Julho de 2013 - Vol.18 - Nº 7 Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello |
Julho de 2013 - Vol.18 - Nº 7 France - Brasil- Psy Coordenação: Docteur Eliezer DE HOLLANDA CORDEIRO Quem somos (qui
sommes-nous?)
France-Brasil-PSY é o novo espaço virtual de “psychiatry on
line”oferto aos profissionais do setor da saúde mental de expressão
lusófona e portuguesa.Assim, os leitores poderão doravante nela encontrar
traduções e artigos em francês e em português abrangendo a psiquiatria, a
psicologia e a psicanálise. Sem esquecer as rubricas habituais : reuniões
e colóquios, livros recentes, lista de revistas e de associações, seleção de
sites. Qui sommes- nous ? France-Brasil-PSY est le nouvel espace virtuel de “psychiatry on
line”offert aux professionnels du secteur de la santé mentale d’expression
lusophone et française. Ainsi, les lecteurs pourront désormais y trouver des
traductions et des articles en français et en portugais concernant la
psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse. Sans oublier les rubriques
habituelles : réunions et colloques, livres récentes, liste de revues et
d’associations, sélection de sites
1)A DOR INVISÍVEL DOS ESQUIZOFRÊNICOS Por Florence Beaugé, do Jornal Le Monde | 05.07.2013 Tradução
e resenha: Eliezer de Hollanda Cordeiro Polo Tonka(um pseudônomo) escreveu uma narrativa
autobiográfica, um diálogo entre seu personagem e seu duplo. Ele tinha 21 anos quando entrou "no mundo das
vozes". Foi há dez anos. A doença começou com uma depressão grave. Nicolas
estudava para obter uma licenciatura em matemática. No seu grupo de amigos,
cada um tinha uma namorada. Ele não. Ele pensou que isto foi a causa de seu mal-estar. Mas a depressão
piorou. Ele tinha o hábito de fumar maconha
quando as vozes surgiam. Ele aprendeu então que isto não ocorreu
por acaso: a maconha desencadeia muitas vezes essas sensações auditivas. Então,
Nicolas ‘’enveredou por um universo desconhecido donde
nunca mais saiu’’. Em certos momentos , "ele se sente bem,apesar dos tormentos
causados pelas vozes. Esses "companheiros de solidão” podem ser
“pacíficos” ou, ao contrário,"cruéis"e mesmo"despóticos".
Nesses casos, as vozes tentam ditar sua
conduta e "batem duro". "Tu não és um homem!", dizem, zombeteiras, lançando-me desafios. Seu sofrimento psíquico é inimaginável. Queixar-se? Nicolas não pensa nisto. Há muito
tempo que ele conhece " as esferas da loucura".
"De vez em quando, as vozes fazem tanto barulho na minha cabeça que eu
tenho problemas para me concentrar", disse. Muito grande, magro, aspecto
de desportivo, rosto emaciado, o jovem
se exprime com facilidade. Ele também é muito humilde. Polo Tonka ,cujas
qualidades alguram um futuro brilhante de pesquisador em matemáticas,
cujos amigos de infância enfatizam a inteligência, a cultura e a
sensibilidade, espera hoje ser reconhecido como incapacitado. Durante muito
tempo, recusou este rótulo. Agora, ele o reivindica, na esperança de conseguir
um emprego compatível com a sua doença.
"Fui diagnosticado psicótico," disse.Nicolas se agarra a este termo genérico, que inclui as doenças mentais
caracterizadas por perdas de contato com a realidade. "Se você diz ouvir
vozes, você é imediatamente classificado esquizofrênico, o que eu não
sou", disse de maneira enfática. Durante anos, Nicolas '’jogou com o tratamento
". Ora o tomava, ora não o tomava.
Então, vagueava pelas ruas, especialmente à noite , às vezes livrando-se de situações violentas, para desespero de seu pai, com quem
ele vive, e da irmã, de quem gosta muito. Ele, o afetuouso, um dia agrediu um estranho no metrô. "Pareceu-me que ele
me dizia:Você é um veado" Outra vez, ele esmurrou , no meio da noite, dois
homens que lhe tinham falado "com
um desprezo que ele não suportou". Um deles estava com um soco-americano embrulhado numa lâmina. Nicolas acabou com a orelha
esquerda cortada em duas... A lição valeu: "Desde então, eu tomo meus
remédios," afirmou.No entanto, ele
não consegue dizer a seu psiquiatra que continua ouvindo vozes. Ele teme, sem
dizer, um tratamento mais adaptado. "Se as vozes desaparecem, ficarei
desamparado. Elas alertam-me quando há
perigo. O que me acontecerá, se elas cessarem?", indaga
ansiosamente.Quando lhe ocorre ainda acreditar no futuro, Nicolas sonha em retomar às matemáticas. Ele fala delas como
um pianista falaria de música ou um
poeta de sonetos. Ele gostaria de "recuperar
este prazer, este desejo". Manipular os objetos ou uma soma de maneira quase completa é a mesma coisa que achar o tom correto, ou
colocar uma vírgula ou um ponto, disse. Agente fica tão bem durante a
trajetória percorrida! " E acrescentou, em uma respiração: "Eu sonho
encontrar este rigor no trabalho e na razão.Eu sonho que vou reencontrar um espírito rigoroso." Dele, sua irmã disse com carinho: "ele é bom. Tem
coração. É altruísta. Pode-se contar com ele." Ela espera que a identidade
de Nicolas “ não seja reduzida pelos
outros à sua doença". E ela teme que seu irmão seja rejeitado pelos amigos que ainda tem.Isto seria"a pior
coisa que pudesse lhe ocorrer". Polo Tonka não conhece Nicolas. Portanto,ele poderia ser o irmão mais velho. Mesma altura –
um pouco mais maciça - mesma
inteligência, mesmo altruísmo, mesmo sofrimento, mesma coragem. Mas ele tem as palavras para dizer "a dor
invisível da incomunicável provação",
pois é um escritor. Mas, acima de tudo, ele está na fase de remissão aos 34 anos, ele que foi diagnosticado esquizofrênico há vários
anos, a psicose mais severa. Aprender a natureza de sua doença foi um choque por
causa de sua ‘’reputação bárbara",
sinônima, desde que ela foi designada no final do século XIX, de "de demência
sinistra e psicose criminal”. Então,a
verdade proporcionou-lhe um alívio e ajudou-o a sair de seu confinamento destrutivo. Polo Tonka acaba de publicar na editora Odile
Jacob, um livro emocionante, Diálogo
comigo mesmo. Ele o escreveu com rapidez, em quinze dias. Para Philippe
Jeammet, o psiquiatra que prefaciou o livro, este relato autobiográfico é
"um dos documentos clínicos mais importantes" que ele leu. "É
incomum encontrar-se uma história de vida tão bem analisada, tão verdadeira", disse,
antes de recordar que cerca de 1% da população francesa, ou seja 600 mil pessoas, sofrem de distúrbios
relacionados com a esquizofrenia. Polo Tonka sofre de
"paroxismos de angústia, de desespero absoluto". Às vezes,
parece-lhe que o seu corpo se cobre com insetos monstruosos, dos pés à cabeça.
Em outros momentos, ele acredita que está
possuído pelo diabo. Ninguém imagina que seus acessos de dor psíquica sejam
ainda mais intensos do que torturas físicas. Quando ele fica definhando em
casa, "torturado e aniquilado por uma doença sobre a qual tão poucos suspeitam o horror e a
estranheza", ele pensa que "um
dia escreverá um livro sobre o que lhe
ocorreu, para dizer ao mundo a atrocidade desta guerra do íntimo." Com a ajuda de sua família, o jovem vai findar
encontrando uma equipe médica capaz de
tirá-lo do inferno. Ele vai ‘’melhorar, sim, mas não muito’’. Os médicos hesitam
antes de propor-lhe o tratamento mais adequado, e este tempo de latência é "um
longo período de sofrimento". Se os efeitos colaterais do tratamento são
imediatos, o melhoramento só vai acontecer muito mais tarde. Paradoxalmente,é quando ele está melhorando e descobrindo que "a felicidade existe
para alguns" que Polo Tonka mede "a profundidade do infortúnio". A redescoberta da fé vai ser para ele um ponto de grande importância. Pouco a pouco, este
jovem compreende que "a esperança é possível" e que "o mundo é
menos perigoso do que parece". Ele
levou sete anos para subir a ladeira, sem saber quanto tempo vai ficar assim . Ele se
pergunta:um dia"? Vinte anos?
"Talvez até morra, antes de ficar livre. Morrer de vergonha e desespero. Não
conheço nada pior do que o que experimentei nesses anos passados’’, se recorda. Hoje, ele vive sozinho e se diz
‘'feliz'’, sem negar suas dificuldades, especialmente a solidão e a inatividade.
Ele aprendeu desenho industrial,
depois a pastelaria , na Escola Lenôtre.
Ocupar um emprego em tempo integral? O jovem não pode,
tão grande é sua deficiência consecutiva ao stress. Suas alucinações cessaram, mas ele continua a
sofrer "de angústias irracionais". Algumas noites, por
exemplo, toda pessoa que anda detrás dele se torna "um assassino" potencial.
Arrumar, deitar fora o lixo, são desafios cotidianos. Polo Tonka sabe que ele nunca
poderá interromper o seu tratamento, se o fizer seus demônios vão reaparecer e sua vida "se tornará insuportável". A
tentação do suicídio ainda existe, mas é menos invasiva. Ele quer evitar que
seus pais, que tanto o apoiaram, sofram
" o choque de um suicidio". "Foi o amor dos outros que me
salvou", disse simplesmente. Seus projetos: publicar outros
livros, escrever crônicas culinárias, casar-se um dia e ter filhos. E também mudar o olhar dos outros sobre a esquizofrenia. ANTES DE TUDO, UMA DEPRESSÃO
INTERMINÁVEL Sobre o diálogo
entre seu personagem e seu duplo, o jovem conta a sua infância (cinco irmãos,
pais atenciosos e amantes), seus anos de escola, seu desejo de se tornar um
físico, sua paixão pela escritura, pela
poesia e os primeiros sinais de sua doença. Uma depressão sem fim. Ele se considera
boderline e se repete constantemente:
"você tem sorte, você não é esquizofrênico".”Mas o mal piora. Ele
também experimentou o horrível tormento das vozes que sussurram-lhe: "Você
é feio!", "Você é estúpido!", "Ninguém ama você!", ou,
"suicíde-se!". A porcentagem de criminosos nas pessoas com esta
doença é "menor do que a porcentagem
encontrada na população normal," sublinha o Professor Philippe Jeammet. "O doente
mental não é um estranho. Não é pela exclusão mas pela compreensão compartilhada que ele poderá progredir", insiste o psiquiatra.
Para ele, o testemunho de Polo Tonka mostra-nos como um sujeito que sofre de
esquizofrenia, pode, sob o efeito do tratamento adequado, "encontrar o que
faz uma parte essencial da nossa
humanidade: a capacidade reflexiva". Polo Tonka tem vontade de dizer às pessoas que encontra:
"Não tenham medo de nós, porque somos as únicas vítimas dos nossos
terrores internos. A psicose faz de nós, antes de tudo, não criminosos depravados
e perversos, mas crianças pequeninas.
Não somos monstros. Os únicos que existem estão dormindo dentro de nós, em
nossa imaginação. "Apesar da gravidade de nossas distúrbios, cábe-nos enfrentá-los, domá-los
e, finalmente, acalmá-los’’. MINHAS OBSERVAÇÕES Este artigo sobre o livro escrito por Polo Tonka
suscita uma interrogação: ele é realmente um esquizofrênico? No Vocabulaire de la
Psychanalyse de Laplanche e Pontalis (páginas 433-436), podemos ler que o termo ‘’demência precoce’’
, criado por Kraepelin, compreende tres
formas: hebefrênica, catatônica e paranoide , conduzindo a um enfraquecimento
cerebral e à demência. Mas como nem sempre era possivel aplicar as palavras demência e o qualificativo precoce aos quadros clínicos forjados por
Kraepelin, E.Bleuler forjou o termo esquizofrenia a partir de dois termos
gregos que significam ‘’clivar’’ e ‘’espírito’’. Para Bleuler, mais além dos
‘’sintomas accessórios’’, que podem ser também encontrados em outras afecções, a Spaltung ou a ‘’dissociação’’ das funções psíquicas as mais
diversas, é a característica principal
da esquizofrenia. Para resolver o problema, Kraepelin inventou o termo ‘’parafrenia’’ afim de designar as
psicoses delirantes crônicas que, como a
paranoia, não se acompanham de um enfraquecimento intelectual e não evoluem
para um estado de demência, embora se aproximem da esquizofrenia por suas
construções delirantes ricas e mal sistematisadas, à base de alucinações e fabulações. À luz destas considerações, podemos perguntar se os sintomas psicóticos
de Polo Tonka não correspondem, antes de tudo, aos descritos na parafrenia. ** Le masochisme ANDRÉ Serge Gironde, Lormont, Le Bor de l’eau, collection ‘’La Muette’’ 2013 - 7 € **Le sadisme ANDRÉ Serge Gironde, Lormont, Le Bor de l’eau, collection ‘’La Muette’’ 2013 - 7 € **Les enveloppes psychiques J.DORON, D. HOUZEL, E. MISSENARD Paris, Dunod, 2013- 24 € **Penser la psychanalyse : avec Bion, Lacan, Winnicott, Laplanche,
Aulagnier, Anzieu, Rosolato GREEN, André Paris, les éditions d’Ithaqu, 2013- Br. 20 € **L’école de Palo Alto PICARD Dominique, MARC Edmond Paris, PUF, 2013- 9€ **Joyce McDOUGALL Société Psychanalytique de Paris Colloque 2012 Sous la direction de Bernard CHERVET
et Paul DENIS Paris, Société Psychanalytique de
Paris, 2013 – 15 € **Les théâtres de Joyce McDOUGALL : l’héritage d’une psychanalyste
engagée Sous la direction de Sander KIRSCH, Jacques VAN WYNSBERGHE Toulouse, EPEL, 2012- 23 € **Évolution psychiatrique (L’). 78-1 Réhabilitation Issy-les-Moulineaux, Elsevier, 2013-28 € **Tristesse business : le scandale du DSM5 LANDMAN, Patrick Paris : Max Milo, 2013-12 € **L’anthropologue et le monde global AUGE Marc Paris, Armand Colin, , 2013- 21,90 € **La bioéthique, pour quoi faire ? Par les membres du Conseil consultatif national d’éthique ; coordonné
par Ali Bemmaklouf Paris, PUF, 2013 - 13 € **Le fétichisme ANDRÉ Serge Paris, Dunod, 2013 - 7 € **Autour de l’œuvre de Jean-Paul VALABREGA : permanence et
métamorphose Sous la direction de Jean-Jacques BARREAU Paris, In press, 2013 - 22 € 3) RÉUNIÕES E COLÓQUIOS JUNHO 2013 JULHO 2013 *Em PARIS, dias 4 e 5: Psy et Crimino organiza um colóquio sobre o tems
“Distúrbios da personalidade”. Informações e inscrições : Association Française de Thérapie du
Traumatisme des Violences Sexuelles et familiales et de Prévention (AFTVS) Contactar Madame Valérie HERBST, 3
bis rue de l’Aigle, 92250, La Garenne6Colombes Telefone: 01 56 47 03 49 Endereço eletrônico: [email protected] Site internete:
www.psylegale.com 4) REVISTAS La Revue
Française De Psychiatrie Et De Psychologie Médicale 5)ASSOCIAÇÕES *Mission
Nationale d’Appui En Sante Mentale *Association
Française De Psychiatrie Et Psychologie Legales (Afpp) *Association Française De Therapie
Comportementale Et Cognitive (Aftcc) *Association
De Langue Française Pour L’etude Du Stress Et Du Traumatisme (Alfest) *Association
Pour La Fondation Henri Ey * Association Française de Thérapie du Traumatisme des Violences Sexuelles
et familiales et de Prévention (AFTVS) Site internete: www.psylegale.com *Association Aquitaine pour L'information Médicale et l'Epidémiologie en
Aquitaine AAPIMEP *Association Française des Psychychiatres. d'Exercice Privé AFPEP *Association pour
la Promotion de l'Assur. Qualité en Santé Mentale ANCREPSY *Association Scientifique des Psychiatres
de Secteur ASPS *Association Francophone de Formation et de Recherche en
Therapie Comportementale et Cognitive (A.F.FOR.THE.C.C.)
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