Volume 6 - 2001
Editor: Giovanni Torello

 

Dezembro de 2001 - Vol.6 - Nº 12

No Paíz dos Yankees

Bruno Lima, psiquiatra brasileiro, prêmio americano

Dr. Erick Messias

Há pessoas que jamais conheceremos pessoalmente, mas que mantêm uma presença constante na nossa vida. Em nossa carreira profissional, particularmente, nos deparamos muitas vezes com um mesmo nome, associado a uma determinada área e muitas vezes esse nome começa a se tornar lugar-comum no nosso dia-a-dia. No meu caso particular há duas pessoas cujas carreiras abriram veredas que depois caminhei, mas quando cheguei por lá eles já haviam morrido, deixando uma presença tão real que muitas vezes sinto que os conheci pessoalmente. O primeiro foi o professor de fisiologia Luís Capelo, em cujo laboratório de motilidade gastro-intestinal, na Universidade Federal do Ceará, trabalhei quando estudante de medicina. O outro foi o psiquiatra gaúcho Bruno Lima.

Quando cheguei em Baltimore para começar a residência de psiquiatria, alguns brasileiros já haviam se aventurado nas searas psicopatológicas por aqui. Acredito que o primeiro tenha sido o Márcio Pinheiro, que tanto contribui para nossas discussões na lista de psiquiatria, seguido pelo Manoel Penna e sua esposa Ignes Penna, que foram meus pais adotivos aqui em Maryland. Mas logo no começo de minha estada por aqui, ouvi o nome de Bruno Lima.

A primeira coisa que me chamou atenção ao ouvir falar de Bruno foi a imensa admiração com o qual as pessoas mencionavam seu nome. Misturado a essa admiração havia uma considerável dose de carinho, e uma proporcional dose de tristeza e senso de tragédia por sua morte tão inesperada, colhendo-o ainda tão jovem (Bruno foi vítima de um câncer que o surpreendeu, e a muitos outros, no momento em que ele chegava ao auge de sua carreira).

No decorrer do tempo continuei ouvindo seu nome. No ano passado participei do jantar da sociedade de psiquiatria de Maryland quando uma psiquiatra de Baltimore recebeu o prêmio Bruno Lima para aqueles que se destacam em contribuições na área de saúde mental e desastres – um dos interesses de Bruno que trabalhou com vitimas de desastres naturais na América do Sul. Esse prêmio foi criado em 1994/5 pela associação psiquiátrica norte-americana (APA) como estímulo para psiquiatras interessados na área de desastre e como homenagem a Bruno, pelo seu trabalho nessa área, como professor de psiquiatria na Johns Hopkins e junto a Organização Mundial de Saúde (OMS). Esse ano durante o congresso da Associação Americana de Saúde Pública (APHA) foi realizada um simpósio Bruno Lima acerca de problemas de saúde mental em membros de minorias. Semana passada fui conversar com a diretora do setor de psiquiatria comunitária da Johns Hopkins e na sala de espera me deparei com a figura risonha de Bruno, nas fotos da equipe de saúde comunitária, tiradas pelo fim dos anos 80, que amarelam pelos corredores do serviço – durante minha conversa com a diretora do serviço ela mencionou Bruno como seu mentor, e como figura principal na criação do serviço.

Numa nota mais pessoal, tenho que mencionar que uma das pessoas que conheci por aqui, e que me deu apoio e por quem nutro um grande carinho e admiração foi Ana Lima, esposa de Bruno, que conheci entre o grupo de residentes latinos.

Bruno Lima e Luís Capelo são duas desses figuras que sinto não ter tido a oportunidade de conhecer, mas cuja presença, carisma e personalidade, sobreviveram e continuam influenciando estudantes e professionais. Não sei detalhes da vida dessas pessoas como datas, trabalhos específicos, e títulos; sei da marca que deixaram naqueles com quem conviveram. E essa marca influencia carreiras e opções de vida de diferentes gerações de estudantes. Falo por experiência própria.

Algumas informações sobre o prêmio Bruno Lima, da página da APA na internet:

Bruno Lima Award for Excellence in Disaster Psychiatry
Established: 1994. Recognizes outstanding contributions ofdistrict branch members to the care and understanding of the victims of disasters.Contributions include designing disaster response plans, providing direct service deliveryin time of disaster, or in disaster consultation, education, and/or research.
Honorarium: Award certificate signed by APA President and President ofawardee's District Branch, to be presented at the District Branch; names published in PsychiatricNews and listed in annual program as award recipients.
Eligibility: District Branch members who have made contributions asoutlined above, and who epitomize APA's highest standards of excellence in ethical,clinical, and professional standards. Nominations are made from each District Branch(maximum of two members per year per branch). Previous winners of the Lima Award areineligible.
Submissions: A letter summarizing the nominee's contributions, a copy ofthe nominee's resume/curriculum vitae, and any other supporting documentation. Nominationletter should be signed by DB president and include a description of the DB selectionprocess, a one-page description of the activities for which the individual is nominated,and a description of the disaster event(s).
Component: Committee on Psychiatric Dimensions of Disaster (under Councilon National Affairs).
Funding: Expenses will come from Committee on Psychiatric Dimensions ofDisaster's budget.

The Committee established the Bruno Lima Award in 1995. The award honors the memory of Bruno Lima, one of the original members of the APA’s Task Force on Psychiatric Dimensions of Disaster and initiator of the first proposal to hold a disaster workshop at the Annual Meeting. As an Associate Professor at Johns Hopkins University School of Medicine, Dr. Lima was known for his important contributions to disaster studies in South America as well as the development of critical documents relating to the care of disaster victims throughout the world through his work with the World Health Organization. His untimely death from leukemia cut short his opportunities to see his contributions to national policy on the provision of care to disaster victims come to fruition within the APA. This award supports professional values as well as encourages training among psychiatrists in the area of disaster psychiatry.


TOP