Volume 16 - 2011
Editor: Giovanni Torello

 

Setembro de 2011 - Vol.16 - Nº 9

História da Psiquiatria

ANTOLOGIA DE TEXTOS CLÁSSICOS DE LA PSIQUIATRIA LATIONAMERICANA

Walmor J. Piccinini

     A Associação Mundial de Psiquiatria iniciou em 1999, uma série de publicações sob o título de “International Series of Psychiatry”, com o objetivo de publicar em inglês, pela primeira vez, textos clássicos produzidos por psiquiatras de determinado país ou grupo de países, acompanhado por ensaios sobre seus autores.  O fundador e diretor das “Séries” foi o Professor Driss Moussaoui e seu desejo era facilitar o contato, a compreensão e a colaboração entre psiquiatras espalhados por diferentes países e pertencentes a diferentes escolas de pensamento.  As séries contribuem com o conhecimento da história e literatura psiquiatria no mundo nas principais línguas internacionais:

    As Séries foram estas:

1.      Antologia de Textos Psiquiátricos em Francês, editada por François Regis Cousin, Jean Garrabé a Denis Morozov. Publicada em 1999.

2.      Antologia de Textos Psiquiátricos Espanhóis, editada por Juan José Lopez-Ibor, Carlos Carbonell e Jean Garrabé. Publicada em 1991.

3.      Antologia de Textos  Psiquiátricos  Italianos, editada por Mario Maj e Filippo M. Ferro. Publicada em 2002.

4.      Antologia de Textos Psiquiátricos Alemães, editada por Henning Sass e publicada em 2007.

5.      Antologia de Textos Psiquiátricos Gregos, editada por George N. Christodoulou, Dimitri N. Ploumpidis e Athanasios Karavatos. Publicada em 2011.

6.      Antologia de Textos Clássicos da Psiquiatria Latinoamericana editada por Sergio J. Villaseñor Bayardo, Carlos Rojas Malpica e Jean Garrabé. Publicada em 2011.

    Na apresentação da Antologia Latinoamericana, o Dr. Jean Garrabé nos faz um interessante relato da criação destas séries e achei ser mais interessante transcrevê-lo do que recriar a história dos acontecimentos.

    “Um tema de especial interesse para os historiadores da psiquiatria é o que no Século das Luzes se chamava o comércio das idéias. Como se disseminam estas idéias, sobretudo as novidades, as que revolucionam o pensamento, de uma nação para outra? Que caminho segue os escritos ou os viajantes que as levam de uma nação a outra, inclusive de um continente a outro, cruzando mares e oceanos? “ “A especialidade médica que em 1802, Johann-Christian Heinroth (1773-1842) e Johann Christian Reil (1759-1813) chamaram, em alemão –Psychiaterie-, nossa atual psiquiatria, nasceu no início do século XIX quando médicos e filósofos franceses e de língua alemã modificaram a visão da loucura, a mania em grego, vigente na cultura ocidental desde a Antiguidade, intercambiando suas idéias através de obras fundamentais. Em 1800, em plena revolução francesa, Philippe Pinel (1745-1826) publica a primeira edição de seu Traité médico-philosophique sur l´alienation mentale ou La manie. Apenas 4 anos depois  se publica em Madrid sua tradução em espanhol com o título Tratado médico-filosófico de La enajenacion del alma o mania. Sabemos que logo em seguida chegaram na América Latina exemplares desta tradução, ou a versão original em francês, pois que alguns médicos que implantam o alienismo no continente, o comentam em vários países, entre outros na Argentina.”

    “A obra é traduzida para o alemão, o que permite ao filósofo Friedrich Hegel (170-1831) expressar sua admiração por esta mudança de paradigma que vai permitir o tratamento que Pinel qualifica de moral, dos alienados, que antecedeu as ulteriores psicoterapias. Quando se celebrou no México um colóquio para comemorar o sesquicentenário da publicação do Tratado, nossos colegas e amigos mexicanos nos contaram que Dionísio Nieto (1908-1985), exilado neste país depois da guerra civil espanhola, mandou fazer uma edição fac-símile desta tradução castelhana de 1804, cujos exemplares obsequiava a seus discípulos. Nieto mantinha contatos com os psiquiatras franceses que conhecia, tanto que estava atualizado quando descobriram os efeitos da Clorpromazina, em 1952, na França. Foi um dos motivos que a primeira utilização desta droga ocorreu no México, antes que na América do Norte, Canadá e logo os Estados Unidos começassem a empregar este fármaco. Há muitos exemplos de exilados espanhóis daqueles anos ou dos após a II Guerra Mundial que vão levar idéias européias a América Latina. Entre eles Angel Garma Zubizarreta (1904-1993) na Argentina, ou Solanes, que redigiu sua tese doutoral em Toulouse, na Venezuela.”

    O Dr. Garrabé recorda ainda o Primeiro Congresso Mundial de Psiquiatria realizado em Paris sob a direção do Professor Henri Ey (1900-1977). O Congresso de Buenos Aires é o décimo quinto e nele se comemora o centenário da Esquizofrenia. Foi aceito um Simpósio centrado na Antologia Psiquiátrica Latinoamericana.  Neste Simpósio o Dr. Sergio Javier Villaseñor Bayardo apresentou o alentado volume da Antologia e contou alguns fatos a respeito da criação da mesma. Foram convidados vinte países, onze atenderam o convite. Aos colaboradores foi feito um agradecimento especial e resumimos alguns pontos de sua fala conforme consta no Prefacio da Antologia.

    “Aqui apresentamos textos de Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Cuba, México, Peru, Uruguai e Venezuela. Apesar da enorme vantagem propiciada pela comunicação virtual pela internet e pelos múltiplos eventos e encontros científicos que hoje em dia acontecem no continente, não foi fácil conseguir reunir estes textos. Foi necessário um esforço técnico, muito amor e trabalho desinteressado de um grupo de colegas e funcionários administrativos de todo o continente que, além do mais tem seu tempo cheio de compromissos e atividades. Os artigos selecionados são precedidos de uma breve resenha do autor e de suas preocupações científicas. Os temas são diversos e muito interessantes, ao ponto de que alguns deles poderiam fazer parte das indagações de Mario Vargas Llosa em sua novela A guerra do fim do mundo. Insistimos que a psiquiatria Latinoamericana nasce atravessada pelo clima epistemológico do positivismo francês, o qual seria especialmente notável em artigos do século XIX. Alguns trabalhos foram publicados na Europa. Alguns são de corte naturalista, onde se examinam os condicionantes biológicos da doença mental, outros querem aprofundar o ensino, enquanto alguns autores tratam de identificar os conflitos da alma nacional e suas repercussões psicossociais, desde uma perspectiva que poderíamos chamar dialética e crítica. . Os mais recentes mostram uma busca e uma voz mais própria do continente. Se pudéssemos numa frase mostrar a síntese do pensamento psiquiátrico Latinoamericana, nenhuma melhor que a proposta por Renato Alarcon, como aquela que diz que nossa psiquiatria é “mestiça, social e crítica”.

    A contribuição brasileira para a Antologia foi feita por Paulo Dalgalarrondo, Ana Maria Galdini Raimundo Oda e Walmor J. Piccinini e os trabalhos apresentados foram os de Raimundo Nina-Rodrigues, Juliano Moreira e Ulysses Pernambucano.

     A Antologia, dentro em breve, estará à disposição de todos na internet no seguinte endereço:

www.gladet.org.mx . Na Psiquiatria online Brasil publicamos um texto sobre a fundação da Associação Psiquiátrica da América Latina (APAL) - http://www.polbr.med.br/ano10/wal0510.php

e nele podemos encontrar algumas informações sobre o GLADET (Grupo Latinoamericano de Estúdios Transculturales) que foi um grupo de estudos transculturais que a precedeu.

Um registro deve ser feito. A Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_issues&pid=1415-4714&lng=en&nrm=iso , fundada por Manoel Tosta Berlinck, vem desde seus primeiros números apresentando textos clássicos da psiquiatria mundial com comentários paralelos de importantes historiadores e pesquisadores brasileiros. Estes trabalhos resultaram num livro “História da Psicopatologia: textos originais de grandes autores”, organizado por Paulo Dalgalarrondo, Carol Sonenreich e Ana Maria Galdini Raimundo Oda.

 


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