Janeiro de 2013 - Vol.18 - Nº 1 Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello |
Janeiro de 2013 - Vol.18 - Nº 1 História da Psiquiatria CRÔNICAS DA HISTÓRIA, OLMSTED E A HIGIENE SOCIAL Walmor J. Piccinini A falta de conhecimento
sobre a transmissão de doenças permitiu durante séculos que se atribuísse aos miasmas,
a culpa pelas doenças que atormentavam a população,
principalmente das cidades. Desde a Idade Média, atribuía-se aos vapores malignos
– a teoria dos miasmas – a culpa pelas infecções. Esta teoria começou a ser
abandonada a partir de 1854, quando o médico inglês John Snow , num trabalho de
detetive médico, descobriu a origem de uma epidemia de cólera numa fonte de
água contaminada em Londres. A descoberta de Snow é vista
como o começo da Epidemiologia científica e da moderna teoria dos germes como
causadores de doença. Enquanto a teoria dos miasmas corretamente via a conexão
entre doença e condições sanitárias, tornou-se claro como consequência do
trabalho de Snow que o mecanismo da doença não era o transporte por mau ar. Os
trabalhos de Koch (1843-1910) e de Pasteur (1822-1895) mudaram o paradigma
causal das doenças de miasmas para o de micro-organismos bacterianos e virais. Surge
a Microbiologia. A higiene passa a ser uma
questão social e surge o higienismo. Pasteurização dos alimentos, o tratamento
da água com cloro, rede de esgotos, banheiros públicos, recolhimento do lixo. Não
mais eram tolerados animais mortos nas ruas, prevenção da tuberculose com
escarradeiras e muitas outras medidas profiláticas. As teorias higienistas não
eram vistas como uma ameaça, embora também naqueles primórdios existissem
descontentes com as normas impostas pelos governos. Uma das áreas de atuação
que será objeto desta nossa crônica foi o urbanismo. As cidades foram abertas
para a circulação dos ventos e purificação do ar. A ideia de minorar e enfrentar
as péssimas
condições de saúde nas cidades levou os governos a criar uma estrutura de
fiscalização que determinasse o que se deveria fazer para coibir os males da
florescente vida urbana. “Em 1764, Wolfgang Thomas Rau publicou um livro "Reflexões sobre a utilidade e a necessidade de um regulamento de
polícia médica para um Estado". Foi a primeira vez que o termo “polícia
médica” foi empregado e consistia nos seguintes pontos: Registro dos diferentes
fenômenos epidêmicos ou endêmicos. normalizar o ensino através de um controle
pelo Estado dos programas de ensino e da atribuição dos diplomas; criação de um
departamento especializado para coletar informações transmitidas pelos médicos,
e para controlar a atividade dos profissionais da saúde junto à população; e,
finalmente, a criação de um corpo de funcionários médicos competentes, nomeados
pelo governo, para interferir diretamente com o seu conhecimento e sua
autoridade sobre uma determinada região”. (Citado por Miranda. C.A.) http://www.ufpe.br/proext/images/publicacoes/cadernos_de_extensao/saude/policia.htm Os princípios de funcionamento desta polícia
médica estão registrados na obra de Johann Peter Frank, System einer
vollständigem medicinischen Polizey, "Sistema duma polícia médica
geral". Os volumes suplementares do sistema aparecem de Há referências sobre as condições da higiene
das moradias, sua disposição física, sua edificação e das instalações de
limpeza pública nas cidades e noutros lugares habitados. Casas com pé direito acima dos “A nova abordagem na relação saúde e sociedade foi desenvolvida, através
das noções de polícia médica, medicina urbana e medicina da força de trabalho.
Essas três etapas, segundo Foucault, permitiram o desenvolvimento da medicina
social na Europa do final do século XVIII”.
Frank propunha novo layout para as residências que deveriam permitir a
entrada do sol e a ação dos ventos purificantes. Criou normas para as
indústrias poluentes, matadouros, curtumes, tinturarias e quaisquer outras
atividades poluidoras. Elas deverias se estabelecer fora das cidades. Sugeriu,
também, uma maior fiscalização por parte das autoridades contra a prática de se
jogar animais mortos e outros gêneros de "imundices" nas ruas. “Atribui
grande importância à instalação no subterrâneo das ruas de um sistema de
canalização, que deve ser suficientemente largo e com um declive conveniente
para que o escoamento pudesse se processar corretamente. Pelo pouco que foi
exposto da grande obra de Frank, podemos afirmar que o seu Sistema de uma
polícia médica geral alicerçou as bases das concepções higiênicas do século XIX”.
(Miranda, C.A.) Personagens da história que
realizaram obras espetaculares são muitas e isso serve para comprovar que temos
mais homens dignos do que tiranos e assassinos. Um desses personagens, pouco
conhecido no Brasil, foi o arquiteto Frederick Law Olmsted. ( Hartford, Connecticut, 26 de abril de 1822 — 28 de agosto de 1903) Se acrescentarmos que Olmsted foi o arquiteto
paisagista que criou o Central Park de Nova Yorque e vários outros dentro dos
Estados Unidos, começamos a ter uma noção do valor deste homem. Meu particular
interesse na sua obra se deve a sua interpretação e aproveitamento das ideias
médicas da época, muitas delas, depois se mostraram inadequadas, mas seu
aproveitamento por Olmsted foi interessante. Este arquiteto criou o termo
“pulmões da cidade”. A ideia médica girava em torno dos ares pútridos
provenientes dos miasmas pantanosos como provocadores de doença. Em
consequência foi proposta a ideia de criar áreas verdes para purificar este ar.
Avenidas largas favoreceriam a propagação dos ventos e as árvores prestariam o
serviço de purificar o ar. Drenagem das áreas pantanosas, criação de cursos d´água,
lagos e estradas sinuosas onde as pessoas poderiam circular sem a preocupação
com o tráfego. Outro aspecto que se relaciona com a psiquiatria, foi o fato de
ele propor áreas envidraçadas onde o verde entraria nas casas. Segundo ele,
como nos asilos psiquiátricos, isso levaria o sossego e a paz dentro das casas.
Todas estas concepções estão presentes na construção das cidades americanas,
depois adotadas por cidades europeias. Paris com suas grandes avenidas seguiu
estes princípios. Haussmann foi o reformador de Paris e Pereira Passos, o homem
que reformou o Rio de Janeiro, para alguns é o Haussmann brasileiro. As cidades europeias foram
construídas dentro da ideia de cidades fortalezas. Tudo se concentrava
intramuros, casas coladas uma nas outras, ruas estreitas e insalubres. O
império romano era famoso pelo poder militar, mas também pela construção de
estradas, de aquíferos e drenagem dos esgotos. Segundo alguns autores, Roma no
ano um tinha melhor sistema de distribuição de água e esgotos que Paris e
Londres em 1800. A inspiração de Olmsted teria partido da Leitura de um Suíço,
Zimmermann que descreveu em livro (Ueber Die Einsamkeit, or Solitude
Considered, with Respect to Its Influence on the Mind and the Heart ) como
enfrentou profunda melancolia com passeios num jardim “cultivado com gosto
inglês, na periferia de Hanover. Despertada sua curiosidade, Zimmermann começou
a pesquisar uma explicação sobre a habilidade da natureza em curar os
distúrbios da mente. Ele concluiu que a paisagem tinha um poderoso efeito sobre
a imaginação. Olmsted leu o livro de
Zimmermann ainda menino, o redescobriu aos 22 anos e o guardou como um tesouro.
Às teorias do medico suíço ele acrescentou o aprendizado sobre a importância da
“influência inconsciente” ensinada por Horace Bushnell, que por muitos anos foi
ministro de sua família em Hartford. Frederick Law Olmsted John Singer Sargent
-- American painter 1895 Biltmore House,
Asheville, North Carolina Oil on canvas 254 x Jpg: Friend of
the JSS Gallery Filme sobre a obra de Olmsted: http://watch.thirteen.org/video/1887541606/ Olmsted concluiu que aprendeu muito de paisagismo com seu pai
que era um observador silencioso e aos poucos combinou sua própria experiência
com as ideias de Zimmermann e Buschnel para produzir sua própria teoria sobre o
efeito da paisagem no homem. A paisagem entraria na mente do homem de forma
inconsciente e produziria resultados sem acontecimentos espetaculares. Ela
agiria de uma maneira que o próprio beneficiário não a perceberia. Olmsted destacava
a influência sanitária no estilo do desenho paisagístico que refletia seu
desejo que suas paisagens produzissem um efeito sobre todo o organismo humano. "Service
must precede art," he declared, "since all turf, trees, flowers,
fences, walks, water, paint, plaster, posts and pillars in or under which there
is not a purpose of direct utility or service are inartistic if not barbarous.
… So long as considerations of utility are neglected or overridden by
considerations of ornament, there will be not true art." Quem visita Nova Yorque não
imagina a cidade sem seu parque e não imagina que tudo se devia a um jovem
americano sonhador. Durante a guerra de secessão americana, durante dois anos
Olmsted administrou o serviço de saúde do exército do norte. De início os
militares não permitiam que entrasse nos acampamentos. Depois de uma fragorosa
derrota no início da guerra passaram a aceitar suas propostas de melhoria das condições
dos acampamentos, melhor alimentação para os soldados, hábitos sanitários e de
higiene. Destacando a figura de
Olmsted e suas noções de higienismo, podemos resumir que a microbiologia ajudou
a fundar o higienismo cujo objetivo foi o de curar as doenças e prevenir
epidemias. A Revolução Francesa, muito antes disso já tratava da assistência
aos pobres e humanização dos serviços. Aí se destaca o tralho de Pinel. Nos anos que se seguiram
a Segunda guerra mundial, com a população se alimentando melhor, os indivíduos
aumentaram de estatura, houve uma seleção natural que podemos constatar nos
esportes
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