Volume 13 - 2008 Editores: Giovanni Torello e Walmor J. Piccinini |
Setembro de 2008 - Vol.13 - Nº 9 COLUNA PSIQUIATRIA CONTEMPORÂNEA QUANDO USAR MEDICAÇÃO PSICOTRÓPICA? Fernando Portela Câmara Médicos de qualquer especialidade podem prescrever medicação psicotrópica, que compreende diversas classes de medicamentos psicoativos que visam controlar ou melhorar o funcionamento social, controlar a ansiedade e aliviar a dor emocional. Entretanto, ao se prescrever tal medicação, deve-se observar certas condições para evitar erro, pois, nunca é demais repetir os princípios racionais da boa prática psiquiátrica. A seguir, daremos as indicações que formam um consenso entre os psiquiatras e que devem ser observadas por todo médico, seja qual for a especialidade, que prescrevem este tipo de medicamento.
A primeira condição a se observar é que a indicação principal é o tratamento de uma condição psiquiátrica primária, o que exige um diagnóstico deve ser bem definido, ou seja, deve satisfazer à uma categoria definida na CID-10 ou DSM-IV. Este cuidado justifica-se pelo conhecido fato de variadas condições neurológicas, que geram incapacidade nas esferas motora, da linguagem, da sensopercepção ou da capacidade cognitiva, interferir nos testes psicológicos e no exame mental, podendo simular uma condição psiquiátrica.
Quando se trata uma condição psiquiátrica secundária,
deve-se observar que o tratamento está condicionado à evolução do tratamento da
condição primária. Um exemplo bem conhecido é o das epilepsias, que podem produzir
certos tipos de alterações comportamentais importantes, como é o caso da
epilepsia de lobo temporal. Usa-se medicação psicotrópica aqui como complemento
ao tratamento neurológico, interrompendo a medicação quando a condição primária
estiver sob controle, ou prosseguindo se os sintomas psiquiátricos ainda assim
se mantém. Outras condições secundárias da clínica que podem necessitar de medicação
psicotrópica são, por exemplo, o uso de antipsicóticos em baixas doses como
auxiliares no tratamento da dor crônica, da hiperemese decorrente de
quimioterapia, etc. Pessoas emocionalmente estressadas, a ponto de ser isto um problema no seu desempenho social e convívio, frequentemente necessitam de medicação psicotrópica, porém, é preciso cautela. A prescrição deve estar acompanhada de uma intervenção psicoterapêutica, mesmo que breve, já que o problema geralmente é de natureza psicodinâmica. Quando se trata, porém, de indivíduos com transtorno de desenvolvimento exibindo comportamento desafiador-opositor, e que reconhecem a necessidade de controlar tal comportamento, a medicação está indicada. Isto, contudo, é mais complicado quando o indivíduo não discerne a necessidade do uso da medicação, o que requer do médico uma cuidadosa avaliação sobre a indicação da prescrição.
Finalmente, usa-se medicação psicotrópica durante um procedimento médico quando é impossível conduzi-lo sem sedação. Isto pode acontecer nas intervenções odontológicas, nos exames de ressonância magnética e pet-scan, durante uma avaliação de ECG, EEG, e qualquer outra situação em que a ansiedade do paciente possa alterar as condições do procedimento, impedi-lo ou interferir nos resultados.
Tais são, em linhas gerais, as recomendações para uma boa prática médica onde a intervenção farmacopsíquica seja necessária.
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