Psyquiatry online Brazil
polbr
Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Giovanni Torello

 

Dezembro de 2014 - Vol.19 - Nº 12

Artigo do mês

A INFLUÊNCIA DE FATORES PSICOLÓGICOS SOBRE A ETIOLOGIA DA HIPERTENSÃO ARTERIAL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

Allini Fernandes Santos (1), Lucas Dileno Rodrigues (2), André Diogo Barbosa (3), Olhiga Ivanoff (4), Aline Maciel Monteiro (5), Claudio Herbert Nina-e-Silva (6)

(1) Acadêmica do Curso de Medicina, Universidade de Rio Verde. Bolsista PIBIC/UniRV. E-mail: [email protected]
(2) Acadêmico do Curso de Curso de Medicina, Universidade de Rio Verde. E-mail: [email protected]
(3) Acadêmico do Curso de Curso de Medicina, Universidade de Rio Verde. E-mail: [email protected]
(4) Acadêmica do Curso de Psicologia, Universidade de Rio Verde. Bolsista PIBIC/CNPq, Brasil. E-mail: [email protected]
(5) Profo. Adjunta Comunicação Médica, Faculdade de Medicina, Laboratório de Psicologia Anomalística e Neurociências, Universidade de Rio Verde. E-mail: [email protected]
(6) Profo. Adjunto de Psicologia da Personalidade e Neurofisiologia, Faculdade de Psicologia, Laboratório de Psicologia Anomalística e Neurociências, Universidade de Rio Verde. E-mail: [email protected].

Resumo: Estudos recentes têm evidenciado a importância de fatores psicológicos na etiologia da hipertensão arterial e de outras doenças cardiovasculares associadas. Os fatores psicológicos também têm sido apontados como a principal causa da não adesão ao tratamento pela maioria dos pacientes portadores de hipertensão arterial. Desse modo, o objetivo do presente estudo foi investigar a influência de fatores psicológicos sobre a etiologia da hipertensão arterial por meio de uma revisão sistemática da literatura médica atual. Para tanto, foram analisados 42 artigos publicados a partir de 2001 em periódicos internacionais com avaliação cega por pares. Os fatores psicológicos diretamente relacionados à etiologia da hipertensão arterial mais frequentemente citados na amostra de artigos investigada foram: raiva/hostilidade, estresse/ansiedade, depressão, afeto negativo; e inibição/isolamento social. Os presentes resultados demonstraram a influência decisiva dos fatores psicológicos sobre a hipertensão arterial.

 

Palavras–chave: hipertensão arterial, cardiologia, psiquiatria, medicina psicossomática, psicopatologia.

 

 

1. Introdução

A hipertensão arterial tem se tornado um grave problema de saúde pública, pois se constitui em um fator de risco para a ocorrência de doenças cardiovasculares graves, tais como a doença arterial coronariana e acidentes vasculares cerebrais (FRANKLIN, 2009; EORY et al., 2014).

Estudos recentes têm evidenciado a importância de fatores psicológicos na etiologia da hipertensão arterial e de outras doenças cardiovasculares associadas (EWART et al., 2011). Por exemplo, a incapacidade de controlar a raiva e a hostilidade tem sido apontada como um fator de risco que aumenta a probabilidade de ocorrência de hipertensão arterial (SANZ et al., 2010; EWART et al., 2011).

Apenas um terço dos pacientes hipertensos sob tratamento farmacológico conseguem alcançar os níveis adequados de pressão arterial (SANZ et al., 2010). O fracasso no controle da pressão arterial estaria relacionado à não adesão dos pacientes tanto à medicação quanto ao programa de mudança de hábitos de vida prescrito pelo médico (YAN et al., 2003). De acordo com esses autores, a não adesão ao tratamento estaria diretamente relacionada a fatores psicológicos, tais como o temperamento impulsivo. Por outro lado, a etiologia da hipertensão arterial em boa parte dos casos estaria fortemente associada a outros fatores psicológicos, como o temperamento ansioso, a inibição social e a raiva (SANZ et al., 2010; EWART et al., 2011; XUE et al., 2013). Por sua vez, segundo Steptoe e Kivimäki (2013), as evidências clínicas apontam que o estresse agudo, o sentimento de isolamento social e a ocorrência de sinais e sintomas depressivos são fatores desencadeadores de doenças cardiovasculares em geral e da hipertensão arterial em particular.

Desse modo, o objetivo do presente estudo foi investigar a influência de fatores psicológicos sobre a hipertensão arterial por meio de uma revisão sistemática da literatura médica atual.

 

2. Material e Método

Este trabalho foi uma pesquisa bibliográfica, de natureza quantitativa, por meio de uma revisão sistemática da literatura médica atual. As bibliotecas virtuais Periódicos CAPES e PubMed (United States National Library of Medicine) foram consultadas, utilizando-se os termos de busca “psychological factors and hypertension and blood pressure”.

A amostra de consulta foi determinada por meio dos dois seguintes critérios de inclusão: 1) artigos com data de publicação a partir de 2001; 2) artigos publicados em periódicos internacionais com avaliação cega por pares.

Os artigos fornecidos pelas bibliotecas virtuais em resposta aos termos de busca passaram por uma triagem, sendo que só foram analisados aqueles artigos que atendiam simultaneamente aos dois critérios de inclusão na amostra. Os artigos selecionados para análise foram então copiados das bibliotecas virtuais e salvos em formato digital PDF. Depois disso, cada um dos artigos foi lido para que fossem registrados em uma tabela específica os fatores psicológicos descritos pelas publicações como sendo relacionados à etiologia/comorbidade com a hipertensão arterial.

 

3. Resultados e Discussão

A partir dos termos de busca e dos critérios de inclusão descritos na seção de Material e Método, foram obtidos 42 artigos sobre a influência dos fatores psicológicos sobre a hipertensão arterial. A Figura 1 ilustra a freqüência de citação de cada fator psicológico apontado pelos artigos da amostra investigada como sendo relacionado com a etiologia/comorbidade da hipertensão arterial.

 

Figura 1: Freqüência de citação de cada fator psicológico apontado pelos artigos da amostra investigada como sendo relacionado com a etiologia/comorbidade da hipertensão arterial.

 

A raiva/hostilidade (n=31), o estresse/ansiedade (n=28), a depressão (n=25), o afeto negativo (n=24) e a inibição/isolamento social (n=22) foram os fatores psicológicos mais frequentemente citados na amostra de artigos investigada, tendo sido descritos em mais da metade dos artigos analisados. Esses mesmos fatores, com o acréscimo dos traços de personalidade e de caráter, já haviam sido descritos por Rozanski et al. (1999) como sendo fatores que contribuem decisivamente para a patogênese e a expressão da hipertensão arterial e da consequente doença arterial coronariana.

Os fatores psicológicos citados acima estão diretamente relacionados aos mecanismos patofisiológicos da hipertensão arterial, tais como a ativação neuroendócrina (hiperativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenais e do sistema nervoso autônomo simpático) e a desregulação do sistema renina-angiotensina (ROZANSKI et al., 1999; SANZ et al., 2010; EWART et al., 2011; XUE et al., 2012; STEPTOE & KIVIMÄKI, 2013; EORY et al., 2014).

A raiva/hostilidade foi relacionada na amostra de artigos com a causa e/ou facilitação da ocorrência dos seguintes problemas: aumento da pressão arterial diastólica; aumento da prevalência e da severidade de aterosclerose das artérias coronária e carótida; maior probabilidade de desenvolvimento de doença hipertensiva sistêmica; e maior probabilidade de mortalidade associada à hipertensão arterial.

O estresse/ansiedade, a depressão e o afeto negativo foram relacionados na amostra de artigos com a causa e/ou facilitação da maior probabilidade de desenvolvimento de doença hipertensiva sistêmica, e maior probabilidade de mortalidade associada à hipertensão arterial.

Já a inibição/isolamento social foi diretamente associada na amostra de artigos com a causa e/ou facilitação da hiperativação neuroendócrina e do aumento da prevalência e da severidade de estenose coronariana associada à hipertensão arterial.

Esses resultados corroboram a concepção segundo a qual há relevância na aplicação dos resultados da medicina psicossomática à cardiologia (YAN et al., 2003; EORY et al., 2014).

 

4. Conclusão

Através de uma revisão sistemática da literatura médica atual baseada em evidências, o presente trabalho demonstrou a influência decisiva dos fatores psicológicos sobre a hipertensão arterial. Desse modo, sugere-se a realização de estudos específicos sobre a comorbidade dos transtornos de ansiedade e de humor com a hipertensão arterial entre os usuários do Sistema Único de Saúde no município de Rio Verde, Goiás.

 

5. Agradecimentos

O presente trabalho contou com o apoio da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade de Rio Verde na forma de bolsa de iniciação científica para a primeira autora.

 

6. Referências bibliográficas

 

EORY, A.; GONDA, X.; LANG, Z.; TORZSA, P.; KALMAN, J.; KALABAY, L.; RIHMER, Z. (2014). Personality and cardiovascular risk: Association between hypertension and affective temperaments-a cross-sectional observational study in primary care settings. European Journal of General Practice, 23: 245-252.

 

EWART, C.K.; ELDER, G.J.; SMYTH, J.M.; SLIWINSKI, M.J.; JORGENSEN, R.S. (2011). Do agonistic motives matter more than anger? Three studies of cardiovascular risk in adolescents. Health Psychology, 30(5): 510-524.

 

FRANKLIN, B.A. (2009). Impact of psychosocial risk factors on the heart: changing paradigms and perceptions. The Physician and Sports Medicine, 37(3): 35-37.

ROZANSKI, A.; BLUMENTHAL, J.A.; KAPLAN, J. Impact of psychological factors on the pathogenesis of cardiovascular disease and implications for therapy. (1999). Circulation, 99(16): 192-217.

 

SANZ, J.; GARCÍA-VERA, M.P.; ESPINOSA, R.; FORTÚN, M.; MAGÁN, I.; SEGURA, J. (2010). Psychological factors associated with poor hypertension control: differences in personality and stress between patients with controlled and uncontrolled hypertension. Psychological Reports, 107(3): 923-938

 

STEPTOE, A.; KIVIMÄKI, M. (2013). Stress and cardiovascular disease: an update on current knowledge. Annual Review of Public Health, 34: 337-354.

 

XUE, Y.T.; MEI, X.F.; SU, W.G.; LI, Y.L.; MENG, X.Q.; ZHANG, J. (2012) Effect of anger on endothelial-derived vasoactive factors in spontaneously hypertensive rats. Heart, Lung and Circulation, 22(4): 291-296.

 

YAN, L.L.; LIU, K.; MATTHEWS, K.A.; DAVIGLUS, M.L.; FERGUSON, T.F.; KIEFE, C.I. (2003). Psychosocial factors and risk of hypertension: the Coronary Artery Risk Development in Young Adults (CARDIA) study. Journal of the American Medical Association, 290: 2138-2148.


TOP