

Ref: Com o autor

·                    Prof. de psiquiatria e psicologia médica da UNITAU

·                    [email protected]


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