Volume 10 - 2005
Editor: Giovanni Torello

 

Dezembro de 2005 - Vol.10 - Nº 12

France - Brasil- Psy

SOMMAIRE (SUMÁRIO)

Docteur Eliezer DE HOLLANDA CORDEIRO

Sumário:

 

  1. A menina Coumba, seus antepassados e seus sintomas - Olivier Douville (psicanalista). Primeira parte. - Tradutor : Eliezer de Hollanda Cordeiro
  2. Reuniões e colóquios
  3. Livros recentes
  4. Revistas
  5. Associações
  6. Seleção de sites

QUI SOMMES- NOUS (Quem somos)

QUEM SOMOS ?

France-Brasil-PSY é o novo espaço virtual de “psychiatry on line” oferecido aos profissionais do setor da saude mental de expressão lusofona e portuguesa.Assim, os leitores poderão doravante nela encontrar traduções e artigos em francês e em português abrangendo a psiquiatria, a psicologia e a psicanálise. Sem esquecer as rubricas habituais : reuniões e colóquios, livros recentes, lista de revistas e de associações, seleção de sites.

QUI SOMMES- NOUS ?

France-Brasil-PSY est le nouvel espace virtuel de “psychiatry on line” offert aux professionnels du secteur de la santé mentale d'expression lusophone et française.Ainsi, les lecteurs pourront désormais y trouver des traductions et des articles en français et en portugais concernant la psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse. Sans oublier les rubriques habituelles : réunions et colloques, livres récentes, liste de révues et d'associations, sélection de sites.


Apresentação do autor e do trabalho traduzido

Nesta edição de Dezembro, apresentamos uma importante trabalho de Olivier Douville, Psicanalista francês, Mestre de conferência, Diretor de publicação da revista Psicologia Clinica, especialista de questões ligadas aos domínios e às relações entre antropologia e psicanálise, psicanálise e medicina, clínicas do exílio e da vagabundagem.

Neste artigo que tivemos o privilégio de traduzir ( A menina Coumba, sua história e seus antepassados), numa brilhante narração da psicoterapia de uma menina africana apresentando importantes problemas de adaptação numa escola francesa ,Olivier Douville tenta responder a um certo número de questões que explicam e desvendam a significação desses problemas. Assim fazendo, o autor denuncia a atitude habitual dos « psis » consultados consistindo em explicar as dificuldades da adaptação da criança à escola em termos de um «diferença cultural" situada entre a mensagem do sujeito e os próprios códigos das pessoas e das instituições que ocupam-se dela.

Desta forma, as dificuldades de Coumba, sua posição retraída, sua postura confirmariam uma posição subjetiva da criança, poderiam derivar de um desmoronamento de aspecto depressivo, resultariam de um ensimesmamento « autístico », seriam o resultado de um défice, de uma recusa às contingências adaptativas ?

Vastas questões que o autor trata com muita pertinência, tanto mais que sua experiência de encarregado de missões em paises africanos dão-lhe uma autoridade indiscutivel para afrontar e propor uma visão peculiar das confluências entre as expressões psicopatológicas e seus enraizamentos culturais. O que nos conduz a evocar o relativismo etnológico ao insistir sobre a diferença de cultura e de valores das sociedades, que não devem ser julgados em função dos nossos. Neste sentido, o relativismo recusa a idéia da existência de valores universais.

Eliezer de Hollanda Cordeiro

 

1. A MENINA COUMBA, SEUS ANTEPASSADOS E SEUS SINTOMAS

Olivier Douville (psicanalista, Paris).

Tradutor : Eliezer de HOLLANDA CORDEIRO

Preâmbulo

Importantes dificuldades de adaptação escolar manifestadas por certas crianças africanas (que podem ter sofrido grandes traumas consecutivos às violências guerreiras e políticas) fazem delas sujeitos frequentemente observados e enviados a diversos consultantes " psy." pelos institutores e psicólogos escolares. A procura de uma causalidade cultural e de uma interpretação mecanicista que explicassem as dificuldades da adaptação da criança à escola em termos de um « diferença cultural" situada entre a mensagem do sujeito e os próprios códigos das pessoas e das instituições que ocupam-se dela podem tornar-se objeto de uma busca obstinada.

Esta posição de retiro, talvez de postura, confirmaria uma posição subjetiva da criança ou derivaria de um desmoronamento de aspecto depressivo, ou mesmo de um ensimesmamento de tipo « autístico » ? Ninguém sabe a priori se ela tira sua força obstinada da súbita manifestação de um défice, se ela exprime uma recusa determinada de curvar-se às contingências adaptativas ou se, enfim, ela resume a expressão ambivalente de uma inocência astuta que se exprimisse por uma atitude de encolhimento e de hiperemotividade. Ela indica ainda uma situação trans-individual que se referiria a certas significações comuns à áreas culturais longinquas, no sentido que ela seria identificável pela força de um modelo [2] cultural bastante estereotipado da Africa do Oeste até o norte dos Camarões e que eu detalherei mais adiante. Resumo aqui momentos em que a criança «é frequentemente descrita e mesmo apresentada pela familia e os que ocupam-se dela como um ser a parte. Há inquietação e mesmo algo fantástico numa tal situação, que designa frequentemente a criança pelo termo impressionante : " criança -antepassada "

PRIMEIRA TENTATIVA DE DEFINIÇÃO:OS LUGARES DA MÃE

A propósito desse retraimento da criança, e seria bom precisar-se o que ele tem de realmente africano (o que eu duvido), teorias particulares a certas culturas africanas imprimem uma maneira de ver observada na maioria dos membros de uma mesma cultura [2], que é pois o da criança-antepassada. Esta última alfinetada parece mudar todo o exotismo e toda a solenidade das costumeiras e antigas nosologias. Aquelas diante das quais nos inclinamos, por falta de compreendê-las e situá-las. Ora, uma tal menção, « criança-antepassada », é facilmente empregada nas consultas ditas etnopsiquiátricas que realçam todo o pitoresco de certos dispositivos de cuidados instalados para os migrantes e suas crianças ; ela é contudo longe de reproduzir aqui uma simples e não encetada ressurgência das costumeiras categorias nosológicas que ela lembra.

Um tal termo possue mais de uma variação e mais de uma declinação. O termo « criança-antepassada » entrou há pouco tempo na memória da antropologia da saúde e da psicologia intercultural do desenvolvimento, ele tem pois uma história que pode ser resumida. Tudo começou no Sénégal ao fim dos anos de 1960. Clínicos e psicanalistas eram capazes de conduzir relações fecundas, em Dakar, no sentido desejado pelo médico psiquiatra da seção de psiquiatria do Hospital de Fann, o Professor H. Collomb. Por um lado Collomb era um dos pioneiros da etnopsiquiatria fundamental, a de G. Devereux, disciplina na época em pleno desenvolvimento e hoje em completa regressão intelectual e, por outro lado, ele era um profundo conhecedor dos dispositivos de tratamentos ligados aos avanços da psiquiatria comunitária. Seu percurso lembra o de Frantz Fanon na Argélia e na Tunisia (Cherki, A., 2000). Convencido de que as culturas tradicionais africanas souberam elaborar concepções da doença mental integrada nas ordens cósmicas e nos estratos do social, ele defendia o reconhecimento da dimensão social da « doença mental ». (Collomb, 1979, 1985)

A obra de Collomb é a de um construtor institucional e de um infatigavel pesquisador. O seu maior êxito - eu entendo assim uma tática ao mesmo tempo que uma construção de problématicas- foi a de reunir em torno dele um verdadeiro laboratório transdisciplinar que permitisse pensar o enigma da loucura com e contra todo modelo estritamente médico. A Dakar dos anos 60 e 70 era já uma metrópole em plena fase de mutações. Os simbólicos atemporais e as dívidas costumeiras estavam longe de regular a totalidade dos laços sociais e das construções psíquicas dos Africanos vivendo nessa grande cidade. Assim os adolescentes que consultavam ou que eram enviados para consultar em Dakar apresentavam sintomas inéditos ou inquietavam por maneiras de agir que nunca se deixariam traduzir segundo os termos dos costumeiros modelos de maus procedimentos. Abramos, por exemplo, o clássico livro des Ortigues " Edipo africano " e veremos que ele abunda de uma clínica do adolescente que em vão encontraríamos nas definições das nosologias tradicionais. Paragrafo traduzido. Trata-se exatamente de uma clínica sobre os efeitos dos desraizamentos e das transplantações rápidas que o serviço de psiquiatria, os que tratam e seus sábios enfrentavam. Destacavam-se então as ditas psicoses puerperais, que de psicose só tinha o nome (Douville, 1996 ; Douville et Galap, 1999).

Jovens mães apresentavam um onirismo alucinado, tanto mais que nenhum ritual para acolher o recém nascido no mundo existia para significar-lhes como atoras e passadoras de filiações.A figura recíproca e embutida da criança que não dá lugar à mãe e da mãe que não dá lugar à criança ressoava com pavor. Uma mãe face à sua criança, aterrorizada ou indiferente de maneira penosa e perdida. Uma criança apenas nascida e já em qualquer parte num mundo ainda não humano, nos limbos onde os velhos fazem caretas e onde os antepassados redobram de ferocidade : foi num tal contexto que A. Zempleni e J. Rabain evocaram e depois descreveram a situação da criança-antepassada (chamada mais comumente segundo os termos Wolof a criança "Nit ku bon"). Paragrafo traduzido.

Precisemos as definições. A figura da "criança que parte e que volta " é, em 1968, uma pedra angular da tese de A. Zempleni. A descrição precisa é clinicamente heterogênea. Nela encontramos disarmonias, sem nenhuma dúvida casos de autismo, de fobias arcaicas. Se consideramos as estratégias terapêuticas, sem dúvida todas tradicionais, das quais essas crianças são os objetos, uma grande diversidade dos saberes e das técnicas saltam aos olhos. O trabalho de Zempleni é apaixonante, ele mostra não o que é uma" criança-antepassasda " mas sobretudo o que libera como possiveis estratégias de cuidados individuais e coletivos o habitual estabelecimento de um diagnóstico de criança-antepassada. Nem mesmo parece que o termo de diagnóstico seja tão justificado. Qualificar uma criança dessa maneira é no fundo a primeira etapa, a que permite o emprego de ritualismos, mas isto não é constante nas diversas consultas tradicionais. Este vocábulo designa o que, desde a mais tenra idade, é absorvido numa forma de conversação obstinada com o mundo dos predecessores ao ponto que supõe-se que o ancestral fale de novo pelo menino. Este último seria seus partenários privilegiados, que se encarregam às vezes de voltar por meio dele para se manifestar aos vivos. As vezes nota-se que essas crianças procuram juntar-se em grupos, formando sub-grupos minoritários, mas é necessário ajuntar-se imediatamente que tais unidades retraidas não foram ainda objeto de observação específica e que elas visam produzir a representação de uma classe da mesma idade rebelde ou justa, indiferente aos processos habituais de aprendizado, ou mesmo de iniciação.A teoria " africana " assim exposta e simplificada -o que Tobie Nathan fez também desde a abertura do livro coletivo. L'Enfant ancêtre (3) define a criança-antepassada, não através do modelo de um défice mas atribuindo-lhe qualidades psíquicas especiais. Todavia, o que o etnopsiquiatra não salienta e que me foi frequentemente confirmado no Senegal ou na Guiné é o fato que teme-se que uma tal criança venha a morrer facilmente e de maneira inexplicável, sem que fosse possivel observar-se sinais precursores nítidos dessa morte. O antropólogo A. Zempleni havia, há muito tempo, feito esta constatação, à qual voltaremos. Já devemos admitir que a exportação da categoria de criança-antepassada ao dominio da psicopatologia das famílias e das crianças aparenta-se aqui na França como algo muito diicil de ser realizado, muito pouco justificado.

Por interessante que seja o dado antropológico e por necessário também que seja lembrar que a designação de um diagnóstico supõe interações e as vezes negociações entre sistemas de representações naturais e alógenos (Douville et Galap, 1999), o fato verdadeiro é que a criança-antepassada, ao mesmo tempo em que ela possue um certo número de traços comuns de uma cultura africana a outra,(notadamente distúrbios do sono, ensimesmamento e a não omada de conta do jovem pelos sistemas educativos e/ou iniciáticos), isto não impede a referência às cadeias associativas e aos diversos campos semânticos. Mais ainda, este termo não designa somente uma criança viva colocando um certo número de problemas sanitários e educativos aos pais e a tudo o que o rodeia. Com efeito, a denominação criança-antepassada (que é mais do que uma síndrome no sentido que ela designa também a atitude coletiva que o grupo deve observar com relação a tais crianças) pode ser igualmente um argumento explictivo póstumo. Este termo pode assim significar situações da infância e destinos da linhagem bastante diversos. Entre a criança que se apresenta como o pai de seus pais e a criança que morre e volta, existe mais do que uma matiz, há toda a espessura de uma fossa metafísica.O aspecto fúnebre desta denominação (que transcende e torna derrisório toda redução a uma síndrome e comportamento) é especialmente destacado no muito bonito texto de H. Collomb, publicado em 1974, " A criança Dji " (outro nome dado à criança que parte e volta). Nele é designada a relação particular à morte das crianças (e, por isto, à criança morta) nas mães senegalesas que perderam sucessivamente filhos. A teoria consoladora reduzia esta sucessão de mortes à presença de uma mesma criança que ia e voltava entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos. Neste mesmo sentido, N. Amani, professor de medicina e psiquiatria na Costa de Marfin utilisa a espressão" Criaça Houphouët " para designar aquele que morre e que volta. As culturas estudadas são aqui as culturas tradicionais marfinianas Baoulé e Akan.

Ao manusear os escritos dos psiquiatras ou dos psicólogos, porque atualmente poucos etnólogos estudam esta questão, encontramos uma verdadeira dispersão terminológica e semântica da noção de criança-antepassada:a cada um sua criança-antepassada !seríamos tentados a dizer. Amani, ainda, nota muito depressa que os Serer do Senegal, utilisam também o termo Da Paxer.

" Da Paxer ", " Nit ku Bon ", " Dji " : os vocábulos sucedem-se uns aos outros, as terminologias costeiam-se. Nenhuma análise linguística aprofundada foi tentada, pelo menos segundo o que sei. Este modelo hipertrofiou-se. Podemos mesmo notar, em T. Nathan, num efeito de generalisação vertiginoso, caos de crianças kabilas descritas como crianças-antepassadas [4].

Chegado a um tal ponto de generalização onde tudo se estafa à força de se equivaler, a categoria considerada se desmembra e se redistribue em dois planos :

- ou a tautologia segundo a qual é criança antepassada toda criança de quem se possa afirmar que ela é " pai de seus pais ".

- ou uma análise fina, mas ainda estritamente antropológica dos ritos costumeiros a que tem direito uma mãe que teve a infelicidade de perder várias crianças sucessivamente, o caçula sobrevivente tendo então a " reputação " evidentemente metafórica de encarnar as crianças amadas e perdidas. Estas pesquisas antropológicas sobre os rituais de reparação (Eschliman, 1982, Lalleman, 1993) são utilisadas sem grande prudência pelos psiquiatras e psicólogos africanos que tentam ainda falar de criança antepassada. Paragrafo traduzido.

Tanto num caso como no outro a coerência sindrômica se reduz a tal ponto que pode se limitar a uma definição muito vaga e demasiadamente imprecisa, mas pelo menos exata e prudente que tentaremos delimitar.

Resumamos.As racionalidades tradicionais centram-se na maneira como uma familia acolhe seu filho, onde um laço social acolhe as crianças e seus pais. Mais ainda, é necessário imaginar-se a maneira como todo recém-nascido acolhe e adota o Mundo. Este cruzamento entre dois atos de adoção figurados por rituais pode não se realizar, a criança recusando ser colocada por exemplo no Mundo. O mundo incapaz de protegê-la contra os sortilégios, eis um outro exemplo. Então este " buraco ", esta falha da atuação de um terceiro estabelecendo uma passarela entre a mãe, a criança e a morte, torna-se objeto de uma nominação. O recém-nascido, ou a criança já crescida (e seria necessário melhor compreender as idades e os tempos desta nominação, o início do trabalho prealável a este ato de nominação) é designado como criança antepassada. Esta operação é frequentemente o prelúdio à encenação de ritualismos que atribuem determinações à força e à generosidade do poder adotante. E o que se passa no ritual Kagan descrito por Eschliman onde uma " velha " falaou a uma criança, escarificou-a discretamente e depois fez de conta que ia brutalizá-la, ameaçando-a de morte, dizendo-lhe logo após esta encenação que iari aa vendê-la a uma outra mulher que vai comprá-la para reconduzi-la, enfim, à casa da mãe. Outros ritos consistem em isolar de maneira transitória a criança e a « enviá-la em algum lugar, ", outros ainda, a atibuir à criança un número importante de " madrastas tutelares " que fazem de conta de insultá-la e de zombar dela para conjurar o máu olhado. A enumeração seria muito longa sem razão convincente. Ela comportaria de manaira desordenada gestos prescritos e vocábulos, diferentes segundo os campos culturais e que se referem aos universos semânticos que se pode dificilmente revirar uns nos outros.Vê-se que um efeito de aceleração bastante arriscado vai positivar esta noção , que é somente na maior parte do tempo, uma palavra-mala , no sentido de uma diagnóstico aplicável a numerosas crianças de famílias oriundas na grande maioria de diversos paises africanos, de diversos povos do continente, os quais estão longe de dar a mesma acepção a esta noção, ou o mesmo lugar central .

Ouso entretanto propor uma leitura sobre este assunto. A criança antepassada é bem uma obscura prática que designa:

- particularidades psicológicas e físicas muito heterogêneas (indo de signos de autismo à fobia precoce);

- uma relação precisa entra a presença do recém-chegado que é a criança e a do último partido que é o último morto da família. Encontramos aí um fundo de teoria de racionalidade tradicional que fecha o tempo da geração que começa com o das gerações precedentes, (este axioma corresponde a uma lógica que suspende o tempo e divide disposição dos parâmetros e das linhagens (Lutz-Fuchs D, 1994), que não convém abordar com um excesso de imaginário relacionado com modelos próprios ao fantástico" gótico" europeu ;

- uma repartição do grupo que, pelo prisma da criança, tente endereçar-se como se fosse um sacrifício de reconciliação ao antepassado, quem sabe mal honrado que retornou. O grupo ao codificar os mundos aos quais pertence a criança, designa de novo as operações de passagem entre morte e vida, entre mátrio e familia, depois entre familia e linhagens, enfim entre linhagens e sociedade.

- uma teoria consoladora nos processos de luto em que existe uma sucessão de mortes de crianças. Naturalmente a maneira com que cada mãe adota e faz de suas teorias o material para a construção de um trabalho de luto é longe de ser idêntica de uma mulher a outra, mesmo se elas são da mesma cultura, do mesmo lugarejo, da mesma família etc. É necessário, onde quer que seja, separar-se o pattern cultural da causalidade psíquica, a menos de voltarmos às práticas de influência e de sugestões mortíferas.Dâmo-nos facilmente conta que o benefício dessa teoria que faz das crianças mortas uma imagem recorrente da criança reaparecida, quebra a relação dual mãe-criança, interpondo entre ela e eles o terceiro antepassado.

Instruimo-nos com a prodigiosa habilidade das culturas africanas a empregar a ausência e o símbolo desde as primeiras relações da criança, e tornâmo-nos conscientes das maneiras como estabelecem estratégias de separação e de corte/ligadura. Isto dito, vemos que por uma fidelidade obstinada aos dogmas mais corriqueiros da psicologia ocidental, riscamos de ignorar o que dizem as teorias africanas do aberto e do terceiro, e, de uma maneira mais geral, passamos em silêncio a maneira como se nomeia e compreende que produz efração na relação dual.

O ENCONTRO CLINICO, AQUI


E claro que a exportação do modelo de criança-antepassada para os contextos da imigração não é evidente. E as famílias em exílio que designam (felizmente isto é raro) ou ouvem e vêm designar sua criança como uma criança-antepassda são, mais do que outras, sensiveis ao impacto mórbido que carrega também semelhante noção, na medida em que uma criança antepassada é também uma criança mais oferta aos mortos do qua aos vivos.Se é preciso notar que a designação de uma criança como "criança-antepassada " é muito rara na África ( salvo quando modificações patogênicas do laço social e anomalias favorecem vivências depressivas e persecutórias acompanhadas de estigmatização), na França o termo « criança-antepassada » é objeto de uma intensa promoção etno-psiquiátrica.. A tal ponto que esta designação, pouco a pouco recomposta pelas recensões etnográficas e sempre manipulada com a mais extrema prudência pelos práticos tradicionais, está prestes a tornar-se um cliché onde se arruma muito rápido e muito facilmente crianças de migrantes africanos com atrazo em seus modos de expressão e socialização.O sucesso bastante importante que encontra a noção de criança -antepassada neste caso ,especialmente no subúrbio parisiense - se a compararmos com os clínicos e práticos africanos tradicionais trabalhando na África do Oeste, por exemplo - me conduz a tentar precisar de que maneira esta noção embaralhada pode funcionar como uma verdadeira armadilha para a reflexão e a ação terapêutica. Tomarei aqui como argumento o fato que muito frequentemente a criança dita criança-antepassada é depositária do infantil maternal, que ela é de uma certa maneira a parte não traduzida, não transcrita da relação à origem que tentam tecer inúmeras mães africanas na terra do exílio, que seja um exílio exterior en direção dos países europeus ou « interior »em direção das metrópoles africanas.

[1] Este artigo apoia-se no meu trabalho de psicanalista, de supervisões de equipes terapêuticas e educativas trabalhando em e no departamento 93, e ainda mais em trabalhos de pesquisas sobre " crianças das ruas"em Dakar e Bamako; outros elementos são tirados de pesquisas conjuntas e/ou de entrevistas com antropólogos como Jaak le Roy, que trabalha em Kinshasa, de psiquiatras e clinicos no Sénégal (M. Gueye), Mali (Baba Koumaré, Souleymane Coulibaly), e Répública Démocrática doCongo (Adelin n'Situ).

[2] Forma cultural de conduta pré-codificada

[3] O que não é o caso de outros modelos etiológicos ditos « tradicionais ».

[4] " Autistas ou aantepassadas " page 15-16

REFERÊNCIAS

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2. Reuniões e Colóquios

JANEIRO 2006
A « Lettre de Psychiatrie Française
*Paris , dia : Conflito, Impasse e Desvantagem. Informações : e mail : [email protected]
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*Paris, dias 14 e 15 : Colóquio Medicina e Psicanálise. Informações : [email protected]
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*Lyon, dia 19 :Clinica do agir. Informações, telefone : 04 78 38 78 09
*Nantes, dia 20 : As fobias e seus destinos. Informações : Doutor
*Paris, dia 20 : Adolescentes, adolescentes, a a responsabilidade de si próprio. Informações : telefone 01 40 77 44 00
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*Paris, dias 27 e 28 :Clínica dos limites, limites da Clínica.Informações, Site : www.psychiatrie-française.com
*Paris, dia 26 : O ato da cura. Informações: telephone 01 43 22 12 13


3. Livros Recentes

*Dicionário crítico dos termos da psiquiatria e da saúde mental
Simon-Daniel KIPMAN( sob a direção) Doin- 45 €
*Arcanos da psicose
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*Introdução geral à bioética : história, conceitos
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*Evolução Psiquiátrica 70-2 Georeges LANTERI-LAURA
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Elsevier- 36,50€
*Jornal Francês de Psiquiatria : O que você chama de periculosidade ?
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*Os alienados viajantes ; o caso Alberto Philippe TISSIE
L'Harmattan-15,50€
*Psicanálise do laço
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*Obras completas : psicanálise. 3, 1894-1899 ; textos
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*Familias que têm a cabeça às avessas : vencer o traumatismo familiar
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*O que é um caso clínico ?
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*Questões de incestos
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*A alma e o corpo : discussão sobre as relações entre espírito e material
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*Françoise DOLTO: uma vida de correspondências(1938-1988)
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*O automatismo psicológico : ensaio de psicologia experimental sobre formas inferiores da atividade humana (1889)
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*O meu ensino
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Seuil-12€
*Leis gerais e variabilidade das medidas em psicologia cognitiva : o exemplo das estratégias cognitivas
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*Dicionário internacional da psicanálise
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Hachette-35€
*Transmitir a clínica psicanalítica : Freud, Lacan hoje
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4. Revistas

*Abstrac psychiatrie : www.impact-medecin.fr
*La revue française de psychiatrie et de psychologie medicale : www.mfgroupe.com
*L'encephale:www.encephale.org
*Les actualités en psychiatrie: www.vivactis-media.com
*Neuropsy : www.neuropsy.fr
*Nervure : rédaction: Hôpital Sainte-Anne, 1 rue cabanis, 75014 paris. Téléphone: 01 45 65 83 09 fax. 01 45 65 87 40
*Neuronale (revista de neurologia do comportamento) [email protected]
*PSN :(psychiatrie, sciences humaines, neurosciences) : rue de la convention, 75015 paris. Fax : 0156566566
*Psychiatrie française : [email protected]
*Psydoc-broca.inserm.fr/cybersessions/cyber.html
*Synapse : [email protected]
*Evolution psychiatrique

5. Associações

*Association française pour l'approche integrative et eclectique en psychotherapie (afiep)
*Association française de psychiatrie et psychologie legales (afpp)
*Association française de musicotherapie (afm)
*Association art et therapie
*Association française de therapie comportementale et cognitive (aftcc)
*Association francophone de formation et de recherche en therapie comportementale et Cognitive (afforthecc)
*Association de langue française pour l'etude du stress et du trauma (alfest)
*Association de formation et de recherche des cellules d'urgence medico-psychologique (aforcump)
*Association nationale des hospitaliers pharmaciens et psychiatres (anhpp)
*Association scientifique des psychiatres de secteur (asps)
*Association commission des hospitalisations psychiatriques france (cdhp france)
*Association promotion defense de la psychiatrie a l'hopital general (psyge)
*Association karl popper
*Association pour la fondation henri ey
*Association internationale d'ethno-psychanalyse (aiep)
*Collectif de recherche analytique (cora)
*Ecole parisienne de gestalt
*Ecole française de sexologie
*Ecole de la cause freudienne www.causefreudienne.org
*Groupement d'études et de prevention du suicide (geps)
*Groupe de recherches sur l'autisme et le polyhandicap (grap)
*Groupe de recherches pour l'application des concepts psychanalytiques a la psychose (grapp)
*Regroupement national en psychiatrie publique (renepp)
*Société française de gérontologie
*Société française de thérapie familiale (sftf)
* Société francophone de medecine psychosomatique
*Société française de psychopathologie de l'expression et d'art-therapie(sfpe)
*Société française de recherche sur le sommeil (sfrs)
*Société française de relaxation psychotherapique (sfrp)
*Société française de sexologie clinique (sfsc)
*Société française de psycho-oncologie/association psychologie et cancers
*Société d'addictologie francophone
*Société ericksonienne
*Société de psychologie medicale et de psychiatrie de liaison de langue française
*Société médicale Balint
*Union nationale des associations de formation médicale continue (unaformec)
*Union nationale des amis et familles de malades mentaux (unafam)
*Association Psychanalytique de France (apf)
*Société Psychanalytique de Paris (spp)
*Ecole Freudienne de Paris

5. Seleção de Sites

*Etnopsiquiatria : www.ethnopsychiatrie.net Www.carnetpsy.com
*Collège de psychanalyse groupale et familiale www.psychafamille.com
*Œdipe www.oedipe.org
*Quatrieme groupe http://quatrieme-groupe.org *Société psychanalytique de paris www.spp.asso.fr
*Www.doctissimo.fr
*Association Française des Psychiatres d'Exercice Privé:www.afpep-snpp.org
*Bulletin de l'ordre des médecins: www.conseil-national.medecin.fr


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