![]() ![]() Volume 13 - 2008 Editores: Giovanni Torello e Walmor J. Piccinini |
Setembro de 2008 - Vol.13 - Nº 9 France - Brasil- Psy Coordenação: Docteur Eliezer DE HOLLANDA CORDEIRO Quem somos (qui
sommes-nous?)
France-Brasil-PSY é o novo espaço virtual de “psychiatry on
line”oferto aos profissionais do setor da saúde mental de expressão
lusófona e portuguesa.Assim, os leitores poderão doravante nela encontrar
traduções e artigos em francês e em português abrangendo a psiquiatria, a
psicologia e a psicanálise. Sem esquecer as rubricas habituais : reuniões
e colóquios, livros recentes, lista de revistas e de associações, seleção de
sites. Qui sommes- nous ? France-Brasil-PSY est le nouvel espace virtuel de “psychiatry on
line”offert aux professionnels du secteur de la santé mentale d’expression
lusophone et française. Ainsi, les lecteurs pourront désormais y trouver des
traductions et des articles en français et en portugais concernant la
psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse. Sans oublier les rubriques
habituelles : réunions et colloques, livres récentes, liste de revues et
d’associations, sélection de sites
1. O MAL-ESTAR SUPERMEDICALISADO OU O EXCESSIVO CONSUMO DE PSICOTRÓPICOS NA FRANÇA Eliezer de Hollanda Cordeiro Em sua edição datada de 9 .08.08, o jornal Le Monde publicou um artigo de Sandrine Blanchard sobre o consumo excessivo de psicotrópicos na França. Aprendemos então que os franceses são os campeões da Europa em matéria de consumo de soníferos, ansiolíticos e antedepressores. ‘’Estresse no trabalho, problemas familares, distúrbios do sono, cansaço crônico, sofrimento psíquico e social, ansiedade, o não me sinto bem neste momento doutor, tornaram-se o pão cotidiano dos generalistas’’. A jornalista se refere a um questionário preenchido por 2000 médicos de quatro regiões do Noroeste da França (Basse-Normandie, Haute-Normandie, Picardie, Nord-Pas-de-Calais), revelando que somente 28 % dos generalistas conheciqm a existência dos guias de prática clínica da depressão, e que somente um quinto deles haviam feito um estágio em psiquiatria no decurso de sua formação inicial. Por sua vez a revista Psychologie Magazine dá-nos outras precisões sobre o assunto : 21,4% de Franceses consumiram pelo menos um psicotrópico este ano, 15,5 % de Espanhois, 13,2 % de Belgas e 5,9 % de Alemães. Quem prescreve todos esses medicamentos na França ? Os estudos mostram que, em 2007, os médicos generalistas prescreveram cerca de 80% dos psicotrópicos consumidos no país. Notemos também que, nos últimos 10 anos, o volume total dos psicotrópicos vendidos foi multiplicado por dois.
Segundo estatísticas fornecidas por Hubert
Allemand, diretor adjunto da Caisse nationale
d'assurance-maladie (Cnam), 130 000 hospitalisações são consequências
do uso de medicamentos. Ele explicou que ‘’ os psicotrópicos são
provavelmente responsáveis de uma parte importante destas hospitalizações." UMA PETIÇÃO DE PSYCHOLOGIE MAGAZINE Esta revista publicou uma petição assinada por quinze médicos famosos contra o abuso de psicotrópicos, contra a medicalização excessiva do mal estar e pela procura de alternativas aos psicotrópicos. Assinaram a petição os psiquiatras Gérard Apfeldorfer, Boris Cyrulnik, Frédéric Fanget, Serge Hefez, William Lowenstein, Marcel Rufio, David Servan-Schreiber, Gérard Tixier, Jacques-Antoine Malarewicz, Daniel Marcelli, Christophe Massin, J.-D. Nasio e Thierry Janssen.
OBSTÁCULOS ENFRENTADOS PELOS GENERALISTAS Dissemos mais acima que, segundo vários inquéritos, os médicos generalistas prescreveram em 2007 cerca de 80% dos psicotrópicos consumidos no país. Mas um inquérito feito pelo departamento universitário de medicina geral da faculdade de Rouen (Ruão), apresentado no Congrés International d’épidémiologie, realizado em Paris no dia 10 de setembro, analisa de maneira instrutiva "os obstáculos que enfrentam os médicos generalistas quando cuidam de pacientes depressivos". Quais são estes obstáculos ? O Doutor disse ao Journal du Dimanche que : "Infelizmente, o antedrepressor tornou-se um medicamento de conforto. Nós os generalistas temos um reflexo. Se no mês de agosto[Minha nota : as férias de verão na França atingem o auge neste período] , quando um paciente que não conheço vem me consultar e me diz que não consegue dormir, vou prescrever-lhe um produto contra o estresse, um tranquilisante. [Porque] é impossivel excluirmos a eventualidade de uma tentativa de suicídio." Os generalistas enfrentam ainda outros obstáculos, como por exemplo : ‘’para tratar seus pacientes, 47 % dos médicos afirmam esbarrarem na insuficiência e nos problemas de acesso aos serviços especializados’’. Quando eles pedem a opinião de um psiquiatra afim de instaurar um tratamento ou avaliar os riscos(sobretudo de suicídio) ou a gravidade de um distúrbio psíquico, mais da metade dos generalistas têm dificuldades para obter uma consulta rápida e uma resposta da parte do especialista, escreveu Sylvie Blanchard. Desta forma, não é de surpreender que o medicamento seja a principal medida terapêutica dos 94,8 % de médicos interrogados. As outras respostas terapêuticas são : as terapias comportamentais e cognitivas (44,3 %), as psicoterapias habituais (35,7 %) e os grupos de ajuda mútua (12,6 %). Serge Rafal, sem dizer abertamente, evoca a maneira como os médicos
franceses são sobrecarregados de trabalho, especialmente durante as férias de
verão(julho-agosto).Na realidade, este excesso de trabalho resulta de uma
decisão política tomada há uns vinte anos e que limitou o número de vagas nas
faculdades de medicina.O governo quis diminuir o número de médicos pensando
que isto acarretaria uma baixa das despezas em matéria de saúde pública. A
consequência desta política foi a diminuição do número de médicos, a sobrecarga
de trabalho para os mesmos, sem que as despezas públicas diminuissem ! Muito pelo contrário, estas continuaram
aumentando por causa do envelhecimento da população e do desenvolvimento de um
arsenal tecnológico moderno e custoso, embora necessário. ALTERNATIVAS Os 15 médicos que assinaram a petição contra o excesso de prescrições de psicotrópicos na França propõem algumas alternativas ao problema : a psicoterapia, a
relaxação, a fitoterapia,a meditação e a atividade física. O psiquiatra , autor de vários livros, muito conhecido pelas suas participações em debates através de televisões, rádios e jornais, assinou a petição lançada por Psychologie Magazine. E, em entrevista dada ao angústias existenciais e enfrentam-nas tomando medicamentos". Ele preconiza alternativas aos psicotrópicos e considera que ‘’tudo o que pode ajudar a quebrar a solidão é útil para os pacientes. Ele pensa que é também necessário reforçar "a solidariedade coletiva e as atividades artísticas". de 24 de agosto, denunciou a prescrição abusiva de psicotrópicos na França como o resultado de ‘’uma incapacidade cultural e da falta de formação psicológica dos médicos’’. Ele lembrou que todos os consumidores de psicotrópicos não são doentes: "eles tem
2. MILTON H. ERICKSON E A INDUÇÃO HIPNÓTICA(III) Hélène FABRE (Psicóloga clínica) Tradução : Eliezer de Hollanda Cordeiro
A INDUÇÃO HIPNÓTICA Já notamos que a principal crítica feita à hipnose diz respeito a um problema ético, o paciente ficando sob a dependência do terapeuta durante o transe. É claro que isto ocorre em qualquer quadro terapêutico e em toda forma de relação humana: antes de tudo, trata-se de uma questão de confiança. A maneira de entrar em transe decorre dessa confiança do paciente no terapeuta.De fato, entra-se no estado hipnótico por desejo e por necessidade e não por exigência do terapeuta. O terapeuta escolhe o meio mais fácil e capaz de permitir ao paciente de entrar em transe ; isto pode ser, por exemplo, a evocação de um assunto que interesse o paciente de maneira especial. Assim, entrar em transe não decorre da vontade do terapeuta mas de sua técnica consistindo em acentuar um funcionamento mental natural no sujeito. Para o terapeuta, o mais importante é entrar em contacto com o sujeito, adotar uma atitude física um tanto parecida com a dele, respirar ao mesmo rítmo, diminuir o débito verbal e relacionar as mensagens entre elas. INTRODUÇÃO ÀS TÉCNICAS HIPNÓTICAS Zeig (2), que foi aluno de Milton H.Erickson, salientou que « mais do que as próprias técnicas, o importante é a filosofia na qual fundam-se os métodos e as técnicas do enfoque interpessoal, cuja finalidade é de liberar no paciente as potencialidades que lhe permitirão de melhorar o seu estado ». Existe entretanto um painel de técnicas variadas, ‘’aprendidas durante uma formação médica, passadas de um terapeuta para outro ou ainda oriundas da imaginação do prático’’.Este conjunto de técnicas é o que Dominique MEGGLÉ chama ‘’o tricô’’, denominação que exprime muito bem o minucioso trabalho do terapeuta, sua seriedade, sua concentração e seu respeito total pela pessoa. Juntos, eles aprendem a construir, de maneira minuciosa, o caminho que os conduzirá à solução do problema do paciente ou à melhora de seu estado. Esta recapitulação das técnicas não é completa porque não menciona todas as astúcias ulteriores que os hipnoterapeutas inventaram para trabalhar com os pacientes que encontram ao longo de suas carreiras. Contudo, podemos dizer que todas as técnicas têm o mesmo objetivo: ajudar o paciente a abandonar de maneira passageira o seu espírito consciente e racional provocando-lhe um tipo de estupefação por meio de um trocadilho, de uma anedota, de uma metáfora... Este procedimento consiste em sugerir ao paciente de entrar em transe, dando-lhe ao mesmo tempo a ilusão de decidir ou não de escutar o terapeuta. Convencido de seu livre arbítrio, o paciente colaborará mais facilmente e o transe será obtido com mais facilidade.
DISPOSITIVO TERAPÊUTICO A) FUNDAMENTOS DEONTOLÓGICOS DA TERAPIA ERICKSONANA A atitude do terapeuta para com o paciente deve ser aquela da página branca, isto é o prático deve estar desprovido de qualquer a priorí para com o sujeito. Mesmo se é o paciente que vem consultar, cabe ao terapeuta ir ao encontro das necessidades dele. Esta atitude é fundada em regras e noções que devem ser respeitadas : - Cada indivíduo é único: o enfoque se adapta em consequência, conjugando flexibilidade e abertura de espírito. - Todo comportamento responde a um objetivo servindo antes de tudo à nossa adaptação ao meio ambiente. - Cada um possue a capacidade de adquirir os recursos necessários e suficientes para viver como deseja. O terapeuta vai então apoiar-se nos recursos do paciente. - É a resposta de nosso interlocutor, verbal ou não, que informa sobre o sentido de nosso discurso. Trata-se de uma alusão a uma sorte de feedback que retorna do paciente ao terapeuta e esclarece-o sobre o bom funcionameno da terapia que está sendo aplicada; encontramos aqui novamente a idéia de que a terapia se faz a dois, em interação. - A comunicação existe em dois níveis : consciente e inconsciente. - Não se pode deixar de influenciar, da mesma maneira que não se pode deixar de comunicar. - Os obstáculos à terapia devem ser considerados como informações, por conseguinte o terapeuta adapta-se e readapta-se constantemente às mesmas. - É preciso preservar o equilíbrio do sistema complexo constituido pelo paciente e o sujeito. Se um delírio for interrompido bruscamente, por exemplo, poderá haver perigo de vida para o paciente. - A verdade do sujeito é a única coisa que conta. B) TENTATIVA DE DEFINIÇÃO DA TERAPIA ERICKSONIANA Jay Haley considera Erickson como um formidável jogador de xadrez. Ele imagina o jogo de seu partenário, tira uma estratégia global e adota táticas para dar o xeque-mate.Por isso Haley qualifica a maneira de trabalhar de Erickson de ‘’estratégica’’; mas na verdade, a técnica dele e de todos aqueles que ele inspirou comporta diferentes aspectos: - Com relação ao interesse que ele tinha pela experimentação e ao valor que dava ao aprendizado, a terapia ericksoniana lembra as terapias comportamentais. - As diferentes maneiras que ele adotava no tratamento da informação (em função de referências feitas ao consciente ou ao inconsciente), devem ser atribuidas às terapias cognitivas. - A maneira como ele abordava as associações mentais e os símbolos inconscientes, o modo como Erickson levava também em conta a economia psíquica, mostram a influência da psicanálise em seu trabalho. - Enfim, e eu diria ‘’mas sobretudo’’, seu interesse pelo crescimento da pessoa humana e não pelos seus défices, situa sua orientação na filiação das terapias humanistas. C) MÉTODO E DESENROLAR DA TERAPIA O terapeuta ericksoniano, se ele avança muito de maneira intuitiva, trabalha igualmente a partir de um quadro bem preciso, no qual ele prevê um enfoque particular para cada problema e pode assim provocar o que se passa dentro da terapia. A organização de uma sessão implica as seguintes etapas : - Identificar os problemas que devem ser resolvidos. - Fixar em seguida os objetivos a alcançar. - Planificar as intervenções permitindo alcançar os objetivos. - Levar em conta as respostas e as reações do paciente para retificar sua maneira de proceder, se necessário. - Verificar enfim os resultados da terapia para provar a sua eficiência. Vemos muito bem através deste pequeno exemplo metodológico que a terapia ericksoniana não procura a explicação do problema custe o que custar, ao contrário privilegia a sua solução. O terapeuta não se empenha também em explorar o passado do paciente, seu objetivo é de conduzir a pessoa a viver uma existência autônoma o mais rápido possivel, apoiando-se em suas capacidades pessoais. Desta forma, ele procura alcançar uma mudança duradoura, mudança que constitue o processo da cura, cuja fonte verdadeira escapa aos dois autores do quadro terapêutico ( isto é , é possivel saber se o processo emana do terapeuta ou do paciente, aliás ninguém dá bola pra isso!). A noção de mudança é realmente primordial na terapia ericksoniana
Referências : 1) Dominique MEGGLÉ : ERICSON, Hypnose et Psychothérapie, Retz, Paris, 1998 2) Jeffrey K. ZEIG : La Technique D’Ericson», Hommes et Groupes Éditeurs, Paris, 1985.
3.LIVROS RECENTES
*La perversion:se venger pour survivre Gérard BONNET Paris, PUF, 2008 24 euros *Itinéraires de formation Jean OURY Paris, Hermann, 2008 16,50 euros *Vers l’anthropopsychiatrie: un parcours:autobiographie intellectuelle Jacques SCHOTTE Paris, Hermann, 2008 38,50 euros *Une certaine idée de la folie:entretiens avec Marie-Christine NAVARRO Edouard ZARIFIAN, Marie-Christine NAVARRO La Tour d’Aigues (Vaucluse), :Editions de l’Aube, 2008 8 euros *Les enfants du désir : destins de la fertilité Monique BIDLOWSKI Paris, Odile Jacob, 2008 23,90 euros *Travail, usure mentale Christophe DEJOURS Paris, Bayard, 2008 21 euros *Nouveaux fondements pour la psychanalyse :avec un index général des problématiques Jean LAPLANCHE Paris, PUF, 2008 12 euros *Lost in cognition : psychanalyse et sciences cognitives Eric LAURENT Nantes, Editions C. Defaut, 2008 16 euros *La résilience Serge TISSERON Paris, PUF, 2008 8 euros *Le poids du réel : la souffrance Denis VASSE Paris, Seuil, 2008 23 euros *Du principe anthropique à l’homme. Introduction à la psychiatrie fractale Jean-Bruno MERIC, 20 euros
4. REVISTAS *La revue française de psychiatrie et de psychologie medicale *L’encephale
5. ASSOCIAÇÕES *Mission Nationale d’Appui en Santé Mentale *Association française pour l’approche integrative et eclectique en psychotherapie (afiep) *Association française de psychiatrie et psychologie legales (afpp) *Association française de musicotherapie (afm) *Association française de therapie comportementale et cognitive (aftcc) *Association de langue française pour l’etude du stress et du trauma (alfest) *Association de formation et de recherche des cellules d’urgence medico-psychologique (aforcump) *Association nationale des hospitaliers pharmaciens et psychiatres (anhpp) *Association scientifique des psychiatres de secteur (asps) *Association pour la fondation Henri Ey *Association internationale d’ethno-psychanalyse (aiep) *Collectif de recherche analytique (cora) *Groupement d’études et de prevention du suicide (geps) *Groupe de recherches sur l’autisme et le polyhandicap (grap) *Groupe de recherches pour l’application des concepts psychanalytiques a la psychose (grapp) *Société française de gérontologie *Société française de thérapie familiale (sftf) *Société française de recherche sur le sommeil (sfrs) *Société française de relaxation psychotherapique (sfrp) *Fédération française d’adictologie *Société de psychologie medicale et de psychiatrie de liaison de langue française *Union nationale des amis et familles de malades mentaux (unafam) *Association Psychanalytique de France (apf) *Société Psychanalytique de Paris (spp)
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