Volume 8 - 2003
Editor: Giovanni Torello

 

Agosto de 2003 - Vol.8 - Nº 8

No Paiz dos Yankees

Os níveis de tratamento para a esquizofrenia

Dr. Erick Messias

O movimento antimanicomial tem razão ao propor o fim do asilo, ou manicômio. A função asilar da internação psiquiátrica é uma lembrança histórica para a psiquiatria moderna. Uma dificuldade desse tipo de movimento no entanto é a compreensão de que nem toda internação psiquiátrica é um `exercício arbitrário de autoritarismo'. Há momentos em que a internação é a única opção terapêutica, e nesse momento é preciso que tenhamos à mão essa ferramenta. Esse tipo de confusão é conhecida como `jogar o bebê fora junto com a àgua suja'.

O tratamento da esquizofrenia evoluiu bastante nas últimas décadas. Essa evolução seguiu ao compasso da psicofarmacologia, do entendimento de psicodinâmica, e das neurociências, assim como com os resultados das comunidades terapêuticas e das psicoterapias em geral. Essas diferentes modalidades de tratamento, e suas combinações, formam hoje os diferentes níveis de tratamento da esquizofrenia, que devem ser coordenados, recomendados, e indicados em diferentes momentos da vida do paciente. A indicação de determinado nível deve levar em conta múltiplos aspectos da apresentação do pacientes, assim como seu nível de funcionamento social. São pelo menos cinco diferentes níveis de intensidade que devemos considerar para o pacientes psiquiátrico, e a indicação para cada um desses nívies é o tema dessa coluna.

Os níveis de tratamento variam desde a internação psiquiátrica até a vida autônoma em comunidade. É preciso que se conheça esses níveis no trato do paciente com esquizofrenia, pois eles irão necessitar de abordagens específicas em diferentes momentos do curso da doença.

Nível mínimo de tratamento: vida autônoma na comunidade

Quando o paciente está com seus sintomas estabilizados e minimizados pela medicação, e o potencial para violência não está presente, o paciente com esquizofrenia pode, e deve, ter autonomia para viver independentemente na comunidade. Nesse momento o paciente necessita de acompanhamento terapêutico ambulatorial, voltado principalmente para controle de efeitos colaterais do medicamentos e ajuste da dosagem. Em alguns casos psicoterapia de apoio pode ser utilizada, assim como terapia de família. Nesse nível de tratamento o pacinte é capaz de manter interações sociais frequentes, inclusive manter um emprego. Em geral esses pacientes podem também iniciar grupos de esclarecimento e auto-ajuda para outros pacientes e familiares passando por situações semelhantes às suas. Esse deve ser considerado o nível zero do tratamento de esquizofrenia. A maioria dos pacientes com esquizofrenia vai estar habilitada para esse nível.

Nível 1: Moradia Assistida

Nesse momento o paciente apresenta um nível de sintomas que permite a vida independente, mas com algum nível de supervisão profissional; como a visita semanal de uma enfermeira ou assistente social, e com monitorização periódica dos medicamentos. Pacientes com potencial mínimo para violência e com capacidade de interação social podem ser colocados nesse nível.

Nivel 2: Moradia Supervisionada

Esse nível inclue comunidades de tratamento, incluindo instituições como casa do meio do caminho - que foi inicialmente pensada como estando entre a internação e a vida comunitária. Nessas moradias o paciente convive com outros pacientes, e tem sempre a presença de algum membro da equipe de saúde mental. Pacientes com algum potencial para violência podem ser incluídos nesse nível, assim como pacientes com alguns sintomas importantes, mas que estejam já respondendo à medicação e aceitando toma-la.

Nível 3: Hospital Dia

Pacientes com algum risco de violência podem ser tratados no hospital dia. Nesse nível de tratmento o pacientes receber cuidados diários da equipe, incluindo revisão permanente do esquema farmacológico, com atenção para a resposta terapêutica e efeitos colaterais. O tratamento também é intensificado com o uso de grupos, psicoterapia de apoio e sessões com a família. O hospital dia é um nível de tratamento intensivo e deve ser utilizado com cuidado. O paciente deve também estar de acordo esse plano, visto que irá para casa no fim do dia e em geral é responsável por se apresentar no hospital dia na manhã seguinte. Em alguns casos especiais a equipe pode arranjar para que o paciente seja transportado para o hospital dia.

Nível 4: Hospitalização

Quando o risco de violência é iminente, seja contra o próprio, seja quanto a outras pessoas, o pacientes necessita internação em unidade psiquiátrica. Essa unidade pode ser um hospital especializado ou uma unidade psiquiátrica num hospital geral. Dentro da unidada mesmo há possibilidade de controle comportamental através da utilização do ambiente. Essa opção deve ser utilizada com rigor, visto que realmente configura uma limitação no direito de ir e vir do paciente. Nesse momento a equipe e o clínico tem que utilizar de todo o conhecimento acerca do paciente e suas características, e procurar intervir para evitar uma tragédia. Infelizmente isso será necessário algumas vezes no decorrer da vida de nossos pacientes.

Nota Final sobre o tratamento da Esquizofrenia

O entendimento da esquizofrenia como mal incurável é coisa do passado. As opções terapêuticas existentes hoje são muitas e apresentam uma eficácia comprovada. A organização do tratamento em níveis de intensidade ajuda a compreender a complexidade da tarefa de organiza-lo e de implementa-lo. Precisamos criar essas estruturas e cuidar para que funcionem a contento. E precisamos ter um compromisso com nossos pacientes, e seus familiares, de conhecer as opções e usar de criatividade & humanidade na recomendação terapêutica.

Referências

Nesse comentário inclui apenas informação sobre a estrutura terapêutica. Informações sobre o tratamento específicas podem ser encontrados em vários sítios na internet.

http://www.ipap.org/algorithms.php

http://www.psychguides.com/gl-treatment_of_schizophrenia_1999.html

http://www.openthedoors.com

http://www.nami.org

http://www.saudemental.medem.com


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