Volume 15 - 2010 Editor: Giovanni Torello |
Janeiro de 2010 - Vol.15 - Nº 1 Psiquiatria na Prática Médica IMPACTO DOS EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS NA SAÚDE MENTAL DE COMUNIDADES DE RISCO Prof. Dra. Márcia Gonçalves INTRODUÇÃO
custo dos distúrbios mentais para a sociedade é alto (1) , tendo em vista não só o gasto do próprio tratamento, mas também as perdas funcionais que estão ligadas à diminuição da produtividade conseqüentes do transtorno mental. (2).Diversos enfoques metodológicos tentam abordar as questões das populações submetidas a traumas.
LITERATURA
O impacto da depressão para a produtividade no trabalho é estudado sob a óptica de diversas metodologias e os resultados sugerem que a diminuição do prejuízo da produtividade no trabalho é significativamente reconhecida através do custo-benefício do tratamento, na medida em que existe um notável ganho , que excede o custo do tratamento. Conclusões mais exatas podem ser vistas em trabalhos randomizados. (3). Em casos de eventos pós traumáticos (Guerra do Vietnã, por exemplo , ou de outras catástrofes naturais) , o custo do tratamento passa a ser significativo e continuados esforços para a implementação de programas de tratamento e prevenção devem ser estimulados para ampliar a possibilidade de acesso aos cuidados necessários para remissão de sintomas que interferem na produtividade da comunidade exposta.(4). Estudos randomizados e prospectivos já realizados mostram que tratamento medicamentoso associados a técnicas como aconselhamento psicodinâmico, terapias de aconselhamentos não diretivas e terapia cognitiva, podem trazer uma significativa melhora para pacientes com depressão severa e outros quadros incluindo stress pós traumático , ansiedade e insônias. (5). O custo das insônias secundárias decorrentes de acidentes e eventos traumáticos é incalculável e constitui um dos maiores problemas de saúde pública em países industrializados. Esta área de pesquisa foi considerada uma das mais importantes na conferência de junho de 1998, em Porto Cervo, na Itália. (6). Em um trabalho realizado com combatentes da Guerra do Golfo foram encontrados uma ampla gama de sintomas psicológicos. Neste trabalho foi avaliada a verbalização da experiência vivida com os critérios de stress pós traumáticos(7). A depressão causada pelos eventos traumáticos foi observada até dois anos após o trauma Foi detectada ideação suicida dos soldados que participaram da Guerra do Golfo , principalmente naqueles que sofreram internações. Muitos soldados, apesar de mencionarem uma grande satisfação com a vida por terem saído vivos da guerra, começaram a apresentar tendências de desafiar os limites como beber em excesso, correr com carros em alta velocidade, deixar de usar cintos de segurança e outros comportamentos perigosos. Estes distúrbios merecem uma maior atenção para o entendimento dos distúrbios de personalidade secundários a eventos de impacto emocional ( desastres, etc).(8) Os efeitos sobre a saúde foram estudados em dois desastres naturais: Furacão Hugo e Terremoto de São Francisco. Foram estudados em 32 pacientes com artrite reumatóide , durante três anos. Apesar da severidade do Furacão Hugo ser maior que a do terremoto de São Francisco não houveram diferenças significantes no impacto na saúde. Em ambos os estudos relataram que a depressão foi um fenômeno significantemente persistente .(9). Estudos transversais em vitimas do terremoto de Northridge mostraram que pessoas mais idosas tem um menor nível de angústia após desastres naturais. Hipóteses de maturação sugerem que os idosos são menos reativos aos eventos estressantes, enquanto os mais jovens apresentaram menor índice de depressão em comparação com os mais idosos, que apesar de uma angústia menor, bem como um menor grau de ruminação da experiência, apresentaram altos níveis de depressão A atenção a pessoas que foram expostas a acidentes naturais poderia diminuir os escores de depressão(10). Trezentos e trinta e dois idosos foram avaliados após o terremoto de Nocera Umbra, Itália, quatro meses após o evento. Altos índices de depressão e ansiedade foram encontrados . Um agravante psicossocial foi avaliado a partir do fato de que estas pessoas tiveram que ser conduzidas à moradias temporárias e precárias. Estas observações sugerem que programas de emergência devam ser melhor adaptados para população idosa que tem uma menor capacidade de adaptação à novas experiências.(11) Em um estudo longitudinal realizado na China foi observado a qualidade de vida e o bem estar psicossocial da comunidade afetadas por desastres naturais. A exposição ao terremoto está associada a um multidimensional prejuízo na qualidade de vida (física, psicológica e ambiental). As vítimas sofreram uma significante angústia psicológica em termos de depressão, somatização e ansiedade. DISCUSSÃO
Os estudos indicam que existe a necessidade imperativa de uma melhor organização de programas de socorro aos desastres e mais programas de intervenção psicossocial.(12) Em Washington foi realizado um trabalho sobre desastres naturais e depressão , onde foi feita uma investigação prospectiva das reações da enchente ocorrida na região do Midwest em 1993. Participaram do projeto 1973 residentes do estado de Iowa que foram vitimas da catástrofe. Foi realizada uma rigorosa metodologia com avaliações pré – desastre e do impacto do desastre. A depressão foi avaliada durante um ano após a enchente. A depressão pré- desastre só contribuiu para aumentar a angústia pós- desastre. O aumento dos sintomas foi associado mais aos moradores de baixa renda e de pequenas comunidades rurais do que para fazendeiros e moradores da cidade. As implicações para respostas individuais e comunitárias aos desastres devem ser alvo de pesquisas. (13) CONCLUSÃO
Nosso trabalho observou que as comunidades expostas a riscos de desastres e vítimas de desastres apresentam: Sintomas depressivos, distúrbios de personalidade e outros sintomas já estudados na literatura podem se alvo de atenção . A maioria dos estudos apontam para a necessidade de aprofundamento nas questões relativas á qualidade de vida destas comunidades.
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