![]() ![]() Volume 22 - Novembro de 2017 Editor: Giovanni Torello |
Fevereiro de 2012 - Vol.17 - Nº 2 Psiquiatria na Prática Médica COMPLICAÇÕES FÍSICAS DEVIDO AO USO CRÔNICO DE ALCOOL Prof. Dra. Márcia Gonçalves
As complicações físicas do álcool são um problema para a saúde pública e uma grande perda de qualidade de vida. Como o alcoolismo é uma doença crônica, os efeitos deletérios podem aparecer depois de muitos anos de uso, e nem sempre são associados com a dependência química. Pesquisadores, entretanto conseguem visualizar a associação entre as complicações orgânicas e o uso do Alcool. Vamos listar algumas das mais frequentes complicações clinicas associadas com o uso do álcool. ÁLCOOL E SISTEMA CARDIOVASCULAR. Hipertensão está associada ao consumo álcool- podem não responder bem à medicação anti-hipertensiva; O diagnóstico baseado na história de uso de álcool;. Ingestão de álcool e abstinência de álcool causam taquicardia sinusal.(freqüência cardíaca elevada). 1 Estudos científicos indicaram que o uso moderado de álcool reduz a incidência de doenças coronarianas, em especial de enfartes do miocárdio. 2,3 O HDL é responsável pela remoção do colesterol ligado a lipoproteínas de baixa densidade (LDL), o que previne a ocorrência de aterosclerose.4 Consumir 30g/dia (aproximadamente duas doses diárias de álcool), aumenta em até 4,0 mg/Dl (4 miligramas por decilitro) o nível do colesterol ligado a proteínas de alta densidade (HDL), considerado o bom colesterol. O consumo de até aproximadamente 30g/dia de álcool diminui os níveis de fibrinogênio em até 7.5 mg/Dl. O fibrinogênio, que está associado ao processo de coagulação e formação de trombos, leva a uma redução do risco de problemas coronarianos em até 12,5%. 5 Quanto aos efeitos maléficos do álcool doses altas doses de álcool (5 ou mais doses/dia) podem levar ao comprometimento do ventrículo esquerdo do coração. A abstinência ou diminuição do álcool pode levar a uma melhora da cardiomiopatia.2 OUTROS PROBLEMAS DECORRENTES DO USO DE ÁLCOOL ESTÃO PRESENTES NA FASE FINAL: • Polineuropatia periférica ( problemas coma inervação) • Insuficiência hepática • Crises de pancreatite aguda ou pancreatite crônica • Dano aos rins e insuficiência renal • Esofagites e gastrite • Hipertensão porta • Varizes de esôfago • Dano cerebral mais generalizado, nesse último caso, com severa decadência da afetividade, da apresentação pessoal e do desempenho intelectual. 6 Anemia por privação de ferro - Sangramento gastrointestinal crônico com volume corpuscular médio baixo (glóbulos vermelhos menores) mascarado por macrocitose simultânea. A alteração na produção e funcionamento dos glóbulos brancos, tanto neutrófilos como linfócitos e aumenta o risco de infecção. Aumento do baço secundário à doença hepática podem causar trombocitopenia pelo seqüestro aumentado de plaquetas (sujeito a hemorragias) ÁLCOOL E SISTEMA NERVOSO CENTRAL O álcool atua como um depressor de muitas ações no Sistema Nervoso Central (SNC) e seus efeitos sobre este são dose-dependentes. 7,8 Em concentrações muito altas, ou seja, maiores do que 0.35 gramas/100 mililitros de álcool, o indivíduo pode ficar comatoso ou até mesmo morrer.
DANOS DO ÁLCOOL AO CÉREBRO. Alterações na marcha, fala arrastada, tempo de resposta retardado e danos à memória. Diminuição dos reflexos9 Nitidamente o álcool afeta o cérebro. Uma série de fatores podem influenciar o como e o quanto o álcool afeta o cérebro, a saber: TRANSTORNO DA MEMÓRIA (AMNÉSICO) ALCOÓLICO Após apenas algumas doses e à medida que o consumo aumenta, também aumentam os danos ao cérebro. Pode produzir à memória. Altas quantidades de álcool, quando consumidas rapidamente e com o estômago vazio, podem produzir um “branco” ou tempo no qual o indivíduo não consegue recordar detalhes de eventos ou até mesmo eventos inteiros. Uma pessoa intoxicada por álcool pode apresentar ataxia (incoordenação dos movimentos do corpo), fala arrastada, humor instável, concentração e memória reduzidas, julgamento fraco, rubor facial, pupilas dilatadas e movimentos oscilatórios curtos e bruscos da movimentação dos olhos (nistagmo).10 OUTRAS COMPLICAÇÕES NEUROLÓGICAS O uso prolongado pode causar quadro demencial progressivo,com dificuldades de memória e um déficit das funções cognitivas levando à perdas na formação e compreensão de pensamentos abstratos e para aprender coisas novas 11
A neuropatia periférica é simétrica em extremidades inferiores. Encefalopatia hepática - O fígado não é mais capaz de metabolizar e de neutralizar a toxicidade de substâncias, sintomas iniciais incluem confusão, agitação e mudanças da personalidade. 71 Outras complicações médicas do uso crônico de álcool São elas: Gastrite, úlcera péptica (gástrica ou duodenal), esofagites, varizes esofágicas, hepatite alcoólica, cirrose hepática; parcial ou totalmente reversíveis com a abstinência de álcool. Embora uma minoria de alcoolistas , de 15% a 20% desenvolva cirrose; a maioria com cirrose é alcoolista, de 50% a 80%. Complicações pulmonares Incidência aumentada de tuberculose e de pneumonias bacterianas. 90% dos alcoolistas são fumantes, a incidência de bronquite crônica e enfisema e doença pulmonar obstrutiva crônica é maior. CONSUMO EXCESSIVO DE ÁLCOOL PREDISPÕE AO CÂNCER DE CÓLON Através da análise dos dados de 8 grandes estudos,
que acompanharam um total de 489.979 pacientes de ambos os sexos, verificou-se
que indivíduos com consumo de álcool maior do que A associação foi evidente para todas as regiões do cólon, incluindo o câncer de reto. Não houve diferença no risco entre as diferentes bebidas alcoólicas. 12a ALCOOL E SISTEMA HEPÁTICO (fígado) O fígado é o órgão susceptível aos danos provocados pelo álcool pois ele é o principal sítio de metabolização desta substância no organismo. 12 O consumo diário de bebida alcoólica, por um longo período de tempo, é uma condição fortemente associada ao desenvolvimento de lesões hepáticas, porém, apenas metade dos usuários que a consomem com esta freqüência vão desenvolver hepatite ou cirrose alcoólica 12 Estes achados sugerem que outras condições como: hereditariedade, fatores ambientais ou ambos devam influenciar no curso da doença hepática. 12
TIPOS DE LESÕES HEPÁTICAS PROVOCADAS PELO ÁLCOOL Em indivíduos que fazem uso abusivo do álcool as doenças hepáticas mais encontradas são: • Esteatose alcoólica (fígado gorduroso). A esteatose corresponde ao primeiro estágio da doença hepática alcoólica. Caso o indivíduo pare de beber neste estágio, ele recuperará sua função hepática. 13 2. Hepatite alcoólica: esta condição implica em uma inflamação e/ou destruição (ex. necrose) do tecido hepático. Os sintomas incluem: perda de apetite, náusea, vômito, dor abdominal, febre e em alguns casos, confusão mental. Embora esta doença possa levar à morte, na maior parte das vezes ela pode ser revertida com a abstinência alcoólica. A hepatite alcoólica ocorre em aproximadamente 50% dos usuários freqüentes do álcool. 13 • Cirrose alcoólica: É uma forma avançada de doença hepática decorrente
de um dano progressivo das células hepáticas. A cirrose costuma ser
diagnosticada em
ALCOOL E FOBIAS Pacientes com dependência de álcool e transtornos fóbicos associados são comumente encontrados na clínica do alcoolismo e dos transtornos de ansiedade. Os dependentes de álcool que apresentam fobias apresentam características clínicas diferentes dos dependentes de álcool sem comorbidades. Os sintomas de ansiedade e outras características clínicas são diferentes entre os pacientes fóbicos com diagnóstico de dependência de álcool e os pacientes fóbicos que não apresentam problemas com o uso de bebidas alcoólicas. ALCOOL E DEPRESSÃO Muitos trabalhos da literatura correlacionam o alcoolismo com os transtornos depressivos. Esse é um dado importante pois o alcoolista que apresenta um trastorno depressivo de base não consegue realizar um tratamento adequado para deixar de beber. Muitas vezes o próprio habito de beber foi a busca de alívio para os sintomas depressivos. A depressão como todos sabem é um fator de agravo no alcoolista e deve ser abordada com muita seriedade. O tratamento da depressão pode ser de grande valia no tratamento da abstinência. • Coordenadora da disciplina de psiquiatria UNITAU Referências – com autor - [email protected] ![]()
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