Volume 11 - 2006
Editor: Giovanni Torello

 

Abril de 2006 - Vol.11 - Nº 4

Coluna da Lista Brasileira de Psiquiatria

Fernando Portela Câmara

Esta coluna é um veículo de atualização e de divulgação da psiquiatria baseada nas contribuições espontâneas dos membros da Lista Brasileira de Psiquiatria. Esperamos que o nosso trabalho possa ser útil aos leitores da Psychiatry On-Line Brazil. Fernando Portela Câmara.

Assuntos:

DISCUSSÃO NA LBP - RECERTIFICAÇÃO DO TÍTULO DE ESPECIALISTA

- ...Coloco em questão uma coisa que me intriga e creio que podemos discutir ampliando horizontes; falei rapidamente ... sobre a recertificação dos títulos de especialista, e percebo pelas normas de algumas sociedades de especialidades um privilégio em pontos para pessoas que atuam no meio universitário preferencialmente; quase não se vê pontuações para o especialista que está no front, trabalhando em uma unidade básica de saúde ou um ambulatório de especialidade. Considero isto um grave erro conceitual; uma dicotomia de atuação e aparência; a imagem que você passou do médico com jaleco amassado evoca tanto um profissional dedicado, mas também alguém que pode estar fazendo as coisas como elas são, como se ele não estudasse mais, somente atendesse e prescreva o que for o básico disponível no SUS a um salário módico quase desprezível ... Precisamos encontrar um meio termo confiável. Quem atende no SUS acaba por abrigar uma quantidade muito grande de pacientes. Eu, por exemplo, aqui num município pequeno, tenho 988 pacientes regulares em minha agenda, do total de quase 3700 pacientes cadastrados; somos em 3 psiquiatras, mas o único residente na cidade sou eu mesmo. Sem contabilizar pacientes abandonadores. Isto dá uma larga experiência clínica, não? Faz dez anos que atendo no SUS; porque isto não conta como pontos para recertificação de especialista (seja da especialidade que for)? Veja, de modo algum me negarei a realizar a prova da ABP este ano para renovar meu título, mas, porque alguns pontos são relevados em detrimento de outros? Existe corporativismo aí? Fica para a gente conversar, sem querer eu passar por algo fascistóide.
Marcelo Lourenço

- Gostaria de saber se estou certo nessa onda da revalidação. Apesar de ser um tanto discriminatória acho que vai ser estilo "Zagalo". Vamos ter que engolir ! Bom, lendo a lei...
RESOLUÇÃO CFM Nº 1772/2005
Institui o Certificado de Atualização Profissional para os portadores dos títulos de especialista e certificados de áreas de atuação e cria a Comissão Nacional de Acreditação para elaborar normas e regulamentos para este fim, além de coordenar a emissão desses certificados.
RESOLVE:
Art. 1º Instituir os Certificados de Atualização Profissional para portadores de títulos de especialista e certificados de áreas de atuação, concedidos no país de acordo com a legislação pertinente.
§ 1º O processo de certificação de atualização profissional passará a vigorar a partir de 1/1/2006.
§ 3º Os portadores dos títulos de especialista e certificados de áreas de atuação emitidos até 31/12/2005 poderão aderir a este processo de certificação de atualização profissional, ficando sob a égide das normas e regulamentos estabelecidos nesta resolução.
I - Os médicos que aderirem ao programa e preencherem os requisitos necessários receberão um Certificado de Atualização Profissional em sua especialidade e/ou área de atuação, com validade de 5 (cinco) anos;
II - Os médicos inclusos no caput do parágrafo 3° e que não aderirem ao programa de certificação de atualização profissional continuarão com o(s) seu(s) registro(s) de especialização e/ou área(s) de atuação inalterado(s) nos Conselhos Regionais de Medicina.

Entendi por "portadores dos títulos de especialista e certificados de áreas de atuação" aqueles que tem Título de Especialista da ABP e TAMBÉM os que tiverem Residência Médica em Psiquiatria reconhecida pelo MEC/CNRM e o devido Registro de Qualificação de Especialista (RQE) junto ao CRM de seu estado. O que desejo saber é se está apto a revalidação via acumulação de pontos os profissionasi que possuem Residência reconhecida pelo MEC/CNRM e RQE emitido pelo CRM mas NÃO o Título da ABP. O que é meu caso. Se for assim, tudo bem. A pontuação é atingida facilmente. Basta frequentar um ou dois congressos por ano (um nacional e/ou dois regionais/estaduais) e participar de alguma atividade acadêmica/publicação... O mínimo do mínimo para um profissional que queira manter-se atualizado e bem no "básico".
Penso que uma minoria isolada não tenha oportunidade e/ou determinação em atualizar-se com as crescentes opções existentes. O PEC da ABP, os eventos regionais que crescem em nível e número de participantes, são bons exemplos. Agora, se a dita revalidação for EXCLUSIVA aos que possuem Título da ABP, EXCLUINDO os que conquistaram o direito ao exercício da especialidade via Residência reconhecida e devido Registro de Qualificação da especialidade junto ao CRM a coisa assume outra figura. Inclusive muito duvidosa juridicamente pois exclui visivelmente direito a submeter-se a dita revalidação. Afinal, já possui certificação para atuação na área e reconhecimento do próprio CRM (RQE) de que é especialista. Quem pode informar mais sobre isso? João Carlos Cé Bassanesi.

- ... Estou também de acordo com a advertência do Marcelo. Por uma questão pessoal, não me importa nem um pouco o destino da ABP. Não tenho título de especialista dado por ela. Não me interessou e permanece assim. Não obstante, a questão que levanta é de suma importância, pois representa, a meu ver, a própria tendência de restringir os meios para o reconhecimento. Certamente, não é um movimento distinto da insistência em códigos, protocolos, escalas e validação de uma forma única de legitimação do saber. Corre lado a lado com esta bobagem que se chama Psiquiatria baseada em evidências e com a intenção de desmontar o saber clínico em prol do saber resultante da metodologia verificacionista. [...] Se for possível politizar a questão, contem comigo.
Durval.

- Em primeiro lugar vamos situar a questão. A recertificação, mesmo sendo apoiada pela ABP, é uma decisão da AMB-CFM. A ABP só pode realizar concursos para concessão de título etc sob autorização da AMB que é quem dá os títulos. Dentro da ABP, o assunto começou a ser debatido lá por 1999. Foi nomeada uma comissão, pelo então presidente Miguel Jorge e o encarregado de redigir um primeiro regulamento foi um colega de São Paulo que hoje reside no Canadá (Castiel). Realmente, esse assunto vinha sendo debatido no ambiente universitário, principalmente a Paulista e USP. Não é por acaso que a grande produção científica da psiquiatria brasileira saia daqueles dois centros. Se incluirmos a UFRJ e a UFRGS, temos uns 95% do que é publicado no país. O regulamento, atualmente aprovado, tem característica corporativa. Privilegia as atividades da ABP e da Universidade. Acho que a oportunidade de discutir o assunto e propor modificações, passou. O negócio agora seria propor modificações que contemple áreas que foram desconsideradas.
No Brasil, não é um fenômeno novo. Os médicos do serviço público (ex_Inamps por ex.), mesmo sendo responsáveis pela maioria dos atendimentos, pouco apitavam em termos de saúde pública. Lembrem a luta do Cerqueira e outros para serem ouvidos. Hoje mesmo, todo planejamento em saúde mental está nas mãos de alguns ativistas ideológicos. No caso do Durval, sendo psicanalista e com clínica privada, a recertificação pouco significa. No meu caso, embora não tenha nenhuma dificuldade em revalidar meu título, ele nada acrescenta na minha prática profissional. Ela vai ser importante é para a maioria dos psiquiatras com formação adequada, pois servirá de qualificação e permitirá uma diferenciação com a grande maioria que faz psiquiatria sem formação alguma. Pensem nisso.
Walmor Piccinini

- O que desejo saber é se está apto a participar da revalidação via acumulação de pontos os profissionais que possuem Residência reconhecida pelo MEC/CNRM e RQE emitido pelo CRM mas NÃO o Título da ABP. Essa informação é muito importante. Se o fator EXCLUDENTE do processo for não possuir o título da ABP estamos defronte do maior absurdo autoritarista, corporativista com alto potencial de ilegalidade. Afinal, quem cursou residência médica e possui diploma do MEC/CNRM, registro de qualificação de especialista no CRM, exerce a atividade há anos anteriores a da lei esta oficialmente credenciado para exercer a especialidade e assim, não poderá ser marginalizado pelo processo de revalidação. Tenho certeza que, se esse absurdo for real, poderá ser revertido judicialmente e que o profissional habilitado poderá sim participar da revalidação sem possuir a "exclusividade" do título da ABP. Quem sabe informar???
João Carlos Cé Bassanesi.

- JC. No meu entendimento o que vale é o registro no CRM. Mesmo o TE da ABP se não for registrado no CRM não tem valor legal. Seu valor é mais para prestígio e reconhecimento pela classe. A rigor, pela lei brasileira, o diploma de médico autoriza a prática médica em qualquer das suas especialidades. É raro ou impossível, um sujeito fazer neurocirurgia ou cirurgia cardíaca sem a devida formação. cirurgia geral e até plástica como vimos em Brasília, qualquer um pode se atrever. Psiquiatria nem se fala, é só abrir uma portinha e oferecer serviços. O serviço público, alguns planos de saúde etc. exigem o TE e o registro no CRM. E para finalizar, já que em Timbó não chega TV( rs) informo que o Grêmio é campeão gaúcho.
Walmor Piccinini

- Há vários problemas de ordem operacional e instrumental nessa questão. Não houve mobilização da classe médica, com chamadas dos CRMs, representantes em hospitais, serviço público, etc. Quando se tomou a decisão, se deu um prazo curto para a classe responder, mas aí não houve comunicação com a massa dos especialistas. Portanto, o processo ficou autoritário em função dessa desinformação (o país é muito grande, é preciso criar canais adequados para atingir toda a classe).
Em segundo lugar, a comissão por si só constitui-se num viés, ou seja, não era formada por representantes de todos os segmentos da classe. E para piorar, nenhum estudo sobre o perfil médio do psiquiatra brasileiro em atividade foi sequer considerado. Nenhum estudo se baseou na distribuição normal, e os critérios tenderão a privilegiar uma minoria situada na cauda talvez de um desvio padrão à direita da curva Gaussiana. Enfim, quando se faz uma deliberação como esta, ou se baseia num estudo sério da população de especialistas (difícil de coletar e caro), ou se faz como se fez nos EUA (recertificação realmente democrática e accessível a todos, o país lá também é muito grande e diversificado). Como diz Bassanesi, quando a massa dos psiquiatras começarem perceber o que está acontecendo, na pele, temo que o prestígio da ABP - organização da qual faço parte e luto por ela - seja abalado. Isso me preocupa, mas continuo confiando que a ABP logo perceberá o problema e fará os ajustes necessários, pois, é uma organização realmente democrática que ampara todos os psiquiatras do país.
Portela

- Walmor : A recertificação é, então, uma forma de separar os bons dos ruins ? Ou seja, dos preparados e dos despreparados, os competentes dos incompetentes ? Como e quando será iniciada ? Desculpe estar pegando o bonde andando, como falam os mineiros. Suponho que no Brasil viciado pelas oligarquias, isso vai acabar privilegiando uns e prejudicando outros, como sempre costuma acontecer.
Concordo com a sua noção de privilégio para as Universidades, principalmente as do Centro-Sul e do Sul. São as que tem mais tradição. Mas acho que nelas, pelo que sei, poucos são os que tem o tempo integral e dedicação exclusiva, impraticável pelos baixos salários do corpo docente e poucos recursos para as instituições a não ser aquelas que se erguem da parceria publica-privada. Olha só ha alguns meses atrás. O Hospital das Clinicas da UFMG quase fechando, por falta de recursos. Acredito que tenha saído do buraco em que estava, mas os titulares de cadeiras clinicas e cirúrgicas podem e conseguem sobreviver, mas que malabarismos fazem para isso eu não sei...
Lucio F. M. Villaca

- Não sei se vai separar os bons dos ruins. A idéia é estimular a leitura, a participação a busca dos colegas, a avaliação no grande grupo. Nosso problema não é o psiquiatra que freqüenta listas de discussões, compra livros e freqüenta conferências e congressos. Nosso problema é o sujeito que se forma numa das 125 faculdades de medicina que existem no país, não faz residência, desaparece nas grandes cidades e coloca uma placa na porta se dizendo psiquiatra. Se a recertificação tem falhas, defeitos etc. o andar da carroça acomodará as melancias. O que não dá é assistir essa multidão de médicos se dizendo psiquiatra sem nunca ter passado por uma formação mínima. Os formados em boas escolas apresentam distorções, seja por ideologia ou seja por falta de caráter, que dizer de quem foge de uma educação mais elaborada.
Walmor Piccinini

- Olá, ... para que todos se manifestassem quanto a este tópico e resolvi escrever. Sou psiquiatra formada há 1 ano e pretendo fazer a prova de título da ABP este ano. Já me perguntei porque, já que meu título de residencia seria suficiente para meu reconhecimento. Cheguei a conclusão de que resolvi fazer a prova para estudar mais a dita psiquiatria baseada em evidências. Minha formação (HUPE/UERJ) foi muito voltada para uma visão clínica, crítica e histórica da psiquiatria, com pitadas psicanalíticas (as quais estou aprofundando), de forma tal que decorar o DSM IV TR sempre pareceu um pouco dispensável. Continuo tendo muitas críticas a este modelo, mas resolvi estudá-lo melhor, até para poder criticá-lo. Mas talvez uma necessidade de reconhecimento também tenha influído em minha decisão quanto a prova.
Mas o que é interessante é que alguns mestres essenciais a minha formação não são da ABP. Têm um posicionamento poílítico ou apolítico quanto a isso. Isso não diminui seu saber, sua capacidade clínica e professoral. Mas será que a partir da criação de uma revalidação que exija um engajamento na ABP isso irá mudar?
Tenho ido aos congressos desde 2003 e fácil notar o posicionamento da ABP quanto a várias questões da psiquiatria no Brasil. Ao mesmo tempo que discordo de algumas delas não vejo como me posicionar junto a ABP(da qual sou sócia). Daí vem a pergunta, o que a ABP representa: os psiquiatras, uma psiquiatria pressuposta (pois existe uma outra, a praticada), ou ainda outros interesses? Não sei mesmo. De qualquer forma estou disposta a participar, por isso fazer a prova. Mas não acho que isso deva se tornar obrigatório. Afinal, uma prova não tem como avaliar a prática clínica no que ela tem de mais valioso que é a relação médico-paciente. E se não podemos reconhecer isso na especialidade psiquiátrica, se formos normatizar nossa prática apenas pelo conhecimento técnico, creio que estaremos sendo medíocres. Não sou contra a prova, tanto que a farei. Mas sou a favor de que outros possam ser contra sem serem discriminados como "não-psiquiatras" pois não vejo como uma prova poderá provar que somos alguma coisa.
Clarisse Rinaldi

- Clarisse. Bem vinda [...] A ABP é legítima representante dos psiquiatras brasileiros. Filiar-se a ABP e nela participar não obriga a ninguém a se filiar a qualquer corrente de idéias pré-concebida. Tens um ano de psiquiatria e eu tenho 45 se contar meus tempos de AT. O que posso dizer é que vivemos aprendendo. Prepara teu concurso, ele só vai te abrir os olhos para outras possibilidades. Não acredita em tudo que teus professores ensinam, ou se acreditares, utiliza tua crítica pessoal para ver aonde estão falhando. O que nunca devemos perder é o amor pela profissão, o respeito por nossos pacientes e utilizar todo conhecimento disponível para minorar seu sofrimento.
Walmor Piccinini

- ... Profissionais que estão na posição do Durval acredito serem número bastante representativo; o psiquiatra (e, mais ainda, o psiquiatra que pratica alguma forma de psicoterapia) é um profissional ainda raro no mercado. Para estes ter o título ou não é mera cereja do bolo, uma vez que a trilha de vários cursos de formação já dão as credenciais práticas e formais. De certo modo eu também me incluo nesta parcela, ou pelo menos me incluía enquanto estava ligado à universidade.
Temos a colocação importante do Walmor ao citar que os profissionais que estão fora da universidade, e mais propriamente, fora do eixo regional sul/sudeste perderam o bonde e terão que se virar por si. O ativismo ideológico ocorre, e também creio que está atrelado ao fornecimento de verbas. Não tenho dados ... sobre psiquiatras sem formação alguma exercerem a especialidade, nem imagino ser "a grande maioria" ... Dos psiquiatras que conheço que trabalham no SUS da região aqui têm formação adequada (Unicamp e PUC Sorocaba ou São Paulo), e sentem-se pressionados pela "produtividade" que mede a qualidade do serviço somente pelo critério quantitativo do número de atendimentos, desmotivados pela falta de equipes multidisciplinares bem articuladas e salários injustos. Na mesma direção que você escreveu, vejo muitos colegas médicos de outras especialidades comerem no prato da psiquiatria, seja em ambiente privado ou não; para estes tb não interessa qualquer título, mas isto pode ser um fator público que mantém o psiquiatra como médico de maluco somente; a propaganda de psicotrópicos é forte também entre não psiquiatras.
Quem são as pessoas sem formação alguma?
O João Carlos colocou a formalidade da titulação de uma forma que alguns de nós não tínhamos pensado ainda. Esta questão precisa ainda ser aprofundada.
[...]
Houve uma época, não sei exatamente qual em que alguém que comprovasse que trabalhou em hospital psiquiátrico durante X anos poderia receber o título de especialista. Ao sair desta posição corre-se o risco de cair do outro lado.
E fica ainda uma pergunta: o título serve? Para quê? Como pode aprimorar a qualidade dos especialistas?
Marcelo Lourenço


ATUALIZAÇÃO EM PSICOFARMACOLOGIA - Leopoldo Hugo Frota, UFRJ

Leopoldo Hugo Frota, IPUB, UFRJ

1. SERTINDOL (Sertindole, SERDOLECT®) ESTÁ DE VOLTA (atualização e-book) - Mês passado anunciou-se na Europa o reinício da comercialização do sertindol (4-24mg/d), AP atípico indólico de segunda geração (antagonista seletivo misto D2/5Ht2A com pequena propensão à sedação, efeitos anticolinérgicos, convulsões, discrasias, síndrome metabólica e com ganho ponderal somente superior ao da ziprasidona) que fora retirado de comercialização em 1998 (ainda não chegara a sê-lo nos USA, embora já o tivesse sido no Canadá) pela constatação de prolongamento do intervalo QTc no eletrocardiograma (acima de 425/450 milisegundos), podendo conseqüentemente estar implicado em casos de morte súbita pelas graves arritmias do tipo Torsade de Pointes (estado de pré-fibrilação ventricular, fibrilação que significa funcionalmente o mesmo que parada cardíaca) que os prolongamentos deste tipo costumam prenunciar. Na ocasião houve reações por parte de especialistas que julgaram a medida apressada. Desde então, porém, as agências reguladoras aumentaram o controle para este tipo de efeito adverso por parte dos APs e não foi por outra que não esta razão que a ziprasidona, também indutora de prolongamento em animais de laboratório, embora sem comprovação de mortes súbitas na clínica em seres humanos, custaria tanto a obter licenciamento da FDA.
O sertindol (SERDOLECT®) agora com experiência acumulada em ensaios com mais de 17.000 pacientes, volta inicialmente apenas na Estônia, apesar de ter recebido renovação da autorização pela Comissão Européia para todo o continente, em 20 de dezembro do ano passado. Anunciou a Lundbeck, detentora da patente, reinício das vendas ainda neste primeiro semestre de 2006 nos países escandinavos e Alemanha, além de 15 outros países (Brasil, inclusive?) muito em breve.
Boas notícias. Mais opções, maior concorrência, menores preços finais. E pelo sim, pelo não, para que possam ir se familiarizando mais com o sertindol, para nós um ainda desconhecido atípico, embora tenha chegado a gozar de popularidade entre os especialistas europeus, particularmente colegas britânicos e mesmo canadenses, sugerimos consulta à pág. 195 de nosso e-book que se mostra ainda bastante atualizada e conta toda a polêmica do licenciamento e retirada que dá uma boa idéia da disputa do mercado norte-americano entre firmas locais e a indústria de pesquisa farmacêutica européia:

http://www.ipub.ufrj.br/FROTA%20LH%20-%20AP%2050%20ANOS.pdf

Atenção - Nota p/ consultas rápidas: Na janela do Adobe, abrir o menu bookmarks na margem lateral esquerda, em seguida abrir o conteúdo do ítem Índice Remissivo, abrir o sub-item "Q, R, S" clicar em Sertindol, o que leva sem demora à página da substância clicada.

2. BIFEPRUNOX adiado (atualização do e-book) - A disponibilização de mais um, mais que bem-vindo, AP atípico agonista parcial D2, conforme divulgado pela Lundbeck, deve demorar mais do que o previsto inicialmente (final de 2006/2007). Assim, o aripiprazol continuará a reinar absoluto, ao que parece ainda por um bom tempo, na nova categoria dos APs "estabilizadores do sistema dopaminérgico" conforme Stephen Stahl se propôs designá-los. Isto porque na qualidade de agonistas parciais atuam como moduladores da função, restaurando-a quando deficiente (na esquizofrenia, na via dopaminérgica mesocortical) e inibindo-a onde excedente (vias mesolímbica e nigro-estriatal), e não induzirem a temida proliferação adaptativa tardia (up-regulation) dos receptores pós-sinápticos (Discinesia Tardia, quando nigro-estriatal pelo uso de neurolépticos, ou Disfrenia Tardia (*) quando mesolímbica pelo uso de neurolépticos, e atípicos de segunda geração com maior potência/fixidez em sua ação pós-sináptica antagonista D2) (v. nosso artigo do JBP)
Assim, ao contrário do que recentemente estimáramos, o licenciamento do bifeprunox na Europa foi adiado para 2008 (somente no ano seguinte, no mínimo talvez, nos USA e por aqui) pela necessidade de completar estudos adicionais Fase III requeridos. Mais detalhes sobre o bifeprunox à pág. 426 do Cap. XVIII. Outros Antipsicóticos do ebook "50 Anos...":

http://www.ipub.ufrj.br/FROTA%20LH%20-%20AP%2050%20ANOS.pdf

. NOTA: para consultas rápidas no meu e-book: Na janela do Adobe, abrir o menu bookmarks na margem lateral esquerda, em seguida abrir o conteúdo do ítem Índice Remissivo, abrir o sub-item "B" clicar em Bifeprunox, p/ ir sem demora à página da substância clicada.
(*) Para saber mais sobre Disfrenia Tardia, consulte o link:

http://www.medicina.ufrj.br/cursos/JBP%202%20COLUNAS%20-%20com%20referencia%20completa%20&%20foto%20-%20AGONISTAS%20PARCIAIS%20NO%20ARMAMENTARIUM.pdf

3. SSR504734 - NOVO AP GLUTAMATÉRGICO - (atualização e-book) - Além do imperativo envolvimento (sintomas positivos) das vias dopaminérgicas centrais D2-like (já sobejamente estabelecido a partir dos estudos iniciais Prêmio Nobel Arvid Carlsson e consubstanciados pelos estudos do mecanismo de ação dos atípicos conhecido como "fast-off", pelo grupo canadense liderado por Phillipe Seeman, de Toronto, que vieram relativizar a importância do bloqueio serotoninérgico 5Ht2) e apenas secundariamente de outras vias, como as dopaminérgicas D1-like, serotoninérgicas, colinérgico-muscarínicas, opióides, canabinóides, etc, a neurotransmissão glutamatérgica através dos receptores ionotrópicos do subtipo NMDA, tem sido vista como importante na sintomatologia negativa e cognitiva esquizofrênica, além de ter papel já comprovado na Doença de Alzheimer. Como destacamos à pág 23 de nosso e-book Cinqüenta Anos de Medicamentos Antipsicóticos em Psiquiatria, novembro de 2003, após tentativas de administração do próprio aminoácido em grandes quantidades na dieta oral de esquizofrênicos, vários Inibidores do Transporte (recaptação) de Glicina tem sido desenvolvidos como novos potenciais antipsicóticos atípicos, com inédito mecanismo de ação, sem catalepsia (o aumento da oferta de glicina, como coagonista obrigatório, estimula a transmissão glutamatérgica via receptores subtipo NMDA). Conforme destacáramos no e-book, pág. 23, seção da clorpromazina:
" (...) Uma linha de pesquisa recente interessante é a que procura relacionar alguns efeitos dos antipsicóticos a sua ação sobre os receptores NMDA (N-metil-D-aspartato), um subtipo de receptor glutamatérgico. O glutamato é o principal aminoácido excitatório do SNC e por esta linha de pesquisa surgiram tentativas de uso da glicina (aminoácido não-essencial potencializador do glutamato endógeno como coagonista obrigatório dos receptores NMDA) no papel de coadjuvante no tratamento da Esquizofrenia, tentativas estas que teriam resultado em redução significativa adicional de sintomas negativos sem agravamento dos positivos (67). (...)", pág. 285, seção da clozapina:
"(...) Resultados promissores com melhoras significativas na sintomatologia negativa, sustentadas mesmo após a suspensão, por outro lado, também foram obtidos na associação de olanzapina ou clozapina à glicina (NEUTROFER®) em altas doses, segundo estudo conduzido por pesquisadores do Programa de Esquizofrenia e Neurociência Cognitiva do Instituto Nathan Kline de Nova Iorque (141, 142). Registre-se que a glicina é um aminoácido que age como agonista nos receptores do tipo NMDA (um dos 3 subtipos de receptores glutamatérgicos do SNC). (...)" ; além de pág. 378, seção risperidona:
"(...) O mesmo pode ser dito da interação favorável observada com a adição de 50mg/d de D-cicloserina (um agonista parcial dos receptores glutamatérgicos ionotrópicos subtipo NMDA do mesmo modo que a glicina e a D-serina) ao tratamento com antipsicóticos com acentuada melhora adicional da sintomatologia negativa, fato inicialmente observado com os neurolépticos (204) e agora confirmado também para olanzapina e risperidona (227).(...)"

http://www.medicina.ufrj.br/cursos/LH%20FROTA%20-%201%20Ed%20-%2050%20ANOS%20DE%20MEDICAMENTOS%20ANTIPSICOTICOS.pdf

Referencias:
(67) - 67. Heresco-Levy U, Javitt DC, Ermilov M, Mordel C, Silito G, Lichtenstein M. Efficacy of high-dose glycine in the treatment of enduring symptoms of schizophrenia. Archives of General Psychiatry 1999; 56(1):29-36.
(141, 142) - 141. Javitt DC. Management of negative symptoms of schizophrenia. Curr Psychiatry Rep 2001 Oct;3(5):413-7. 142. Javitt DC, Silipo G, Cienfuegos A, Shelley AM, Bark N, Park M, Lindenmayer JP, Suckow R, Zukin SR. Adjunctive high-dose glycine in the treatment of schizophrenia. Int J Neuropsychopharmacol 2001 Dec;4(4):385-91. (227) - 227. Heresco-Levy U, Ermilov M, Shimoni J, Shapira B, Silito G, Javitt DC. Placebo-controlled trial of D-cycloserine added to conventional neuroleptics, olanzapine, or risperidone in schizophrenia. Am J Psychiatry 2002 Mar;159(3):480-2.
Para visão geral do tema, ver excelente revisão nacional por Bressan & Pilowsky (UNIFESP/Instituto de Psiquiatria de Londres) publicado na revista da ABP:
Bressan RA, Pilowsky LS. Hipótese Glutamatérgica da Esquizofrenia .
Rev. Bras. Psiquiatr., Sept. 2003, vol.25, no.3, p.177-183.
Disponível no Scielo:

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-44462003000300011&script=sci_arttext&tlng=pt

Desde a década de 80 pelo menos, uma série de compostos com farmacodinãmica vêm sendo desenvolvidos em diferentes centros de pesquisa. Poucos, porém, alcançaram desenvolvimento, com possibilidades licenciamento em nova modalidade de Antipsicóticos Atípicos ou mesmo coadjuvantes aos APs tradicionais. Entre eles, um dos mais promissores, é o composto SSR504734 ( 2-Cloro-N-S-fenil 2S-piperidin-2-il metil]-3-trifluorometil benzamida, monocloridrato), um derivado piperidínico 2-substituído (não citado no e-book; ver fórmula em anexo), obtido por investigadores do Depto. de Sistema Nervoso Central da Divisão de Pesquisas da Sanofi-Synthelabo, com sede em Bagneux, França.
Desde então foram publicados novos papers sobre esta substância (destacamos: Depoortere R et al. Neurochemical, electrophysiological and pharmacological profiles of the selective inhibitor of the glycine transporter-1 SSR504734, a potential new type of antipsychotic. Neuropsychopharmacology 2005 Nov;30(11):1963-85.), e ela foi incluída na ampla revisão dos Antipsicóticos Inibidores do Transportador de Glicina ("Glycine Transporter Inhibitors as Therapeutic Agents for Schizophrenia"), elaborada por Kenji Hashimoto da Divisão de Neurociência Clínica do Centro de Saúde Mental Forense, da Universidade de Chiba, Japão, num paper em vias de publicação no Recent Patents on CNS Drug Discovery.
Embora improvável que venha a ter relevante papel como monoterapia em casos agudos ou subagudos, vale a pena acompanhar o desenvolvimento deste revolucionário grupo de novos potenciais antipsicóticos atípicos.

4. QUETIAPINA E ELEVAÇÃO DA CPK SEM SÍNDROME NEUROLÉPRTICA MALIGNA - No número de janeiro último da Pharmacopsychiatry, são relatados por colegas alemãs, 2 casos de elevações importantes da CPK em pacientes em uso de quetiapina, embora sem Síndrome Neuroléptica Maligna. Para nos dar uma idéia, mais uma vez, de que elevações desta enzima por si só, particularmente quando moderadas (o que não foi o caso destes 2 pacientes), não garantem absolutamente o diagnóstico. Vejam como a questão torna-se complicada na ausência de sinais/sintomas/exames patognomônicos.
Temo que a SNM já tenha se transformado em modismo diagnóstico e além de todas as dificuldades para um diagnóstico seguro, como tão bem colocou Portela com aquela boa sinopse que enviou-nos, é preciso lembrar uma condição freqüente com os APs típicos e durante a neuroleptanalgesia, e por isto bem conhecida dos anestesiologistas, que com a chegada dos atípicos e ênfase simultânea na SNM, encontra-se virtualmente esquecida: a Hipertermia Maligna. Muitas vezes como complicações de acidentes de intermação/insolação, comuns em nosso clima. Lembre-se que os antipsicóticos, por ação hipotalâmica, inibem os mecanismos de termoregulação corporal. Reação que algumas poucas vezes, pode se revelar um pródromo de evntual SNM. Mas nem sempre. Em nosso país, particularmente em nossos cáusticos verões, parece atualmente que foi esquecido que todos os pacientes em uso de APs devem ser advertidos para evitar exposições prolongadas/excessivas ao calor, solar ou ambiental. Pelo sim, pelo não, na dúvida ECT (além de permitir reduzir/suspender com segurança o AP) tratando da psicose, é capaz de reverter dramaticamente a SNM ou pródromos sérios dela.
Klein JP, Fiedler U, Appel H, Quante A, Jockers-Scherubl MC. Massive creatine kinase elevations with quetiapine: report of two cases - a case report - Pharmacopsychiatry 2006 Jan;39(1):39-40.
NOTA: Apenas para lembrar àqueles que tenham se depararado com a expressão "...DSM-IV criteria for NMS..." no texto: Take it for "research criteria" meaning: "(...) severe rigidity and fever accompanied by 2 of 10 minor features including diaphoresis, dysphagia, tremor, incontinence, altered mentation, mutism, tachycardia, elevated or labile blood pressure, leukocytosis and elevation of creatine phosphokinase.(...)"

5. CLOZAPINA & NEUROPLASTICIDADE - (atualização e-book) - Relevante ensaio conduzido por colegas do Sul, Grillo & cols., do Depto. de Bioquímica - ICBS - Porto Alegre e do Depto. de Ciências Biológicas da PUC-RS, financiado pelo CNPq, aprovado e em vias de publicação em periódico internacional de prestígio, veio elucidar melhor as razões responsáveis pela eficácia incomparável da clozapina na Esquizofrenia Refratária. Uma superioridade, aliás, consensual entre os especialistas internacionais, sobejamente estabelecida que foi, não só por vasta experiência clínica acumulada pelo emprego em condições do "mundo real", como pelas várias e rigorosas metanálises dos numerosos ensaios clínicos comparativos controlados internacionais existentes.
Recorde-se aqui que a clozapina apesar de não ser agonista parcial como o aripiprazol, e como antagonista D2 frouxo com seletividade mesolímbica que é, tem sido relacionada às Psicoses de Rebote, quando reduzida/retirada abruptamente, mas não à Refratariedade Secundária Adquirida, observada com outros antipsicóticos antagonistas D2, frouxos (atípicos) ou fixos (típicos) tendo assim, supostamente menor propensão final à Disfrenia Tardia, conforme definida por nós, a julgar por esta utilidade diferencial na Refratariedade em geral. Sempre se perguntou o porquê desta superioridade terapêutica, na expectativa de desenvolvimento de novas substâncias com ações equivalentes e melhor tolerabilidade hematopoiética que ela.
Superioridade sucessivamente atribuída, nem sempre confirmado porém, à sua intensidade do bloqueio D4; a ações glutamatérgicas diretas; ações agonistas parciais colinérgicas centrais em receptores muscarínicos corticais de subtipo M1; além de outras.
Estes autores gaúchos vêm confirmar, porém, significativo aumento na síntese do Fator Neurotrófico Cerebral (BDNF - Brain-Derived Neurotrophic Factor), fator neurotrófico com importante papel na plasticidade do SNC (formação de novas sinapses, diferenciação neuronal, etc) e um efeito não constatado nos pacientes tratados por APs típicos (neurolépticos).
Recorde-se aqui que a Neuropsicanálise, com o perdão do termo pelos puristas, já comprovou com o uso de modernas técnicas de neuroimagem, que os pacientes com melhor resposta à psicoterapia se distinguem dos demais por maior formação de novas sinapses no decurso de tratamento com êxito. Aliás, do mesmo modo que se vê nas transformações obtidas com psicoterapias bem sucedidas, resultados clínicos comportamentais da clozapina surpreendem invariavelmente os clínicos já habituados ao caráter crônico, irreversível e freqüentemente progressivo dos déficits cognitivos e afetivo-volitivos dos esquizofrênicos. Tornando tais pacientes, pela primeira vez, aptos a demandar e se beneficiar de psicoterapias de insight. Destaque-se por fim, a relevância maior por se tratar de amostra inteiramente nacional, uso de controle laboratorial, além da formação de um segundo grupo controle com voluntários sadios. Registre-se e mais uma vez parabéns ao desbravador e profícuo pessoal do Sul: Grillo RW, Ottoni GL, Leke R, Souza DO, Portela LV, Lara DR. Reduced serum BDNF levels in schizophrenic patients on clozapine or typical antipsychotics. Journal of Psychiatric Research xxx (2006) xxx-xxx.

6. SSR181507 (atualização e-book) - Por todas as implicações farmacodinâmicas de médio/longo prazo, principalmente menores riscos de up-regulation dopaminérgica (nigro-estriatal D2-like ou DISCINESIA TARDIA e mesolímbica D2-like ou DISFRENIA TARDIA), há em curso um febril esforço mundial de pesquisa na busca por novos compostos que venham ampliar a recente classe dos antipsicóticos agonistas parciais (ou "agentes moduladores do sistema dopaminérgico" como prefere chama-los Stephen Stahl).
Por enquanto esta nova e revolucionária classe só conta com aripiprazol, embora como já citado por nós aqui, examinem-se outros compostos, com destaque para o bifeprunox, já em fase de ensaios clínicos. Na melhor das hipóteses, porém, conforme as últimas notícias, só teremos disponibilização clínica de novos destes fármacos por volta de 2007/2008.
Aliás, para dar idéia das dificuldades no desenvolvimento de novos medicamentos, isto é, até que atinjam uma plena comercialização, estima-se que de cada grupo de 10.000 novas sínteses que são continuamente obtidas pela Indústria (em geral obtidas em série), apenas 1 chega a alcançar licenciamento e comercialização como medicamento! Isto porque necessita preencher inúmeros e variados requisitos como: estabilidade química do composto mãe/matéria prima e preparados, viabilidade dos custos de síntese, viabilidade farmacocinética e efetividade farmacodinâmica, eficácia satisfatória, tolerabilidade em inúmeros parâmetros como potencial carcinogenicidade, mutagenicidade, disembriogênese, fotoreatividade, alernogênese, arritmogenicidade, discrasias, etc, etc, etc, indo até custos finais de comercialização/viabilidade comercial, além de um mais ou menos imprevisível grau de aceitação social por parte de profissionais e usuários dos serviços de saúde.
Além disso, não é muito fácil, no caso de novos APs atípicos desenvolver um agonista parcial dentro da faixa ótima de agonismo a ser alcançada, definida em termos de % da ação agonista do neurotransmissor endógeno, no nosso caso dopamina. Embora não se tenha ainda como estimá-la precisamente, esta percentagem de agonismo não deve/não pode ser muito alta, sob risco de não se demonstrar suficientes propriedades antipsicóticas na aguda sintomatologia positiva esquizofrênica, ou até mesmo, de poder até mesmo piorá-la. Estima-se, assim, a faixa ideal de agonismo dopaminérgico para um AP, em torno de 10 a 20%, no máximo 30% do efeito da dopamina, faixa em que felizmente situar-se-iam seguramente, tanto aripiprazol (15%) quanto o bifeprunox.
Além dos dois, agora veio se juntar a eles um terceiro composto, que embora introduzido em 2002 somente este mês teria finalmente confirmada sua condição de agonista dopaminérgico parcial D2L além de agonista serotoninérgico parcial 5-Ht1A. Trata-se do composto SSR181507, um dos poucos compostos recentes não foi mencionado em nosso ebook, de 2003. Conta com bibliografia muito escassa e ainda não figurou nos bancos de dados internacionais especializados. Por isto, com satisfação, antecipo aqui pra nossa querida Lista Brasileira de Psiquiatria alguns de seus dados em primeira mão. Trata-se de síntese obtida nos laboratórios da Sanofi-Synthelabo na França, mas um composto ainda não ensaiado na clínica. Embora tenha satisfeito até aqui todos os paradigmas laboratoriais clássicos definidores de um novo potencial antipsicótico atípico, não sabemos ainda se logrará atender todos os requisitos para iniciar experimentação nos seres humanos na clínica. Como vimos, requisitos numerosos, embora não custe menciona-lo aqui para que, doravante, possamos melhor acompanhar seu eventual desenvolvimento, através da literatura.

7. DIABETES E GANHO PONDERAL COM ATÍPICOS - Ùltimas evidências (não singulares ?) em reforço a nossa proposta de protocolo para escolha do antipsicótico atípico, ainda válida

http://www.medicina.ufrj.br/cursos/JBP%20-%20PROPOSTA%20DE%20PROTOCOLO%20PARA%20A%20ESCOLHA%20DO%20ATIPICO.pdf :

1. Lambert MT, Copeland LA, Sampson N, Duffy SA. New-onset type-2 diabetes associated with atypical antipsychotic medications. Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry. 2006 Mar 30; [Epub ahead of print]: This study compared the one-year incidence of new-onset type-2 diabetes mellitus (DM) and changes in weight in patients with a variety of psychiatric diagnoses prescribed olanzapine, risperidone, or quetiapine, compared to a reference group receiving haloperidol and no other antipsychotic medication. RESEARCH DESIGN AND METHODS: Data was abstracted from charts of subjects newly initiated and then maintained for one year on olanzapine (n=112), risperidone (n=100), quetiapine (n=100), and haloperidol (n=100). Baseline and one-year DM status, height, and weight were collected, as well as concurrent psychotropic medications, medical and psychiatric comorbidities. FINDINGS: Using a multivariate model, logistic regression identified a significant association between olanzapine (but not other atypical agents) and the development of diabetes compared to haloperidol over the one-year period (odds ratio 8.4, 95% CI 1.8-38.7). Baseline obesity was independently associated with new-onset DM, but only marginally greater weight gain was found among olanzapine users. CONCLUSIONS: The middle-aged American veterans in this study cohort were highly vulnerable to the diabetogenic effects of olanzapine, but a close correlation with weight change was not found. Patients administered olanzapine should receive careful laboratory monitoring for elevated plasma glucose in addition to weight measurement.

2. Gentile S. Long-term treatment with atypical antipsychotics and the risk of weight gain : a literature analysis. Drug Saf. 2006;29(4):303-19: The aim of this review is to analyse and summarise the literature data about the incidence of weight gain in patients exposed to atypical antipsychotics during long-term (>/=1 year) treatment regimens. Despite the clinical relevance of the topic, the vast majority of reviewed studies showed methodological limitations. Some trials had retrospective analysis, and concomitant medications also associated with an increased risk of weight gain, such as antidepressants and mood stabilisers, were often prescribed. Results were obtained from clinical trials conducted using flexible dosages; thus, the relationship between dosage and weight change was not explored adequately. Also, in a large number of studies, the average antipsychotic daily dose was lower than the usual dosage in clinical practice. Moreover, weight gain was evaluated by different measures, such as mean weight gain in the enrolled population, percentage of patients who gained >7% of basal weight or body mass index (BMI) variations from baseline. In short-term studies, a definite rank order of weight-gain potential among atypical antipsychotics has been demonstrated: clozapine is related to the highest risk of weight gain, followed in decreasing order of magnitude by olanzapine, quetiapine, risperidone, amisulpride, aripiprazole and ziprasidone. However, in long-term studies, except for clozapine at one end of the scale and ziprasidone at the other, the differences in weight-gain liability showed by the other atypical antipsychotics became less intense. Differences between short-term and long-term treatment could be due to a complex overlapping of different factors, both drug-specific (relative receptorial affinity; timing of weight change plateau; and drug-specific/dose-dependent weight gain), and patient-specific (genetic vulnerability; sex; age; BMI; weight before starting antipsychotic treatment; type of psychiatric disorder; and individual lifestyle). There is an urgent need for well designed, randomised controlled trials to assess firmly both the differential effects of atypical antipsychotics on weight and the role of other factors in contributing to iatrogenic unwanted weight changes. Meanwhile, the well known benefits shown by some atypical antipsychotics in reducing akathisia and other extrapyramidal adverse effects and improving cognition should be carefully balanced with the problems of weight gain, other metabolic complications and higher healthcare costs.

8. ILOPERIDONA, DÉPÔT MENSAL - (atualização e-book) - Prossegue o desenvolvimento/licenciamento de adicionais APs atípicos na acirrada disputa pelo lucrativo mercado dos novos antipsicóticos. Finalmente em vias de obtenção de NDA (New Drug Application) da FDA, mais próximo de iniciar eventual comercialização mais um antagonista misto D2/5Ht2A: Iloperidona. A novidade é que virá em preparação injetável de depósito (para aplicações mensais), além da oral convencional (sal sódico) num desenvolvimento presentemente liderado pela Vanda Pharmaceuticals Inc. com a Titan Pharmaceuticals. Trata-se de atípico do grupo dos Benzisoxazóis (Cap. XV do e-book: abaperidona, iloperidona, neflumazida, ocaperidona, risperidona,) que já cumpriu vários ensaios clínicos multicêntricos internacionais, inclusive com participação do Instituto de Psiquiatria - IPUB/UFRJ em ensaio conduzida por Versiani & cols, em 1998.

http://www.ipub.ufrj.br/FROTA%20LH%20-%20AP%2050%20ANOS.pdf

A substância é síntese obtida pela Hoescht-Marion Roussel ainda na década de 90, antes de sua fusão com a histórica Rhône-Poulanc para formação da Aventis em dezembro de 1998.
A iloperidona foi examinada no e-book (v. pág 353) quando ainda em desenvolvimento pelo consórcio Novartis/Titan Pharmaceuticals. A Novartis, que como chamamos a atenção no livro, já vinha relutante em prosseguir seu desenvolvimento pelo montante de recursos previstos, resolveu em operação milionária repassar direitos para a Vanda, em 2004. O nome-fantasia do novo atípico deverá ser de ZOMARIL®. Outra novidade porém é que a Vanda vem desenvolvendo paralelamente (Fase III) um kit diagnóstico para identificação dos portadores de um determinado (??) polimorfismo genético (presente em 70%dos esquizofrênicos!) que teria a capacidade de antecipar boa resposta clínica à iloperidona (sic). A tal análise farmacogenética vem sendo empregada pela Vanda nos ensaios clínicos com aprovação da FDA. Mais relevante, porém, seria lembrar que a iloperidona tem perfil de tolerabilidade metabólica/ponderal superior, equivalente ao da ziprasidona (GEODON®, derivado Benzisotiazólico, Cap. XVI) mas a ela se equivaleria também no risco de prolongamento do intervalo QTc no ECG (em ambas, porém, inferior ao da tioridazina - MELLERIL®).
Deverá assim este novo atípico estabelecer concorrência direta com ziprasidona, com eventual vantagem de disponibilizar, caso se logre licenciamento, o primeiro preparado dépôt com atípico para aplicações mensais (o único dépôt de atípico disponível, risperidona - RISPERDAL CONSTA®, exige aplicação quinzenal). Não se esqueçam porém, que a iloperidona não é agonista parcial, carregando as potenciais desvantagens de um antagonista dopaminérgico mesolímbico seletivo, como Disfrenia Tardia, por exemplo:

http://www.medicina.ufrj.br/cursos/JBP%202%20COLUNAS%20-%20com%20referencia%20completa%20&%20foto%20-%20AGONISTAS%20PARCIAIS%20NO%20ARMAMENTARIUM.pdf

Resta-nos saber, também, como terminará a habitual novela dos custos finais que tanto têm limitado o acesso da população, em grande escala, aos novos recursos terapêuticos. Acompanhemos, pois.

9. DISFRENIA TARDIA & POLIMORFISMOS GENÉTICOS - Voltando à Disfrenia Tardia (1), como o paper de Erderly, Tamminga & cols (2), que trata da proteína RGS4 e up-regulation dos receptores dopaminérgicos D2 só deve sair na edição de junho próximo do Synapse, seguindo-se à contribuição brasileira de Cordeiro Q Jr e cols. que já mencionamos (3), neste meio-tempo gostaria de indicar aos interessados, leitura de um outro relevante e didático artigo australiano (abstract ao final) que trata especificamente do polimorfismo sinônimo do gem DRD2 (responsável pela formação e up-regulation destes receptores!), polimorfismo conhecido como C967T. Como relata o artigo, comprova-se contra controle de não-esquizofrênicos, que sua presença na forma do alelo C/C (três possíveis alelos: C/C, CT e TT), envolveria um maior risco para Esquizofrenia (cerca de 4x mais que não-portadores), pelo menos nos australianos caucasianos do Nordeste do país. Refiro-me ao artigo de investigadores liderados por Bruce Lawford, da Divisão de Saúde Mental do Royal Brisbane and Women's Hospital e Universidade Queensland, que acaba de sair no Schizophrenia Research (4).
A presença do alelo C/C (cerca de 20% na população geral e em mais de 40% entre esquizofrênicos da região), embora não altere a configuração dos aminoácidos da estrutura da proteína correspondente -por esta razão classificado entre os polimorfismos sinônimos-comprovadamente facilitaria a formação (up-regulation) dos receptores D2.
Como se sabe, do mesmo modo que a Discinesia Tardia por neurolépticos, a Disfrenia Tardia pelos atípicos de segunda geração, acomete apenas uma parcela predisposta dos esquizofrênicos tratados. Parcela significativa, embora nunca sua totalidade. A busca por fatores preditivos que nos permitam maior cuidado profilático na prescrição, envolveria possíveis polimorfismos genéticos predisponentes, como menciono em meu artigo.
Conclusão: Taí mais que interessante estudo a ser replicado por Quirino Cordeiro Jr. e colaboradores com sub-amostras etnicamente uniformes dos esquizofrênicos brasileiros! Fica aqui nossa sugestão!
-Teriam nossos esquizofrênicos portadores do alelo C/C do C957T maior propensão à Discinesia com neurolépticos e/ou propensão à Refratariedade Secundária Adquirida/Disfrenia Tardia com atípicos? Fica nossa indagação...
Abs,
Leopoldo.

(1) Frota LH. Agonistas Parciais no Armamentarium da Esquizofrenia. Disfrenia Tardia: O Desafio da Vez para os Antipsicóticos Atípicos de Última Geração? J Bras Psiquiatr 2003, vol 52,suppl 1:14-24. Full text (Portuguese):

http://www.medicina.ufrj.br/cursos/JBP%202%20COLUNAS%20-%20com%20referencia%20completa%20&%20foto%20-%20AGONISTAS%20PARCIAIS%20NO%20ARMAMENTARIUM.pdf

(2) Erdely HA, Tamminga CA, Roberts RC, Vogel MW. Regional alterations in RGS4 protein in schizophrenia. Synapse. 2006 Jun 15;59(8):472-9. PMID: 16565965 [PubMed - in process]
(3) ……………………………….desconsiderar!
(3) Cordeiro Q, Talkowski ME, Chowdari KV, Wood J, Nimgaonkar V, Vallada H. Association and linkage analysis of RGS4 polymorphisms with schizophrenia and bipolar disorder in Brazil. Genes Brain Behav.
2005;4(1):45-50.
(4) Lawford BR, Young RM, Swagell CD, Barnes M, Burton SC, Ward WK, Heslop KR, Shadforth S, van Daal A, Morris CP. The C/C genotype of the C957T polymorphism of the dopamine D2 receptor is associated with schizophrenia.Schizophr Res. 2005 Feb 1;73(1):31-7.

ATUALIZE-SE.

1. O mais completo trabalho sobre antipsicóticos de autoria do prof. Leooldo Hugo Frota:

CINQÜENTA ANOS DE MEDICAMENTOS ANTIPSICÓTICOS EM PSIQUIATRIA:

http://www.medicina.ufrj.br/cursos/LH%20FROTA%20-%201%20Ed%20 %2050%20ANOS%20DE%20MEDICAMENTOS%20ANTIPSICOTICOS.pdf

ou

http://www.ipub.ufrj.br/FROTA%20LH%20-%20AP%2050%20ANOS.pdf

2. Tudo sobre a Disfrenia Tardia pelo seu descobridor original, prof. Leopoldo Hugo Frota:

http://www.medicina.ufrj.br/cursos/JBP%202%20COLUNAS%20-%20com%20refer%EAncia%20completa%20&%20foto%20 %20AGONISTAS%20PARCIAIS%20NO%20ARMAMENTARIUM.pdf

3. Protocolo para Escolha do Antipsicótico Atípico, de autoria do prof. Leopoldo Hugo Frota:

http://www.medicina.ufrj.br/cursos/JBP%20-%20PROPOSTA%20DE%20PROTOCOLO%20PARA%20A%20ESCOLHA%20DO%20ATIPICO.pdf

NOTICIÁRIO

O Serviço de Saúde do Canadá informa que grávidas fazendo uso de antidepressivos ISRSs estão sob risco de provocar hipertensão pulmonar em seus bebês. Estes ADs incluem bupropiona, citalopram, escitalopram, fluoxetina, fluvoxamina, mirtazapina, paroxetina, sertralina e venlafaxina. Um artigo recentemente publicado no New England Journal of Medicine sugeriu que o uso de ISRSs durante a segunda metade da gravidez pode estar associado a hipertensão pulmonar persistente no recém-nascido. Esta condição rara ameaça a vida dos bebês se não receberem bastante oxigênio e terapia intensiva. De acordo com o estudo, recém-nascidos expostos aos ISRSs têm seis vezes mais chance de desenvolver esta condição que recém-nascidos saudáveis. Estes estudos, contudo, são ainda preliminares. Entretanto, os muitos relatos de complicações ao nascer em bebês expostos aos ISRSs vêm recebendo cada vez mais atenção e é necessários que os médicos estejam atentos à este risco.

OPINIÃO

"Muitas vezes penso que a articulação humana em grandes estruturas é obra de verdadeiro milagre. Ou então, decorre da intensa necessidade que todos temos de nos sentirmos integrados, perto daqueles que pensam mais próximo do que pensamos. Cada um tem um mundo dentro de si e a articulação de tantos mundos parece quase impossível.
E mais: acho incrível que o Homem, sabendo da importância que tem o afeto para a manutenção da estrutura interna e da estrutura grande, social, tem tanta dificuldade para reconhecer a necessidade deste afeto no outro. Cada um sabe como é importante a empatia, o cuidado, o carinho, a bronca amiga, etc quando é o centro destas atenções. Mas quando é o outro, aí fica muito difícil.
Por isso penso que [uma] crise é um autêntico curto circuito que numa reação em cadeia vai incendiando o que está mais próximo. Até certo ponto da crise consigo suportá-la supondo como um dos sinais de nossa irracionalidade e descontrole humanos. Depois de certo ponto penso que o melhor é calar e esperar serenarem os ânimos. Porque nesta hora de desatino, sair atirando a esmo, tomando partido de um lado, fazendo conchavos, etc somente leva a uma fragmentação cada vez maior. Colar os cacos depois pode ser muito difícil.
[...]
Vamos aprender conosco mesmo! Temos de transformar a crise em experiência para sermos melhores do que temos sido." (Jose de Matos)


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