Volume 15 - 2010 Editor: Giovanni Torello |
Setembro de 2010 - Vol.15 - Nº 9 História da Psiquiatria IDÉIAS SOBRE A LOUCURA NO BRASIL: SÉCULO XIX Walmor J. Piccinini Aos poucos vão aparecendo documentos que nos informam sobre as idéias predominantes no Brasil sobre a loucura no século XIX. Não se pode afirmar que existiam idéias de filiação a uma ou outra corrente de pensamento. Nem que havia um projeto de hegemonia do saber médico sobre a loucura. A tentativa repetida de se propor idéias mais recentes para reconstruir a história passada pode criar uma versão da história que se afasta da verdade. Para que cada leitor tire suas próprias conclusões vamos transcrever dois autores do século XIX, o Dr. Carlos Lisboa (1859-1888), primeiro diretor do Hospício São Pedro de Porto Alegre (1884) e um verbete do Dicionário de Medicina Popular e das sciencias accessorias e ... de Chernoviz, Pedro Luiz Napoleão, 1812-1881. (edição de 1890)
A leitura do verbete Loucura de Chernoviz é interessante em vários aspectos pois traduz concepções médicas, idéias populares sobre a loucura e as dificuldades de manejo que concluem pelos benefícios do isolamento e até da camisa de força. LOUCURA, DOUCIDE ou ALIENAÇÃO MENTAL, Perturbação das faculdades intellectuaes. . (mantivemos a grafia original no texto) Causas. O sexo feminino, o temperamento nervoso, uma educação viciosa, o celibato, as profissões que exigem um grande esforço de espírito, que agitam fortemente e põem em lida a vaidade, a ambição, etc.; as grandes revoluções políticas, a superstição, os terrores religiosos, a saciedade de todos os gozos, os excessos venereos, os licores fortes, a leitura dos romances e dos máos livros, o ócio, a congestão cerebral freqüente, são as causas que predispõem á loucura. Mas as causas que a determinam ordinariamente consistem quasi todas nas affecções moraes vivas ou contínuas, taes como a cólera, o susto, uma perda súbita de fortuna, uma felicidade inesperada, um pezar violento, os excessos de estudos, a ambição mallograda, o amor próprio humilhado, o ciúme, os' acontecimentos políticos, os pezares domésticos, o amor contrariado, o fanatismo, etc. Symptomas. A invasão da loucura é lenta ou súbita; mas, de qualquer maneira que principie, eis-aqui os symptomas geraes que lhe são próprios. Ordinariamente as impressões feitas sobre um ou mais sentidos são vivamente percebidas ou mal julgadas. Assim, os doudos umas vezes percebem vivamente e com desagrado a luz, os sons, os cheiros ou sabores; outras vezes tomam um objecto, um individuo, um ruido, etc, por outros. Ás vezes vêem pessoas, ouvem vozes ou sons,e sentem cheiros que não tem realidade alguma e não existem senão no seu cérebro doente. As desordens das faculdades intellectuaes são extremamente variadas, e apresentam freqüentemente a singular mistura de perfeita razão em certos pontos com delírio completo em outros. Em quasi todos os alienados a lembrança do passado é conservada, mas a indifferença completa ou a aversão para com seus parentes, filhos e amigos, substitue os sentimentos de affeição ; uma paixão, como a alegria e a tristeza, o medo e o terror, o pezar e o transporte, a astucia e a malícia; o orgulho e a vaidade, a inclinação ao suicídio ou ao homicídio, os desejos amorosos, dominam a desordem intellectual. Os alienados commettem ás vezes homicídios; doudos furiosos atiram-se, em seus accessos, a tudo quanto encontram : uns imaginam reconhecer, nas pessoas quê os rodeiam, inimigos, espiões, gênios malfazejos, carcereiros, dos quaes julgam dever vingar-se; outros julgam que Deos ou uma voz interna manda-lhes matar tal ou tal individuo. O Dr. Pinei cita o facto de um alienado que, em dois differentes paroxysmos, matou filhos seus para purifical-os por um baptismo de sangue, e fez muitas tentativas d'este gênero sobre outras pessoas, sempre pelo mesmo motivo. Os symptomas da loucoura offerecem-se, em geral, ao observador sob três aspectos principaes. Ás vezes o delírio tem só por objeto uma idéia fixa, dominante, exclusiva, ou consiste na exageração de uma paixão ou de uma inclinação, e em geral o doente discorre com muito acerto quando está distrahido do objecto que o preoccupa: este gênero de loucura foi chamada monomania. Outras vezes o delírio é geral e estende-se a tudo, é sempre acompanhado de exaltação, e freqüentemente de furor; toma então o nome de mania. Outras vezes, em fim, a uma indifferença ou apathia moral junta-se a inactividade, o enfraquecimento ou a perturbação completa da intelligencia; isto é, a demência. Eis-aqui as variedades principaes da monomania. Uns julgam-se reis, imperadores, papas, prophetas, rainhas, princezas, e suas acções correspondem a estas idéias; outros queixam-se de ter perdido a amizade das pessoas que lhes são mais caras; estes tem desejos venereos violentos; aquelles a cabeça preoccupada de um objecto que adoram, que ornam de todos os encantos, ao qual faliam sem cessar (erotomania). Alguns são atormentados por escrúpulos religiosos, perseguidos pelo medo do inferno (monomania religiosa). Outros julgam-se em poder do diabo (demonomania). Em alguns monomaniacos a tristeza, o aborrecimento, o pezar, o temor, são symptomas dominantes (melancolia); em outros predomina o ódio a seus semelhantes (misantrophia). Ha alguns que se julgam transformados n'um individuo de outro sexo, ou em cão, leão pássaro, etc, Duração e prognostico. A loucura não é sempre contínua; de ordinário é intermittente. A sua duração é variável; assim, pôde ser somente de oito a quinze dias, ou alguns mezes na mania; mas muitas vezes é de um ou muitos annos, e até pôde durar toda a vida. A loucura pôde curar-se pela reapparição de uma secreção ou de uma hemorrhagia supprimida, por vômitos, evacuações alvinas abundantes, por suores, hemorrhagiás; espontâneas, e além d'isto pela maior parte das impressões moraes vivas.
Tratamento. Os loucos devem estar isolados, separados de todas as pessoas com que viviam, e collocados de maneira que possam ser facilmente vigiados. É necessário tomar todas as precauções para impedir que se matem, se elles tem inclinação ao suicídio. Os alienados inquietos ou furiosos devem ser subjugados com a camisola, e até amarrados, se fôr necessário. Nunca se devem avivar as idéias ou as paixões d'estes doentes no sentido do seu delírio; é necessário não combater suas opiniões desarrozoadas pelo raciocínio, discussão, opposição' ou zombaria; e convem fixar sua attenção sobre objectos estranhos ao delírio, e communicar a seu espirito idéias e affecções novas, O tratamento da loucura é difficil e complicado; e é quasi impossível que as famílias possam fazer o que convem. Só a presença das pessoas e cousas habituaes é um grande obstáculo á sua cura. Interesses de muitos gêneros combinam-se para determinar as famílias a encerrar os alienados nos estabelecimentos públicos ou particulares. Primeiro que tudo, a segurança publica impõe justamente esta obrigação. A liberdade, que se deixa a estes doentes em seus domicílios, compromette a vida d'elles e a das pessoas que os rodeiam; mil motivos devem fazer preferir a sua morada em um estabelecimento próprio. A experiência prova que um muito maior numero de loucos são curados nos estabelecimentos do que quando são conservados no seio de suas famílias. No Rio de Janeiro, até ao anno de 1841, não havia outro asylo para os loucos senão o hospital de Misericórdia, onde estes infelizes se achavam na mais miserável posição. Já desde o anno de 1830 a Sociedade de Medicina clamava contra tal estado de cousas, e fez a este respeito vivas representações á administração. O sábio secretario da Academia de Medicina, o Sr. Dr. De-Simoni, em uma Memória cheia de convicção e de lógica que publicou, fez sentir a necessidade da creação de um estabelecimento separado em que os loucos pudessem ser submettidos a um tratamento conveniente. Algumas commissões da Câmara Municipal, encarregadas da visita dos hospitaes, representaram também energicamente no mesmo sentido. Estes brados da sciencia e da humanidade acharam echo no coração do Monarcha Brazileiro o Senhor D. Pedro II; e ao digno Provedor da Santa Casa, o Conselheiro José Clemente Pereira, coube a gloria de realizar o pensamento do Augusto Imperador. Este illustre philanthropo1 é o principal autor a quem a cidade do Rio de Janeiro deve a formação da casa para os alienados, na praia Vermelha, n'um dos logares mais salubres dos arredores do Rio de Janeiro. Para levar ao cabo este grande projecto, S. Exca. recorreo ao patriotismo e á generosidade dos habitantes da corte; muitos acudiram ao seu chamado; e citarei, entre as mais importantes subscripções, as do Comendador Thomé Ribeiro de Faria, Barão de Guapymirim, que deo sessenta contos de reis, do Barão de Pirahy, do Commendador José de Souza Breves e do Barão de Santa Luzia. S. M. I. o Senhor D. Pedro II, tomou a empreza debaixo de sua alta protecção, favorecendo-a com a sua costumada generosidade, S. M. a Imperatriz viuva, como tutora de sua augusta filha, a Senhora princeza D, Maria Amélia, contributo também para esta grande obra.
Hoje a cidade do Rio de Janeiro possue um dos mais bellos estabelecimentos para os alienados. As sangrias abundantes estão já em parte riscadas do tratamento da loucura. Entretanto, é útil recorrer á sangria, nos indivíduos robustos, após uma suppressão de hemorrhagia habitual, ou quando ha symptomas de congestão cerebral. Os banhos frios, as duches, as applicações frias sobre a cabeça, são meios úteis. Empregam-se com vantagem os cáusticos na nuca e os purgantes. As viagens, a musica, as distracções, os trabalhos de jardinagem, curam ás vezes certos monomaniacos : são sobretudo vantajosos na convalescença para consolidarem a cura. Se se pudesse obter dos doudos um trabalho mecânico quotidiano de muitas horas e ao ar livre, as curas seriam muito mais numerosas. 0 maior obstáculo no tratamento da loucura é a exaltação do pensamento: ora, não ha cousa melhor para refrear a actividade das idéias do que os exercícios physicos prolongados, e até cançarem, como a agricultura, as artes mecânicas, a caça, etc. A gymnastica reúne muitas vantagens no tratamento da loucura. Primeiramente, o doudo que faz muito exercício pensa menos e sente menos; depois, o trabalho imprime ás suas idéias uma direcção vantajosa; emfim, o exercício dispõe ao somno, que é um grande beneficio para muitos doudos. As viagens continuadas por muito tempo a pé ou a cavallo, sobretudo nos paizes montanhosos, são muito mais profícuas do que as que são feitas em sege. Os incommodos d'essas viagens, a que os doentes não estão acostumados, produzem os melhores effeitos. A dieta é raramente útil, e podem-se permittir sem receio os alimentos que os doentes desejam. As insomnias são mui communs no começo da loucura; combatem-se pelo exercício, por banhos mornos prolongados tomados no momento de se deitar, abstinência do café e das bebidas espirituosas. Se isto não for sufficiente, póde-se dar á noite uma chicara de amendoada com vinte gottas de laudano, ou uma pilula de ópio de 5 centigrammas ou 1 gramma de chloral hydratado ou bromuretado. Convem combater a prisão do ventre com clysteres de linhaça, limonada de tamarindos ou alguns purgantes. Em outros verbetes encontramos essas definições que complementam a idéia Sobre os males da mente: Muitos casos de loucura, de demência e de epilepsia tem por causa immediata o alcoolismo. Os indivíduos acommettidos de delírio proveniente d'este" envenenamento são perigosos tanto para elles próprios como para as pessoas que vivem com elles. Com o corpo todo tremulo, agitados, os olhos arregalados, elles ameaçam, esbordoam e comettem crimes sem terem consciência do que fazem.
Como os outros órgãos, o cérebro inflamma-se, modifica-se, endurece ou ámollece, e essas alterações perturbam as faculdades da intelligencia, que se alteram mesmo sem que nenhuma lesão material o indique. A loucura, o hysterismo, a gota coral, a hypochondria, são moléstias do encephalo; porém não se encontram ordinariamente lesões anatômicas sobre as pessoas que d'ellas succumbem. O Delírio apresenta-se sob três fôrmas : Io delírio febril, que acompanha as moléstias agudas do cérebro e outras, e do qual tratarei exclusivamente n'este logar; 2o delírio dos loucos, que é o caracter distinctivo da alienação mental, o qual vai descripto no artigo LOUCURA ; 3o delírio nervoso, que o próprio dos ebrios, mas que se desenvolve também na occasião de feridas graves, e do qual tratarei no artigo seguinte.
O Dr. Carlos Lisboa, apesar de jovem, 25 anos, entendia a prática psiquiátrica como uma união da Ciência com a Caridade. O internamento era visto como umgesto de caridade e não como punição. Manteve sempre uma sala de observação para evitar que pessoas normais fossem internadas como loucas. Se considerava um “adepto fervoroso’ das idéias de John Connoly que era o defensor do “no restraint” e proibia a utilização de camisas de força. O valor da práxiterapia como forma de reabilitação. Um pouco diferente da idéia de Chernoviz de provocar o cansaço para mudar as idéias do doente. A idéia que ler maus livros poderia desencadear a loucura, retorna mais tarde na idéia que ler revistas em quadrinho era pernicioso à saúde e a idéia nos dias atuais que a prática do videogame traria resultados maléficos. Do Relatório do Dr. Carlos Lisboa extraímos o seguinte trecho que aborda suas idéias terapêuticas e de reabilitação.
Duas são as theorias que existem na sciência sobre o tratamento da alienação mental, baseadas sobre o modo diverso de encarar a natureza da moléstia. Os que acreditão que a loucura seja um facto de ordem puramente physica, sustentão que o único tratamento a empregar-se é o tratamento physico; aqueles, porém para quem a loucura é uma perturbação psychologica, só admitem o tratamento moral. Thaí as duas espécies de tratamento: o physico e o moral. A psychiatria moderna, aproveitando o que há de bom n´uma e n´outra d´essas tórias, lança mão de ambas para attingir os fins, que tem em vista, colhendo desse eccletismo as maiores vantagens. Acredito que ambos os methodos de tratamento são bons; mas estou convencido também, que cada um isoladamente quase nada faz em proveito do alienado, é com o concurso de ambos que se tem conseguido os brilhantes resultados, que as estatísticas registram. Relativamente ao tratamento moral, devo dizer à V.Exa. que não me tem sido possível estabelecê-lo com todos os requisitos necessários como desejo, devido isto às muitas faltas de que ainda actualmente se ressente o Hospício e das quaes algumas já foram apontadas, O trabalho para os alienados, a convivência com seus companheiros, ou o isolamento, quando se torna necessário, a liberdade de que gozam, a leitura, o estudo, os jogos, os passeios, as diversas distracções etc. são agentes de uma influência incalculável, quer se tenha em vista o tratamento moral collectivo ou o individual. A conversa diária com o médico e com os enfermeiros, que com intelligência e delicadeza convençam os alienados da verdade dos factos, procurando regularizar o chãos de seu espírito, afastando a attenção das imagens creadas no delírio para os objectos que lhes despertem a curiosidade, disciplinando-os, tornando-os obedientes e amigos emfim, tal é,em synthese, o tratamento moral, que resultados mais brilhantes tem dado para esses infelizes cujo espírito vive em trevas. O trabalho, um dos principaes elementos do tratamento moral, actúa, não só debaixo desse ponto de vista, distrahindo o alienado e prendendo a sua attenção no que executa, como ainda physicamente, abatendo a exitabilidade nervosa, quando exagerada, estabelecendo um salutar equilíbrio, entre as funções physiológicas. E. finalmente, predispondo o corpo ao repouso de que tantas vezes carece. Além disso, se a ociosidade no homem são de espírito, é um grande mal, no alienado, que pode entregar-se ao trabalho ela assume as proporções de um verdadeiro perigo. Existem muitos alienados que não gozam da benéfica influência dese meio de tratamento por falta de officinas. Destaquei para o serviço da chácara alguns, que tem sido bons auxiliadores do jardineiro-hortelão e que trabalham com verdadeiro prazer. Os demais alienados não tem propriamente uma occupação, a excepção de alguns que se encarregam da linpeza do Hospício e até de seu serviço doméstico. É de algumas alienadas que lavam e cosem as roupas do estabelecimento. Adepto fervoroso do systema inglez de Conolly, pondo-o em prática constantemente, julgo, entretanto que o isolamento na cellula é um grande meio, quando empregado a tempo e com critério. Vem a propósito lembrar à V.Exa. a necessidade que há de possuir este Hospício uma ou duas cellulas acolchoadas ou estofadas, como se encontram nos principais Hospícios da Europa e dos Estados Unidos. Estas cellulas tem não só a grande vantagem de impedir que o alienado, quando agitado se contunda contra as paredes do quarto, como ainda de abafar o barulho que elle possa fazer. Fundei no Hospício uma bibliotheca destinada aos alienados, para o que fiz imprimir circulares pedindo livros. Pequeno número de circulares tem sido entregues; entretanto, já conta a bibliotheca com 225 volumes, havendo entre ellles obras de grande merecimento literário, e recebendo o Hospício, gratuitamente, todos os jornaes que se publicam na capital. Alimento esperanças de realizar plenamente, e como desejo, esta minha idéia. Acha-se encarregado do serviço da bibliotheca um dos alienados. Estabeleci em uma das salas do Hospício uma aula primária, destinada aos alienados, cujo espírito ainda fosse susceptível de instrução ou a aquelles, que já possuindo alguns conhecimentos, contribuíssem com a criação desta escola e dever de exibi-los diariamente, afim de que as não perdessem. Manifesto à V.Exa. o mei IME nos prazer, participando que um dos alienados já aprendeu a ler na aula do Hospício. Quando eu não tivesse a certeza de tirar o resultado que acaba de apresentar à V.Exa. eu realizaria a idéia que tive, porque o facto da existência de uma aula, aqui no Hospício, côo tenho observado agora, cria como que uma obrigação ao alienado, cuja attenção, pelo menos durante duas horas, prende-se a circunstâncias desconhecidas e inteiramente novas para elle, distrahindo-o por conseguinte de seu delírio, o que já é um grande benefício para seu espírito tão atormentado. Relativamente no tratamento pharmaceutico, isto é, propriamente médico, pouco tenho a dizer. Esta parte de estudo da alienação mental ainda se acha sob o domínio das leis empíricas. É em presença de uma das duas faces por que se revela a loucura, diante dos estados agudo ou chronico, com excitação ou depressão, que apresenta o alienado, na evolução de sua moléstia, que o médico lança mão deste ou d´aquelle meio, indicado pela therapeutica quase sempre empírica, em relação a esta parte especial da pathologia. Ignorando a desordem íntima que se passa no indivíduo doente, contra cuja moléstia empregamos este ou aquelle medicamento, sem um conhecimento completo e perfeito da natureza de espécie da alienação, pela ignorância de suas condições pathogenicas, visto como todas ellas são hypotheticas, é a medicina sympthomatica a que, na maioria dos casos recorre o alienista. Combate os sympthomas Poe eu elle os conhece e porque se apresentam; não vai ahí à causa porque lhe escapa, ele a ignora. No estado chronico d´alienação mental, quando o médico, como que tem desesperado de restabelecer o equilíbrio psycho-physico, há tanto tempo perdido em seu doente, a medicina de que falamos é a única possível na actualidade de nossos conhecimentos. No tratamento dos alienados do Hospício são Pedro, tenho procurado seguir, bem de perto, as lições dos mestres, pondo em prática as indicações therapeuticas que a prática vai sanccionando. Assim, de um modo geral, nos casos em que o superfunccionalismo do systema nervoso se manifesta trazendo como conseqüência uma excitabilidade exagerada, tenho empregado o bromuro de potássio, o brometo de sódio, o chloral, a belladona, o meimendro, o ópio, a morfina, etc. etc. Lanço mão, também, nos casos, a que me refiro, dos banhos frios e d´elles raramente tenho deixado de tirar reais vantagens. Quando o alienado apresenta justamente o lado oposto, ao que venho de fallar, isto é quando a depressão domina a cena, lanço mão da noz-vomica, da valeriana, dos tônicos, e quando este estado depende ou se acha ligado a anemia, a chlorose ou a ambas estas moléstias reunidas emprego as ferruginosas e as preparações iodadas, etc. O iodureto de potássio, o sulphato de quinina, a digitalis, os eméticos, os purgativos, os emenagogos, os revulsivos, etc. são ainda medicamentos de que tenho lançado mão conforme as indicações se apresentam. As duchas, bem como os diversos banhos medicamentosos, ainda não foram ministrados, porque actualmente é que se estão colocando os aparelhos para estes fins em sala própria, cuja construção terminou há pouco tempo. Com aquelle meio – as duchas -. Que se torna saliente na therapeutica da alienação mental, conto tirar maiores resultados; mormente se forem montados, junto à sala de banhos, os aparelhos próprios para exercícios gymnásticos.
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