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Agosto de 2013 - Vol.18 - Nº 8
Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello

 

Agosto de 2013 - Vol.18 - Nº 8

História da Psiquiatria

PUBLICAÇÕES PSIQUIÁTRICAS NO BRASIL

Walmor J. Piccinini

 O primeiro curso de psiquiatria dinâmica do Brasil iniciou em Porto Alegre em 1957. A falta de livros textos que eram raros e muito caros, propiciou uma solução criativa por parte dos professores, David Zimmermann e Paulo Guedes. Os alunos deveriam pesquisar sobre determinado assunto, produzir um texto e o material era discutido em seminários. Assim foram surgindo revisões sobre esquizofrenia diagnóstico e outras áreas da psiquiatria. Nos anos sessenta, surgiu o livro do Noyes, Psiquiatria Clínica Moderna (guardo a edição de 1961 em espanhol, traduzido do inglês pela Prensa Médica do México). Este livro era adotado na Clínica Pinel e em muitos outros cursos que foram surgindo pelo Brasil, sua orientação teoria era baseada na psicanálise. Outros livros muito requisitados foram o Mayer e Gross, o livro do Henri Ey e o American Handbook of Psychiatry do Silvano Arieti. O American Handbook era composto de alentados cinco volumes e era o “Kaplan” da época.  Existiam alguns livros de autores brasileiros como o Manual de Psiquiatria do Henrique Roxo que teve várias edições (tenho a quarta de 1946). Psiquiatria de Myra e Lopes  (1956-Editora Científica, em 2 volumes). J.Alves  Garcia, Compendio de Psiquiatria de 1946. Em 1975 surgiu o Tratado de Clínica Psiquiátrica do Prof. Isaias Paim que teve o mérito de , pela primeira vez abordar a história da psiquiatria no Brasil. Em 1980 o professor Leme Lopes edita o Diagnóstico Psiquiátrico, livro fundamental para examinar as dificuldades de reconhecimento das doenças mentais. Livros anteriores, inúmeros, não tinham um capítulo específico sobre diagnóstico porque naqueles tempos muito influenciados pela psicanálise, o diagnóstico não era considerado fundamental. Estas lembranças mos permitem examinar, mesmo que de forma superficial a literatura psiquiátrica brasileira.

 As nações imperialistas utilizavam várias técnicas de dominação sobre os povos. Colocar tribos hostis entre si na mesma área geográfica, impedir uma língua comum, dificultar o conhecimento e o desenvolvimento de tecnologias. A colonização e dominação portuguesa sobre um país continental como o Brasil pode ser vista como um empreendimento gigantesco e fadado ao insucesso. Colonizar e manter o domínio sobre um território continental era uma tarefa ingrata, mesmo assim, considerando os desafios, Portugal obteve um grande sucesso. Algumas pessoas desavisadas tentam atribuir à colonização portuguesa as mazelas brasileiras do dia a dia, isto é injusto. Como um país minúsculo de pouco mais de um milhão de habitantes poderia controlar e desenvolver um país continental como o Brasil? Tarefa extraordinária que nos legou um país com fronteiras estáveis, uma uniformidade de língua e integridade territorial.  Uma das estratégias foi a de manter as províncias distantes uma das outras e dificultando a integração por terra. As estradas eram precárias ou inexistentes. Tudo era feito por mar e nesta área Portugal que era dona de um poderio naval extraordinário, exercia um controle rígido. Tudo era feito via Lisboa.  Houve época e que a queixa era de que o país estava concentrado no litoral, com a interiorização, o navio perdeu espaço para o caminhão e as queixas quanto as estradas continuam. A difusão do conhecimento era dificultada de muitas formas, a mais concreta era a proibição de impressoras no país. Com a vinda da família real para os trópicos tivemos uma série de melhorias e entre elas, em 13 de maio de 1808 foi autorizada a Imprensa Régia. A produção de impressos, livros em geral logo começou a se espalhar em vários locais do Brasil colonial. Em 1810 foi criada a Biblioteca Nacional com os cerca de 60 mil livros trazidos de Lisboa.  Os autores brasileiros, que antes tinham que ser editados na Europa, começam a ter seus livros produzidos no país. A produção cultural foi crescendo e 80 anos depois, no dia 28 de janeiro de 1897 era fundada a Academia Brasileira de Letras. Desde sua fundação predominaram critérios mais de representação e prestígio do que real valor literário. Alguns dos grandes nomes da literatura nacional nunca pertenceram a Academia. A sede atual da ABL se deve a ação de um psiquiatra escritor, Afrânio Peixoto que conduziu negociações com o governo da França que concordou em doar o Pavilhão Francês edificado para a Exposição do Centenário da Independência do Brasil em 1923. O prédio era uma réplica do Petit Trianon de Versalhes, desde então o nosso Trianon é sede da ABL. 

A reforma dos Cursos Médicos criou as Faculdades de Medicina, as teses de doutoramento eram impressas e constituem importante documento das ideias médicas da época. Livrarias como a Garnier e a Francisco Alves traziam livros do exterior utilizados pelos médicos e pelos estudantes.

A primeira revista psiquiátrica foi fundada por Juliano Moreira e Afrânio Peixoto em 1905 e levava o nome de Archivos Brasileiros de Psychiatria, Neurologia e Medicina Legal. Seguiu-se pelos Archivos Brasileiros de Neuriatria e Psychiatria em 1922. No ano seguinte, por iniciativa de Antonio Carlos Pacheco e Silva, é editado em São Paulo “Memórias do Hospital de Juquery”. As Memórias dão lugar aos “Arquivos da Assistência Geral a Psicopatas do Estado de São Paulo” que deu lugar aos “Arquivos de Saúde Mental do Estado de São Paulo”. É interessante notar que as primeiras revistas estavam ligadas aos hospícios, os grandes complexos asilares da época. Além de São Paulo, o Rio de Janeiro, então Distrito Federal, tinha o seu  “Anais da Assistência a Psicopatas” (1932) e Pernambuco tinha os “Arquivos de Psicopatas de Pernambuco”, também de 1932. Em 1938, por iniciativa de Ulysses Pernambucano, surge a Revista de Neurobiologia de Recife. Considerada por todos a mais antiga revista neuro -psiquiátrica  do país.

 Em 1934 surgiu a Revista de Neurologia e Psychiatria de São Paulo.

Em 1943 começa a ser editada a Revista “Arquivos de Neuropsiquiatria". (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_issues&pid=0004-282X&lng=en&nrm=iso)

Em 1952 surge o Jornal Brasileiro de Psiquiatria que permanece ativo e produtivo até os dias de hoje.  (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0047-2085&lng=en&nrm=iso). No Índice Bibliográfico Brasileiro de Psiquiatria tenho registrados artigos do JBP  com data de início em é de 1948.

Em 1960, em Porto Alegre, começa a ser editada os “Arquivos da Clínica Pinel”. No ano seguinte a ”Revista de Psiquiatria do Centro de Estudos Luiz Guedes”. Em 1964 as duas se fundem e originam a “Revista de Psiquiatria Dinâmica”. Quando a Sociedade de Psiquiatria do Rio Grande do Sul assume a revista, seu nome é mudado para Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul e nos últimos anos mudou o nome para Trends in Psychiatry and Psychotherapy. (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=2237-6089&lng=en&nrm=iso) 

Em 1966 com a fundação da Associação Brasileira de Psiquiatria, começa a ser editada a Revista Brasileira de Psiquiatria. Ela sofreu alguns percalços quanto ao nome, em determinada época se chamava Revista ABP, depois ABP-APAL e finalmente retorna ao seu nome original, Revista Brasileira de Psiquiatria.  (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=1516-4446&lng=en&nrm=iso) .

Outra revista importante é a Revista de Psiquiatria Clínica de São Paulo (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0101-6083&lng=en&nrm=iso)

Editada pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo. Não posso deixar de registrar a nossa pioneira revista eletrônica www.polbr.med.br que desde 1966 tem publicado interessante material que varia desde registros da psiquiatria francesa, textos de psiquiatria forense e de pensadores da psiquiatria como um todo.

Arq. Bras. de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal a revista editada por Juliano Moreira segue viva por iniciativa da Aperj, mas ainda não conseguiu uma estabilidade editorial. Muitas revistas começaram muito bem, mas por razões várias ficaram pelo caminho, lembro a Rev. Psiquiat. Biológica,  a Rev. Informação Psiquiátrica entre tantas outras.

Um fato que mostra o crescimento do ensino e pesquisa da psiquiatria no Brasil é o de uma intensa produção bibliográfica. Deixei de lado publicações de manuais, teses e alguns relatórios para tentar dar uma ideia do que vem acontecendo. Registro  no meu índice (www.biblioserver.com/walpicci) a existência de  267 livros. É um valor aproximado por ter deixado de registrar alguns livros do período anterio3 a 1950. Tenho 7 livros at[e aquela data.

No período de 1950 a 2000, registro 42 livros. Nos 13 anos do século XXI foram publicados 218 livros, alguns com alentados volumes. Muitos livros publicados pela American Psychiatric Association são facilmente encontrados através dos modernos meios de distribuição.

Uma Editora que tem contribuído de maneira especial para o crescimento desta nossa produção de livros textos é a Artmed de Porto Alegre, agora integrante do Grupo A.  O começo dela tem uma história interessante. O Sr Henrique Kiperman, um paranaense que se fixou em Porto Alegre, era um vendedor de livros médicos. Tinha uma mesinha num corredor da Santa Casa de Porto Alegre. Alem de atender os estudantes e médicos que lá circulavam fazia a ronda dos consultórios. Com o passar dos anos e o sucesso nas vendas, abriu uma pequena livraria na rua General Vitorino, próxima a Santa Casa. Sua loja era frequentada por muitos médicos que se tornaram amigos do livreiro, um deles era o Dr. Cyro Martins, psiquiatra e psicanalista, mas sobretudo um dos grande s escritores do Rio Grande do Sul  (http://www.celpcyro.org.br) . Sempre que se encontravam o Dr. Cyro insistia e por fim o Sr. Henrique criou coragem e editou o primeiro livro  Perspectivas da Relação Médico-Paciente - 1979 ( Ed. Artes Médicas)

Reúnem-se aí, sob a coordenação de Cyro Martins, textos de profissionais de diversas áreas médicas, com o intuito de demonstrar quanto o tema "relação médico-paciente" se acha vinculado à prática cotidiana de toda a medicina e a urgência de ser abordado. Principalmente porque " o atendimento de massas, como é exercido no Brasil, nos faz experimentar uma sensação de mentira, que nos angustia", escreve ele, no Prefácio. (extra[ido da página do Celpcyro).

    Não é preciso contar o resto da história, aos poucos, inicialmente traduzindo autores estrangeiros a pequena livraria cresceu e hoje é um poderoso grupo editorial.

Não se fazem livros sem autores e sem mercado. Nos anos setenta começa a se firmar a pós- graduação brasileira. Os novos doutores foram se desenvolvendo e muitos demonstraram talento para abrir novos espaços seja no ensino, seja escrevendo. Espero continuar a examinar esta expansão da psiquiatria brasileira que se destaca tanto no Índice de Impacto de suas revistas como em excelentes livros textos,


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