Volume 7 - 2002
Editor: Giovanni Torello

 

Novembro de 2002 - Vol.7 - Nº 11

No Paiz dos Yankees

A esperança e o medo: Brasil e Estados Unidos vão às urnas.

Dr. Erick Messias

Imagino que não falar das últimas eleições, brasileiras e americanas, seria ignorar o gorila de 300 kg que está sentado na sala de estar. Nas últimas semanas tanto o Brasil como os Estados Unidos realizaram importantes escolhas, que por si só demandam um comentário desse brasileiro vivendo nas terras do Tio Sam.

Os resultados são de modo geral opostos. No Brasil ganhou o Partido dos Trabalhadores, um movimento político de base operária com uma história de resistência à ditadura militar, imposta em parte pelos EUA. Entre os americanos ganhou o partido republicano, com sua tradicional aliança às elites e seu descaso pelos programas sociais. No Brasil ganhou a esperança de um país melhor, de uma estrutura mais transparente de mando, de um governo menos corrupto e menos comprometido com nossa estrutura social tão injusta. O PT, por mais que se discorde de suas idéias, tem se pautado por um compromisso ético que falta nas tradicionais representações políticas das nossas elites. Nos EUA ganhou o medo de um mundo pior, ganhou o discurso da guerra, cujos tambores soam mais e mais altos a cada dia. Ganhou também a vontade de se impor perante o mundo como potência, baseada principalmente no poder militar. O partido republicano têm boa parte de sua base sustentada pela indústria bélica pesada e pela indústria do petróleo. Outro grupo que cresceu foi o dos evangêlicos, os novos cristãos, que forma a base religiosa do partido republicano, entre cujas metas estão o fim do direito ao aborto e a instituição de educação religiosa, e oração, nas escolas americanas.

Também opostos foram as reações ao resultado das urnas. Do Brasil ouvia-se um carnaval fora de época, via-se comemorações populares e a explosão de um grito contido por tantos anos. Nos EUA houve uma espécie de resignação perante a realidade cruel de um mundo, que ele descobriram a pouco tempo não ama esse país. De certa forma os EUA estão amargando a dor de descobrir que não são amados. Foi como se eles perdessem uma amante que não tiveram e nós ganhassemos de volta a namorada que achavamos que havio sumido com outro.

 

Como toda política é local alguns comentários acerca dos estados em que vivo. Aqui em Maryland o resultado foi particularmente doloroso visto que os republicanos agoram voltam ao governo estadual depois de mais de 30 anos de domínio democrata. Achei muito triste que entre as primeiras medidas do novo governador esteja o retorno das execuções, que o atual governador havia congelado até que um estudo determinasse se a pena de morte no estado era discriminatória contra negros e pobres. O novo governador começa o mandato com um formidável oponente para 2006: o prefeito de Baltimore, Martin O’Malley. Esse jovem patrício, e democrata, é tido por aqui como possível representante dos democratas nas eleições presidenciais no futuro – e para tanto há que passar pelo governo do estado de Maryland. No Ceará a situação ganhou com margem que só se vê com ajuda daqueles relógios suiços que medem a velocidade da bola de tênis. O recado das urnas, em alto e bom tom, foi que o povo está cansado do modelo comandado pelo PSDB cearense, liderado pelo Tasso Jereissati. Esse modelo em si foi colocado no poder pelas mesmas urnas décadas atrás. O que tem acontecido é que o ímpeto de mudança, que criou esse movimento de bases empresariais, com o tempo e o gosto pelo poder, tem perdido sua capacidade criadora. Acredito que o Lúcio Alcântara possa fazer uma administração competente, baseada na sua história de parlamentar trabalhador e honesto. O povo de Ceará, dividido, deu a esse grupo mais uma chance de provar que ainda há o que se esperar desse modelo administrativo. Caso isso não se comprove é fácil antever a conquista de prefeitura de Fortaleza em 2 anos e do governo do estado em 2006.

Enfim, entre o medo e a esperança, prefiro a segunda. Hoje é feriado, dia de veteranos – ironicamente um dos grupos que mais sofreram com as aventuras militares americanas. Cai uma chuva forte sobre Baltimore e há tornados rondando a região. As folhas já cairam e o inverno está chegando. Clara mesmo só a vontade de estar de volta ao torrão natal e participar desse momento brilhante de nossa democracia. Impossível é não torcer pelo melhor para o Brasil e pelo Ceará. Nosso povo mereçe.


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