Volume 12 - 2007 Editor: Giovanni Torello |
Junho de 2007 - Vol.12 - Nº 6 Psicanálise em debate Wilkomirski e problemas literários ligados à relação do autor com sua obra, à diferença entre os gêneros literários, à indústria editorial e aos aspectos para-literários no reconhecimento de uma obra de arte. Sérgio
Telles Em 1995, o mundo editorial viveu
um momento interessante com o lançamento do livro Bruchstücke.
Aus einer Kindheit 1939–1948 (Fragmentos: Memórias de uma infância em tempos de
guerra 1939-1948), escrito por Binjamin Wilkomirski. Tratava-se das memórias de um
sobrevivente dos campos de concentração nazistas, relatando os terrores
inomináveis pelos quais tinha passado enquanto criança e sua epopéia para
sobreviver até ser adotado por suíços. O livro foi imediatamente apontado
como uma obra prima, os talentos do escritor foram louvados e elevados ao grau
de franca genialidade. Como se tratava de mais uma obra de sobrevivente do
Shoah, logo foi equiparada às de Primo Levi, Elie Wiesel ou Anne Frank,
recebendo imediatamente o apoio das grandes instituições judaicas
internacionais, que ajudaram a promover o livro mundialmente. Quando a coisa
estava nesse ponto, algumas dúvidas começaram a surgir, apesar de negadas com
veemência pela editora. Afinal, descobriu-se que o autor não era judeu, nunca
estivera num campo de concentração. Era um suíço filho de mãe solteira, que o
tinha entregado a um orfanato e que fora posteriormente adotado por um casal,
com quem vivera uma pacata vida burguesa até o lançamento de seu livro. A descoberta causou um imenso
constrangimento, especialmente entre as instituições judaicas, que tinham dado
o maior apoio à divulgação do livro e que o apresentavam como uma das maiores
obras do engenho humano, comparável a Shakespeare e Homero, para citar o padrão
pelo qual estava sendo julgado o livro. Descobriu-se posteriormente que a
editora, ao lançar o livro, já sabia de antemão que se tratava de uma obra de
ficção e não um registro autobiográfico. Ao vender gato por lebre, a editora
configurou o caso como uma fraude. Como resultado, o livro foi relegado ao
ostracismo. O acontecimento foi amplamente notificado e pode ser rastreado com
profundidade na internet. O caso é muito interessante e
serve para ilustrar uma quantidade de questões ligadas ao trauma e à criação
literária. Em primeiro lugar, aparece a
questão da representação do trauma. Há uma grande produção acadêmica que aborda
esta questão. É possível representar o trauma? Entende-se “trauma” dentro da
noção psicanalítica, ou seja, como uma experiência que, pelo que implica de
excessivo ou deficitário, transcende as possibilidades do ego para integrá-la e
elaborá-la, ficando registrada como uma experiência bruta, não simbolizada e
representada. Como tal, ainda dentro do modelo psicanalítico, mantém-se como um
corpo estranho provocando reações, quer seja do psiquismo individual ou social.
Alguns pensam que o trauma, em sua
violência inaudita, não pode nem deve ser representado. Deve continuar em sua
realidade bruta, interrogando e inquietando. Os partidários desta idéias
acreditam que qualquer tentativa de expressar e representar o trauma levaria a
uma banalização ou trivialização que o diminuiria e descaracterizaria. A
própria compreensão do trauma o anularia enquanto tal. Por exemplo, o filme “A Queda – As
últimas horas de Hitler” (“Der Untergang”), 2004, de Oliver Hisrschbiegel, foi
acusado de “humanizar” Hitler. Supostamente ele deveria continuar como uma
besta incompreensível, além de qualquer interpretação. Discordo desta postura, pois ela
tende à mitificação e manipulação. Penso que não se pode “humanizar” Hitler
pelo simples fato de que ele é um homem e foi exatamente enquanto homem que fez
o que fez. Terêncio dizia que nada do que é
humano lhe poderia ser estranho e é a partir desta perspectiva que devemos
encarar Hitler ou qualquer grande criminoso aberrante. Somente assim podemo-nos
perguntar o que permitiu que ele fizesse o que fez e o que nos poupou de fazer
o mesmo, já que somos todos homens e, como tal, feitos da mesma matéria –
aquela da qual os sonhos também são feitos, como diria Shakespeare. Da mesma forma, acho que a
representação do trauma não deve ser impedida ou criticada. O trauma se
constitui como tal exatamente por não ser representado e simbolizado, sendo a
simbolização a única forma de elaborá-lo. Os efeitos integradores e
enriquecedores da representação e simbolização do trauma são evidentes a nível
pessoal e social. Nestes processos, a arte ocupa um importante lugar. Ao representar e simbolizar
grandes situações existenciais e sociais, a arte tradicionalmente tem cumprido
com uma função que transcende a estética, permitindo que o homem possa se
entender melhor e ao meio em que se encontra. Se considerarmos os modelos
lacanianos que mostram a gênese do psiquismo como a defrontação com o vazio da
Coisa perdida, o corte da fusão com a mãe, vazio este que para sempre
tentaremos preencher com as palavras, palavras que estarão evocando,
representando e simbolizando a Coisa perdida, podemos então entender toda
representação e simbolização – sendo a linguagem a primeira delas e da qual
partem todas as demais - como a tentativa de preencher esse vazio, de
disfarçá-lo, de negá-lo. A arte contemporânea, pós-moderna,
que tanto nos incomoda com sua brusquidão e secura, parece querer mostrar
exatamente o horror deste vazio, ao contrário de obturá-lo ou suprimi-lo com
representações variadas. A arte – e não a documentação
histórica, o registro cartorial, o arquivo factual, sempre permeados pela
ideologia e pelos jogos de poder - tem sido na história da humanidade o lugar
mais próximo da verdade. Não que o artista não tenha suas ideologias. Mas se
ele é grande o suficiente, sua obra a transcende e mostra uma verdade humana de
outro modo inapreensível. O exemplo brasileiro mais gritante é Nelson
Rodrigues, que pessoalmente estava engajado na direita política na época da
revolução, ao mesmo tempo em que realizava uma obra revolucionária, tanto do
ponto de vista formal como conteudístico. Que a arte pode representar e
simbolizar o trauma e a catástrofe, o livro de Wilkomirski dá a prova.
Entretanto, ao ser descoberto que o autor não era judeu e nunca estivera num
campo de extermínio, ou seja, que sua obra não era um registro autobiográfico e
sim uma ficção, ao invés disso dar provas de seu talento literário, colocou-o
em ostracismo. Vê-se como critérios ideológicos, não literários, estão aí
presentes. O tema de Wilkomirski – o holocausto,
o Shoah – juntamente com os gulags implantados por Stalin e as duas grandes
guerras mundiais são exemplos de traumas e catástrofes sociais de um passado
relativamente recente. Hoje em dia, eles têm como contrapartida as grandes
migrações por guerra ou pobreza nos países do terceiro mundo. Para complicar as coisas, essas
experiências sociais traumáticas são cercadas por um nevoeiro ideológico que
dificulta ainda mais uma visão nítida do problema. Os anti-semitas chegam a ponto de
negar que tenha havido o genocídio dos judeus e atribuem sua intensa divulgação
como prova do poder judaico nos meios de comunicação. Por outro lado, o
relativo silêncio em torno do genocídio stalinista feito nos gulags é visto
pelos anti-comunistas mais ferrenhos como evidência do controle dos meios de
comunicação pela esquerda, que durante muitos anos impediu a circulação de
notícias sobre o terror na União Soviética e que, ainda hoje, após a queda do
Muro de Berlin, recusa-se a encarar os fatos, temendo com isso fornecer munição
para a direita mais retrógrada. Fica clara a intervenção da
ideologia na divulgação destes fatos, o que aponta para uma questão mais ampla
– seriam os meios de comunicação de massa, em última instância, instrumentos
ideológicos? Seria possível uma desinteressada divulgação da informação, não
regida por interesses ideológicos? Somente reconhecendo os
determinantes ideológicos podemos analisá-los e desfazê-los, superando o
impasse propagandístico entre a superdivulgação, o silêncio, a propositada
distorção ou manipulação em torno dos acontecimentos. Sem negar o aspecto ilusório e
irrealístico próprios a toda e qualquer ideologia, é preciso salientar a
diferença existente entre o nazismo e o stalinismo. Se a ideologia nazista afirmava a
primazia de uma determinada raça sobre todas as demais, que deviam ser por ela
escravizadas ou eliminadas, essa ideologia parece muito mais louca e delirante
do que aquela que imaginava uma sociedade sem classes, na qual a pobreza fosse
erradicada e todos tivessem iguais oportunidades. Talvez o nazismo pudesse ser
caracterizado como uma ideologia narcísica, intolerante com a alteridade, que
deve ser eliminada, e, por outro lado, o comunismo, do qual o stalinismo é um
produto, como uma ideologia contrária, da integração da alteridade, num estado
que abrigasse e protegesse a todos com oportunidades iguais. Mas, é claro, essa formulação pode
ser entendida como produto da ideologia deste autor. O fracasso dos movimentos
políticos baseados nessas ideologias provocou grandes estragos na mente
coletiva. Na Alemanha, ainda agora a lembrança do nazismo não foi inteiramente
integrada, sendo fruto de vergonha e negações, escondida atrás de um trauma
menor e mais recente, o da divisão do país num lado comunista e outro “livre”.
De parte do massacre russo, o fracasso do comunismo como regime real também
está longe de ter sido elaborado pela esquerda, sendo esse provavelmente um dos
motivos do silêncio sobre a dura implantação do regime na Rússia e o
estabelecimento de um totalitarismo insuportável. Vimos até agora traumas e
catástrofes sociais, mas eles podem ocorrer também em escala pessoal. São
situações singulares, extraordinárias e insuportáveis, das quais tomamos
conhecimento através dos relatos das pessoas que a elas sobreviveram. Se Wilkomirski se configura como
um caso psiquiátrico de distúrbio de identidade, ele mostra macroscopicamente o
que ocorre microscopicamente com os escritores. Durante a feitura de suas
obras, os escritores vivem vidas paralelas, ou melhor, estão revivendo situações
traumáticas antigas, produzindo com elas vidas paralelas nas quais se sentem
profundamente envolvidos. Wilkomirski não é uma exceção. Há
outros casos semelhantes ao seu, vários deles ocorridos nos Estados Unidos. Um
deles é o de Anthony Godby Johnson (atenção para o segundo nome – Godby – algo
que poderia ser traduzido como “feito por Deus”, “criado por Deus”, “de autoria
divina” ou algo assim) que em 1993 – dois anos antes de Wilkomirski - lançou o
livro “A rock and a hard place – One boy´s triumphant story”. Tratava-se do
relato de sevicias e abusos sofridos pelo autor e praticados por pais perversos
que o usavam em orgias, vendendo-o para pedófilos e usando fotos suas em redes
na internet. A somatória de horrores desta história chamou a atenção da mídia,
que lhe dedicou programas na televisão, como o da Oprah Winfrey. Que alguém
pudesse ter tido uma vida tão difícil, sofrido tão intensamente e ainda assim
sobrevivido e conseguido escrever um livro, não poderia deixar de chamar
atenção para seu autor. Vários jornalistas procuraram localizá-lo para
entrevistá-lo e se depararam com uma mulher, Vicki Johnson, que se apresentava
como sua terapeuta e protetora, e impedia qualquer contato direto com o autor.
Alegava que as autoridades tinham prendido seus pais e o colocado sob proteção,
pois era objeto de perseguição por parte de uma rede de pedófilos. Tal situação
justificava o mistério que o rondava e sua inacessibilidade. Um determinado
jornalista, Armistead Maupin, resolveu levar a fundo a investigação e descobriu
que o autor não existia, era uma criação da mulher. Aqui também vemos a fusão do autor
com sua obra e seu personagem, a ponto de criar um ser imaginário que
transcende os limites da literatura e invade a própria realidade, gerando uma
situação limite entre a fraude, a mitomania, o delírio. Esta história está ficcionalizada
no filme “Segredos da Noite” (“The Night Listener”), de 2006, dirigido por
Patrick Stettner e estrelado por Robin Williams. Wilkomisrki e Vicki Johnson expressariam
em suas ficções este outro espaço da catástrofe, do desastre inominável que é
uma infância abandonada, à mercê de pais - ou adultos que os substituam -
incompetentes e incapazes de exercer as funções parentais, indispensáveis para
que o sujeito humano possa se constituir de forma integrada. A infância enquanto catástrofe
poderia ser detectada ainda num fenômeno editorial recente nos Estados Unidos.
São as chamadas “misery memories”, nas quais seus autores relatam as lembranças
das provações, sevícias e abusos sofridos em meio a uma ambiente de miséria
material e especialmente afetiva. Seriam essas memórias – e aqui
mais uma vez nos deparamos com o encanto do autobiográfico, da exposição da
vida própria – um sintoma do voyerismo do público, do exibicionismo do autor,
semelhante ao dos participantes de programas populares na televisão, nos quais
para alcançar os 15 minutos de fama, pessoas se dispõem a expor as vísceras
emocionais e situações penosas e vexatórias? Seria mais uma expressão da
sociedade do espetáculo de Debord? Ou seria um desvelamento da
patologia familiar? Um abandono da idealização da estrutura familiar e um
reconhecimento da patologia dos pais e da forma como essa determina a estrutura
de cada família e os destinos de seus filhos? Devemos analisar com cuidado esses
fenômenos, tentando combater tanto a idealização da família e a conseqüente
denegação de seus flagelos quanto seu excessivo aviltamento, que não a
reconhece como o lugar privilegiado e indispensável para a constituição do
sujeito. Um dos elementos que caracterizam
a pós-modernidade é a desconstrução de Derrida. A desconstrução do mito
familiar não implica sua destruição. Derrida dizia que só desconstruía aquilo
que gostava ou admirava. A desconstrução implica uma nova visão, uma retomada
de questões tidas como estabelecidas. Como vimos, o livro de Wilkomirski
foi considerado uma fraude. Isso levanta questões pertinentes à relação entre a
criação literária e a verdade. Em seu caso, como já foi dito, a
fraude se configura pela forma como a editora o apresentou, caracterizando-a
como uma autobiografia, uma obra baseada em fatos reais, quando tinha
conhecimento que era uma obra de ficção. Somente sob este aspecto a obra de
Wilkomirski pode ser considerada
fraudulenta, pois seu contato com a verdade não pode ser traçada por sua
relação com a realidade, desde que as obras de arte se aproximam da verdade
através da ficção e esta não pode ser equiparada à mentira. Assim, as obras de arte não apenas
simbolizam e representam experiências traumáticas, criando-lhes novos
significantes, como estabelecem um contato mais próximo com a verdade. Se factualmente Wilkomirski não
foi uma criança que esteve nos campos de concentração, ali sofrendo grandes
horrores, sabe-se que é filho de mãe solteira que o abandonou num orfanato onde
anos depois foi adotado por um abastado casal suíço. Os horrores emocionais que
teria sofrido nesta infância abandonada, ele os reveste da encenação dos campos
de concentração, mas a descrição interna do sofrimento não seria
verdadeira? Neste sentido, é muito
significativo o pseudônimo “Wilkomirski”
escolhido por Bruno Grosjean Dössekker. É um claro derivativo de “Wilkomen” que
em alemão, sua língua natal, significa “bem-vindo” – justamente o que ele,
filho rejeitado de mãe solteira, nunca o foi. São complexas as relações entre
biografia, autobiografia e ficção. Que um autor apresente uma obra
ficcional como uma autobiografia não é novidade no mundo literário, como bem o
ilustra o “Autobiografia de Alice B. Toklas”, de Gertrude Stein. Freud fala do caráter ficcional de
toda biografia e Derrida aborda extensamente a questão ao mostrar, por exemplo,
como Nietszche escreveu sua biografia para contar a própria história para si
mesmo. O grande público talvez valorize
mais as biografias e autobiografias do que os trabalhos de ficção por ignorar o
caráter ficcional nelas presente. As biografias ou autobiografias só
podem ser levadas a sério na medida em que se ignora a divisão do eu descoberta
pela psicanálise, que faz com que o eu seja um desconhecido para si mesmo. No
sujeito existe uma dimensão inconsciente da qual ele não se dá conta, apesar da
decisiva importância que ela exerce em todos os seus atos, que ele
orgulhosamente pensa serem devidos a seu livre arbítrio. Freud mostrou como os casos mais
patológicos ilustram mecanismos que nos ditos “normais” estão mais encobertos e
disfarçados. Por esse motivo, o caso Wilkomirski ilustra ainda um outro aspecto da criação
literária – a relação do autor com sua obra, com seus personagens. A psicanálise articulou de maneira
magistral intuições há muito obtidas por escritores. Com a psicanálise,
entende-se como a produção artística decorre da fantasia e do desejo
inconscientes, dados comuns a todos os homens, sendo que com tais elementos a
maioria produz sintomas, enquanto o artista produz arte. Assim, os artistas, especialmente
os escritores, criam seus personagens a partir de determinadas vivências,
fantasias, construções, transcendendo o relato biográfico ao refazendo-os dentro
de padrões estéticos estabelecidos ou por ele rompidos, mas dos quais tem plena
consciência. Na maioria das vezes, o autor se
desprende de seus personagens e criações, para tanto elaborando um luto. Ao
criar e tornar pública sua obra, o artista a perde e não mais pode controlar
seu destino. Aqui também a contribuição de Derrida é fundamental, ao mostrar a
ambígua situação que faz com que os leitores recriem a obra, ao
desconstruírem-na diferentemente dos anseios e expectativas do autor. Por outro
lado, lembra ele, deve-se pensar no legado do autor, na forma como sua produção
pode ser mal-entendida ou distorcida, como ocorreu com Nietzsche lido pelos
nazistas e, numa medida menos dramática, a obra de Freud, tão divulgada e, de
certa forma, tão desconhecida. Autores como Wilkomirski e Johnson
de tal maneira estão identificados com seus personagens que deles não mais se
discriminam, neles se transformam, passam a ser seus personagens. Ao contrário
dos demais, um autor assim não consegue fazer o luto pelo personagem e pela
obra, misturando-se com ela de forma indiscriminada. A identificação de Wilkomirski com
os personagens ou, dizendo de outra maneira, a projeção que faz nos personagens
de seus aspectos biográficos existenciais, é ilustrativa dos mecanismos de
criação literária, inclusive na elaboração de traumas pessoais advindos de seu
passado, fundindo ficção e biografia. ****************************************************************************** Nota – Para maiores detalhes, veja
a resenha de minha autoria do livro “Catástrofe e Representação”, organizado
por Arthur Nestrovski e Márcio Seligman-Silva – Editora Escuta, São Paulo,
2000, aqui publicado em maio de 2001
|