Volume 13 - 2008 Editores: Giovanni Torello e Walmor J. Piccinini |
Março de 2008 - Vol.13 - Nº 3 France - Brasil- Psy Coordenação: Docteur Eliezer DE HOLLANDA CORDEIRO Quem somos (qui
sommes-nous?)
France-Brasil-PSY é o novo espaço virtual de “psychiatry on
line”oferto aos profissionais do setor da saúde mental de expressão
lusófona e portuguesa.Assim, os leitores poderão doravante nela encontrar
traduções e artigos em francês e em português abrangendo a psiquiatria, a
psicologia e a psicanálise. Sem esquecer as rubricas habituais : reuniões
e colóquios, livros recentes, lista de revistas e de associações, seleção de
sites. Qui sommes- nous ? France-Brasil-PSY est le nouvel espace virtuel de “psychiatry on
line”offert aux professionnels du secteur de la santé mentale d’expression
lusophone et française. Ainsi, les lecteurs pourront désormais y trouver des
traductions et des articles en français et en portugais concernant la
psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse. Sans oublier les rubriques
habituelles : réunions et colloques, livres récentes, liste de revues et
d’associations, sélection de sites 1. ÉTICA DA INFORMAÇÃO MÉDICA Tradução, resumo e comentários :Eliezer de Hollanda Cordeiro LEGISLAÇÃO E MUDANÇAS NA RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE
Le Bulletin de l’Ordre des Médecins de France, em sua edição de Junho 2007, evocou a jornada de estudos intitulada « Ética da informação médica’’. O fato é incontestável : ‘’a relação médico-paciente mudou profundamente em alguns anos’.A razão principal desta mudança é a lei de 2002, que dá aos pacientes o direito de serem informados e exige que os médicos lhes digam a verdade. Donde a questão :Será que os médicos devem adaptar seus princípios deontológicos à nova situação’’ ? O Professor Jacques Roland, presidente do Conselho Nacional da Ordem dos Médicos da França colocou esta reflexão em seu contexto histórico, como escreveu Arlette Chabrol, relatora da jornada. O professor notou que ‘’se a lei de 2002 ,que permite o acesso do paciente ao conteúdo do dossiê médico, pode ser considerada como fundadora de uma nova relação médico-paciente, o aparecimento da Internete contribui também muitíssimo para a sua evolução’’.Doravante, antes mesmo de encontrar seu médico, o paciente se constrói, por meio da grande quantidade de informações obtidas na Rede, um imaginário que deve ser levado em conta. Antes, o colóquio médico-paciente era binário, por conseguinte bastante simples :a terapia era a resposta do médico à queixa do paciente. Hoje, a resposta é uma… proposta de tratamento mas que o paciente vai responder após estudá-la a partir de seus próprios conhecimentos. Assim vai se construir uma negociação entre o médico responsável e o paciente, cidadão’’.Piernick Cressard, presidente da seção Ética e Deontologia do Conselho Nacional dos Médicos, após se referir a Hipócrates e Alexandre de Trailles, evocou a carta que o paciente Sigmund Freud escreveu a um colega médico : ‘’Enganar o doente em nome da tranquilidade de espírito, no meu caso não é conveniente’’. Freud, que suspeitava sofrer de um câncer, consultara um colega que, preferindo não lhe dizer a verdade, diagnosticou-lhe apenas uma leucoplasia.O fato é que as relações entre o médico e o paciente passaram‘’da concepção ética e paternalista da medicina hipocrática, baseada na arte médica protetora do paciente, para uma partilha natural das responsabilidades’’, explicou o Professor Georges Cremer, membro da Académie Nationale de Médecine. ‘’A partilha exprime a evolução de nossa sociedade’’ (…) Não devemos temê-la mas definir-lhe as regras (…)O paciente, o médico e o legislador devem aprender a viver juntos para o bem da ética médica’’, completou.Uma convicção que nem todos os médicos aceitam por temerem possiveis consequências jurídicas ligadas à obrigação de informar o paciente, notou Arlette Chabrol. É verdade que a questão é complexa. Pierre Sargos, presidente da câmara na Cour de cassation(equivalente ao Supemo Tribunal Federal brasileiro) reconhece esta dificuldade : ‘’A informação torna-se obrigatoria desde que se obtenha claramente o acordo do paciente. Entretanto, deve-se levar em conta a natureza da patologia, seu prognóstico e a personalidade do doente’’, precisou.DIVERGÊNCIAS
Entre os conferencistas, Sylvie Fainzang, antropóloga e diretora de pesquisas no INSERM, autora do livro : ‘’La relation médecins-malades : information et mensonge’’, PUF, 2006(Relação médicos-doentes :informação e mentira). Durante 4 anos, graças a uma autorização dos médicos e pacientes, a pesquisadora assistiu consultas num importante hospital público francês para pacientes sofrendo de doenças graves.Poude então obter material suficiente para escrever um livro sobre uma questão que não havia ainda sido estudada de modo sistemático e científico.Assim, a pesquisadora analisou os argumentos dos médicos que consideram que, antes de informar o paciente, é preciso saber se ele quer ser informado. Porque ‘’a ausência do desejo significa que o paciente não quer saber de nada’’.Dizer a verdade depende também da capacidade do paciente a compreender a informação ou a suportá-la psicologicamente.Mais ainda, não se pode esquecer ‘‘os pacientes que não ousam questionar o médico, ainda menos quando se trata de um cancerólogo de renome ou de um professor de serviço hospitalar’’.
Porque nem sempre é fácil para o médico dizer a verdade ao paciente, especialmente quando se trata de um doença grave. Existem divergências entre os médicos sobre a questão :uns dizem tudo, outros não ; uns acham que a verdade favorece o tratamento, outros pensam o contrário ; alguns minimisam o problema, outros consideram que os pacientes pedem somente o tratamento. Este duplo constrangimento coloca o médico numa posição de dissonância ética .
Há também médicos que preferem não dizer nada, afim de respeitar ‘’a grande regra hipocrática de não prejudicar o doente’’. Na realidade, tudo depende ‘’da interpretação que cada médico pode fazer de sua relação com o paciente’’, o que implica antecipar sua capacidade a suportar os efeitos secundários do tratamento.Mas os médicos não devem esquecer que, as vezes, a única maneira de levar um paciente a aceitar uma radioterapia é dizer-lhe a vedade’’.
MANEIRAS DE INFORMAR
Médicos preferem dizer a verdade de maneira brutal porque se sentem obrigados a aplicar a lei.Mas ao mesmo tempo ficam as vezes ressentidos com o legislador que lhes obrigou a proceder desta maneira. Como se pensassem : ‘’Como sou obrigado a dizer a verdade, vou anunciá-la de uma vez’’. Então alguns preferem que a verdade seja dita pela família do paciente, embora isto não seja legal e não respeite o segredo médico.
Sylvie Fainzang reconhece ‘’as dificuldades estruturais,a falta de tempo, o cansaço, a usura do trabalho médico’’, assim não critica nenhuma decisão tomada por ele, nem mesmo quando prefere que a verdade seja dita pela família do paciente, embora isto não seja legal e não respeite o segredo médico. A posição do médico se complica ainda mais quando ‘’pacientes mentem por omissão, não ousam dizer que não tomaram o tratamento prescrito ou que tomaram medicamentos por conta própria… Pode também ocorrer que pacientes exagerem ou minimizem os sintomas que ressentem, ou interpretem as informações que lhes foram dadas pelo médico, sua maneira de anunciá-las, o tom da voz, as expressões’’.
Por fim, lembremos que os médicos nem sempre estão preparados para enfrentar tais situações, razão suplementar para que tomem todas as precauções afim de evitar possiveis reações depressivas graves e eventuais atos irreparáveis da parte do paciente.
2. PSICANÁLISE E PSICOTERAPIAS BREVES A propósito do livro de Dominique Megglé: "Les thérapies brèves" Eliezer de Hollanda Cordeiro Em vários artigos publicados na POLBr(1, 2, 3 ,), abordamos as
relações entre a psicanálise e as psicoterapias breves de inspiração
psicanalítica (PIP).
Durante este período, uma colega me falou do livro de Dominique Megglé,
dizendo-me que era muito interessante e didático.De fato, achei-o também bem
escrito e agradável, notadamente pelo estilo simples e o humor que o autor
manifesta ao longo das páginas, suscitando o interesse do leitor. Se o livro
inteiro é bem construido, os capítulos consagrados à história e ao
desenvolvimento das principais terapias breves me interessarm mui
especialmente, de tal modo que tomei a decisão de apresentar o livro aos
leitores de France-Brasil-Psy. No capítulo ‘’Nascimento das terapias breves’’, o
autor nos oferece uma preciosa e estimulante descrição dos principais
acontecimentos que marcaram a história das psicoterapias breves .Notemos
os pontos mais importantes: a viagem de Simund Freud, Sandor Ferenczi
e Carl Gustav Jung
aos Estados Unidos, em 1909, onde Freud pronunciou as famosas ‘’Cinco Conferências
sobre a Psicanálise’’. Como sabemos, as Conferências marcaram o início da
implantação da psicanálise nas universidades americanas e nas escolas de
medicina. Logo em seguida, ‘’psiquiatras americanos foram aprender a
psicanálise na Europa e célebres psicanalistas europeus, especialmente durante
e após a Segunda Guerra Mundial, O desenvolvimento das psicoterapias
breves cresceu ainda mais no início da Segunda Guerra Mundial, ‘’quando os
americanos aplicaram testes psicométricos em 11 milhões de pessoas, reformando
tres milhões por razões de saúde, um terço delas por razões psiquiátricas.
Apesar disso, as perdas militares por razões psiquiátricas foram
enormes : em tres anos de guerra cerca de 930 000 soldados foram
hospitalizados em serviços de psiquiatria, hospitalizações que representavam
mais do duplo das hospitalizações consecutivas a ferimentos corporais’’. ‘’Os americanos aceleraram também a
formação dos psiquiatras militares, cujo número passou de 35, em 1942, para
1800, em 1945 !Muitos receberam uma formação acelerada, donde a modificação das
táticas terapêuticas e o abandono do tratamento psicanalítico dos traumatismos
de guerra, que deixaram de ser denominados neuroses e transformaram-se em
reações normais à batalha, consecutivas aos cansaços do combate.Eles
decidiram parar com as evacuações sanitárias dos pacientes e tratá-los perto do
lugar dos combates, obtendo também a reintegração de cerca de 70% dos
soldados tratados’’ . Tal foi, segundo Dominique Megglé, ‘’o primeiro golpe dado
à idéia de que uma terapia devia ser longa e praticada por médicos muitissimo
qualificados no conhecimento dos arcanos do inconsciente’’. A história das terapias breves nos Estados
Unidos está também relacionada com a política de exclusão dos ‘’psicólogos e
culturalistas dos institutos de formação de psicanalistas . Karen Horney, por
exemplo, teve de deixar o instituto de New York em 1941.Os psiquiatras
analistas dissidentes interessavam-se às experiências atuais dos pacientes, às
relações interpessoais e não ao passado infantil ; interessavam-se pela análise
do ego e não do id.Eles construiram então as bases do movimento que dariam
lugar às terapias breves(…) ,ajudados por psicólogos, entre os quais, Carl Rogers. Tendo sido
recusado pelo Instituto de psicanálise, Rogers denominou o resultado de suas
pesquisas e de sua pratica psicoterápica :’’client centered therapy’’. O fator dinheiro desempenhou também
um papel importante na história das psicoterapias breves na medida em que ‘’companhias
de seguro americanas deixaram de reembolsar as psicoterapias longas e a
subvencionar programas de avaliação da eficiência das terapias breves, o
objetivo sendo a diminuição das despezas. Sobrou então mais dinheiro para a realização
de pesquisas sobre as terapias breves.’’ Dominique Megglé, com seu humor habitual,
escreveu que ‘’o dinheiro tornou-se então um poderoso fator de progresso
epistemológico’’ ! Por fim, o autor destacou a
importância dos papel desempenhado ‘’pelos trabalhadores sociais nos dispensários
de Higiene mental, criados em todo o território americano para ajudar as
populações mais carentes. Formados pelos psicólogos e psiquiatras, eles
desempenharam um papel relevante na história das terapias breves nos EEUU. Uma
das terapeutas breves mais famosas, Virginia SATIR, era
uma trabalhadora social’’. Este longo e detalhado capítulo do
livro escrito por D. Megglé mostra-nos ainda um autor familiarizado com a
psicanálise e que reconhece sua dívida àquele que considera como seu mestre, o
psicanalista Claude
Barrois, antigo analista titular da Association
Psychanalytique de France. Referência : Dominique Megglé: "Les thérapies brèves", Presses de la Renaissance, Paris, 2002.
3.REVISTAS *La revue française de psychiatrie et de psychologie medicale
*Nervure
4. ASSOCIAÇÕES
*Mission Nationale d’Appui en Santé Mentale *Association française pour l’approche integrative et eclectique en psychotherapie (afiep) *Association française de psychiatrie et psychologie legales (afpp) *Association française de musicotherapie (afm) *Association française de therapie comportementale et cognitive (aftcc) *Association de langue française pour l’etude du stress et du trauma (alfest) *Association de formation et de recherche des cellules d’urgence medico-psychologique (aforcump) *Association nationale des hospitaliers pharmaciens et psychiatres (anhpp) *Association scientifique des psychiatres de secteur (asps) *Association pour la fondation Henri Ey *Association internationale d’ethno-psychanalyse (aiep) *Collectif de recherche analytique (cora) *Groupement d’études et de prevention du suicide (geps) *Groupe de recherches sur l’autisme et le polyhandicap (grap) *Groupe de recherches pour l’application des concepts psychanalytiques a la psychose (grapp) *Société française de gérontologie *Société française de thérapie familiale (sftf) *Société française de recherche sur le sommeil (sfrs) *Société française de relaxation psychotherapique (sfrp) *Fédération française d’adictologie *Société de psychologie medicale et de psychiatrie de liaison de langue française *Union nationale des amis et familles de malades mentaux (unafam) *Association Psychanalytique de France (apf) *Société Psychanalytique de Paris (spp)
*Coordination (coordenador): Eliezer de HOLLANDA CORDEIRO
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