Volume 16 - 2011 Editor: Giovanni Torello |
Setembro de 2011 - Vol.16 - Nº 9 Psiquiatria na Prática Médica A DIREÇÃO DAS PESQUISAS QUE CORRELACIONAM DOENÇAS DERMATOLÓGICAS E ASPECTOS PSÍQUICOS Prof. Dra. Márcia Gonçalves
INTRODUÇÂO Atualmente
estima-se que pelo menos um terço dos pacientes com doença dermatológica possua
aspectos emocionais associados.1 A pele é um
órgão visível, que tem importância nas relações interpessoais e pode trazer
prejuízos quando lesionada.2 Muitos estudos
se voltam para esta correlação. Em um trabalho realizado por LUDGWIG (2008),
avaliou-se stress e localização da lesão dermatológica e a associação
entre essas variáveis, comparando níveis de stress em pacientes com
lesões no rosto e/ou mãos e pacientes com lesões em outras partes do corpo.2
Tratou-se de um estudo transversal, descritivo, de associação. Participaram 205
pacientes, que responderam ao Inventário de Sintomas de Stress para Adultos
de Lipp, às Fichas de Dados Sócio-Demográficos e de
Localização da Lesão. 2 Quanto aos resultados, houve presença de
sintomas de stress na maioria dos pacientes; a fase de resistência e a
sintomatologia psicológica foram predominantes.2 Na comparação entre
grupos com diferentes localizações de lesão, não houve diferenças
significativas quanto aos resultados de stress (p=0,495; p=0,873
e p=0,815). Os achados corroboram a necessidade de um atendimento
biopsicossocial aos pacientes.
O stress repercute nas doenças de pele.2
DIREÇÂO DAS PESQUISAS ATUAIS Os temas das
pesquisas revelam que a dermatose não está relacionada somente à pele, às
questões orgânicas, mas que influencia e é influenciada por outros aspectos da
vida do indivíduo, tanto questões emocionais quanto o próprio contexto em que
vive.3 O stress
psicológico e a ansiedade têm sido reconhecidos clinicamente pelos
dermatologistas como fatores relacionados à piora das lesões de pele. Em dois
grupos, um com e outro sem dermatoses, foram encontradas
associações entre altos níveis de ansiedade e stress em pessoas que sofrem de
dermatoses inflamatórias crônicas.4
Souza et al.
(2005) referem que o stress emocional comumente acompanha os problemas
dermatológicos, influenciando, então, as alterações da pele. No aspecto da sintomatologia, entre sintomas
somáticos, psicológicos ou ambos, os sujeitos apresentaram predominantemente
sintomatologia psicológica, ilustrada por sintomas como angústia/ansiedade
diária, dúvida quanto a si próprios, vontade de fugir de tudo, entre outros.5 Os avanços da psicodermatologia, psico-neuroimunologia
e do entendimento da influência dos aspectos emocionais nas doenças de pele
caminham não apenas em direção a um entendimento integrado do indivíduo, mas
principalmente em direção a um trabalho integrado médico-psicológico.2 Mais recentemente a psiconeuroimunologia
vem também contribuindo para a compreensão das doenças sob um enfoque
multidimensional. Por exemplo: A psoríase, uma das doenças de pele que causa
mais restrições aos pacientes, pode ser vista sob esse enfoque, sendo
considerada em um contexto em que os prejuízos físicos, psíquicos e sociais
possuem igual relevância.6
Segundo Mingorance, Loureiro, Okino e Foss (2001), muitos estudos têm sido realizados associando
o funcionamento mental do paciente com psoríase a correlatos psíquicos: o
impacto emocional da doença, o aumento de preocupações e a ansiedade estão
associados à piora das lesões, o alto nível de depressão, à presença de
distúrbios no ambiente familiar e outros.7 Com relação á
classificação dos trasntornos “psicocutâneos)
, segundo Warnock (2001) Temos:8
8 Segundo
TABORDA et al (2005) existe uma alta prevalência de sofrimento psíquico em
pacientes com algumas dermatoses. Algumas doenças crônicas, segundo o
autor, como vitiligo, podem estar
associadas a maior grau de sofrimento nessa população. Os resultados, apesar de
não significativos para a associação de dermatoses em geral e sofrimento
psíquico, demonstraram forte tendência para este sofrimento.9 Diversas
categorias de teorias psicológicas tentam enfocar a correlação das patologias
dermatológicas. Uma das teorias psicológicas que envolvem a relação do afeto
com a pele é a teoria do vinculo. Dentre estas manifestações do desenvolvimento
do vínculo mãe-criança, a necessidade do toque, do carinho, se destaca.10 A importância
deste contato através da pele fica bem demonstrado por René Spitz,
que em seu livro "O Primeiro Ano de Vida" relata a comparação entre
dois grupos de bebês. A conclusão do autor foi de que a criança, para ter um
desenvolvimento normal, necessita ser estimulada, assim como que a privação de
contato físico em crianças por tempo prolongado pode levar à morte. Chama este
tipo de privação de "privação afetiva" e sugere que a forma mais
eficaz de suprir essa necessidade é através do contato físico.10 As tentativas de associação com teorias
psicológicas também enveredam por considerações sobre personalidade e impacto
emocional. A angústia, por exemplo, é considerada a principal origem de todos os nossos sintomas.11
Faz-se necessário considerar as características de
personalidade dos sujeitos, visto que a forma como o indivíduo percebe e
interpreta as situações ao seu redor, inclusive a própria dermatose, é
influenciada por suas características pessoais.11,12 Estas características individuais podem determinar uma maior vulnerabilidade
para transtornos orgânicos ou não, em
diferentes gravidades. Avaliar a
gravidade da doença na percepção do paciente seria também uma medida
importante. A literatura traz dados variados em relação
à importância da gravidade da doença, apresentando trabalhos em que a qualidade
de vida não está relacionada a esta variável, outros em que a extensão da
visibilidade é mais importante que a gravidade, ou ainda de que a qualidade de
vida não varia de acordo com o local do corpo afetado, mas proporcionalmente à
percepção de gravidade por parte do paciente.13 Levando em
consideração a exposição ao outro a que fica submetido o indivíduo com problema
dermatológico, alguns autores indicam a necessidade de adaptação à doença.14 QUALIDADE DE VIDA E DOENÇAS DERMATOLÓGICAS Qualidade de vida e psicologia, cada vez
mais são aspectos indissociáveis, e precisamos ter clareza sobre a importância
de psicólogos preocuparem-se com a qualidade de vida geral dos sujeitos,
principalmente para fins de prevenção de problemas futuros, especialmente
quanto a manifestações de afecções físicas.15 A
contribuição maior seja no que tange à dermatologia e psicologia, promovendo o
estreitamento das relações esta na
construção de idéias que, possam ser foco de outros estudos, que
priorizem não apenas biológica do adoecimento.15 Com relação a qualidade de vida em
pacientes com psoríase, quanto à qualidade de vida geral, o domínio social é o
que apresenta o maior prejuízo, tanto na amostra total como nos dois grupos de localização
da lesão.16 O impacto psicossocial da dermatose,
referindo situações de discriminação ou outras experiências estigmatizadoras,
relativas a problemas de auto-estima, isolamento social e rejeição são
evidenciados quando alvo de avaliação.16
Ludwig em uma pesquisa demonstra que
independente da localização da lesão, o sentimento de exposição e os prejuízos
a que fica sujeito o paciente dermatológico são semelhantes. As doenças da
pele, ao que parece, provocam sentimento de exposição e constrangimento,
independente do local do corpo acometido, pois na aproximação mais íntima de
outra pessoa está implicada certa exposição.17 Ludwig (2009) afirma ainda que os dados
desta pesquisa demonstram um maior prejuízo quanto mais regiões do corpo
estiverem afetadas pela dermatose, assim como piora na qualidade de vida específica nos
pacientes com vitiligo ou psoríase em relação aos demais.17 Aspectos como gravidade da doença,
percepção do paciente sobre si e sobre a dermatose, características pessoais e
de personalidade, bem como questões climáticas são variáveis implicadas nesta
compreensão. Sazonalidade, relações interpessoais, auto-imagem, auto-estima e auto-conceito também merecem ser investigados.17 SILVA et al
(2006) avaliou estratégias de enfrentamento para preservação da qualidade de
vida em pacientes com psoríase, no sentido de estruturar fatores e as
correlações nas afeçções
dermatológicas crônicas. 18 Em um trabalho
com pacientes com psoríase fatores podem contribuir para a exacerbação da
psoríase entre 40 e 80% dos casos, causando grande impacto na qualidade de vida
desses pacientes. 18 Em um estudo
transversal, com amostra de 115 pacientes, divididos em 61 com psoríase e 54 do
grupo controle com dermatoses crônicas avaliados com o Inventário de Estratégias
de coping e Inventário de Sintomas de Estresse
para Adultos de Lipp. concluíu
que pacientes com psoríase utilizam estratégias de coping
específicas para o enfrentamento da doença de pele, quando comparados a outros
pacientes com doenças crônicas de pele demonstrando relevante nível de
estresse.18
CONCLUSÃO Corroborando a idéia de Koblenzer: “Nunca se
deve esquecer que saúde mental e física existem quando o nível de estresse e as
respostas defensivas do organismo para esse fator estão em equilíbrio. Quando,
porém, o estresse é suficiente para aniquilar as defesas, então os sintomas
poderão se desenvolver, podendo as respostas ser físicas ou psicossociais. A avaliação dos níveis de estresse e das
estratégias de coping
é de suma importância para uma melhor compreensão da maneira como o paciente
portador de psoríase maneja o estresse e, conseqüentemente, pode buscar melhor
qualidade de vida.19 “ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Gupta MA,
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Professora
coordenadora da Disciplina de Psiquiatria – UNITAU ·
Email:
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