![]() ![]() Volume 14 - 2009 Editores: Giovanni Torello e Walmor J. Piccinini |
Fevereiro de 2009 - Vol.14 - Nº 2 France - Brasil- Psy Coordenação: Docteur Eliezer DE HOLLANDA CORDEIRO Quem somos (qui
sommes-nous?)
France-Brasil-PSY é o novo espaço virtual de “psychiatry on
line”oferto aos profissionais do setor da saúde mental de expressão
lusófona e portuguesa.Assim, os leitores poderão doravante nela encontrar
traduções e artigos em francês e em português abrangendo a psiquiatria, a
psicologia e a psicanálise. Sem esquecer as rubricas habituais : reuniões
e colóquios, livros recentes, lista de revistas e de associações, seleção de
sites. Qui sommes- nous ? France-Brasil-PSY est le nouvel espace virtuel de “psychiatry on
line”offert aux professionnels du secteur de la santé mentale d’expression
lusophone et française. Ainsi, les lecteurs pourront désormais y trouver des
traductions et des articles en français et en portugais concernant la
psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse. Sans oublier les rubriques
habituelles : réunions et colloques, livres récentes, liste de revues et
d’associations, sélection de sites
1. OS LOUCOS OU OS FANTASMAS DO MEDO Eliezer de Hollanda Cordeiro
INTRODUÇÃO O título deste artigo me veio ao espírito ouvindo uma entrevista dada pelo escritor Stéphane Audeguy ao jornalista Patrice Gelinet( emissão 2000 Ans d’Histoire , na rádio France Inter). O escritor falou de seu último livro, Les Monstres (Os Monstros), no qual ele aborda a questão destas criaturas imaginárias já presentes nas culturas mais antigas da humanidade.Mas o título indicado exprime também a minha preocupação de psiquiatra, um tanto perplexo ao constatar que, no próprio país inventor do cartesianismo, as mídias fossem capazes de transformar um ato criminoso cometido por um doente mental, num acontecimento nacional.Mesmo a fuga de um esquizofrênico dum centro psiquiátrico é de tal maneira comentada em rádios, televisões, jornais e internete que ela finda suscitando medo, apreensão e reflexos de seguridade em muitas pessoas. Desta forma, o verdadeiro medo dos psiquiatras é que, pouco a pouco, a opinião pública venha a confundir criminalidade e doença mental, esquizofrenia e monstruosidade. Este artigo é um esboço de reflexão sobre um assunto, cuja atualidade só supreenderá aqueles que pensam que o homem é somente racional, único, quando tudo mostra que ele é não somente duplo(como Doutor Jekyll e Hyde no conto de Stevenson) mas múltiplo.Não foi Stevenson que escreveu(citação de J.-B.Pontalis): ‘’Outros virão depois de mim, indo ainda mais longe e na mesma direção; e eu me arriscarei até dizendo que o homem findará nos aparecendo como um reino habitado por sujeitos de toda sorte, os mais incongruentes e autônomos’’. ESBOÇO DE DEFINIÇÃO ‘’Le petit Larousse’’ nos diz que a palavra monstro vem do latim monstrum e significa :1) Um ser vivo apresentando uma importante malformação 2) Um ser fantástico da mitologia e das lendas 3)Um animal ou objeto horrivel pelo seu tamanho ou forma 4) Uma pessoa cuja fealdade é repugnante 5)Uma pessoa que suscita horror por causa de sua crueldade. Notemos que a expressão Monstro sagrado designa um ator(a) muito célebre, uma personagem fora do comum, mítica. A palavra monstro contém ainda o termo latim monstrare(o que é apontado, mostrado). Assim, tais criaturas foram mostradas nas feiras e expostas à curiosidade pública durante séculos. DONDE VEM A ESTIGMATIZAÇÃO DOS MONSTROS ? As civilizações mais antigas já tinham os seus monstros. Encontramos inúmeras referências sobre eles na Bíblia, na mitologia greco-romana,egipciana, germânica,celta,indu, para citar somente estas. A mitologia grega, por exemplo, deve tudo aos monstros, ela não teria surgido sem as Górgones( Medusa, Eurfale e Esteno), ‘’mulheres que tinham serpentes por cabelo e transformavam em pedra quem as encarava’’(dicionário Aurélio) ; sem a Megera, uma das tres Fúrias da mesma mitologia, mulher de mal gênio e cruel.Citemos também Sete, Deus da Violência e do Mal da civilizção egipciana. Mas os monstros, masculinos ou femininos, nem sempre eram considerados como criaturas maléficas e cruéis, ao contrário, em algumas culturas( aztecas…) eram considerados como seres benéficos. Donde vem então esta representação dos monstros na cultura ocidental, fazendo deles seres horriveis, repugnantes e cruéis ? Tudo começou quando a civilização ocidental imaginou haver sido criada por Deus, um ser perfeito e que só podia fazer criaturas perfeitas. Desta forma, tudo o que fosse diferente e saisse das normas não podia ser obra de Deus, mas do Diabo. Daí as vicissitudes e os vexames sofridos durante séculos pelos anões, albinos, siameses, andróginos, hidrocéfalos, gigantes… Esta maneira de ver perdurou até o Século das Luzes, que daria início ao racionalismo inspirador das idéias da Revolução francesa. NASCIMENTO DA TERATOLOGIA Pouco a pouco, a idéia defendida por Montaigne, segundo a qual não se devia julgar as pessoas em função de suas formas ou aspectos físicos, começou a modificar a percepção que se tinha dos monstros como figuras inquietantes, maléficas e diabólicas. De fato, para Montaigne, só Deus podia julgar os homens em função de seus aspectos físicos. Desde então, pesquisadores começaram a tentar compreender a origem do fenômeno. Um avanço muito importante ocorreu entre 1832 e1837, quando Isidore Geoffroy de St. Hilaire publicou a ‘’Histoire générale et particulière des anomalies de l'organisation chez l'homme et les animaux’’(História geral e particular das anomalias da organização no homem e nos animais), sua obra príncipe, fundadora de uma nova ciência, a teratologie, que estuda as anomalias do desenvolvimento embrionário. A partir daí, os ‘’monstros’’ de outrora foram reconhecidos como seres humanos, embora alguns continuassem sendo exibidos em feiras e expostos à curiosidade pública. Stéphane Audeguy estuda, pois, a ‘’questão do monstruoso a partir da préhistória até o mundo moderno, quando surgiram novas relações entre os monstros e a sociedade. Mas a questão continua muito atual, os monstros permanecem no imáginário coletivo, embora suas representações tenham se transformado com o tempo’’. Hoje, por exemplo, ‘’psicopatas, mutantes e criminosos de guerra’’ entram nesta categoria dos monstros,aliás frequentemente encontrados no universo dos contos infantis, na literatura em geral e em enredos cinematográficos. A CONFUSÃO ENTRE PSICOPATAS E ESQUIZOFRÊNICOS Não seria talvez exagerado dizermos que estas duas entidades nosológicas aparecem como muito próximas, talvez mesmo indiferenciadas nas representações que a sociedade se faz dos loucos, quando ela os julga potencialmente perigosos. Tomemos o exemplo dos psicopatas, que podem ser definidos como ‘’personalidades patológicas se manifestando esencialmente por comportamentos antesociais’’(Le Petit Larousse).Ora, o que se observa hoje em dia, num país tão civilizado como a França, é a tendência consistindo em considerar os doentes mentais, notadamente os esquizofrênicos, como criminosos potenciais ou perigosos psicopatas. Tais representações, que suscitam horror e medo na população, são reforçadas pelas mídias, quando elas relatam, de maneira lancinante, um acontecimento dramático. Num documentário que vi recentemente na televisão France 2 sobre o julgamento de um jovem esquizofrênico que matou duas enfermeiras na cidade de Pau ( ver nosso artigo: Distúrbio psíquico e irresponsabilidade penal), ouvi parentes das vítimas e um juiz declararem que o jovem esquizofrênico julgado poderia ser um simulador, talvez até que soubesse o que estava fazendo quando cometeu o crime. E eles pediram que a justiça pensasse mais na família das vítimas e a ajudasse a fazer o trabalho de luto, o que só poderia ser realizado se o acusado fosse julgado. Enfim,eles declararam que as opiniões dos peritos não eram fiáveis e não levavam em conta a questão do prognóstico, isto é os riscos de recidiva criminal do esquizofrêncio. Mas a verdade é que tais acontecimentos são muito raros e que os esquizofrênicos que cometem um homicídio quase nunca recidivam, como disse um dos peritos. Existem mais de 500.000 mil esquizofrênicos na França. Como percebemos, os esquizofrênicos estão sendo cada vez mais designados como psicopatas perversos que agem premeditadamente e que tiram prazer do sofrimento que infligem aos outros. E isto sem nenhuma alteração de sua capacidade de discernimento. (A seguir) 2. PRECARIEDADE E SUICIDIO Referência :Nouvel Observateur(AP | 04.02.2009 | 19:08) Tradução e resumo : Eliezer de Hollanda Cordeiro Afim de enfrentar a crise sanitária e humana sem precedente que atinge a França, a União Nacional para a Prevenção do Suicídio (UNPS), pediu um grande reunião entre o governo, sindicatos e associações ,em favor do humano, por ocasião da décima terceira jornada nacional sobre a prevenção do suicídio no país. O tema da jornada foi: ‘’ Precariedade e suicídio’’. Há anos que o Professor Michel Debout, presidente desta associação, alerta os poderes públicos sobre os riscos suicidários que correm as pessoas em situação precária, isto é que não beneficiam de nenhuma estabilidade em termos de emprego, de alojamento ou de renda. Estes riscos foram calculados a partir de um inquérito de opinião envolvendo 2.012 pessoas representativas da população geral.Os resultados revelam que a cada cinco adultos em situação precária, um apresenta um sofrimento psíquico indiscutivel. E esta porcentagem cresce até 69% nas pessoas cujo sofrimento levam-nas a pedir socorro aos organismos públicos ou associativos. A conclusão é que "existe uma correlação entre vulnerabilidade social e sofrimento psíquico", insiste Michel Debout. De fato, o Professor lembra que se a crise financeira existe, podendo até se agravar, a crise é antes de tudo humana e sanitária, ocasionando sofrimentos psicológicos e depressões. Desta forma, é necessário suscitar uma mobilização coletiva para que as pessoas em situação de precariedade não sejam deixadas por conta. A UNPS também pede a criação de um ‘’observatório do suicídio’’, afim de estudar as razões que levam uma pessoa a cometer este ato irreparável, verificando se ela estava desempregada ou havia perdido o emprego no momento do suicídio. O ‘’observatório do suicídio’’ seria uma etapa prealável à elaboração de um plano sanitário permitindo o acompanhamento das pessoas que se encontram nesta situação. Na França, 10.423 pessoas se suicidam cada ano (7.593 homens e 2.830 mulheres), sendo a primeira causa de mortalidade entre 35 e 44 anos de idade ; e a segunda causa entre 15 e 24 anos. INICIATIVA ORIGINAL A UNPS e a companhia de seguros Macif Prévention vão organizar uma experiência original : durante uma semana inteira, um espaço itinerante, "Envie de la vie"(Vontade da vida), será instalado nos campos universitários de várias cidades francesas, especialmente Nancy, Dijon, Brest, Paris e Clermont-Ferrand. Nesta última cidade, a experiência será feita numa casa para jovens trabalhadores. O objetivo destes locais abertos ao público é de mostrar que o suicídio não deve ser um tabu. E a idéia geral que preside esta iniciativa inovadora ‘’é a de encontrar pessoas que vão mal, em vez de esperar que elas venham nos encontrar’’. Isto é, antes que seja tarde demais. A precariedade é considerada cada vez mais como uma das causas do suicidio, pelo sofrimento psiquico que ela engendra. Uma senhora testemunha: atingida financeiramente, endividada, sem poder contar com seu marido alcoólatra, ameaçada pelos credores que lhe telefonavam sem cessar, deprimiu-se. No fundo, sentiu-se atingida em sua dignidade, no seu ‘’orgulho’’. Esta experiência muito dolorosa acompanhou-se de idéias suicidárias. Ela poude falar de sua experiência, afirmando que ‘’a falta de dinheiro podia matar.’’ UMA CRISE HUMANA "Annunciam-nos excessivos planos sociais, milhares de empregos suprimidos, mas detrás dos números existem homens e mulheres que vivem’’, bradou Michel Debout durante uma conferência dada à imprensa. "Desde que uma empreza anuncia um plano destinado a suprimir empregos , uma equipe de escuta e de apoio psicológico deve ser criada na dita empreza, sob a responsabilidade do proprietário ", acrescentou o Professor. Para que o assalariado possa então recuperar suas forças e se sentir cercado de cuidados. A crise finaceira atual deve conduzir a uma prevenção do suicidio, o que implica reconhecer a existência da crise humana que a acompanha. 3.LIVROS RECENTES La ‘’Lettre de Psychiatrie Française’’ nous propose les livres suivants(A Carta de Psiquiatria Francesa propões-nos os seguintes livros): *Consentement aux soins en psychiatrie(Adesão aos cuidados em psiquiatria) DESCARPENTRIES Francis Paris Rska, 2008 40€ *Nos bébés, nos ados(Nossos bêbês, nossos adolescentes) BRACONNIER Alain, GOLSE, Bernard Paris: Odile Jacob, 2008 21,90€ *Divan familial. La famille aux prises avec l’adolescent(Divã familiar.A família em luta com o adolescente) . Paris, In press, 2008 23€ *Mère et fille, une correspondance(Mãe e filha, uma correspondência) DOLTO Françoise Paris: Mercure de France, 2008- 5€ *Clinique de l’Institution:ce que peut la psychanalyse pour la vie collective(Clínica da instituição: o que a psicanálise pode pela vida coletiva ) LE BRUN Jean-Pierre Ramonville-Saint-Agne(Haute Garonne) Erès, 2008 25€ *La haine du désir(O ódio do desejo) SIBONY Daniel Paris: Bourgeois, 2008 10€ *À la lumière du crépuscule:témoignages et réflexions sur la fim de vie(À luz do crepúsculo:testemunhos e reflexões sobre o fim da vida) Jean LEONETTI Paris: Michalon, 2008 14€ *La psychiatrie du bébé(A psiquiatria do bêbê) Luiz ALVAREZ,Bernard GOLSE Paris, PUF,2008 8€ *La foi qui guérit(A fé que cura) Jean-Martin CHARCOT Paris: Buenos Bocks international, 2008 12€ *Addictologie(Adictologia) Miechel LEJOYEUX ISSY6LES6Moulineaux5Hauts-de-Seine):Masson, 2008 12€ *La dette de vie: itinéraire psychanalytique de la maternelle(A dívida da vida:itinerário psicanalítico da maternal) Monique BIDLOWSKI Paris:PUF, 2008 8,50€ *Archives de l’intime(Arquivos do íntimo) Françoise DOLTO Paris:Gallimard, 2008 9€ *Une place pour le pères(Um lugar para os pais) Aldo NAOURI Paris:Points,2008 8,50€ *La cigale lacanienne et la fourmi pharmaceutique(A cigarra lacaniana e a formiga farmacêutica) Philippe PIGNARE Paris:EPEL,2008 12€ *Revue fançaise de psychanalyse Paris:PUF, 2008 31€ *Comprendre Dolto-Une éthique du désir(Compreender Dolto-Uma ética do desejo) Gérard GUILLERAULT Paris:Armand Colin, novembre 2008 19,50€ *Comprendre Freud(Compreender Freud) Jacques SEDAT Paris:Qrmand Colin, novembre 2008 18,50€ 4.REVISTAS *La revue française de psychiatrie et de psychologie medicale *L’encephale 5. ASSOCIAÇÕES *Mission Nationale d’Appui en Santé Mentale *Association française pour l’approche integrative et eclectique en psychotherapie (afiep) *Association française de psychiatrie et psychologie legales (afpp) *Association française de musicotherapie (afm) *Association française de therapie comportementale et cognitive (aftcc) *Association de langue française pour l’etude du stress et du trauma (alfest) *Association de formation et de recherche des cellules d’urgence medico-psychologique (aforcump) *Association nationale des hospitaliers pharmaciens et psychiatres (anhpp) *Association scientifique des psychiatres de secteur (asps) *Association pour la fondation Henri Ey *Association internationale d’ethno-psychanalyse (aiep) *Collectif de recherche analytique (cora) *Groupement d’études et de prevention du suicide (geps) *Groupe de recherches sur l’autisme et le polyhandicap (grap) *Groupe de recherches pour l’application des concepts psychanalytiques a la psychose (grapp) *Société française de gérontologie *Société française de thérapie familiale (sftf) *Société française de recherche sur le sommeil (sfrs) *Société française de relaxation psychotherapique (sfrp) *Fédération française d’adictologie *Société de psychologie medicale et de psychiatrie de liaison de langue française *Union nationale des amis et familles de malades mentaux (unafam) *Association Psychanalytique de France (apf) *Société Psychanalytique de Paris (spp)
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