Volume 10 - 2005
Editor: Giovanni Torello

 

Agosto de 2005 - Vol.10 - Nº 8

France - Brasil- Psy

SOMMAIRE (SUMÁRIO)

Docteur Eliezer DE HOLLANDA CORDEIRO

Sumário:

QUI SOMMES- NOUS (Quem somos)

DOSSIÊ:  SOBRE A PSIQUIATRIA DA CRIANÇA NA FRANÇA

  1. PREMATURIDADE E TRAUMA: Lea NEVES MOHALLEM (psicóloga-psicanalista)
  2. APRESENTAÇÃO DOS CENTROS MÉDICOS - PSICOLÓGICOS - PEDAGÓGICOS (C.M.P.P.) E.de HOLLANDA CORDEIRO (psiquiatra, psicanalista)
  3. CATÁLOGO DAS REVISTAS PSIQUIÁTRICAS
  4. ASSOCIATIONS (Associações)
  5. LIVRES RÉCENTS (LIVROS RECENTES)
  6. REVISTAS

QUI SOMMES- NOUS (Quem somos)

QUI SOMMES- NOUS ?

FRANCE-BRASIL-PSYCHIATRIE est le nouvel espace virtuel de "Psychiatry on Line"offert aux professionnels du secteur de la santé mentale d'expression lusophone et française.

Ainsi, les lecteurs pourront désormais y trouver des traductions en français et en portugais d'articles concernant la psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse. Sans oublier les rubriques habituelles : actualités, réunions et colloques, formations, associations, revues, sélection de sites.

QUEM SOMOS ?

FRANCE-BRASIL-PSYCHIATRIE é o novo espaço virtual de "Psychiatry On  Line"oferto aos  profissionais do setor da saúde mental de expressão  lusófona e portuguesa.

Assim, os leitores poderão doravante nela encontrar traduções em francês e em português de artigos abrangendo a psiquiatria, a psicologia e a psicanálise. Sem esquecer as rubricas habituais : atualidades, reuniões e colóquios, formações, revistas, seleção de sites.

 

Dossiê: SOBRE A PSIQUIATRIA DA CRIANÇA NA FRANÇA

1)"NADA COMO O TEMPO..."

1. PREMATURIDADE E TRAUMA

Léa NEVES MOHALLEM (psicóloga, psicanalista)

"Forramos nosso ninho

com pedacinhos de tempo..."

Robert Kaplan.

O bebê e seu nascimento prematuro - Tema que nos cativa e nos convoca a refletir sobre o que comporta esta experiência e seus efeitos em relação ao bebê e seus pais.

Fazendo parte da equipe de atendimento em uma Unidade de Tratamento Intensivo Pediátrico - UTIP - há quase vinte anos, proponho como ponto referencial neste trabalho uma frase instigante que se repete e se endereça a quem vive situações de catástrofe subjetiva.

"Nada como o tempo..."

Parece ser uma frase que sustenta algo nesses momentos em que o Real invade, surpresas terríveis acontecem, "tsunamis" invadem a vida de alguém.

A questão do tempo nos leva a pensar sua articulação em relação à constituição do sujeito. É pensar o tempo na ruptura, na prematuração, no trauma, na renúncia que pode abrir para o sujeito a possibilidade de sua assunção subjetiva, além do que o determina.

Sobre o Tempo

A filosofia, a religião, a matemática... e a psicanálise, cada uma sustentada em seu discurso interroga e busca definir a dimensão e o significado do tempo.

Refletir sobre o tempo leva-nos a percebê-lo como relativo, portanto, podendo ser transformado.

O que é o tempo?

Diante desta pergunta instigante, Santo Agostinho responde que se ninguém lhe pergunta ele sabe, mas se lhe perguntarem, não sabe mais.

"O tempo é o melhor remédio..."

"É só o tempo..."

"Com o tempo passa..."

"Correr contra o tempo..." "Tempo que não passa".

"Não temos mais tempo..." "Dar tempo ao tempo".

Podemos dizer que só o que é retirado pode nos ser dado: aí está o paradoxo que comporta o tempo. Diante desse paradoxo, Sylvie Le Poulichet escreve que "... tudo o que teremos, só poderemos tê-lo na medida em que o tempo, ao passar, já nos terá tirado e nos dará então em uma potência segunda. Poderemos ter o que não somos mais 3".

Freud vai articular a questão do tempo com o inconsciente remetendo não só a sua atemporalidade mas também a sua estrutura temporal, sustentada em uma outra lógica. Falar do tempo inconsciente remete-nos a pensar sobre sua reversão temporal.

Não se pode ver nada de uma vez só. A mudança acontece fora da apreensão de uma cena que se faz apresentar como congelada.

Muitas vezes, os pais não compreendem os fatos que fizeram com que, de repente, tivessem de estar com o seu filho em uma UTIP. O acontecimento se faz num continuum, de forma ambígua, e a elaboração psíquica se faz em um tempo necessário de recomposição. Todo elemento novo modifica o que o precede.

Em relação a isto, Lacan, no Seminário II - O Eu na Teoria de Freud e na Técnica da Psicanálise, diz que "há em todo saber, uma vez constituído, uma dimensão de erro, que consiste em esquecer a função criadora da verdade em sua forma nascente", pois quando algo surge - "alguma coisa que somos forçados a admitir como nova, quando emerge uma outra ordem de estrutura" - isto cria a sua própria perspectiva no passado e dizemos: "Isso nunca pôde estar ali, isto existe desde toda a eternidade4".

No seminário sobre Os Escritos Técnicos de Freud ele afirma de uma maneira instigante que a história não é o passado. Podemos pensar a história como passado se historicizada no presente. É neste movimento que o sujeito faz de seu passado uma história, sustentado pela via do desejo, construindo uma aliança entre passado, presente e futuro. E é no instante efêmero desse encontro que o sujeito se faz advir. Portanto, a temporalidade subjetiva não pode ser articulada de forma linear.

Em um momento de internação de seu filho prematuro, uma mãe diz: "Vocês não vão dizer que está tudo bem com o meu filho e quando eu voltar vou encontrá-lo morto!?"

Antecipar o futuro? Atualizar o passado?

Cena que remete a outra cena congelada. Nunca se tocou nisto.

Há dez anos teve um outro filho, prematuro. Estava tudo bem, foi para casa descansar e quando voltou para ver seu filho no hospital em que estava internado, o encontrou morto.

Pavor, trauma. Tentativa de antecipar o real insuportável? A intervenção do analista é importante, também em situações de urgência subjetiva, como possibilidade de abrir a perspectiva do dizer.

Remetendo-nos ao artigo O Tempo Lógico e a Asserção de Certeza Antecipada, no qual  se refere ao tempo como lógico, localizando-o em três dimensões - o instante de ver, o tempo de compreender e o momento de concluir - Lacan ressalta que o sujeito, para advir como desejante, precisa ser marcado por um Outro.

A problemática do tempo articulado à questão do desejo nos leva à experiência de satisfação vivida pela criança.

Origem que não é Começo

"Desde a origem, a criança

se alimenta tanto de palavras

quanto de pão e perece por

palavras".

Lacan, Seminário 4.

Ao nascer, a criança encontra-se em estado de desamparo, sendo incapaz de realizar uma ação específica que alivie sua tensão, causada pelo estado de necessidade: fome, sede... Em seu artigo sobre o Projeto de uma Psicologia Científica, Freud propõe que o estado de desamparo faz parte da condição humana, sendo a fonte primordial de todos os motivos morais.

A criança vive, no início, totalmente dependente de um outro. Um Outro que oferece através da linguagem um "banho de palavras" que a introduz na cultura.

Mas esse Outro que a introduz no universo da comunicação é também quem a torna cativa e assujeitada aos seus significantes, ao seu desejo. Alienação necessária.

Lacan articula no Seminário 2 a relação essencial da angústia com o desejo desse Outro. Estar ai aprisionado abole o sujeito. Remete nesta operação ao efeito de separação quando a criança, através de falha, hiatos no discurso, apreende o enigma do desejo do Outro e se pergunta: o que ele quer? O que sou para ele?

Há um hiato fundante. Hiato onde o desejo do sujeito se institui como desejo de ser desejado, desejo de reconhecimento pelo outro.

É no vai - e - vem da repetição dessas experiências que a noção do tempo se introduz no psiquismo do bebê. É quando há a renúncia forçada da realização alucinatória do desejo, quando é possível o adiamento da satisfação, que a possibilidade de espera pode presentificar o futuro antes que ele surja como passado.

A criança precisa se localizar em relação ao desejo de seus pais,precisa construir um sentido para se fazer história, para se fazer singular. Diante de enigmas como o da existência e da diferença sexual, a criança precisa construir uma ficção, função estruturante, para suportar a não - resposta de suas perguntas.Freud articula o romance familiar como um processo de entrelaçamento dos tempos na fantasia da criança e também como um momento de atualização de um distanciamento necessário entre o semelhante e o estranho, marcando um momento constitutivo na relação temporal entre o sujeito e o Outro.

Através do desprendimento da criança, evoca o "tornar-se grande" e o "tornar-se estranho", pondo em jogo o lugar de cada um nas gerações. Ao tornar-se semelhante ao progenitor do mesmo sexo, surge não só insatisfação mas também a certeza de ter sido "excluída", o que traz a si a conclusão de ser adotada.

"O sujeito começa a se tornar estranho", diz Freud.

Ao perceber a diferença dos sexos, a criança conclui que, enquanto a mãe é "certíssima", o pai é incerto. Portanto o seu verdadeiro pai é com certeza uma pessoa muito importante. Pai real, pai ideal. Implica uma perda. Se o romance familiar remete a essa perda suposta e à nostalgia de um tempo feliz, cria-se um "em torno" de um tempo mítico de origem.

Origem que não é o começo.

A origem, engendrada por uma ficção, é inacessível e ao ir além do começo torna-se, para o sujeito, um ancoramento de sua história.

Jacques Derrida escreveu: "nada começa". Frase que, ao evidenciar que não há começo, remete o significante "nada" a um vir - a - ser. O nada que existe. O nada que representa alguma coisa. Construir algo em torno do nada. Nada como o tempo... Tempo de vir a ser.

A importância do nada articulado ao tempo. Por que nas situações de desamparo, diante do não ter palavras, recorrer ao "nada como o tempo..." Buscar uma possibilidade de saída diante do que remete à morte, ao Real? Saída para quem escuta ou mesmo para quem testemunha o desamparo? Saída ao estar aprisionado à angústia, nesta esperança do vir -a -ser?

Segundo Eric Laurent, diante do insensato precisa-se construir um sentido. Contornar o nada, incluir o insensato, construir uma história permite ao sujeito ir além do que o precede.

Perguntas cruciais como: de onde vem os bebês?, onde estava antes de nascer? remetem-nos à origem como algo além, inacessível.À antes e depois já que não estive presente em minha concepção e nem vou estar na minha morte.

E é porque há um resto, intransmissível, que podemos pensar sobre os paradoxos da transmissão.

Philipe Julien, em seu livro Abandonarás teu pai e tua mãe, diz que a verdadeira filiação é ter recebido a autorização dos pais para poder abandoná-los.

Palavras de uma paciente: "Agora posso desacoplar da nave mãe".

"...pôr no mundo é saber retirar-se, de modo que os descendentes sejam capazes, por sua vez, de se retirarem5". É fundamental poder ultrapassar a dívida de reciprocidade (em que aprisiona e mantém o filho fixado no que o determina) permitindo que ele possa "ir para o mundo".

E um bebê prematuro, malformado, com síndromes, remete-nos ao risco de que pode ser capturado por esses significantes, por um traço de sua história que se torne obstáculo para a construção do laço com o Outro.

"Ele não vai ser ninguém na vida..."

"Sempre vai ser o Meu bebê..."

"Vamos passar uma borracha nisto tudo, fazer de conta que não aconteceu..."

A aposta no sujeito se apaga. Em vez de suposição subjetiva vemos a antecipação do fracasso.

Uma mãe, com seu filho prematuro na UTIP, repete insistentemente uma frase: "Ele é anormal". Profissionais respondem também insistentemente: "Não, seu filho está bem, é normal e deve ter alta logo!"

"Meu filho é anormal..."

A escuta e direção do analista neste momento preciso pode fazer abrir o que está fixado no discurso do sujeito.

"Na verdade eu fui prematura e a vida inteira fui tratada como anormal". A mãe, ao falar, pôde se escutar e enxergar o filho além dela.

Uma História sem Fim

"Aquilo que herdastes

de teus pais, conquista-o

para fazê-lo teu".

Goethe

Após a Revolução de Copérnico e Darwin, Freud, com a descoberta do inconsciente, marca a terceira ferida narcísisca da humanidade ao revelar o descentramento do sujeito, a falsa soberania da consciência.

Com a Revolução Industrial vemos que o discurso da ciência passa a ocupar uma posição estratégica de portar a verdade, e a tecnologia se transforma em seu instrumento- chave do saber. O discurso da ciência funda a modernidade e Lacan acrescenta que a psicanálise é efeito desta. Só é possível o discurso da psicanálise quando o discurso da ciência falha.

No texto A Psicanálise e a Crítica da Modernidade, Joel Birman (HERZOG,2000:122) propõe que "a fascinação do sujeito pela atualidade e pela transformação contínua do real que marcam o modernismo, ... pelo desejo e pelo descentramento, tem como correlato o enunciado de que a produção fundamental da modernidade é o desamparo".

Ele articula a idéia de Freud de que a modernidade produziria o desamparo da subjetividade com a de Lacan que sustenta a emergência da psicanálise relacionada à humilhação infligida ao pai.

Freud e Lacan buscaram formalizar a questão do pai: seu lugar, sua função na constituição do sujeito, na família.

Ao distinguir três grandes períodos na história da família podemos observar o poder paterno se restringindo. No primeiro tempo temos a família "tradicional", que tinha a função de assegurar a transmissão do patrimônio. No segundo tempo a família "moderna", que gira em torno do amor romântico e onde se introduz a divisão do trabalho entre o casal e a divisão da educação dos filhos com o Estado. No terceiro tempo surge a família "pós-moderna", na qual o valorizado se localiza nas realizações do individual e sexual. Nesta perspectiva remetemos à cultura do narcisismo e da sociedade do espetáculo como instrumento para que possamos pensar as novas formas de subjetivação, onde a frase "Você não pode tudo" está excluída.

O poder paterno vai, ao longo dos tempos, se pulverizando e com a morte de Deus o ser humano está só diante de seu desamparo. A sustentação simbólica da autoridade perdeu sua consistência imaginária, tornando os ideais e limites transmitidos relativizados.

A questão do pai persiste.

O que é um pai? Lacan diz que nenhum ser consciente sabe o que é ser um pai. Mas diz que a melhor herança de um pai é o limite da compreensão, o "cultivo de um silêncio necessário entre as gerações". Freud dá a isso o nome de castração.

Diante de tantos avatares e riscos, o que vemos como fundamental ao se ter um filho é supor ali um sujeito. E supor ali um sujeito significa antecipá-lo, deixando que ele entre no mundo que o precede, abrindo espaço para que possa construir a versão-ficção de sua história.

No que concerne à constituição subjetiva, a criança precisa do olhar desse Outro. Insubstituível é o desejo deste Outro que confere a ela um lugar, juntamente com a responsabilidade que impõe os limites deste lugar.

A Criança como  Real

"Afinal, se acompanharmos Freud, diremos que a criança, como Real, simboliza a imagem. Mais precisamente a criança, como real, assume para a mãe a função simbólica de sua necessidade imaginária7".

Podemos dizer que cada gravidez e suas repercussões são vivenciadas de maneira singular, atualizando questões fundamentais.

O que é uma mulher? O que é um pai? De onde vêm os bebês? Questões inquietantes que nos lançam à perplexidade por não conseguirmos respondê-las.

Tornar-se pai e tornar-se mãe é um processo que reaviva experiências em relação aos próprios pais. Reaviva desejos que se atualizam num momento de vida  por um projeto de filho que em si traz expectativas, realizações, sentimentos contraditórios e ambivalentes.

Não há gravidez sem história. Pode ser ou não uma possibilidade de realizações. O lugar do bebê vai sendo construído e representado na fantasia dos pais mesmo antes de sua concepção. Fantasiam as suas características, conversam com ele, escolhem seu nome e cuidam dos preparativos para sua chegada.

Estamos nos remetendo ao campo da Sua Majestade, o Bebê. Freud escreve em seu artigo Uma Introdução ao Narcisismo, que "a criança terá mais divertimentos que seus pais. Ela não ficará sujeita às necessidades que eles reconhecem como supremas na vida... A doença, a morte, a renúncia ao prazer não a atingirão. A criança concretizará os sonhos dourados que os pais jamais realizaram".

Ilusão necessária para enfrentar as incertezas, já que o encontro com o bebê implica uma lógica temporal singular, em que representa um futuro antes de ser presente e passado. "Agora eu era..."

Lacan, em Subversão do Sujeito e a Dialética do Desejo Inconsciente Freudiano (1960), marca a incidência do tempo verbal do futuro anterior na constituição do sujeito. Revela o efeito de retroversão onde o sujeito se torna o que era e se anuncia através do terei sido.

O bebê revela um enigma sem decifração: "Quem será este bebê, o que se passa com ele?". Marca a cada um que o encontra isto que não é simbolizável, encarnando o real que o ultrapassa.

Quando uma criança é concebida marca seu nascimento a posteriori do que a precede. É precipitada no tempo. François Ansermet (2003:42) assinala que seja qual for o modo de concepção, é a partir de uma constelação singular que o sujeito realiza sua emergência. A criança ensina que o tempo do sujeito é marcado por uma certa anterioridade. "Terás sido aquela criança": o futuro anterior, tempo gramatical perturbador, localiza o enigma do nascimento subjetivo em uma ordem diferente do nascimento biológico.

Em uma UTIP isto se apresenta de maneira instigante. É o que nos mostra uma mãe falando de seu bebê, nascido prematuro: "Já tem um mês que ele está aqui na UTIP, faltam vinte dias para ele nascer".

É fundamental para que haja o nascimento psíquico do bebê que ele seja investido, desejado pelos pais ou por alguém. Esse Outro, por meio de sua interpretação, vai transformando um gesto, um grito, um choro do bebê em linguagem.

É por meio da transformação do organismo em sujeito, através do banho de palavras, que a necessidade do bebê se transforma em demanda de algo mais. Esta operação revela um desacerto, engendrando com a perda a possibilidade de o bebê aceder como sujeito desejante.

Só há história porque há falta. Através da repetição e elaboração, a criança constrói uma borda possível para lidar com seu desamparo. Tempo subjetivo, tempo inconsciente.

Nascimento Marcado pela Ruptura

"Mãe amamenta o filho

quando ela se deixa

mamar pela criança".

Sigmund Freud9

O bebê e seu história: gravidez planejada, indesejada, primeiro filho ou não, nascimento após um aborto, quadrigêmeos. Inseminação artificial, doação de óvulos, congelamento, clone...Remetemos às marcas e significados, remetemos às novas perspectivas oferecidas pela ciência, a como este bebê vem se inserir no romance familiar, evidenciando questões fundamentais sobre o significado de ser mãe, pai, filho.

Sabemos que mesmo antes da gravidez, os pais fantasiam sobre seu bebê, suas características, investem neste tempo de espera. Mas e quando a criança porta, associado ao seu nascimento, palavras como prematuro, má-formação, risco de morte? E os efeitos destas marcas na constituição subjetiva desse bebê, em sua singularidade?

E o que se antecipa para os pais como possibilidade da perda do filho? "A data do nascimento está marcada para maio, mas"...O tempo de espera é precipitado.

Gestantes de risco evitam fantasiar, sonhar com seu bebê, interrompem os preparativos, não escolhem o nome ou suspendem a escolha, já que investir e perder é "sofrer em dobro".

Escutamos na UTIP muitos pais e mães dizerem:

"Não quero me apegar para não sofrer mais".

"Sinto que não sou mãe ainda".

Por que a doença e a morte de uma criança são tão difíceis? Como  ela pode morrer antes de ter vivido? O que "toca" na criança de cada um? Quem é este que está ali tão estranho mas tão familiar?

O que observamos na clínica é que quando essas crianças nascem, alguns pais decidem mudar seus nomes. Construir sua história pelas marcas que se impuseram, mas muitas vezes correndo o risco de ficarem fixadas nelas, capturadas em uma teia imaginária.

A escuta do diagnóstico de doença, má-formação, pode abrir um abismo difícil de suportar, o que nos faz pensar nas marcas e efeitos desse olhar de não reconhecimento. Uma ruptura... Um vazio... Desamparo... Tempo de silêncio, por não ter palavras... Tempo de perguntas sem respostas... "Não é possível que isto esteja acontecendo."

"Entro e não suporto ficar (na UTIP), saio e não me acho".

Pai e mãe prematuros...

"O que deixei de fazer?"

"O que fiz?"."Isto é por que fiz um aborto?"

"É sua herança genética?"

"Num segundo, passa o 'filme' da minha vida".

A dor de sair do hospital sem barriga e com os braços vazios. Solidão. O impacto dos sonhos interrompidos, do não-acordar de um pesadelo. "Quero meu filho de qualquer jeito".

"De quem é a culpa?" Culpa para evitar o encontro faltoso?

Tempo de sideração, tempo inundado de fantasias, tempo no qual nada se encaixa.

Trauma.

Ir além do trauma, ir além do romance.

Tempo Lógico de Separação

"Nossos complexos

são a fonte de

nossa fraqueza

mas com freqüência

são também a fonte

de nossa força".

Sigmund Freud10

O encontro com o Real pode precipitar o sujeito no horror. Há um corte. Horror ao ser vacilado em suas certezas que até então davam ao sujeito certas garantias imaginárias ante o desamparo. É o tempo da sideração, da catástrofe subjetiva. Há uma suspensão e o embaralhar do tempo. O tempo passado invade, antecipa o futuro e o presente fica sem lugar para se alojar, sem possibilidade de se inscrever.

"Perde-se o chão".

Marca o instante de ver. Tempo de surpresa. Miller ( 2000: )se pergunta sobre o que a surpresa qualifica? Ela diz respeito a um momento não homogêneo em relação ao restante do tempo.

Quando da catástrofe subjetiva, não estamos nos referindo a esses tempos que entram em colapso, invadindo o sujeito de lembranças e antecipações, fantasias e culpa?

E quando o bebê, significado como Majestade, tem seu nascimento marcado pelo diferente? E quando esse bebê não sustenta a ilusão dos pais, quais as vicissitudes do vínculo?

Como investir no bebê quando se perde a imagem do bebê fantasiado, quando o bebê não é o espelho narcísico para seus pais, onde não se reconhece ali ninguém de sua linhagem?

Faz-se necessário construir um sentido e a questão do " é tempo que cura"  ecoa como um antídoto a este impossível de suportar.

"Só o tempo dirá". Em que o tempo é tão sábio? Tempo de dar sentido ao traumático, tempo de compreender, podendo ser também o risco de eternizar o trauma, se fixando em sentidos alienantes. O sujeito passa a ser o que o "traumatizou": prematuro, deficiente, dependente.

O impossível torna-se acontecimento. O objeto amado, o ideal não está lá mais como sustentação subjetiva. Neste hiato podem surgir perguntas:

"O que poderia ter sido diferente?"

Voltar ao passado e mudar o futuro, evitar o encontro insuportável?

O "se" é aprisionante: "Teria feito mais, diria tantas coisas" se... seria diferente. A história é checada e também sua posição de sujeito.

Angústia. Não saber mais quem você é para este Outro. Onde ele está? Onde?

Tempo inundado, estilhaçado. E o corpo fica em excesso, não tem lugar para tanta dor. Na urgência subjetiva não há sinal. Aquilo que deveria permanecer velado perde suas envolturas imaginárias, produzindo o encontro traumático, que pode arrasar temporariamente ou não com a dimensão subjetiva. Vimos que  no instante de ver pode se abrir um abismo que interfere na operação do momento de concluir e do tempo de compreender.

É na repetição daquilo que não teve lugar que o sujeito reencontra uma "acomodação" para o passado, futuro e presente. "Com o tempo as coisas chegam no lugar". "No ano seguinte revivi tudo"...

O trauma marca um tempo lógico de separação, tempo inerente à condição de sujeito desejante. Instaurar uma distancia entre os encontros traumáticos e o trauma inerente à condição da subjetividade, para permitir à história entrar no tempo e contar o sujeito de outra forma. ( POULICHET,1996:100)

Diante possibilidade de morte e perda pode-se precipitar o sujeito do inconsciente, onde do que perdura de perda pura pode haver escolha. "Onde há escolha, há ética".

Penso em uma mãe de um bebê prematuro que em sua posição de exclusão fazia um grito silencioso. Não falava com ninguém, nem parecia escutar e compreender nada do que lhe era dito. Tudo permanecia em um vácuo. Incertezas do prognóstico, investimento no bebê, retirada estratégica. E nesse vácuo o analista fez contorno, bordejamento. Com sua presença e intervenção pôde, ao criar a demanda, possibilitar o fazer falar a diferença, e efetivar a operação significante: "Agora eu posso falar..."

"O psicanalista, no campo da clínica do real, deve ser um verdadeiro praticante do imprevisível e considerar o real como estando no princípio de uma possível liberdade. Sustentar a hipótese do real, da descontinuidade que ele implica, leva-nos a ver a causalidade do sujeito do lado da resposta do sujeito como resposta do real. Resta, no entanto, articular a dialética entre o sujeito como resposta do real e as respostas do sujeito em face do real. (ANSERMET,2003:?)

Portanto, diante da urgência subjetiva é função do analista, ao tratar o insuportável, apostar na possibilidade de o sujeito realizar o ato de sua assunção subjetiva através da emergência do desejo.

É questão de tempo.

REFERÊNCIAS

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ANSERMET, François. A clínica da origem: a criança entre a medicina e a psicanálise. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2003. 223 p.

BIRMAN, Joel.  A psicanálise e a crítica da modernidade, p. 109-130, IN Herzog, R (org). A psicanálise e o pensamento moderno . Rio de Janeiro: contra capa, 2000, 139 p.

BIRMAN, Joel. Mal-estar na atualidade: a psicanálise e as novas formas de subjetivação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 300 p.

CAMAROTTI, Maria do Carmo (org). Atendimento ao bebê: uma abordagem interdisciplinar. São Paulo: Casa do Psicólogo: 2001. 212 p.

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GROENINGA, Gisele Câmara; PEREIRA; Rodrigo da Cunha: (coord). Direito de família e psicanálise: rumo a uma nova epistemologia. Rio de Janeiro: Imago, 2003. p. 399

HERZOG, Regina (org). A psicanálise e o pensamento moderno. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2000. 139 p.

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JERUSALINSKY, Julieta. Enquanto o futuro não vê: a psicanálise na clínica interdisciplinar com bebês. Bahia: Ágalma, 2002. 306 p.

KAPLAN, Robert. O nada que existe: uma história natural do zero. Rio de Janeiro: Rocco, 2001.

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LACAN, Jacques. Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. 937 P.

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LACAN, Jacques. O seminário, livro 2: o eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992. 416 p.

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LACAN, Jacques. Outros Escritos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. 608 p.  

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LEBRUN, Jean-Pierre. Um mundo sem limite: ensaio para uma clínica psicanalítica dos social. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2004. 214 p.

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MOURA, Marisa Decat de (org). Psicanálise e hospital II: A criança e sua dor. Rio de Janeiro: Revinter, 1999. 164 p.

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POULICHET, Sylvie Le. O tempo na psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996. 152 p.

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ROUDINESCO, Elisabeth. A família em desordem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. 200 p.

WANDERLEY, Daniele de Brito (org). Agora eu era o rei: os entraves da prematuridade. Coleção de Calças Curtas. Bahia: Ágalma, 1999. 154 p.

 

2. APRESENTAÇÃO DOS CENTROS MÉDICOS-PSICOLÓGICOS-PEDAGÓGICOS (C.M.P.P.)

E. de HOLLANDA CORDEIRO(psiquiatra,psicanalista).

A criação da Psiquiatria da Criança, logo após a Segunda Guerra Mundial, deu-se sob a impulsão de um grupo de psiquiatras inspirando-se do pensamento psicanalítico. "Bem ou mal compreendida, a psicanálise foi o principal quadro de pensamento dos psiquiatras de crianças franceses"(2).  

A primeira consequência foi "a denúncia do sistema de tratamento até então em vigor, especialmente pelo reconhecimento da importância da temporalidade na gênese da doença mental e na duração dos tratamentos.Esta tomada de consciência permitiu encontrar soluções que impedissem a fixação de equilíbrios patológicos. Tornou-se evidente ao mesmo tempo a  necessidade de diagnosticar e tratar os distúrbios psíquicos o mais cedo possivel.  Aliás, "continuidade e precocidade dos tratamentos foram os dois eixos prioritários que conduziram à organisação da política de setor"(1).

O pensamento psicanalítico foi,como já dissemos,  a referância comum dos pioneiros da Psiquiatria da criança na França. Aberto aos trabalhos anglo-saxões, esses pioneiros adotaram contudo posições originais, sem tomarem partido  nas disputas que existiam entre Mélanie Klein e Anna Freud. "A leitura de "Psychiatrie de l'Enfant,", revista criada em 1958 por J. De Ajurriaguerra, Serge Lebovici e René Diatkine, dá-nos uma idéia da riqueza dessa corrente de pensamento"(1).   

Uma outra razão que conduziu a psiquiatria da criança à sua autonomia foi a decepção ligada "ao uso dos neurotrópicos, cujos efeitos positivos reconhecidos na patologia mental adulta não se produziram  na patologia mental infantil"(1).

OS C.M.P.P.

Os Centros médicos, psicológicos e pedagógicos foram criados em fevereiro de 1963.  Inscritos no setor médico-social, os CMPP funcionam como ambulatórios para crianças e adolescentes de 0 a 18 anos e têm a dupla missão de  prevenção e de tratamento. En 1975, quando da preparação da Lei de orientação em prol de pessoas deficientes ,  criaram-se outras estruturas destinadas à prevenção, à descoberta e ao acompanhamento precoces riscos de crianças apresentando riscos de deficiências. Surgiram os C.A.M.S.E.P.(Centres d'action médico-sociale précoce), com missões especiais de orientação parental, notadament quando da informação sobre a descoberta de anomalias mentais, motoras e sensoriais  no desenvolvimento das crianças de menos de 6 anos. Tais deficiências podem também dizer respeito ao aspecto físico como ao aspecto relacional, de tal maneira elas podem estar intricadas nas diferentes competências do bebé(3).

Enfim, desde 1992, uma circular ministerial sobre a definição da política de saúde mental das crianças e adolescentes, reconheceu o papel dos C.M.P.P. na elaboração e na aplicação dessa polítca que tem uma dupla missão: a prevenção e o tratamento. (6).

A MISSÃO DE PREVENÇÃO: visa a diminuir os riscos de uma perturbação do desenvolvimento da criança ou do adolescente. Na prática,  uma equipe de clínicos encontra a criança e sua família quando do aparecimento de sintomas ou sinais significativos. Um acolhimento específico é reservado às crianças de 0 à 3 anos e suas famílias, tendo por  objetivo o acompanhamento e a observação do desenvolvimento dessas crianças afim de prevenir eventuais distorsões em suas relações afetivas e em suas capacidades de comunicação com os outros, sinais importantes podendo levar a perturbações  de seu desenvolvimento futuro.

Notemos que as missões do CMPP evoluiram com o tempo, passando do modelo inicial estático -baseado em conceitos  de inadaptação e de distúrbios neuropsicológicos afim de lutar contra o fracasso escolar- para  um modelo dinâmico levando  em conta o ambiente familiar, escolar e social da criança(5)(6).

Existem outras ações que se inscrevem nesta missão de prevenção: apoio, sustento técnico , clínico e análise das situações em que se encontram engajados profissionais exterirores ao CMPP: trabalhadores sociais,educadores especializados,equipes trabalhando em centros para crianças e adolescentes enviados pelas autoridades judiciárias , etc.  

MOTIVOS DA  CONSULTA EM FUNCÃO DA IDADE(6)

"Na criancinha, quando a sua evolução física, afetiva e intelectual  acompanha-se de distúrbios alimentares, do sono, psicomotores, da linguagem, medos, fobias, tiques que inquietam a famíla, etc.

"Na criança em idade escolar, que  pode ser levada a consultar por desinteresse, desinvestimento escolar, fracasso escolar parcial ou total, atrazo do desenvolvimento, distúrbios do comportamento, patologias da personalidade, carências afetivas e educativas,maus tratamentos  físicos e psíquicos,  etc.

"No adolescente, por  distúrbios psíquicos relacionados com esta época da vida : mal estar quando da passagem da infância à adolescência, angústia para engajar-se no mundo adulto, inquietações ligadas às transformações sexuais durante esta fase da vida, etc.  

"Em todos os casos, a existência de conflitos, acontecimentos dolorosos, separações, lutos, violências intra-familiares, acidentes e doenças que podem engendrar sofrimentos psíquicos são fatores que conduzem os pais ou outros responsáveis , à pedir uma consulta.

"Notemos um aumento das demandas por causa de patologias severas e complexas,  por exemplo distúrbios importantes da relação e da comunicação. E, também certos  quadros clínicos onde podemos notar uma intricação de distúrbios psicopatológicos e de problemas sociais.

AS CONSULTAS

As famílias podem tomar a iniciativa da consulta  ou são enviadas por médicos, professores, assistentes sociais, serviços judiciários, etc.  

O primeiro encontro com a criança e seus pais  poderá levar a outras consultas, se a criança e os pais desejarem. Estas entrevistas têm por objetivo compreender a situação clínica de maneira mais detalhada. A opinião de vários profissionais poderá ser solicitada (ergoterapeuta, foniatra, assistente social, orientador educacional ...)(5).

Uma avaliação dos resultados vai ser discutida e elaborada durante a reunião de síntese dos diversos especialistas que constituem a equipe multidisciplinar. Com efeito, "as entrevistas e as investigações prealáveis permitem verificar a natureza das dificuldades, a intensidade do sofrimento, o sentido exato da demanda,a capacidade de mobilização da criança e dos pais, suas capacidades de reflexão e de elaboração do que foi dito durante as entrevistas,  de aceitar a duração do trabalho psicodinâmico..."(4)

Assim, pelo exame médico-psicológico poderá ser discutida a existência de uma eventual psicopatologia associada: por exemplo se a criança apresenta ao mesmo tempo "dificuldades instrumentais e psíquicas, uma intricação complexa de uma problemática individual e de uma problemática familiar".

Um outro ponto que será debatido na reunião de síntese da equipe é consiste em saber se a "estratégia terapêutica pressentida  necessita um enfoque múltiplo, simultâneo ou sucessivo:foniatria, ergoterapia, psicopedagogia,psicoterapia, entrevistas com a família"(4).

PROJETO TERAPÊUTICO

"O CMPP situa-se na encruzilhada dos domínios médico, psicológico, social e pedagógico. Por conseguinte, ele está inserido no tecido social , entre a criança e seu meio ambiente, como um mediador possivel, um espaço intermediário, garantindo uma modalidade de escuta capaz de dar um sentido ao sintoma e permitir à criança e à sua família, de se engajarem numa terapia"(4).

Assim, a especificida do CMPP decorre, em parte, de que as crianças nele tratadas apresentam problemas necessitando uma abordagem multidisciplinar , dando lugar a uma elaboração da equipe, sob a responsabilidade do médico, e composta de psicólogos, foniatras, ergoterapeutas e trabalhadores sociais(4).

A elaboração da equipe se faz nas reuniões de "sintese", "um instrumentode trabalho que constitue o fundamento do processo terapêutico do CMPP"(4). Destaquemos dois aspectos deste trabalho:

A) A "síntese" reune os especialistas em diversas disciplinas para falar de um ou vários casos, após haver tomado conhecimento das investigações conduzidas por membros da equipe sobre a família e a criança. Das discussões e trocas de idéias sairá uma proposição de tratamento(1).

B) A "reunião de síntese" é também um lugar de reflexão clínica durante o tempo do tratamento empreendido, podendo levar a modificações do tratamento ou também considerar uma orientação após o trabalho efetuado no CMPP(4).

OS TRATAMENTOS PODEM SER INDIVIDUAIS OU  EM GRUPOS: 

INDIVIDUAIS: entrevistas, psicoterapias, foniatria,reabilitação.

GRUPOS : psicodramas,  grupos de expressão livre, de leitura e de contos, grupos de mediação.

TRÊS INDICAÇÕES DE GRUPOS : "crianças em período de latência( distúrbios do comportamento, inibições) ; patologias limites ( distúrbios relacionais em crianças incapazes de observar tanto as regras do quadro da sessão individual como as regras sociais na escola, meio familiar,etc.); adolescentes:apoiando-se nos grupos,  eles podem elaborar novos  processos de identificação, estruturar falhas do narcisismo tão frequentes neste período de vida, favorecer  a necessária autonomia com relação aos pais"(6).

O TRABALHO COM OS PAIS

O sofrimento dos pais, variável em função de suas próprias personalidades ou da gravidade dos problemas da criança, deve ser levado em conta pelos terapeutas. "Este sofrimento parental, raramente ausente, pode resultar antes de tudo de feridas narcísicas ligadas as imagens desvalorizadoras que a criança lhe envia"(4).

Mas este sofrimento dos pais, quando entendido e verbalizado, , pode ser um trunfo precioso para o êxito do tratamento, permitindo mudanças profundas nas relações que eles estabelecem com a criança e também modificações das  representações que dela tinham. Muitas vezes o sofrimento dos pais, ligados a distúrbios  neuróticos, depressivos, etc., são verdadeiramente a causa principal das dificuldades da criança.  Donde a necessidade de escutar os pais, de não rejeitá-los nem culpabilizá-los, mesmo quando o sofrimento que eles exprimem traduzem um rejeito da criança.

Assim, o trabalho terapêutico com os pais pode revestir diversos aspectos: entrevistas regulares,  terapias analíticas, grupos, acompanhamento ao longo do tratamento da criança, terapia individual de um dos  pais,do casal, etc. Estas entrevistas são frequentemente realizadas por um outro terapeuta  que o da criança. As vezes os pais podem ser enviados para tratamento com outros terapeutas trabalhando fora do CMPP.

A importância dos C.M.P.P. (várias dezenas) na política de saúde mental da França pode ser medida pelo número de famílias que consultaram, por exemplo, o CMPP de Orléans desde a sua criação em 1964: cerca de 18 000 famílias e crianças! Isto representa, sem dúvida,   várias centenas de milhares de consultas, entrevistas e sessões de tratamentos realizados em seus 40 anos de existência!

Contudo, notemos que  há vários anos  as autoridades sanitárias francesas lançaram-se num projeto de avaliação das estruturas médico-sanitárias do país. Assim,  os C.M.P.P. foram também julgados através de uma investigação "combinando  procedimentos de habilitação dos estabelecimentos, elaboração de seus projetos terapêuticos e o famoso "Programa de Medicação dos Sistemas de Informação"(PMSI)(7).Esta avaliação das técnicas de diagnóstico e de tratamento  leva em conta os dados econômicos ligados às atividades desses estabelecimentos. O financiamento pela administração francesa resultará dos cálculos relativos aos custos do tratamento de grupos homogêneos de pacientes, a natureza da patologia em questão e o tipo de tratamento utilizado. A administração poderá assim estabelecer comparações entre  o custo e a eficiência dos tratamentos, e entre os próprios estabelecimentos (7).

Essas exigências administratrivas determinam que cada C.M.P.P. deve elaborar um novo projeto de funcionamento ao mesmo tempo administrativo e terapêutico. No C.M.P.P. de Orléans, no qual trabalhamos como psiquiatra durante várias décadas, a realização deste projeto deu lugar a muitos debates, reuniões das cinco equipes, assembléias gerais onde foram abordados os temas centrais do projeto  institucional, donde destacamos três aspectos(5):

1) Dispomos de um instrumento de trabalho importante, sabemos fazer certas coisas, somos complementares com relação aos outros serviços trabalhando com crianças, fazemos o que outros não sabem fazer ou não podem fazer.

2) Devemos entrar no esquema de intervenção junto às famílias e às crianças apresentando dificuldades em todo o departamento. Não é mais permitido a existência de dois estabelecimentos tendo o mesmo projeto. Devemos demonstrar  nossa diferença com relação aos outros serviços da mesma área.

3)O projeto de nosso C.M.P.P. é da alçada de todos os que nele trabalham. Assim, temos de justificar, no projeto institucional: quem é encarregado de receber as crianças e suas famílias;  quais são  os meios de que dispomos para fazer este trabalho; quais são os nossos objetivos.

Para tanto, torna-se necessário listar o que precisamos para o bom funcionamento de cada  equipe e de cada especialidade.

Em suma, este projeto de funcionamento, necessário à habilitação do C.M.P.P., deve definir claramente seus objetivos, os meios de que dispõe para efetuá-los e as suas  prioridades, a partir das grandes metas que são: acolher as familias que consultam, justificar as modalidades terapêuticas e clínicas em vigor.

Tais medidas administrativas -que introduzem uma boa dose de pragmatismo financeiro num pais onde o Estado providência organizou um sistema de proteção social e de cobertura sanitária que é um dos mais  avançados do mundo- estão mudando a paisagem da psiquiatria na França, donde a reação dos psiquiatras e a crise que nossa especialidade está atravessando.

De um modo geral, os sindicatos estão  denunciando  a lógica econômica e quantitativa do projeto de reforma do governo e lutando pela sua transformação, levando-se em conta as particularidades do trabalho do psiquiatra com relação às outras especialidades da medicina.

Referências:

1) Jean-Louis BRENOT e Yves MANELA : "L'enfance de la psychiatrie ", in  Psychiatrie française, vol. XXVI, Paris, 1995.

2) Gilbert DIEBOLD e Yves MANELA:Réflexions sur l'évolution de la psychiatrie de l'enfant", in Psychiatrie française, Vol. XXVI, Paris, 1995.

3) Roger SALBREUX, "La naissance des C.A.M.S.P. ", in Psychiatrie française, Vol. XXVI, Paris, 1995.

4) Projeto do CMPP Marcel Foucault

5) Projeto do CMPP de Orléans(notas pessoais do autor deste trabalho)

6) Alain DEMICHEL, Projeto do CMPP de Massy( edição on line).

7) Pierre CORNILLOT, " Les ambiguïtés de l'évaluation ", in Psychiatrie française, Vol. XXXV, Paris 2005.

 

3. CATÁLOGO DE REVISTAS PSIQUIÁTRICAS

LA BIBLIOTHÈQUE PSYCHIATRIQUE D'H. EY

27 000 Titres référencés (pour fin mars 2003

CONSULTATION EN LIGNE DU CATALOGUE

I) Psychiatrie française:

  • Ouvrages et publications de H. Ey (650 Titres, catalogue complet)
  • Ouvrages de la Biblioey (2000 Titres)
  • L'Evolution psychiatrique (1925-2002: 3050 Titres, collection complète dès l'origine jusqu'à nos jours)
  • L'Encyclopédie Médico-Chirurgicale-psychiatrie EMC-psy (1955-2001: 1170 Titres, collection dès l'origine jusquà nos jours, qq manques)
  • Les Entretiens psychiatriques (230 Titres, collection complète)
  • L'Information psychiatrique (1947-1964 puis 1972-1978: 1660 Titres, période 1965-1971 manquante)
  • Les Annales Médico-Psychologiques, AMP (1930-1980: 1360 Titres, collection suivie)
  • Les Congrès de Psychiatrie et de Neurologie de Langue Française CPNLF(1900-1970: 4690 titres, collection exceptionnelle)
  • Congrès International de Psychiatrie (AMP) (Paris1950, Zurich 1957, Montréal 1961, Madrid 1966, Collection suivie: 2036 titres)
  • Psychiatrie française (AFP 1971-1990: collection depuis l'origine, qq manques, 1980 titres, )
  • Psychiatries (AFPEP 1972-2002: 1450 titres, collection complète dès l'origine jusqu'à nos jours)
  • L'Encéphale (1930-32-38 collection suivie de 1947 à 1977: 830 titres)
  • Suppléments de L'Encéphale: l'Hygiène mentale (1946-1973 : 275 titres);
  • Suppléments de L'Encéphale: Psychopathologie de l'expression (1966-1968 : 27 titres)
  • Suppléments de L'Encéphale: Psychopharmacologie (1969-1973 : 27 titres)
  • Actualités psychiatriques 1974 (10 titres), Feuillet psychiatrique1973 (15 titres), Perspectives psychiatriques 1971-1977 (270 titres)
  • Psychiatrie aujourd'hui 1971-1974 (67 titres)
  • Psychopathologie africaine 1971-1976 (44 titres)
  • Analectes 12 N°
  • Expression et signes 1971, 1973 (7 titres)
  • Croix marines 1971-1975 (79 titres)
  • Confrontations psychiatriques 1970-1994 (307 titres)
  • Journal Français de Psychiatrie 1997-98 (49 titres)
  • Nervure (1999-2001: 750 articles)
  • Cahiers Henri Ey: 2000-2002 (83 titres, collection complète)

II) Psychologie Philosophie (catalogue non exhaustif)

  • Bulletin de psychologie de la Sorbone1950-1977 (1760 titres, collection suivie)
  • L'Année psychologique (1945-1973: 240 Titres, nombreux manques)
  • Journal de psychologie (1920)
  • Psychologie médicale 1971-1977 (516 titres), L'année psychologique 1975 (15 titres), Psychologie française 1972-1976 (67 titres)
  • Psychologie suisse 1973, 1974 (16 titres), Revue de médecine psychologique 1969 (7 titres)
  • Revue de médecine psychosomatique et psychologie médicale (non référencée)
  • Le supplément 1971-1976 (156 titres)
  • Etudes philosophiques 1956-71-72-73 (79 titres)
  • Les temps modernes (non référencés)

III) Psychanalyse (catalogue non exhaustif)

  • Etudes freudiennes 1969(15 titres)
  • Interprétation 1967-1971 (100 titres)
  • L'Inconscient 1967 (15 titres)
  • Silicet 1968, 1970 (38 titres)
  • La psychanalyse 1957-1964 (81 titres)
  • Revue française de psychanalyse 1954-1976 (885 titres) qq N° spéciaux congrès manquants
  • Nouvelle revue de psychanalyse 1972, 1977 (77 titres)
  • Bulletin de Ass. Psycha. de France (12 N°)
  • Topique 1969,1970 (15 titres)
  • Cahiers pour l'analyse 1966 (20 titres)

IV) Revues de langue espagnole, anglaise, allemande, italienne (catalogue non exhaustif)

  • Tres al cuarto (psychanalyse et culture; Barcelone)1993-2000 (collection complète, 232 titres)
  • Salud mental (Méxique) 2000-2002 (Collection suivie 78 titres)
  • Instituto de medecine psychologica 1974 (11 titres)
  • Revista de Psicoanalisis (non référencée)
  • Revista de Neuropsiquiatria (non référencée)
  • International Journal of Psychoanalysis (non référencé)
  • Comprehensive psychiatry 1977 (14 titres)
  • The course… 1972 (34 titres)
  • American Journal of psychiatry (non référencé)
  • British Journal of psychiatry (non référencé)
  • Psychological abstracts
  • Fortschritte der Neurologie-Psychiatrie (1935-1977: 575 Titres, nombreux manques)
  • Der Nervenartz 1975-1976 (référencé) 1949-1974 (non référencé)
  • Acta psyquiatrica (neurologica) scandinavica (1944-1977: 74 fasc)
  • Il lavoro neuropsichiatrico (Italie, non référencé))

 Les membres actifs de l'Association pour la Fondation H.Ey, à jour de leur cotisation, peuvent commander sans frais les photocopies d'un article présent dans la BiblioEy la Bibliothèque Psychiatrique personnelle d'Henri Ey (dans la limite de 10 articles ou 80p. par ans).

Voir conditions de commandes: Ey-doc Services

Contact: P. Belzeaux

 

4. Associations (Associações)

Association Française pour l'Approche Intégrative et Eclectique en Psychothérapie (AFIEP)

Association Française de Psychiatrie et Psychologie Légales (AFPP)

Association Française de Musicothérapie (AFM)

Association Art et Thérapie

Association Française de Thérapie Comportementale et Cognitive (AFTCC)

Association Francophone de Formation et de Recherche en Thérapie Comportementale et

Cognitive (AFFORTHECC)

Association de Langue Française pour l'Etude du Stress et du Trauma (ALFEST)

Association de Formation et de Recherche des Cellules d'Urgence Médico-Psychologique (AFORCUMP)

Association Nationale des Hospitaliers Pharmaciens et Psychiatres (ANHPP)

Association Scientifique des Psychiatres de Secteur (ASPS)

Association Commission Des Hospitalisations Psychiatriques France (CDHP France)

Association Promotion Défense de la Psychiatrie à l'Hôpital Général (PSYGE)

Association Karl Popper

Association pour la Fondation Henri Ey

Association Internationale d'Ethno-Psychanalyse (AIEP)

Collectif de Recherche Analytique (CORA)

Ecole Parisienne de Gestalt

Ecole Française de Sexologie

Ecole de la Cause Freudienne www.causefreudienne.org

Groupement d'Etudes et de Prévention du Suicide (GEPS)

Groupe de Recherches sur l'Autisme et le Polyhandicap (GRAP)

Groupe de Recherches pour l'Application des Concepts Psychanalytiques à la Psychose (GRAPP)

Regroupement National en Psychiatrie Publique (RENEPP)

Société Française de Gérontologie

Société Française de Thérapie Familiale (SFTF)

Société Francophone de Médecine Psychosomatique

Société Française de Psychopathologie de l'Expression et d'Art-thérapie(SFPE)

Société Française de Recherche sur le Sommeil (SFRS)

Société Française de Relaxation Psychothérapique (SFRP)

Société Française de Sexologie Clinique (SFSC)

Société Française de Psycho-oncologie/Association psychologie et cancers

Société d'Addictologie Francophone

Société Ericksonienne

Société de Psychologie Médicale et de Psychiatrie de Liaison de Langue Française

Société Médicale Balint

Union Nationale des Associations de Formation Médicale Continue (UNAFORMEC)

Union Nationale des Amis et Familles de Malades Mentaux (UNAFAM)

Association Psychanalytique de France (APF)

Société Psychanalytique de Paris (SPP)

Ecole Freudienne de Paris

 

5. Livros Recentes

A " Lettre de Psychiatrie Française " propões os seguintes livros :

  • JEO journal français de psychiatrie
    Les épisodes délirants
    Coordenação  Pierre AREL
    Érès-15 euros
  • Voir, être vu : figures de l'exhibitionnisme aujourd'hui
    Gérard BONNET
    Puf-35 euros
  • La jouissance : u  concept lacanien
    Nestor BRAUNSTEIN
    Érès-25 euros
  • La criminologie
    Maurice CUSSON
    Hachette Éducation-10,90 euros
  • Le Séminaire. 23, le sinthome :1975-1976
    Jacques LACAN
    Seuil-25 euros
  • La sublimation
    Sophie de MIJOLLA-MELLOR
    PUF-8 euros
  • La méthode psychanalytique : évolutions et pratiques
    Claude NACHIN
    Armand Collin-18.50 euros
  • Drogues et dépendances, données essentielles : produits licites et illicites, consommation et esagers, conséquences sanitaires et sociales, réponse pénale, offe et traic, cadre légal
    Observatoire français des drogues et des toxicomanies
    La Découverte-14,50 euros
  • Lacaniana : les séminaires de Jacques LACAN
    VOL ;2-1964-1979
    MOUSDTAPHA SAFOUAN(sous la direction)
    Fayard-23 euros
  • L'Evolution psychiatrique.1-Psychanalyse, psychiatrie : objets perdus, objets présents
    Elsevier-36,50 euros

 

6. Revistas

ABSTRAC PSYCHIATRIE : www.impact-medecin.fr

LA REVUE FRANÇAISE DE PSYCHIATRIE ET DE PSYCHOLOGIE MEDICALE : www.mfgroupe.com

L'ENCEPHALE:www.encephale.org

LES ACTUALITES EN PSYCHIATRIE: www.vivactis-media.com

NEUROPSY : WWW.NEUROPSY.FR

NERVURE : REDACTION: HOPITAL SAINTE-ANNE, 1 RUE CABANIS, 75014 PARIS. TÉLÉPHONE: 01 45 65 83 09 FAX. 01 45 65 87 40

NEURONALE (REVISTA DE NEUROLOGIA DO COMPORTAMENTO) [email protected]

PSN :(PSYCHIATRIE, SCIENCES HUMAINES, NEUROSCIENCES) : rue de la convention, 75015 paris. Fax : 0156566566

PSYCHIATRIE FRANÇAISE : [email protected]

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SYNAPSE : [email protected]

EVOLUTION PSYCHIATRIQUE

 


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