![]() ![]() Volume 13 - 2008 Editores: Giovanni Torello e Walmor J. Piccinini |
Junho de 2008 - Vol.13 - Nº 6 Psicanálise em debate JOGO SUBTERRÂNEO (2005) de Roberto Gervitz Sérgio
Telles * “Jogo Subterrâneo”, o belo filme de Roberto Gervitz, é baseado no conto “Manuscrito encontrado em um bolso”, de Julio Cortázar. Conta a história de Martin, um homem que procura a mulher de sua vida através de um complicado ritual por ele inventado. Graças a esta artimanha, Martin se envolve com algumas mulheres. Uma delas é Tânia, uma tatuadora mãe de uma filha autista. Outra é Laura, uma cega a quem relata os progressos de sua busca, embora tratando-a como parte das aventuras de um personagem sobre o qual estaria escrevendo. É quando aparece Ana, que o faz romper completamente com os rituais de seu jogo. A conduta de Martin ilustra com propriedade vários aspectos do comportamento obsessivo. O obsessivo, fixado ou regredido à fase anal do desenvolvimento da libido, não elabora de forma adequada seu complexo de Édipo. Está mergulhado na relação com a mãe, a quem ama e odeia intensamente. Se durante a própria fase oral já intuira que ela não fazia com ele uma unidade indivisível, pois muitas vezes ela estava longe e não lhe proporcionava imediatas gratificações em termos de alimentação (não lhe dava o desejado seio) ou cuidados gerais (não trocava suas fraldas, deixando-a com fezes e urina irritantes para sua pele), esta intuição adquire uma nova intensidade, provocando-lhe um abalo definitivo, ao perceber que ela tem desejos opostos ao dele, impondo-lhe o controle dos esfíncteres, afrontando diretamente sua onipotência e ferindo-lhe o narcisismo. Ora ele obedece às imposições da mãe, fazendo de seus dejetos uma oferenda de amor para ela, ora a desafia, transformando-os em ataques violentos e destrutivos. Desta maneira, o obsessivo se debate em meio a intensa ambivalência de afetos. Essa ambivalência faz com que se instale uma dúvida central – ele não sabe se ama ou se odeia, se quer expressar o amor ou o ódio e desejo de matar a mãe, bem como o pai, visto como aquele que goza e impede seu gozo, um pai que com truculência lhe rouba a mãe, um pai poderoso e ameaçador como o da horda primitiva descrito por Freud em “Totem e Tabu”. O texto completo deste artigo está no livro "O psicanalista vai ao cinema II", da Editora Casa do Psicólogo, São Paulo, 2008. ![]()
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