Volume 6 - 2001
Editor: Giovanni Torello

 

Agosto de 2001 - Vol.6 - Nº 8

No Paiz dos Yankees

Cafeína, o psicotrópico mais utilizado no planeta

Dr. Erick Messias

Uma busca simples na livrarias on line americanas revela um interesse peculiar desse lado do planeta: café. Muitos livros acerca de cafeína e café estão nas prateleiras virtuais, incluindo alguns best sellers, sem falar na presença maciça de balcões vendendo a bebida nas livrarias de concreto. O mais recente no lançamento no assunto é The world of caffeine: the science and culture of the world’s most popular drug, comentado recentemente num artigo na The New Yorker. Outro best seller no assunto já havia sido publicado em 1999: Uncommon Grounds: The History of Coffee and How It Transformed Our World, escrito por Mark Pendergrast (mesmo autor de Por deus pela pátria e pela Coca-cola).

Mas como a cafeína se tornou o psicotrópico mais utilizado no planeta e o café sua forma mais comum de uso?

Originário da Abissínia – hoje Etiópia – o café passou para o Iemen e de lá para a península arábica e para o resto do mundo. Mas foi somente a partir do século XIX que o café passou a se tornar popular em todas as classes, a partir do excesso de produção, movida a escravos, no Brasil – a partir daí o café se tornaria nossa principal exportação, deslocando definitivamento o eixo comercial brasileiro para o Sul-Sudeste.

Até então o café era consumido de maneira restrita e o chá era considerado a bebida nobre. Essa disputa chá versus café se desenrolou durante o século XVII quando o café era considerado bebida revolucionária e uma ameaça a civilização. O rei sueco Gustavo II, por exemplo, considerava o café tão perigoso que imaginou um experimento para mostrar as consequências do uso do mesmo: um prisioneiro condenado à morte seria forçado a beber café diariamente até morrer, enquanto outro condenado beberia chá (pelas ironias do destino, os médicos responsáveis pelo ‘estudo’ morreram primeiro, seguidos pelo assassinato do rei; quanto aos prisioneiros, o primeiro a falecer foi o bebedor de chá – aos 83 anos). Na Inglaterra, em 1676, o rei Charles II tentou proibir as casas que serviam café mas não teve sucesso. Na França os cafés se tornariam locais de reunião dos intelectuais, o Café de la Regence por exemplo, contava entre seus fregueses Robespierre, Victor Hugo, Voltaire, Napoleão e Rousseau. Assim se criava um local de reunião e discussão sem a presença do alcóol e seus efeitos ‘moderadores’. Os cafés inspiravam revoluções. A própria independência dos EUA começou com a revolta do chá, e a preferência a partir de então do café, bebida subversiva. Nesse sentido o uso contínuo de café também teria ajudado a revolução industrial, permitindo longas jornadas e aumento da produção.

Assim o café foi conquistando corações e mentes, pois ‘toda companhia gostaria de ter um produto que vicia, por isso tabaco e café são um sucesso’ já dizia Bill Benton – o marqueteiro da companhia de café Maxwell House, no início do século vinte.

Hoje a cafeína é consumida regularmento por pelo menos 80% das pessoas nos EUA e se configura em práticas culturais em ambientes tão diferentes como a ‘hora do chá’ na Inglaterra, o ‘cafezinho’ no Brasil e os coffee break americanos.

No nosso campo psiquiátrico, o DSM IV TR lista quatro categorias de distúrbios ligados a cafeína:

Intoxicação por cafeína

Transtorno de ansiedade induzido por cafeína

Transtorno de sono induzido por cafeína

Transtorno relacionado a cafeína não especificado.

Mas qual a quantidade de cafeína nas diferentes formas de uso?

Café torrado 100mg/180ml

Café instântaneo 70mg/180ml

Saquinho de chá 40mg/180ml

Refrigerante cafeinado 45mg/360ml

Leite achocolatado 4mg/180ml

(intoxicação por cafeína em geral ocorre após uso de pelo menos 250mg)

A farmacologia da cafeína também ajuda a entender certos hábitos, como o fato do uso de cigarro aumento o ritmo de metabolismo da cafeína, de modo que fumantes necessitam mais cafeína para conseguir o mesmo efeito.


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