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Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Giovanni Torello

Novembro de 2012 - Vol.17 - Nº 11

Psiquiatria na Prática Médica

SINTOMAS PSIQUIÁTRICOS RELACIONADOS À INTOXICAÇÃO POR METAIS PESADOS

Prof. Dra. Márcia Gonçalves*


Introdução

Muitos relatos de consequências à exposição excessiva aos chamados metais pesados, incluindo manifestações psiquiátricas são descritas.

Os metais pesados mais comumente  descritos como possíveis de acumular no organismo são: chumbo inorgânico, mercúrio, manganês e outros.

Eles possuem como características toxicológicas, a afinidade por um órgão específico e também o fato de serem excretados lentamente.1 São eles:

Mercúrio

Aristóteles chamava-o de prata líquida, sendo essa intoxicação também denominada hidrargirismo. As atividades ocupacionais sujeitas ao risco de intoxicação são extração e fabricação do mineral do mercúrio e seus compostos além de fabricação de tintas, solda de aparelhos como barômetros, manômetros, termômetros, interruptores, lâmpadas, válvulas eletrônicas, ampolas de raios X, retificadores; amalgamação de zinco para fabricação de eletrodos, pilhas e acumuladores; douração e estanhagem de espelhos; recuperação de mercúrio por destilação de resíduos industriais; tratamento a quente de amálgamas de ouro e prata para recuperação desses metais; fungicida no tratamento de sementes e brilhos vegetais e na proteção da madeira.3

Garimpeiros da região amazônica correm grande risco de intoxicação, já que utilizam esse metal para extração do ouro.1

A contaminação mercurial ocorre principalmente pelas vias respiratórias , seguida pelas vias digestiva e cutânea. Após sua absorção acumula-se principalmente em rins, fígado e centros nervosos. 2 Os distúrbios psíquicos e neurocomportamentais manifestam-se por irritabilidade, timidez, desânimo, perda da autoconfiança, medo e, ocasionalmente, explosões de extrema cólera – sintomas conhecidos como eretismo mercurial. São observados também melancolia, ansiedade, insônia, perda da auto-estima, dificuldade na concentração, embotamento intelectual, mudanças de personalidade e, em casos mais avançados, perda da memória, delírios e alucinações. A intoxicação ocupacional pelo mercúrio inorgânico é passível de ocorrer nas indústrias de chapéu e acarretar a clássica síndrome do chapeleiro maluco (personagem do livro Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carrol.

Manganês

Encontrado na natureza sob a forma de óxido de manganês, apresentando características físico-químicas parecidas com as do ferro. As atividades ocupacionais sujeitas ao risco de intoxicação são extração, tratamento e trituração de pirolusita (dióxido de manganês); fabricação de ligas e compostos de manganês; siderurgia; fabricação de pilhas secas e acumuladores, vidros especiais e cerâmicas; preparação de permanganato de potássio e fabricação de corantes; soldagem de eletrodos contendo manganês; fabricação de tintas e fertilizantes; curtimento do couro.3

Os distúrbios psíquicos e neurocomportamentais,são: inquietude, animação e risos incontroláveis ou pranto, passíveis de atingir cerca de 20% dos casos. Podem surgir entre os sintomas neurológicos tremores da língua e das extremidades e fraqueza muscular.4 Verifica-se também a ocorrência de indiferença, apatia, sonolência, cefaléia, astenia, excitabilidade e outros. No manganismo também ocorrem oscilações do humor, pesadelos, atos compulsivos, alucinações e alterações da marcha conhecidas como passo de bailarina.4

Chumbo

O chumbo foi um dos primeiros metais a ser manipulado pelo homem, alcançando, a partir do século 18, utilização industrial em grande escala até os dias atuais.  As atividades em que há risco de intoxicação pelo chumbo e seus compostos tóxicos são extração de minérios, metalurgia e refinação do chumbo; fabricação de acumuladores e baterias (placas); fabricação e emprego de chumbo tetraetila e tetrametila; fabricação e aplicação de tintas, esmaltes e vernizes à base de compostos de chumbo; fundição e laminação de chumbo, bronze, etc.; produção ou manipulação de ligas e compostos de chumbo; fabricação de objetos e artefatos de chumbo, inclusive munições; soldagem; indústria de impressão; fabricação de vidro, cristal e esmalte vitrificado;sucata, ferro-velho; manufaturação de pérolas artificiais; olaria; fabricação de fósforos.3

São característicos do acúmulo,  episódio delirante agudo, que pode eclodir nas intoxicações agudas (e também nas crônicas): confusão, insônia, inquietude, tremores, medo, explosões de violência, alucinações visuais e delírios que muitas vezes são de conteúdo persecutório, podendo ainda ocorrer convulsões. Já nas manifestações crônicas podem ser observados apatia ou depressão, alteração de linguagem, esquecimento e, às vezes, confabulações sugerindo a síndrome de Korsakoff. A progressiva deterioração mental pode sugerir um quadro de paralisia geral e também de neurastenia, em que ocorrem irritabilidade e depressão no paciente com queixas de fraqueza, fatigabilidade e vertigem.2

Sulfeto de carbono

As atividades ocupacionais em que há risco de intoxicação pelo sulfeto de carbono são indústria de viscose, raiom seda artificial; fabricação de sulfeto de carbono; fabrico e emprego de solventes, inseticidas, parasiticidas e herbicidas; preparação de vernizes , resinas, sais de amoníaco, tetracloreto de carbono, têxteis, tubos eletrônicos a vácuo, gorduras; limpeza a seco, galvanização, fumigação de grãos; processamento de azeite, enxofre, bromo, cera e iodo.3

Os primeiros registros dessa intoxicação datam de 1856, na França, onde os trabalhadores apresentavam alterações como depressão, perda da força de vontade, da auto-estima e da memória, ficando impossibilitados de exercer outras atividades. Episódios maníacos agudos também foram descritos por uma revista inglesa em uma indústria de vulcanização de borracha onde, para evitar que os intoxicados se atirassem pelas janelas, guarneciam-se as mesmas com grades.

São sintomas psíquicos e neuro-comportamentais do manganês, insônia, pesadelos, fadiga, impotência, incapacidade de concentração, perda da memória.4

Tratamento

O tratamento para este tipo de intoxicação é feito através de substancias quelantes, formadores de complexos inactivos: interacção com o tóxico dando origem a complexos inertes e hidrossolúveis que são posteriormente excretados, como a desferroxmina nas intoxicações pelo ferro e alumínio. Aceleradores da metabolização e  alterações nutricionais que melhoram a excreção destes metais também são usados como tratamento adjuvante para essas enfermidas. Psicofármacos que alteram as funções do SNC são utilizados para controle dos sintomas psiquiátricos causados por esse tipo de intoxicação. 1

Referências

1- Buschinelli JTP. Agentes químicos e intoxicações ocupacionais. In: Ferreira MJ. Saúde no Trabalho. São Paulo: Roca, 2000.p.137-75

2- Camargo DA, Oliveira JI. Transtornos neuropsiquiátricos nas intoxicações ocupacionais. In: Guimarães LAM, Grubits S. Série Saúde Mental e Trabalho. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. Vol. III. p. 95-117.

3-Dias CD. O manejo dos agravos à saúde relacionados com o trabalho (Lista das Doenças Profissionais ou do Trabalho, Anexo II, Decreto 611/1992). In: Mendes R. Patologia do trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu, 1995. p. 59-85.

4-Kolb J. Síndromes cerebrais resultantes de intoxicação por droga ou veneno. In: Kolb J. Psiquiatria clínica. São Paulo: interamericana, 1997. p. 273-85.

*Acadêmico do 4º ano de Medicina da Universidade de Taubaté

** Professora da disciplina de psiquiatria da Universidade e Taubaté.

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